Por: Carlos Alberto
Brilhante Ustra - Cel Ref do EB
Eu,
jamais poderia ter torturado Hélcio Pereira Fortes e ter planejado e executado
a versão da sua morte, porque no período de 10 de janeiro a 9 de
fevereiro de 1972, estava afastado das minhas funções, em férias, na cidade da
Santa Maria/RS. Este período do meu afastamento foi publicado no Boletim
Interno do II Exército, de 5 de janeiro de 1972, que publico na integra: “ FÉRIAS: A 05 Jan, foi público ter-lhe sido
concedido um período de férias regulamentares relativas ao ano de 1970, a
partir de 10 Jan72, o qual deverá apresentar-se pronto para o serviço, no dia
09 Fev 72”. Cópia dessas alterações serão encaminhadas ao meu advogado, Dr
Paulo Esteves.
Como tem acontecido nos processos
a que temos sido submetidos, este documento oficial do Exército Brasileiro deverá ser
desconsiderado, assim como tem sido desconsiderados todos os laudos técnicos e
as publicações nos jornais da época, por vários membros da Justiça, da CNV, e
de grande parte da imprensa, porque “tudo
foi forjado pela ditadura”.
Agora o que está valendo é o depoimento de
ex-terroristas revanchistas que, em cada processo,
se reúnem, combinam o que vão falar em juízo e afirmam que nos viram
torturando, batendo em crianças, planejando laudos falsos etc... é a
palavra deles contra a nossa. E neste atual processo não duvido que apareçam 5
ou 6 deles que vão afirmar que as minhas férias foram inventadas e que me viram
neste período lá no DOI.
Senhor procurador, o senhor sabe qual é a
verdadeira história de Darcy Toshico Mihiaki?
Ela
pertencia à Ação Libertadora Nacional – ALN - , uma das mais sanguinárias organizações terroristas. Usava documentos falsos em nome
de Luciana Sayori Shindo e Áurea Tinoco Endo. Viajou para Cuba em 1968, com os
documentos falsos em nome de Ordélia Ruiz. Nesse país, durante um ano e três
meses, participou de um curso de guerrilha. Retornou ao Brasil em junho de
1971, sendo integrada ao Setor de Inteligência da ALN. Residia no aparelho de
Lídia Guerlanda a qual perdeu a mão durante um treinamento de lançamento de
bomba. Darcy foi para o Rio de Janeiro a mando de Yuri Xavier Pereira para
cobrir um ponto com Hélcio Pereira Fortes. Foi presa, enquanto esperava o
contato, na Rua Ataulfo de Paiva, no Leblon. Recém chegada de Cuba ainda não
participara de ação armada.
Pela sua
denúncia, isto ocorreu no dia 22/01/1972.
Ainda
segundo a sua denuncia, Hélcio morreu no dia 30 ou 31 de janeiro de 1972.
Depois
de 42 anos passados, é difícil me lembrar de todos os detalhes ocorridos sob o
meu comando no DOI, mas imagino que Hélcio, com um passado terrorista
invejável, deveria ter cumprido as instruções da ALN de tentar a fuga ou o
suicídio. Penso que ele deve ter dado um “ponto frio” (inexistente) ou um
“ponto de polícia” (um local onde seus companheiros tentariam resgatá-lo). Num
destes pontos deve ter tentado a fuga. Nestes casos os agentes encarregados da
cobertura do ponto atiravam no fugitivo. Se o fugitivo caísse ferido era levado
para o Hospital Militar e, se tivesse sido morto. seu corpo era conduzido
ao DOI para ser encaminhado ao Instituto Médico Legal e para as demais
providências do seu sepultamento, providências estas a cargo da
Secretaria de Segurança Pública.
Deve ter
sido isto o que aconteceu com Hélcio Pereira Fortes e que, agora, Darcy
trocou pelas cenas de tortura. Como sempre a versão dela vai prevalecer. Lembro-me
bem de Darcy Toshiko Mihiaki pois ela permaneceu no DOI por alguns meses. Falei
a primeira vez com Darcy no dia em que voltei de férias, em 9 de
fevereiro de 1972, ao fazer a revista matinal aos presos. Ela
estava muito bem e não se queixou de nada.
Recentemente,
vi uma reportagem onde ela afirma que no DOI foi barbaramente torturada, que
tomou choques elétricos na vagina que a deixaram estéril. Muito
diferente da Darcy que algumas semanas depois da sua prisão, me pediu, em
nome de Rioco, Márcia, Mari, e Eliane, todas ocupantes da mesma cela dela e de
Linda, que não fossem encaminhadas ao Presidio Tiradentes, como era o
procedimento normal. Justificava seu pedido informando que no DOI eram muito
bem tratadas, tinham certeza de que Linda, que estava grávida, teria um
acompanhamento pré-natal adequado. Respondi que ali era um órgão operacional e
que isto não seria possível.
Após
muita insistência da parte delas, o Comandante do II Exército autorizou a
permanência até o nascimento do filho de Linda. E
assim elas ficaram no DOI, " na casa dos horrores", "onde
mulheres eram estupradas" e "crianças era torturadas" .Depois
que o filho de Linda nasceu, "em 05 de setembro de 1972 com o
”oficio 574/72 - E2- DOI , foram encaminhadas ao Diretor do Presidio
Tiradentes pedindo que Rioco, Marcia, Mari, Eliane, Darcy e Linda fossem
recolhidas na mesma cela , possibilitando, dessa forma, que seja por elas
mesmas prestada assistência à Linda Tayah, a qual se encontra ainda, em
convalescença, por ter dado à luz recentemente.
Carlos Alberto Brilhante Ustra –
Maj – Cmt do Destacamento de Operações de Informações.”
[desta vez apesar dos esforços dos
revanchistas e da conivência de membro do Ministério Público Federal a verdade
triunfou e Ustra foi inocentado.]