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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Opção militar contra a Coreia do Norte é beco sem saída para Estados Unidos

O Conselho de Segurança da ONU se reunirá nesta segunda (4) para discutir novas sanções contra o regime de Kim Jong-un após o sexto teste nuclear do país, e os EUA voltaram a ameaçar usar força contra a ditadura. A chance de a primeira opção ter algum efeito prático, dado o histórico de resiliência do regime comunista, parece exígua.


  Militares sul-coreanos fazem exercícios militares perto da zona desmilitarizada com a Coreia do Norte

Resta na mesa de EUA e aliados a opção de negociar diretamente com Kim, o que requer intervenção mais objetiva por parte de Pequim, que passou a proteger o regime após a dissolução da União Soviética em 1991. Fora isso, há as alternativas militares, todas impossíveis de bancar. O problema neste momento nem é a possibilidade de Pyongyang armar um míssil balístico intercontinental com uma bomba atômica. 

Apesar de todas as demonstrações recentes, é incerto que essa capacidade exista de fato. Por mais que os norte-coreanos tenham avançado, talvez com ajuda de antigo material soviético contrabandeado da Ucrânia, a guiagem e a proteção de uma ogiva nuclear requerem testes ainda não realizados. Segundo estimativas disponíveis, contudo, o país já pode fazer isso com talvez 5 ou 10 de seus 300 mísseis de curto e médio alcance, ameaçando Coreia do Sul, Japão e Guam, ilha que sedia base estratégica americana. 

A questão é a certeza de que, se for atacado, Kim irá usar seu poderio de artilharia concentrado na fronteira com o vizinho do sul —com quem a Coreia do Norte vive em cessar-fogo desde 1953, após os três anos de guerra. São 21 mil peças de artilharia e lançadores múltiplos de foguetes, boa parte deles apontada em direção a Seul, a 55 km da fronteira. 

Algumas delas, como lançadores de 300 mm, podem atingir a capital, onde moram 10 milhões de pessoas. Considerando áreas adjacentes, está concentrada por lá quase metade dos 50 milhões de habitantes do país. Como seria o ataque liderado pelos EUA? Isso vai depender do que o secretário Jim Mattis (Defesa) considera "maciço", como disse. Um cenário moderado, sem o hoje teoricamente impossível emprego de armas nucleares em primeiro golpe, é buscar destruir a defesa antiaérea norte-coreana e as principais instalações do programa nuclear e de mísseis. 

Isso pode ser feito com mísseis de cruzeiro Tomahawk instalados em navios norte-americanos na região, como os destróieres da classe Arleigh Burke —dois dos quais estão fora de combate após terem batido em embarcações civis recentemente. Há a opção do uso de aviões também. Guam é base de bombardeiros estratégicos B-1B Lancer. Eles seriam apoiados por caças coreanos F-15K, de fabricação americana, e talvez por modelos iguais e aeronaves F-35 dos EUA baseadas no Japão. 

Como se vê, Pyongyang só não tem na China um regime hostil a si na vizinhança —fora os 47 mil americanos no Japão, 28,5 mil na Coreia do Sul e 5.100 na ilha de Guam.
A certeza da destruição de parte de Seul é o que impede o apoio do governo capitalista do sul a uma ação, e de certa forma a garantia para Kim manter sua agressividade. Quando estudou atacar a Coreia do Norte em 1994, os EUA estimaram em 1 milhão de mortos na Coreia do Sul só pela ação de armas convencionais. Isso sem contar armas nucleares, então fora da equação, e a ampla gama de foguetes convencionais para atacar alvos americanos e aliados na região. 

Eles podem ser detidos apenas parcialmente pelos sistemas antiaéreos de fabricação norte-americana na região —Patriot e THAAD em solo, e Aegis em navios. Uma invasão total do norte, contudo, é ainda mais improvável. O Exército norte-coreano, com 1,2 milhão de homens altamente motivados, seria derrotado pelas armas mais modernas e eficientes da coalizão EUA-Coreia do Sul-Japão, mas o custo humano parece proibitivo para ambos os lados. 
 
ENTENDA
O desafio norte-coreano

O que o teste significa?
> Um teste bem sucedido mostraria que a Coreia do Norte sofisticou seu programa nuclear e que está mais perto de produzir uma ogiva adaptável a um míssil de longo alcance, capaz de atingir a parte continental dos EUA

> Os testes debaixo da terra, que provocaram tremores percebidos na Coreia do Sul e na China, foram os primeiros em que a Coreia do Norte ultrapassou o poder de destruição das bombas de Hiroshima e Nagasaki, da Segunda Guerra Mundial
> Se o país asiático for capaz de produzir uma bomba H, isso pode abrir caminho para ogivas muito mais destrutivas e compactas, o que resolverá o problema de seus estoques limitados de urânio enriquecido 

O que esperar?
> Analistas vão estudar as ondas decorrentes dessa explosão. Eles também buscarão indícios de gases nucleares que podem estar se dissipando na atmosfera para poder avaliar se o teste foi mesmo com uma bomba de hidrogênio


Fonte: Folha de S. Paulo



domingo, 3 de setembro de 2017

O que é uma bomba de hidrogênio e o quanto ela é poderosa?

Este artigo foi originalmente publicado em 2016. Recuperamo-lo na sequência do mais recente ensaio nuclear norte-coreano.

Numa bomba de hidrogênio, uma grande parte da sua energia é obtida através da fusão dos núcleos dos seus átomos reações que imitam o que se passa no interior das estrelas, como o nosso Sol, onde os átomos de hidrogênio se fundem, dando origem a átomos de hélio e libertando gigantescas quantidades de energia.

Mas para que os átomos de hidrogênio se fundam nesta bomba, também conhecida como "bomba H" ou "bomba termonuclear", primeiro tem de haver um outro tipo de reações nucleares. Mais exatamente, reações de fissão nuclear, ou cisão nuclear. 

 Neste caso, o núcleo dos átomos (de urânio e plutônio) é partido, em vez de fundido, e é a energia libertada nestas primeiras reações nucleares que permite depois desencadear as reações de fusão dos núcleos de hidrogênio. Resumindo, primeiro há reações de fissão nuclear e em seguida de fusão nuclear.  O resultado é uma bomba nuclear muito mais poderosa do que as bombas unicamente de fissão nuclear, como aquelas que foram lançadas pelos Estados Unidos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Os principais pais da bomba de hidrogeno são Edward Teller e Stanislaw Ulam, que a desenvolveram para os Estados Unidos. O primeiro teste ocorreu em 1952, no atol de Eniwetok, nas ilhas Marshall, no Pacífico. O atol ficou totalmente destruído. Mike, como foi baptizada a primeira bomba H, tinha uma potência gigantesca: mais de dez milhões de toneladas de TNT. Ora uma bomba de hidrogénio com esta potência liberta 800 vezes mais energia do que a bomba lançada sobre Hiroshima.

Três anos depois dos Estados Unidos, a União Soviética fez explodir a sua primeira bomba de hidrogênio.

Fonte: UOL