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terça-feira, 28 de junho de 2016

Bem vindo ao inferno



Assim o sindicato dos policiais do Rio de Janeiro receberam ontem os desembarcados no Galeão. Têm salários atrasados, nas delegacias falta papel higiênico, água, tinta para imprimir documentos – boletins de ocorrência inclusive.

O governador anunciou que suas viaturas também podem parar - falta dinheiro para manutenção e combustível. Falta politica de Estado para a Segurança no Brasil. E não é de hoje. Não é só no Rio. Gisele. José Josenilson. Denilson Theodoro. Teresa. Valdik. Mortos da vez. Entre outros tantos que não viraram notícia na corriqueira mortandade brasileira.

Gisele, médica, 34 anos, José e Denilson, policiais de 31 e 48 anos, foram mortos por bandidos. Teresa, 48 anos, pelo namorado e  Valdik, de 10 anos, foi assassinado por agentes da Guarda Civil paulista, com tiros certeiros na cabeça. Balas, também certeiras, mataram Gisele, José e Denilson. Vieram dos sem farda na Zona Norte do Rio, região que o viúvo de Gisele chamou de Faixa de Gaza, onde arrastões, tiroteios, assaltos chacinas e balas perdidas são rotina de polícia e bandido, com papeis misturados, sem cerimônia. O alvo somos nós, o povo.

Um soco preciso fez a cabeça de Teresa bater e estourar no chão do Paraná. Bandidos, policiais, maridos, namorados, companheiros e ex matam, cada vez mais, no Brasil violento, nada cordial. Sem política de Estado para Segurança, o prefeito de São Paulo, assim como quem não tem quase nada a ver com isso, pode classificar a violência de seus guardas como “ação equivocada”.

O prefeito do Rio, mais uma vez, lamenta a morte do policial que era seu segurança e oferece sua solidariedade à família. Vai cuidar da Olimpíada para o que, já garantiu, não faltará dinheiro do Estado e do estado quebrados. O governador trata a falta de gasolina como mais um dos seus muitos problemas do estado insolvente que recebeu de seu antecessor que, assim mal gerido, recebeu de outro antecessor, que recebeu de outro e outro que recebeu igual de outro.

De penúria em penúria, a policia brasileira, que morre e que mata feito formiga é violenta, mal preparada, mal armada e mal paga. Nem nos tempos de bonança econômica merece preferência – ou deferência - nos gastos públicos. Isso desde sempre.

Segurança por aqui só é prioridade nos programas políticos dos candidatos prometedores em todas as esferas da administração.
Não tem prefeito que não leve a Segurança Pública para o palanque, Ainda que para eles reste apenas a responsabilidade sobre a Guarda Civil – vez por outra “equivocada”, que existe para zelar pela população e pelo patrimônio público, mas, armada para se equivocar, mata primeiro, pergunta depois. Ih, foi mau. Era só um menino, de 10 anos, desarmado.

Segurança não é política de Estado. Quem for safo – polícia, bandido ou mocinho – que se safe.  A cada ano, as policias brasileiras matam 3 mil pessoas – 8 por dia. Um 11 de Setembro por ano.  (Foram 2.977 os mortos daquela tragédia americana).  Policiais também morrem as pencas. Foram 408 em 2015. No Rio, nesses seis meses do ano, já morreram 54. São Paulo enterrou 43 no ano passado.

Quem chora por uns e outros? As famílias, os amigos. Atolado em desacertos, cuidando sempre de  salvar a economia do Mercado da vez, os estados não têm disponibilidade orçamentária nem para reles coroas de flores aos que morrem a seu serviço.  Na minha insignificância de cidadã jornalista já perdi as contas das vezes que escrevi sobre a violência crescente, assustadora, sem solução a vista. 

Aqui, parece, o medo só faz comprar alarmes e grades domésticas e aumentar penas para os criminosos do dia a dia que, sabem, muito poucos viverão para cumpri-las. De tão corriqueiro, o tema não leva ninguém às ruas, nem faz bater panelas. O Brasil hoje é um país violento de norte a sul, capital e interior.

Aos de fora, que aqui padecerem, agora podemos também mandar essa: Não foi por falta de aviso! No aeroporto, nosso receptivo policial saudou: Bem vindo ao inferno.

Fonte: Tânia Fusco – Blog do Noblat