Mudaram de lado? Não!
Fazem o mais fácil. Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de
manifestantes segundo suas classes sociais e "raças", identificam-nos
como conservadores, como direitistas, como golpistas.
Provavelmente
você já observou o mesmo que eu. Ao longo dos anos, identificou a posição
política dos formadores de opinião atuantes nos veículos a que acessa. Você reconhece, acima de qualquer dúvida, aqueles que emprestaram sua capacidade de influência para
ajudar na construção da hegemonia petista. Você pode não saber o clube
de futebol pelo qual cada um torce, mas percebe a que projeto político servem.
Da mesma
forma você deve estar percebendo mudanças. De repente, jornalistas que sempre ajudaram o PT com os quatro pés passam a
criticar o partido, a apontar nele, como se fossem deformações recentes,
defeitos congênitos de conduta moral e posição política que o acompanham desde
sua fundação em 1980.
Essas
figuras me trazem à lembrança o falecido
escritor José Saramago. Comunista, apoiou todas as
violências, todas as execuções e todas as formas de repressão impostas pelo
regime cubano sobre o povo da ilha entre 1959 e 2003. Nesse ano, após a
execução dos três jovens negros que sequestraram uma embarcação e tentaram
fugir para a Flórida, o velho rompeu com ele em um artigo publicado no jornal
espanhol "El País" com o
título "Hasta aquí he llegado".
Ou seja, Saramago assistiu passivamente
27 mil mortes, mas 27003 eram demais para seu humanismo e para seus princípios.
Os
jornalistas a que me refiro reproduzem essa hipocrisia. Os governos petistas nunca foram diferentes. Seus principais líderes
nacionais sempre usaram o Estado em benefício próprio. Nunca tiveram
líderes melhores. Nunca andaram em boas companhias. Nunca foram amantes da
verdade. Nunca deram aos fatos importância maior do que às versões. Nunca
admitiram os próprios erros. A "causa"
sempre foi o critério determinante para a justificação de meios escusos. Por
isso, processados, condenados e presos, seus líderes viraram, ato contínuo,
guerreiros heróis do povo brasileiro.
Enfim, esses jornalistas estiveram com o PT até o
dia 26 de outubro de 2014. Mas no dia 27 a casa caiu. Caiu? Eu os assisto agora, eu os leio agora, eu os ouço
agora, batendo em cachorro morto. Mudaram de lado? Não! Fazem o mais fácil.
Enquanto criticam o PT, escrutinam os milhões de manifestantes segundo suas
classes sociais e "raças",
identificam-nos como conservadores, como direitistas, como golpistas. Embora os cidadãos das ruas e dos panelaços digam as mesmas
coisas sobre o governo, não merecem palavras de estímulo à oposição que
fazem. Afinal, isso beneficiaria a
intolerável direita, não é mesmo? Continuarão,
portanto, disseminando o mal por outros meios. Estão, simplesmente,
trocando de montaria. Prefiro os irredutíveis porque são bem identificáveis.
Por: Nivaldo Puggina - www.puggina.org
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