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sábado, 11 de fevereiro de 2023

O peso da História - Alon Feuerwerker

Análise Política

Um paradoxo assombra a política e a análise política. Luiz Inácio Lula da Silva e o Partido dos Trabalhadores elegeram-se porque conseguiram atrair por gravidade o apoio de um segmento minoritário da direita não bolsonarista. Um setor que participara ativamente da ofensiva antilulista e antipetista no dito mensalão, na Lava-Jato, no impeachment de Dilma Rousseff e na inelegibilidade e prisão de Lula.

Decorre também desse paradoxo o cenário curioso, mas analiticamente bem decifrável, em que Lula está obrigado a fazer um governo de coalizão com o “centro”, pois não detém maioria parlamentar própria, está longe disso, enquanto busca a todo momento e em todos os terrenos fortalecer seu campo político, programática e organicamente, e enfraquecer esse centro. Tem lógica, mas é uma linha algo diferente da do outro presidente Lula, aquele do passado.

Todo líder e grupo político buscam o poder. Se estão nele, a preocupação central é como mantê-lo. No caso de Lula e do PT, o cálculo delicado parece buscar o ponto ótimo em que a direita centrista estará com o governo para evitar sua queda, mas não ficará forte o suficiente para nutrir realisticamente ambições próprias. Ou, pior, voltar a flertar com o bolsonarismo que apoiou em 2018.

Enquanto oferece recompensas a esse grupo, ou conjunto de grupos, precisa também submetê-lo. É o que no PT se chama de “fazer a disputa”. No momento, Lula e o PT não estão “fazendo a disputa” somente contra Jair Bolsonaro, que afinal continua sendo o dono da esmagadora maioria do voto antipetista, mas também, e talvez principalmente, contra os companheiros ocasionais de viagem.

No passado, houve momentos em que Lula pareceu atraído pela possibilidade de as alianças táticas ganharem caráter estratégico. Entre 1989 e 1994, PT e PSDB foram partidos quase irmãos, ou pelo menos primos, nutridos ambos na luta contra o que se chamava de “corrupção e fisiologismo” da Nova República. O namoro acabou quando Fernando Henrique Cardoso se juntou ao PFL (hoje União Brasil) para derrotar Lula.

Depois, ao longo de seus 14 anos no Planalto, Lula pareceu progressivamente atraído pela possibilidade de uma união estável com o "centro democrático". O momento-chave foi quando buscou uma aliança com o então PMDB de Michel Temer na eleição da presidência da Câmara dos Deputados em 2007, o que abriu caminho para Temer ser o vice de Dilma em 2010. O mesmo Temer que viraria o pivô da deposição dela em 2016.

É verdade que em algum momento parte do PT calculou ser melhor para o futuro do partido a abreviação do governo Dilma. Outra verdade: na véspera do desfecho, Lula buscou os velhos aliados do MDB com um apelo dramático pela permanência de Dilma, mas bateu num muro de gelo. Ali já estava em pleno trabalho de parto o projeto de poder da aliança PMDB-PSDB.  Que depois foi atropelado pela revolução bolsonarista com quem o centro se abraçara em 2015-16.

A eleição de 2022 e os fatos recentes vêm ressuscitando o discurso da “frente ampla em defesa da democracia”, graças também à ajuda de Bolsonaro. Mas essa tentativa de repetição da história traz boa dose de artificialidade, pois, se é verdade que o PT nunca fez a autocrítica que os adversários lhe exigiram, também é fato que, no olhar de Lula e do PT, os hoje aliados são os mesmos que ontem os esfaquearam.

A História pesa. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político

 

quarta-feira, 13 de julho de 2022

Comerciantes criticam atraso nas obras do túnel no centro de Taguatinga

Construção interdita principal via do centro da cidade e tem incomodado quem precisa passar pelo local todos os dias. Lojistas da região tiveram perdas de 70% nas vendas: muitos pensam em fechar as portas devido à demora  

A demora das obras do Túnel de Taguatinga, iniciadas em julho de 2020, tem perturbado moradores, comerciantes, usuários do metrô, pedestres e motoristas que passam pela região diariamente.  
Previsto para ser entregue em junho do ano passado, o empreendimento teve o tempo de contrato expandido e, agora, a conclusão deve ocorrer, possivelmente, no segundo semestre de 2022. [segundo semestre significa no caso, vamos deixar bem claro, final de dezembro de 2022.] A princípio, o túnel custaria R$ 200 milhões, mas o Governo do Distrito Federal (GDF) estima que o preço total ficará em R$ 275 milhões. O Tribunal de Contas do DF (TCDF) apura superfaturamento em dois itens da construção.
 
Um longo tapume foi erguido para isolar o canteiro de obras e interditou boa parte da Avenida Central, uma das principais vias de Taguatinga, por onde circulam 26 mil veículos todos os dias. A rua tem origem na EPTG, e segue pela Avenida Elmo Serejo e faz a ponte entre o Plano Piloto e a Ceilândia, além de servir de caminho para Samambaia, Águas Claras, Guará e adjacências. A construção do túnel fechou um dos lados da Avenida Central e interrompeu o fluxo de veículos no sentido Ceilândia-Plano Piloto.

Além de desvios no trânsito, a obra complicou a circulação de pedestres, já que a entrada principal da Estação Praça do Relógio do metrô na Central está fechada. Não é possível atravessar de um lado a outro da Avenida Central por conta do tapume — e quem precisa cruzar a via tem de fazê-lo pela Avenida Comercial, perpendicular à Central. Os transtornos não afetam apenas a região central e alcançam todas as áreas próximas à construção.

Trânsito
Segundo a Secretaria de Obras, apenas um trecho de 250m da Avenida Elmo Serejo está interditado atualmente e a previsão é de que dure 40 dias. Na próxima semana, duas faixas, também de 250m cada, serão fechadas na Central, após o cruzamento com a Comercial. "Em ambas as situações, não se fez necessário desvios de trânsito, uma vez que parte das faixas de rolamento dessas vias permanece liberada para o tráfego de veículos", informou, em nota, a pasta.

Quem usa o trecho, porém, discorda da explicação da secretaria. O trajeto entre Ceilândia e Plano Piloto, de ônibus, ficou até 25 minutos mais longo devido às interdições, porque é necessário passar pela Avenida Samdu e pela Avenida das Palmeiras para chegar ao destino. Moradores de Ceilândia relataram ao Correio que o fechamento da Avenida Central sobrecarregou a Elmo Serejo, gerando engarrafamentos até a altura do estádio Serejão. Raimunda Gomes, presidente da Associação de Moradores de Ceilândia e Entorno, reitera os relatos. "A situação está muito ruim, com muito engarrafamento, nos dois sentidos. Está muito complicado essa demora", pede.

A situação também é dramática para os donos de estabelecimentos do centro de Taguatinga, conhecido pelo comércio tradicional, já que as interdições diminuíram a circulação de pessoas. Enquanto esteve no local, a reportagem presenciou a visita de um técnico da Neoenergia para cortar a rede elétrica de uma loja, por falta de pagamento. Sob um misto de indignação e tristeza, Cristhane Aguiar, dona de um comércio de calçados no mesmo local há 30 anos, conta ao Correio que praticamente "quebrou'' desde o início das obras. O estabelecimento fica de frente à saída do metrô fechada por conta da construção.

Com isso, o movimento na área está praticamente zerado. "Esta é uma loja de família. Já cheguei a vender R$ 15 mil em um dia, hoje consigo, no máximo, R$ 25. Eu tinha cinco funcionários, hoje não tenho mais nenhum. Estou passando por uma situação que não desejo para ninguém", entristece-se a comerciante, que chama de "desumana'' a ideia de começar a erguer o túnel em plena pandemia da covid-19. "O governador foi completamente inconsequente e desproporcional, não teve um pingo de pena", desabafa Cristhane, que está com o aluguel, de R$ 8 mil, vencido. O atraso na entrega da obra impacta diretamente no planejamento desses pequenos e médios empresários.

Tradição ameaçada
Além das dificuldades financeiras, a lojista tem lutado constantemente contra a falta de segurança. "Tem tido muito assalto e roubo. Fui ameaçada aqui dentro da loja com arma, arrombaram e levaram todo meu estoque. Trabalho sozinha, sem segurança nenhuma. Não tem policiamento", reclama. "Não consigo pagar nem mesmo a internet do celular e estou devendo impostos. Estou vivendo com medo e apavorada. Estou com raiva, me sinto humilhada", desabafa Cristhane, emocionada.

Wesley Alves, coordenador de uma farmácia de manipulação, calcula queda de 70% nas vendas por conta da construção. "Essa obra atrapalhou completamente o movimento da loja. Antes, formava fila para atendimento e tínhamos que distribuir senhas. Hoje, não temos clientes o suficiente", conta. "A falta de estacionamento é outro problema e quem vem de ônibus precisa descer do outro lado (na Praça do Relógio) e atravessar até aqui", relata o lojista, cujo estabelecimento também fica de frente para a passagem do metrô interditada pelas obras. "Estamos mantendo contato (com os clientes) por WhatsApp e fazendo entregas", explica Wesley, quando perguntado sobre as estratégias para driblar as dificuldades.

Gerente de uma ótica da região, Wellyson Israel de Paiva também sentiu os estragos e percebeu queda de 40% nas vendas. "Isso porque temos muitos clientes fiéis. Muitas lojas aqui não resistiram e fecharam ao longo desse tempo", conta. O comerciante pede agilidade na entrega do empreendimento. "A maioria das pessoas, quando descem do outro lado da avenida (Central), pensam que aqui está fechado (por conta do tapume). Sem falar que (o túnel) tinha a previsão de já ter sido entregue. Ficamos na expectativa para termos logo a normalização do comércio. Não está sendo fácil", desabafa Wellyson.

Na Galeria Central, o clima também é de indignação. "Os clientes não estão aparecendo. Está difícil pagar o aluguel", reclama Francisco Rodriguez, que mantém uma relojoaria no mall há 43 anos com a esposa, Rocilene de Souza Rodriguez. Eles perceberam diminuição de 70% na saída de mercadorias da loja. Devido à interdição dos estacionamentos causada pela obra do túnel, o casal precisou mudar de casa para se locomover ao trabalho de metrô. "Os engenheiros deviam ter pensado no comércio deste lado (oposto à Praça do Relógio) e ter feito uma passagem. Estamos tentando manter o ponto a todo custo. Na pandemia estava bem difícil, e bem quando retomou a circulação de pessoas, fecharam (a passagem). Aí acabou de vez. Se não abrir uma passagem aqui ainda neste ano, não vamos conseguir mais segurar as pontas", chateia-se Rocilene.

Raimundo Macedo, que também tem uma relojoaria na galeria, reforça as observações dos amigos. "Muitos aqui quebraram e o movimento só vai voltar quando abrirem uma passagem (no tapume). As despesas não baixaram, muito pelo contrário, só subiram. O faturamento está lá embaixo, mal está dando para pagar o aluguel. Vai ser difícil recuperar", preocupa-se o comerciante, no local há 47 anos. [Ibaneis já se destacou, negativamente, por tentar resolver crises no atendimento dos hospitais - por falta de médicos enfermeiros - demitindo diretores - não funcionou;

Inventou também a técnica de construir escolas,  hospitais e outras unidades de saúde, inaugurá-las e mantê-las fechada - por falta de médicos, enfermeiros e professores = NÃO FUNCIONOU;

Agora, quer ser reeleito construindo túnel sem concluir, "aumentar" a Segurança Pública sem contratar mais policiais, e por aí vai.]

Cidades - Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA

 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

ABOMINO A DIREITA E O CENTRO, PORÉM MUITO MAIS A ESQUERDA - Sérgio Alves de Oliveira

Detesto a direita 

A “rotulação” que a política e todo o seu aparato legal e “democrático” (lá das ‘cucuias’)  tenta impingir aos cidadãos e eleitores brasileiros se restringe meramente às diretrizes ideológicas emersas dos respectivos  partidos. “Eles” não admitem que alguém possa rejeitar qualquer uma das “receitas” oferecidas pelos partidos políticos.

Durante o Regime Militar de 64  já era assim. Se o sujeito contestava os governos militares era porque se tratava de um “comunista”, e assim era tratado; e se contestava a esquerda ,era porque seria um adepto da ditadura militar, ou dos “gorilas”,como diziam.

Mas nos dias atuais os políticos “evoluíram”. E muito. Passaram a admitir não só que o sujeito fosse de direita, ou de esquerda,mas também  que fosse de  “centro”. Inclusive formou-se no Congresso Nacional um grande grupo de parlamentares que passaram a formar o grupo  que chamam de “Centrão”.

Mas o tal “centrão” se constitui meramente na junção de “antigos” esquerdistas ou direitistas que não encontraram o espaço de protagonismo e liderança desejados  na “direita”,ou na “esquerda”. Pularam fora. E formaram o “Centrão”. Mas em suma: é tudo farinha do mesmo saco. Porém , infelizmente, não tem como se  votar em algum candidato que não seja de direita, de centro, ou de esquerda, porque TODOS os seus  partidos são ou um ou outro, e os candidatos devem fidelidade “canina” aos princípios dos seus partidos políticos.

Essa falta de opção dos brasileiros, que não concordam com as “receitas” dos partidos, evidentemente não significa nada mais ,nada menos, que a submissão do povo brasileiro à DITADURA dos partidos políticos, que pretendem empurrar goela-abaixo de todos do povo as suas respectivas ideologias ,de “quinta categoria”.

Mas num certo sentido a esquerda tem alguma  razão em criticar a direita por alguns dos seus malfeitos políticos enquanto governou, notadamente de 1964 a 1985.                                           

Com efeito,o Regime Militar não foi “perfeito”.Mas teve inúmeros pontos positivos, dentre os quais as obras de infraestrutura deixadas nesse período onde o pais deu um enorme salto do atraso rumo à prosperidade. Em matéria de energia elétrica, por exemplo, foram construídas as 5 (cinco) maiores usinas hidrelétricas ainda hoje em pleno funcionamento. Também o aspecto social não deixou a desejar, com inúmeras conquistas dos trabalhadores,mais do que tudo que foi feito de 1985 até hoje (FGTS,PIS/PASEP,etc.).

Mas o Regime Militar também falhou. E falhou muito. Falhou principalmente em não ter liquidado de vez a esquerda que tanto atormentara o país nos meses antecedentes ao movimento cívico-militar de março de 1964,que apeou do poder o Governo  João Goulart.

Enquanto o Regime Militar trabalhava muito  para retomar o caminho da prosperidade,interrompida desde que os esquerdistas entraram no Governo Goulart,em 1961,os que foram apeados do poder “hibernaram ”alguns anos à espera de alguma  oportunidade para voltarem ao poder, o  que veio acontecer em 1985, apesar dos “alertas” deixados pelos Presidentes Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo sobre o que aconteceria com os “ratos” da política  retomando o poder.o que acabou se confirmando com o tempo.   [a partir de 1985, com a famigerada Nova República, os ratos voltaram ao poder e foram montados vários esquemas se "roubo" aos cofres públicos - cada presidente tinha os seus comparsas nos assaltos aos cofres públicos. Só com a chegada de JAIR MESSIAS BOLSONARO ao Poder é que a corrupção institucionalizada foi interrompida - por isso, desde 1º janeiro 2019, iniciaram os esforços para retirar o capitão do Governo - esforços que apesar de variados e com poderosos participando fracassaram e continuarão fracassando.]

Portanto,”infelizmente”, os ex-presidentes Geisel e Figueiredo acertaram em “cheio”. A esquerda “vitaminada” que tomou posse da Presidência da República  a partir de 2003, com Lula da Silva,[o 'descondenado' luladrão] e que ficou até 2016 (ou 2018?), acabou “estacionando” e   até regredindo  tudo que fora conseguido pelo Regime Militar, além disso ”roubando” 10 trilhões  de reais do erário,algo jamais  visto na história da humanidade.

Portanto as chances do Brasil melhorar, oportunizando ao seu povo  melhores condições de desenvolver as suas plenas  potencialidades, considerando as eleições que se avizinham para outubro de 2022, só se tornarão factíveis com eliminação das piores alternativas, que pela “ordem”, residem, em primeiro lugar, na “esquerda”, e depois no “centro”.

Não que essa “direita” que anda por aí disputando o poder  se constitua  num “ideal” para o povo brasileiro,mas com certeza ela oportunizaria um avanço bem mais rápido rumo a esse “ideal”. Se a esquerda voltar ao poder,infelizmente esse “ideal” pode levar dezenas ou centenas de anos,com sacrifício de muitas gerações de brasileiros. Essa é uma “fatalidade” infelizmente  construída pela (pseudo)democracia brasileira ,que seria absolutamente impossível de mudar antes de outubro de 2022.As “cartas” políticas  estão dadas !!!

Antes de votar em outubro de 2022 deve ser  lembrado  que o comunismo deixou um rastro de 100 milhões de assassinatos  no mundo onde governou.

Sérgio Alves de Oliveira - Advogado e Sociólogo


quarta-feira, 23 de junho de 2021

"É raro o centro fazer mudança"

Alexandre Garcia

"O centro o que é? Hoje tem sido chamado de terceira via e busca a imagem de virtuoso, pacificador e alternativa entre a esquerda e a direita, como se polarização fosse um mal"

[a polarização  raramente é um mail e sim um bem; mesmo quando é classificada como um mal, é um mal necessário.
O Brasil precisa de uma polarização - que não será maléfica - para forçar definições. Impossível é um país em que nada é certo, muitas vezes valores essenciais podem ser alterados por uma decisão solitária, não ser submetido a um processo de definições = a polarização é um dos caminhos.]

 Neste ano que antecede a eleição presidencial e a de governadores, na semana passada houve movimentos que adicionaram nomes ao Partido Socialista Brasileiro, indicando que há um objetivo nisso. Marcelo Freixo deixou o PSol e entrou ontem no PSB, junto com o governador Flávio Dino, que deixou o Partido Comunista do Brasil. Podem fazer o mesmo o ex-ministro e deputado federal Orlando Silva e a ex-candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad, Manoela d’Ávila. As mudanças teriam recebido a bênção de Lula. Estranhamente, não foram reforçar o PT.[agora some o valor, incluindo a capacidade eleitoral, de cada um dos nomes destacados e se obtém pouco mais que um ZERO. Não vale a pena sequer cogitar sobre eles - além do mais receberam todas as maldições do satã petista - o diabo não abençoa, apenas amaldiçoa.]

Pode-se imaginar que ficou pesado carregar a sigla PT, depois do que a Lava-Jato mostrou, com tesoureiros do partido presos e o próprio líder máximo passando um tempo na cadeia e, agora, livre, mas não inocentado. Ficou pesado também carregar a fama de partido radical, como o Psol, e mais ainda a denominação comunista. O Partido Comunista Brasileiro já havia se transformado em PPS — Partido Popular Socialista —, mas até essa denominação foi descartada e hoje é Cidadania — um nome mais aceito.

O interessante é que esses movimentos são considerados em direção à centro-esquerda, como se o PSB ou PSDB tivessem vergonha de dizer que são esquerda — e aí se abrigam na periferia do centro. Na verdade, é uma inversão do que acontecia em anos anteriores a 2018, com partidos de direita que se abrigavam em cima do muro do centro, tal como o PFL, hoje DEM, e o PL, por exemplo. A direita, por anos encolhida e camuflada, agora é mais explícita que a esquerda, que hoje está com receio de assustar a maioria flutuante que decide eleições.

E o centro o que é? Hoje tem sido chamado de terceira via e busca a imagem de virtuoso, pacificador e alternativa entre a esquerda e a direita, como se polarização fosse um mal. A maior democracia do mundo sempre teve dois polos: republicanos e democratas, e funciona. Além de tudo, as mudanças reais nos países têm sido feitas por governos de esquerda ou de direita. É raro o centro fazer mudança. O centro costuma falar em mudança, sim, mas apenas finge, para amortecer a necessidade de mudar. “Mudar para não precisar mudar”.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


quarta-feira, 26 de setembro de 2018

O centro, como se chega ao centro?

Nesta eleição, como se chega ao centro?

Haddad e Bolsonaro devem se afastar dos extremos, caberá aos eleitores decidir em qual dos dois acreditam 

Tudo indica que Jair Bolsonaro e Fernando Haddad disputarão o segundo turno. [lembrem que em 2014 na reta final houve mudança entre o segundo e terceiro lugar - Aécio foi para o segundo turno, quando tudo indicava que seria Marina a ir; fato   que pode se repetir, caindo o poste-laranja do presidiário Lula para o terceiro lugar.]Na última pesquisa do Ibope um tem 28% das preferências, e o outro ficou com 22%. Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Alvaro Dias, Henrique Meirelles e João Amoêdo têm juntos 31%. Essa percentagem, somada aos que não responderam e aos que preferem o voto nulo ou em branco, vai a 49%. Portanto, perto da metade do eleitorado ainda estaria potencialmente disponível num segundo turno.

 Os candidatos dos partidos de Lula e de Levy Fidelix (o do Aerotrem) deverão buscar a diferença no mar dos disponíveis, ambos procurando afastar a imagem de radicais. O centro não foi à campanha, mas Bolsonaro, com 46% de rejeição e Haddad, com 30%, tentarão buscá-lo. Será um exercício de acrobacia política, e a responsabilidade final ficará para os eleitores que vierem a acreditar na versão light do PT ou de Bolsonaro.  O capitão reformado dizendo que nada tem contra as mulheres poderá até ser verdade, mas, nesse caso, não se deve acreditar nele, pelo que disse através dos tempos. O mesmo se pode dizer de Haddad quando repete que acredita nos mecanismos de combate à corrupção, apesar de nunca ter concordado com a prisão de um só petista condenado por corrupção.

Uma coisa é certa: por mais que se deteste o PT, ele tem um comprovante factual de respeito à democracia: governou o país durante 12 anos respeitando a Constituição. Ocorreram alguns incidentes de violência, mas eles não afetam essa constatação. [será que não afetam?]  Petistas quebraram o nariz de um manifestante nos primeiros meses do mandato de Lula, e em abril passado um cidadão que protestava em frente ao Instituto Lula foi espancado por companheiros do ex-presidente.

Bem outra é a trajetória de Bolsonaro e de seu candidato a vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Um negou que o Brasil tenha vivido uma ditadura entre 1964 e 1985. O outro expôs crítica e didaticamente uma hipotética situação de desordem, usando a palavra “autogolpe”, coisa que “já houve em outros países”, mas “aqui nunca houve”. Engano, na ditadura que ditadura não teria sido, deram-se três autogolpes. O primeiro, em 1965, com o AI-2, que extinguiu as eleições diretas. O segundo em 1968, com o AI-5, que fechou o Congresso e suspendeu o habeas corpus. O terceiro, em 1969, quando foi deposto o vice-presidente Pedro Aleixo, empossando-se a Junta dos Três Patetas, nas palavras de Ernesto Geisel (em privado) e de Ulysses Guimarães (em público). [todas ações ocorridas durante o Governo Militar, ações que alguns chamam de golpe, foram realizadas para restabelecimento da Ordem e da Governabilidade - fortemente abaladas por atos terroristas da esquerda.
Falando apenas de um dos SUPOSTOS golpes - o AI-5 - não tivesse sido editado o Brasil hoje estaria pior que a Venezuela; deixar que a situação vigente em 68, os malditos terroristas e guerrilheiros realizando ações terroristas, - covardes, criminosas e sangrentas,  vitimando inocentes - que buscavam derrubar o  GOVERNO MILITAR.
Não fosse o Ato Institucional nº 5 - AI-5 - que completará 50 anos de Glória no próximo 13 de dezembro -  o Brasil já naquela época seria transformado em uma Cuba. ]

Bolsonaro tem um longo caminho a percorrer para chegar a um centro no qual se coloque como defensor das instituições democráticas. Seus eventuais eleitores terão a tarefa de acreditar nele. Nesse aspecto, vale uma ressalva: é considerável o número de defensores da sua candidatura com bom nível de escolaridade e sobretudo de renda que flertam com o colapso das instituições democráticas. Essa camada de viúvas da ditadura foi magistralmente tipificada pelo marechal Castello Branco quando se referiu às “vivandeiras alvoroçadas, (que) vêm aos bivaques bulir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar.” Ele as sentiu na pele em 1965 e morreu dois anos depois, supondo que poderia impedir o encantamento dos granadeiros em 1968. As vivandeiras de hoje sonham com um governo de Bolsonaro com o economista Paulo Guedes no Ministério da Fazenda. Quando podem, escondem-se atrás do que se chama de “mercado”. Se pusessem a cara na vitrine, estariam batalhando pelo tão apreciado Henrique Meirelles (2%) ou por João Amoêdo (3%). Preferiram o atalho Bolsonaro.

Elio Gaspari, jornalista - O Globo


 

aack: o maior adversário de Bolsonaro é o próprio Bolsonaro - InfoMoney
Veja mais em: https://www.infomoney.com.br/mercados/politica/noticia/7631180/william-waack-o-maior-adversario-de-bolsonaro-e-o-proprio-bolsonaro

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Para salvar vidas



Antes de mais nada, é preciso considerar o momento dramático por que passa a segurança do Rio. De acordo com os dados divulgados recentemente pelo ISP, em março foram roubados no estado 5.358 carros, o maior número já registrado desde o início da série histórica, em 1991. Outros crimes que bateram recorde foram os roubos a pedestres (7.655), em ônibus (1.389), de celular (2.188) e de carga (917). Os homicídios dolosos (intencionais), embora relativamente estabilizados — subiram 1%, de 498 para 503 — estão no maior patamar desde 2009. São números que desafiam a intervenção federal, decretada no dia 16 de fevereiro.

Ao mesmo tempo, não é segredo para ninguém a penúria que aflige as polícias fluminenses. O déficit de policiais tem se refletido nas ruas. A ponto de o interventor, general Braga Netto, ter determinado a volta de mais 3 mil homens — entre policiais, bombeiros e agentes penitenciários — cedidos a órgãos como Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça, prefeitura e governo do estado. Decisão, aliás, que causou certo estreasse entre os poderes. Até pouco tempo atrás, metade da frota da Polícia Militar estava parada por falta de manutenção. Novos veículos estão sendo comprados, mas o problema ainda é grave. Repórteres do GLOBO percorreram dez bairros do Rio com grande incidência de assaltos a pedestres e, em 21 horas de ronda, encontraram apenas nove viaturas.

Portanto, nesse contexto, é bem-vindo o anúncio de que o projeto Segurança Presente, que já funciona na Lagoa, no Aterro do Flamengo, no Méier e no Centro, pode chegar também ao Leblon. Trata-se de uma parceria público-privada que reúne o estado, a prefeitura e a Federação de Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio) para reforçar o policiamento em determinadas áreas da cidade. Nada há de ilegal nessa iniciativa, muito pelo contrário. O acordo é feito com a interveniência do Estado, e os agentes em sua maioria são policiais aposentados ou egressos das Forças Armadas. Além disso, as equipes trabalham em sintonia com as polícias Militar e Civil e a Guarda Municipal.

De fato, uma auditoria da própria Fecomércio criticou o convênio, alegando que ele refletia “a criação de um processo de milícia, por tratar-se de parceria entre uma instituição privada e um ente público, oficializando a criação de uma organização paramilitar”. Mas a comparação é descabida. Certamente os auditores que produziram o relatório desconhecem o fato de que milícias agem à margem da lei.  A verdade é que o convênio tem ajudado a melhorar a segurança nas áreas onde foi implantado. Os números são altamente favoráveis. Na Lagoa, de junho a outubro de 2017, não houve assalto a pedestres ou ciclistas. Lembre-se de que, em maio de 2015, o médico Jaime Gold foi morto depois de um assalto a faca na orla da Lagoa, num crime que chocou a cidade. Por isso, se é para salvar vidas, a parceria deve ser estimulada, e não alvejada.

Editorial - O Globo