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sábado, 11 de fevereiro de 2017

O universo paralelo de Temer & Cia.

Precisamos de um governo que não nomeie ou blinde suspeitos de corrupção, para frear a anarquia 

Ninguém pode dissociar a anarquia e a desordem no Espírito Santo, no Rio de Janeiro – e em outros estados mais ou menos falidos – da aparente irrealidade em que insistem em viver os políticos brasileiros. Os Três Poderes, capitaneados pelo presidente da República, Michel Temer, parecem se inspirar numa interpretação da física quântica que propõe a existência de múltiplos “universos paralelos” ou dimensões paralelas. Eles estão lá, e nós aqui.

O transtorno que acomete Temer & Cia. é grave e demolidor, para um Brasil que ansiava por um governo legítimo que não nomeasse ou blindasse suspeitos de corrupção. Um Brasil que foi às ruas por progresso, ética e ordem, e para tentar se livrar de figuras como Romero Jucá, Edison Lobão e outros menos cotados mas mais enlameados na Lava Jato do que a Peppa Pig.

Quando se dá a Temer o crédito de ter retirado Jucá de seu ministério, não sei se a pessoa aderiu ao Ensaio sobre a cegueira, de José Saramago, ou se acredita no universo paralelo criado no Planalto, no Congresso e pelo Brasil afora. “É preciso estancar essa sangria”, disse Jucá em gravação já famosa, referindo-se à Lava Jato. Jucá já não é ministro, mas se comporta como tal – o mais próximo talvez de Temer, fora Moreira Franco, que tem mudado de status a cada hora. A promoção a ministro deu a Moreira Franco foro privilegiado, assim como Dilma Rousseff tentou fazer com Lula e foi impedida. Tem toda a cara de blindagem, já que o “Angorá” foi citado em delações na Lava Jato. Desmentidos oficiais podem até convencer o Supremo, mas não convencerão a população, cansada de manobras para proteger a turma no comando, seja ela qual for. “Cia.”, abreviatura de Companhia, é o PMDB de José Sarney e Renan Calheiros.  Diz-se que Temer decidiu jogar seu xadrez para não acabar no xadrez ele próprio. Nosso presidente da República lê o livro Sapiens, do autor israelense Yuval Harari, que resume a história da humanidade (vi em EXPRESSO do jornalista Murilo Ramos).

 Segundo Harari, o homem dominou o planeta porque conseguiu se organizar e por acreditar em produtos de sua imaginação, como deuses e dinheiro.  Temer tem muita fé em sua imaginação e em seu ideário conservador para indicar Alexandre de Moraes para a vaga de Teori Zavascki no STF. Nem é preciso lembrar as gafes verbais cometidas por Moraes como ministro da Justiça (uma delas foi a promessa de “erradicar a maconha”). Ou sua tese de doutorado na USP, em julho de 2000, na qual Moraes escreveu que ninguém em cargo de confiança do presidente da República poderia ser indicado ao Supremo Tribunal Federal, para evitar “gratidão política”.

Rasguem-se disposições em contrário, porque a gratidão está em alta e Moraes é amigo de Marcela Temer e de Gilmar Mendes. Moraes será sabatinado por uma comissão que inclui dez senadores investigados pela Lava Jato – entre eles Renan e Jucá, suspeitos de tentar mudar leis para atrapalhar os inquéritos. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) é presidida por Lobão, o mesmo maranhense que era fiel escudeiro de Dilma.

Lobão foi ministro de Minas e Energia de Lula e de Dilma, em todo o seu primeiro mandato. Foi Teori Zavascki quem autorizou abrir a investigação contra Lobão em março de 2015, tirando o sigilo do inquérito que apura achaques milionários de Lobão a empresas. Foi o único senador a se abster na votação para manter ou não Delcídio do Amaral na prisão.

Mudou afinal o que nessa dança indigesta das cadeiras? Todos continuam “à disposição da Justiça”, todos “negam irregularidades”, todos “apoiam a Lava Jato”. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, fez “a campanha mais transparente possível” e nada tem a ver com a rapinagem de Sérgio Cabral. O novo presidente do Senado, Eunício Oliveira, do PMDB, o “Índio” das planilhas de propinas da Odebrecht, não recebeu R$ 2 milhões em duas parcelas, pagas em Brasília e São Paulo. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não alimentou com R$ 1 milhão em propina da OAS a campanha de seu pai, Cesar Maia, ao contrário do que diz a Polícia Federal. 

Temer diz não ter pressa de nomear um novo ministro da Justiça, numa semana em que a greve da Polícia Militar mergulhou o Espírito Santo na barbárie, deixando um estado refém de assaltantes e homicidas – e disseminando o pânico no resto da Federação. Mais uma prova de que Brasília criou um universo paralelo, sem conexão com o Brasil real.  Só se fala que a greve da PM é inconstitucional e ilegal. E é mesmo. Será que o mau exemplo vem de cima? Quando os partidos tentam aprovar na Câmara um projeto livrando a si próprios da Justiça Eleitoral, o país testemunha exatamente o quê? Respeito à letra da Constituição e ao eleitor?

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época

 

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Chutam cachorro morto


Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas.
Provavelmente você já observou o mesmo que eu. Ao longo dos anos, identificou a posição política dos formadores de opinião atuantes nos veículos a que acessa. Você reconhece, acima de qualquer dúvida, aqueles que emprestaram sua capacidade de influência para ajudar na construção da hegemonia petista. Você pode não saber o clube de futebol pelo qual cada um torce, mas percebe a que projeto político servem.

Da mesma forma você deve estar percebendo mudanças. De repente, jornalistas que sempre ajudaram o PT com os quatro pés passam a criticar o partido, a apontar nele, como se fossem deformações recentes, defeitos congênitos de conduta moral e posição política que o acompanham desde sua fundação em 1980.

Essas figuras me trazem à lembrança o falecido escritor José Saramago. Comunista, apoiou todas as violências, todas as execuções e todas as formas de repressão impostas pelo regime cubano sobre o povo da ilha entre 1959 e 2003. Nesse ano, após a execução dos três jovens negros que sequestraram uma embarcação e tentaram fugir para a Flórida, o velho rompeu com ele em um artigo publicado no jornal espanhol "El País" com o título "Hasta aquí he llegado". Ou seja, Saramago assistiu passivamente 27 mil mortes, mas 27003 eram demais para seu humanismo e para seus princípios.

Os jornalistas a que me refiro reproduzem essa hipocrisia. Os governos petistas nunca foram diferentes. Seus principais líderes nacionais sempre usaram o Estado em benefício próprio. Nunca tiveram líderes melhores. Nunca andaram em boas companhias. Nunca foram amantes da verdade. Nunca deram aos fatos importância maior do que às versões. Nunca admitiram os próprios erros. A "causa" sempre foi o critério determinante para a justificação de meios escusos. Por isso, processados, condenados e presos, seus líderes viraram, ato contínuo, guerreiros heróis do povo brasileiro.

Enfim, esses jornalistas estiveram com o PT até o dia 26 de outubro de 2014. Mas no dia 27 a casa caiu. Caiu? Eu os assisto agora, eu os leio agora, eu os ouço agora, batendo em cachorro morto. Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas. Embora os cidadãos das ruas e dos panelaços digam as mesmas coisas sobre o governo, não merecem palavras de estímulo à oposição que fazem. Afinal, isso beneficiaria a intolerável direita, não é mesmo? Continuarão, portanto, disseminando o mal por outros meios. Estão, simplesmente, trocando de montaria. Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis.

Por: Nivaldo Puggina -    www.puggina.org