Um programa sem referência à corrupção, tema central do partido, fraco na argumentação e irônico, artifício da arrogância, evidencia a falta de rumo do partido
Nem o militar mais furioso da ditadura de 64 fez tanto mal à
esquerda quanto o PT, na sua vertente lulopetista. Por um desses
paradoxos, o mesmo partido que se mantém no poder por 13 anos
consecutivos, índice para o Guiness da República brasileira, é que, por
sólidos motivos, desmonta o ideário de um projeto de poder estatista,
para o “bem do povo", e na democracia. Um sonho da esquerda mais
civilizada, na Era pós-soviética.
Ainda é cedo para se conhecer toda a crônica dessa trajetória do apogeu à crise, mas é possível mapear pontos cardeais da debacle. Como acontece na História, a inflexão da curva para baixo é acompanhada de arrogância e incapacidade de entender a realidade. No caso, devido a cacoetes ideológicos. Lula e PT foram hábeis e sensíveis ao adotar a terapia econômica indicada, “neoliberal”, para combater o surto de inflação deflagrado em 2002, na campanha presidencial, e provocado pelo temor dos mercados diante da própria ascensão de Lula e PT.
Tiveram, ainda, sorte de surfar a mais vigorosa onda de crescimento mundial sincronizado do pós-guerra, puxada pela expansão americana com inflação baixa e conversão da China a leis de mercado (mas não à democracia). Porém, foi mais forte a ideologia, e Lula, a partir do segundo mandato, pendeu para o capitalismo de Estado, velho projeto da esquerda verde e amarela e dos militares nacionalistas desde o tenentismo, tendo ao lado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que, eleita, radicalizaria o modelo batizando-o de “novo marco macroeconômico". Os resultados estão aí, e não adianta culpar o mundo, pois os Estados Unidos se recuperam e até mesmo países europeus como Irlanda, Espanha e Portugal voltam a dar sinal de vida.
Na vertente política da crise do PT, destacam-se o mensalão e o petrolão, um mesmo esquema de desvio de dinheiro público via estatais, a Lava-Jato começa a deixar claro, para financiar o projeto de poder do lulopetismo e satélites à direita e à esquerda. Por si só uma excrescência. Mas evidências de que o dinheiro do projeto lulopetismo, a “causa”, também financiou o alto padrão de vida de pelo menos um líder importante, José Dirceu, têm sido um golpe bastante forte no partido.
Sobre o assunto, nenhuma palavra no programa do PT de quinta-feira. O silêncio foi retumbante. Em vez disso, argumentos fracos, como propor medir quem erra menos, PT ou a oposição, e ironias com os panelaços — isso no momento em que vários ecoavam em muitas cidades importantes. Não é aconselhável partir para a ironia, irmã da arrogância, quando o principal nome do partido no poder, Dilma Rousseff, ostenta os mais baixos índices de popularidade de um presidente brasileiro.
É difícil o dever de casa do PT, mas o partido precisa fazê-lo. E ele começa pela necessidade de apoiar o próprio governo, pois a sua ruína jogará o partido de volta a seus grotões: sindicatos e movimentos sociais. Sem perspectiva de volta.
Fonte: O Globo - Editorial
Ainda é cedo para se conhecer toda a crônica dessa trajetória do apogeu à crise, mas é possível mapear pontos cardeais da debacle. Como acontece na História, a inflexão da curva para baixo é acompanhada de arrogância e incapacidade de entender a realidade. No caso, devido a cacoetes ideológicos. Lula e PT foram hábeis e sensíveis ao adotar a terapia econômica indicada, “neoliberal”, para combater o surto de inflação deflagrado em 2002, na campanha presidencial, e provocado pelo temor dos mercados diante da própria ascensão de Lula e PT.
Tiveram, ainda, sorte de surfar a mais vigorosa onda de crescimento mundial sincronizado do pós-guerra, puxada pela expansão americana com inflação baixa e conversão da China a leis de mercado (mas não à democracia). Porém, foi mais forte a ideologia, e Lula, a partir do segundo mandato, pendeu para o capitalismo de Estado, velho projeto da esquerda verde e amarela e dos militares nacionalistas desde o tenentismo, tendo ao lado a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que, eleita, radicalizaria o modelo batizando-o de “novo marco macroeconômico". Os resultados estão aí, e não adianta culpar o mundo, pois os Estados Unidos se recuperam e até mesmo países europeus como Irlanda, Espanha e Portugal voltam a dar sinal de vida.
Na vertente política da crise do PT, destacam-se o mensalão e o petrolão, um mesmo esquema de desvio de dinheiro público via estatais, a Lava-Jato começa a deixar claro, para financiar o projeto de poder do lulopetismo e satélites à direita e à esquerda. Por si só uma excrescência. Mas evidências de que o dinheiro do projeto lulopetismo, a “causa”, também financiou o alto padrão de vida de pelo menos um líder importante, José Dirceu, têm sido um golpe bastante forte no partido.
Sobre o assunto, nenhuma palavra no programa do PT de quinta-feira. O silêncio foi retumbante. Em vez disso, argumentos fracos, como propor medir quem erra menos, PT ou a oposição, e ironias com os panelaços — isso no momento em que vários ecoavam em muitas cidades importantes. Não é aconselhável partir para a ironia, irmã da arrogância, quando o principal nome do partido no poder, Dilma Rousseff, ostenta os mais baixos índices de popularidade de um presidente brasileiro.
É difícil o dever de casa do PT, mas o partido precisa fazê-lo. E ele começa pela necessidade de apoiar o próprio governo, pois a sua ruína jogará o partido de volta a seus grotões: sindicatos e movimentos sociais. Sem perspectiva de volta.
Fonte: O Globo - Editorial