Antes de
mais nada, é preciso considerar o momento dramático por que passa a segurança
do Rio. De acordo com os dados divulgados recentemente pelo ISP, em março foram
roubados no estado 5.358 carros, o maior número já registrado desde o início da
série histórica, em 1991. Outros crimes que bateram recorde foram os roubos a
pedestres (7.655), em ônibus (1.389), de celular (2.188) e de carga (917). Os
homicídios dolosos (intencionais), embora relativamente estabilizados — subiram
1%, de 498 para 503 — estão no maior patamar desde 2009. São números que
desafiam a intervenção federal, decretada no dia 16 de fevereiro.
Ao mesmo
tempo, não é segredo para ninguém a penúria que aflige as polícias fluminenses.
O déficit de policiais tem se refletido nas ruas. A ponto de o interventor,
general Braga Netto, ter determinado a volta de mais 3 mil homens — entre
policiais, bombeiros e agentes penitenciários — cedidos a órgãos como Assembleia
Legislativa, Tribunal de Justiça, prefeitura e governo do estado. Decisão,
aliás, que causou certo estreasse entre os poderes. Até pouco tempo atrás,
metade da frota da Polícia Militar estava parada por falta de manutenção. Novos
veículos estão sendo comprados, mas o problema ainda é grave. Repórteres do
GLOBO percorreram dez bairros do Rio com grande incidência de assaltos a
pedestres e, em 21 horas de ronda, encontraram apenas nove viaturas.
Portanto,
nesse contexto, é bem-vindo o anúncio de que o projeto Segurança Presente, que
já funciona na Lagoa, no Aterro do Flamengo, no Méier e no Centro, pode chegar
também ao Leblon. Trata-se de uma parceria público-privada que reúne o estado,
a prefeitura e a Federação de Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio) para
reforçar o policiamento em determinadas áreas da cidade. Nada há
de ilegal nessa iniciativa, muito pelo contrário. O acordo é feito com a
interveniência do Estado, e os agentes em sua maioria são policiais aposentados
ou egressos das Forças Armadas. Além disso, as equipes trabalham em sintonia
com as polícias Militar e Civil e a Guarda Municipal.
De fato,
uma auditoria da própria Fecomércio criticou o convênio, alegando que ele
refletia “a criação de um processo de milícia, por tratar-se de parceria entre
uma instituição privada e um ente público, oficializando a criação de uma
organização paramilitar”. Mas a comparação é descabida. Certamente os auditores
que produziram o relatório desconhecem o fato de que milícias agem à margem da
lei. A verdade
é que o convênio tem ajudado a melhorar a segurança nas áreas onde foi
implantado. Os números são altamente favoráveis. Na Lagoa, de junho a outubro
de 2017, não houve assalto a pedestres ou ciclistas. Lembre-se de que, em maio
de 2015, o médico Jaime Gold foi morto depois de um assalto a faca na orla da
Lagoa, num crime que chocou a cidade. Por isso, se é para salvar vidas, a
parceria deve ser estimulada, e não alvejada.
Editorial - O Globo