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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A Versão do coronel Ustra




Por: Carlos Alberto Brilhante Ustra - Cel Ref do EB
 


Eu, jamais poderia ter torturado Hélcio Pereira Fortes e ter planejado e executado a versão da sua morte, porque  no período de 10 de janeiro a 9 de fevereiro de 1972, estava afastado das minhas funções, em férias, na cidade da Santa Maria/RS. Este período do meu afastamento foi publicado no Boletim Interno do II Exército, de 5 de janeiro de 1972, que publico na integra: “ FÉRIAS: A 05 Jan, foi público ter-lhe sido concedido um período de férias regulamentares relativas ao ano de 1970, a partir de 10 Jan72, o qual deverá apresentar-se pronto para o serviço, no dia 09 Fev 72”. Cópia dessas alterações serão encaminhadas ao meu advogado, Dr Paulo Esteves. 

Como tem acontecido nos processos a que temos sido submetidos,  este documento oficial do Exército Brasileiro deverá ser desconsiderado, assim como tem sido desconsiderados todos os laudos técnicos e as publicações nos jornais da época, por vários membros da Justiça, da CNV, e de grande parte da imprensa, porque “tudo foi forjado pela ditadura”.

 Agora o que está valendo é o depoimento de ex-terroristas revanchistas que, em cada processo, se reúnem, combinam o que vão falar em juízo e afirmam  que nos viram  torturando, batendo em crianças, planejando laudos falsos etc... é a palavra deles contra a nossa. E neste atual processo não duvido que apareçam 5 ou 6 deles que vão afirmar que as minhas férias foram inventadas e que me viram neste período lá no DOI.

Por outro lado, não tenho testemunhas. Quem vou apresentar para depor a meu favor? Antigos subordinados, com idade avançada,  os quais preciso preservar para evitar que passem pelas mesmas atitudes revanchistas de que tenho sido alvo?


 Senhor procurador, o senhor sabe qual é a verdadeira história de Darcy Toshico Mihiaki? 
Ela pertencia à Ação Libertadora Nacional – ALN - , uma das mais sanguinárias  organizações terroristas. Usava documentos falsos em nome de Luciana Sayori Shindo e Áurea Tinoco Endo. Viajou para Cuba em 1968, com os documentos falsos em nome de Ordélia Ruiz. Nesse país, durante um ano e três meses, participou de um curso de guerrilha. Retornou ao Brasil em junho de 1971, sendo integrada ao Setor de Inteligência da ALN. Residia no aparelho de Lídia Guerlanda a qual perdeu a mão durante um treinamento de lançamento de bomba. Darcy foi para o Rio de Janeiro a mando de Yuri Xavier Pereira para cobrir um ponto com Hélcio Pereira Fortes. Foi presa, enquanto esperava o contato, na Rua Ataulfo de Paiva, no Leblon. Recém chegada de Cuba ainda não participara de ação armada.

Pela sua denúncia, isto ocorreu no dia 22/01/1972.
Ainda segundo a sua denuncia, Hélcio morreu no dia 30 ou 31 de janeiro de 1972.


   
 Depois de 42 anos passados, é difícil me lembrar de todos os detalhes ocorridos sob o meu comando no DOI, mas imagino que Hélcio, com um passado terrorista invejável, deveria ter cumprido as instruções da ALN de tentar a fuga ou o suicídio. Penso que ele deve ter dado um “ponto frio” (inexistente)  ou um “ponto de polícia” (um local onde seus companheiros tentariam resgatá-lo). Num destes pontos deve ter tentado a fuga. Nestes casos os agentes encarregados da cobertura do ponto atiravam no fugitivo. Se o fugitivo caísse ferido era levado para o Hospital Militar e, se tivesse sido morto. seu corpo  era conduzido ao DOI para ser encaminhado ao Instituto Médico Legal e para as demais providências do seu sepultamento, providências estas a cargo da  Secretaria de Segurança Pública.

Deve ter sido isto o que aconteceu com Hélcio Pereira Fortes e que, agora, Darcy  trocou pelas cenas de tortura. Como sempre a versão dela vai prevalecer. Lembro-me bem de Darcy Toshiko Mihiaki pois ela permaneceu no DOI por alguns meses. Falei a primeira vez com  Darcy no dia em que voltei de férias, em 9 de fevereiro de 1972, ao fazer a  revista matinal aos presos.  Ela estava muito bem e não se queixou de nada.  

Recentemente, vi uma reportagem onde ela afirma que no DOI foi barbaramente torturada, que tomou choques elétricos na vagina que a deixaram estéril. Muito diferente da Darcy que  algumas semanas depois da sua prisão, me pediu, em nome de Rioco, Márcia, Mari, e Eliane, todas ocupantes da mesma cela dela e de Linda, que não fossem encaminhadas ao Presidio Tiradentes, como era o procedimento normal. Justificava seu pedido informando que no DOI eram muito bem tratadas, tinham certeza de que Linda, que estava grávida, teria um acompanhamento pré-natal adequado. Respondi que ali era um órgão operacional e que isto não seria possível.

 Após muita insistência da parte delas, o Comandante do II Exército autorizou a permanência até o nascimento do filho de Linda. E assim elas ficaram no DOI, " na casa dos horrores", "onde mulheres eram estupradas" e "crianças era torturadas" .Depois que o filho de Linda nasceu, "em 05 de setembro de 1972 com o  ”oficio 574/72 - E2- DOI  , foram encaminhadas ao Diretor do Presidio Tiradentes  pedindo que Rioco, Marcia, Mari, Eliane, Darcy e Linda fossem recolhidas na mesma cela , possibilitando, dessa forma, que seja por elas mesmas prestada assistência à Linda Tayah, a qual se encontra ainda, em convalescença, por ter dado à luz recentemente. 

Carlos Alberto Brilhante Ustra – Maj – Cmt do Destacamento de Operações de Informações.”
[desta vez apesar dos esforços dos revanchistas e da conivência de membro do Ministério Público Federal a verdade triunfou e Ustra foi inocentado.]