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domingo, 3 de setembro de 2017

Se for real, bomba eleva ameaça norte-coreana; entenda riscos

Se de fato a Coreia do Norte detonou uma bomba de hidrogênio ou termonuclear, isso significa que o país comunista deixou a "segunda divisão" entre as potências nucleares para entrar na mais seleta —e mais letal— "primeira divisão".  A elite nuclear tem tanto a bomba-A (bomba atômica) como a bomba-H (bomba de hidrogênio); os "clubes" de menos destaque têm só a bomba-A. 

Os dois tipos de bomba são chamadas de nucleares porque são baseadas em propriedades físicas do núcleo dos átomos, a fissão e a fusão. Na fissão, átomos de elementos pesados (isto é, compostos de muitos átomos), como o urânio ou o plutônio, se partem, e com isso produzem muita energia. Já na fusão, acontece o contrário: átomos de um elemento leve, o hidrogênio, se fundem para criar um outro elemento, o hélio, produzindo ainda mais energia. 

Em termos militares, a bomba-A (de fissão) tem um limite na sua capacidade explosiva; já o céu é o limite para o poder destrutivo da bomba-H.  
A fusão nuclear, afinal, é a energia que alimenta as estrelas, como o Sol. 

Para se ter uma ideia da diferença, no caso das maiores bombas nucleares, a "espoleta" para sua detonação é uma bomba atômica. A explosão atômica cria a altíssima temperatura necessária para que os átomos de hidrogênio se fundam, por isso a bomba é conhecida também como "termonuclear". 

Produzir uma bomba tão sofisticada poderia ser algo que a Coreia do Norte não seria capaz, já que se trata de um país subdesenvolvido, que mal consegue alimentar sua população. Mas a ênfase no armamentismo —além das bombas, os seus "vetores", isto é, mísseis balísticos— é uma constante naquele que é provavelmente o país mais autoritário e totalitário do planeta. Logo, a dúvida persiste. 

Alcance e outras bombas
Os norte-coreanos já fizeram vários testes de mísseis balísticos. Obviamente são capazes de chegar até a Coreia do Sul ou ao Japão, países muito próximos. Estima-se hoje que poderiam atingir a base americana na ilha de Guam. No futuro próximo, talvez consigam atingir o estado americano do Havaí. Mas ainda estariam bem longe de conseguirem chegar à América do Norte. 

Apesar das dificuldades, a "primeira divisão" conseguiu criar seu arsenal nuclear em torno de meio século atrás, prova de que não é uma tecnologia tão impossível de obter no século 21. São os cinco países que eram os "grandes aliados" da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e que se tornaram os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas. 

Os EUA explodiram suas primeiras bombas A e H, em 1945 e 1952. A URSS, com bom auxílio de espionagem industrial-científica, veio a seguir, explodindo sua primeira bomba-A em 1949 e a primeira bomba-H em 1953. A Grã-Bretanha fez o mesmo, respectivamente em 1952 e 1957; a China em 1964 e 1967. A primeira bomba-A francesa explodiu em 1960 e a bomba-H em 1968. 

A segunda divisão são os países que se acredita terem bombas atômicas, apesar de alguns não revelarem sua posse. A Índia explodiu uma bomba-A em 1974 e pode ter a tecnologia para uma bomba-H. Acredita-se que Israel tenha várias bombas estocadas, assim como o Paquistão. A África do Sul do apartheid chegou a cogitar em ter a bomba. Brasil e Argentina renunciaram conjuntamente a produzir armamento nuclear. [a renúncia do Brasil foi um dos erros imperdoáveis do ex-presidente Collor.]
E há países do Primeiro Mundo, por exemplo Alemanha, Canadá, Itália e Japão, com tecnologia capaz de produzir bombas, mas que se recusam politicamente a fazê-lo.
Impacto
 
O que torna diferentes as armas nucleares das convencionais é a enorme concentração de energia em um tamanho pequeno, que pode ser liberada de repente com resultados devastadores. Armas nucleares também deixam um subproduto letal por muitos anos: material radioativo causador de doenças. Radioatividade é a propriedade de certos elementos de emitirem partículas ou radiação eletromagnética como fruto da instabilidade dos seus núcleos. A primeira bomba atômica foi detonada em 16 de julho de 1945, em um teste em Alamogordo, no deserto do estado de Novo México, EUA. Ela foi resultado de um ambicioso e secreto programa americano, o Projeto Manhattan.

A primeira bomba, assim como duas outras usadas contra o Japão nas cidades de Hiroshima e Nagasaqui, tinham todas o poder explosivo de cerca de entre 15 mil a 20 mil toneladas de TNT (o explosivo convencional trinitrotolueno), ou entre 15 e 20 kilotons (ainda se debate sobre a real capacidade dessas primeiras bombas, pois a tecnologia estava nascendo). 

Para medir a capacidade explosiva de uma arma nuclear se usam os termos "kiloton" e "megaton" _ um kiloton equivale à explosão de mil toneladas de TNT; um megaton corresponde a um milhão de toneladas. As armas usadas contra o Japão são pequenas perto do que se fez depois. Cientistas calcularam que, durante os seis anos da Segunda Guerra, em todos os continentes, foram empregados o equivalente a 3.000 kilotons (ou 3 megatons) de explosivo convencional. 

Os EUA testaram em1954 no mar em torno da ilha Bikini, no oceano Pacífico, uma bomba de hidrogênio de 15 megatons _ isto é, 15 milhões de toneladas de TNT, uma bomba entre 750 a 1.000 vezes mais potente que as lançadas contra o Japão. Mais de 2.000 armas nucleares foram testadas desde 1945 até hoje. Os EUA e URSS construíram durante a Guerra Fria um arsenal equivalente a 7.500 megatons _ isto é, suficiente para repetir a Segunda Guerra por 2.500 vezes.
Não é o tipo de poder que o mundo gostaria de ver nas mãos dos ditadores da Coreia do Norte. 

Fonte: Folha de S. Paulo/UOL 


O que é uma bomba de hidrogênio e o quanto ela é poderosa?

Este artigo foi originalmente publicado em 2016. Recuperamo-lo na sequência do mais recente ensaio nuclear norte-coreano.

Numa bomba de hidrogênio, uma grande parte da sua energia é obtida através da fusão dos núcleos dos seus átomos reações que imitam o que se passa no interior das estrelas, como o nosso Sol, onde os átomos de hidrogênio se fundem, dando origem a átomos de hélio e libertando gigantescas quantidades de energia.

Mas para que os átomos de hidrogênio se fundam nesta bomba, também conhecida como "bomba H" ou "bomba termonuclear", primeiro tem de haver um outro tipo de reações nucleares. Mais exatamente, reações de fissão nuclear, ou cisão nuclear. 

 Neste caso, o núcleo dos átomos (de urânio e plutônio) é partido, em vez de fundido, e é a energia libertada nestas primeiras reações nucleares que permite depois desencadear as reações de fusão dos núcleos de hidrogênio. Resumindo, primeiro há reações de fissão nuclear e em seguida de fusão nuclear.  O resultado é uma bomba nuclear muito mais poderosa do que as bombas unicamente de fissão nuclear, como aquelas que foram lançadas pelos Estados Unidos sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki em 1945.

Os principais pais da bomba de hidrogeno são Edward Teller e Stanislaw Ulam, que a desenvolveram para os Estados Unidos. O primeiro teste ocorreu em 1952, no atol de Eniwetok, nas ilhas Marshall, no Pacífico. O atol ficou totalmente destruído. Mike, como foi baptizada a primeira bomba H, tinha uma potência gigantesca: mais de dez milhões de toneladas de TNT. Ora uma bomba de hidrogénio com esta potência liberta 800 vezes mais energia do que a bomba lançada sobre Hiroshima.

Três anos depois dos Estados Unidos, a União Soviética fez explodir a sua primeira bomba de hidrogênio.

Fonte: UOL