Por Rodrigo Constantino
Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.
O ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, resolveu ironizar, usando um trocadilho da ciência, a decisão do governo de incluir no protocolo do SUS a liberdade de escolha da hidroxicloroquina. Ele brincou que se trata de um "duplo cego", pois dois leigos autorizaram algo que deveria ser feito por especialista: Mandetta, o ortopedista e político do DEM, fazendo troça com o "duplo cego" de leigos indicando cloroquina é a piada pronta mesmo. O sujeito condenou o remédio com base num "estudo" que foi parar na polícia de tão bizarro! Pessoas morreram em Manaus após dosagem absurda, e o Ministério Público está com o caso nas mãos.
Enquanto isso, o outro "estudo", publicado na Lancet e com quase 100 mil pessoas, mostrou-se igualmente fraudulento, após se descobrir que a empresa pequena usada para coleta de dados tinha como representantes um escritor de ficção científica e um ator pornô. A OMS, que tinha suspendido testes com o remédio, voltou atrás depois que a informação veio à tona. A OMS é a grande inspiração "científica" do Mandetta, e não passa de um puxadinho político da ditadura chinesa. [o diretor-geral da OMS é um ex-guerrilheiro etíope - por essas e outras mancadas é que sempre consideramos o Mandetta um oportunista que usava as 'entrevistas' como palanque político.]
Mas após seus discursos infindáveis, que voltavam até à sua infância, e antes de sair cantando e abraçando funcionários sem máscara na despedida, o Rolando Lero repetia: "ciência, ciência, ciência!" A mesma "ciência" que o prefeito tucano de SP usa para definir como 61% a taxa de ocupação de leito para liberar abertura, sem ninguém compreender qual modelo aponta esse número, em vez de, digamos, 67% ou 75%. Foi a ciência que fez com que Covas adotasse rodízio mais rigoroso de carros, empurrando milhares para a aglomeração no transporte público?
Mas a saída do "científico" Mandetta do governo foi um dos exemplos que Sergio Moro usou para apontar, em sua estreia como blogueiro do Globo, o "populismo autoritário" de Bolsonaro. O ex-ministro da Justiça apresentou as supostas evidências do que acusou no texto, que era para atacar o populismo da esquerda e da direita, mas só atacou Bolsonaro:
Os exemplos se multiplicam. Radares devem ser retirados das rodovias federais, ainda que isso leve ao incremento dos acidentes e das mortes; agentes de fiscalização ambiental devem ser exonerados se atuarem efetivamente contra o desmatamento ou queimadas; médicos devem ser afastados do Ministério da Saúde pois a pandemia do coronavírus atrapalha a economia, e agentes policiais federais não podem cumprir “ordens absurdas” quando dirigidas contra aliados político-partidários.
Ou seja, retirar radares que todos sabem que são caças-níquéis, fazer a limpa no esquema ambientalista que mama nas tetas públicas e afastar o Rolando Lero, eis as provas do autoritarismo do presidente segundo Moro!
O ex-juiz já não "descarta" mais uma candidatura: “Ainda estou, por conta da turbulência da saída, discutindo mais a turbulência do que qualquer outra coisa, vejo também que estamos no meio de uma pandemia, então não tenho sequer cabeça para pensar em perspectivas eleitorais. O que eu quero é continuar participando do debate público. Acho que tenho condições de contribuir ao debate público, ainda que como um espectador, um comentarista.”
Legítimo, claro. Moro tem um passado louvável como juiz da Lava Jato, e também como ministro de Bolsonaro. Já em seu novo figurino de candidato, que não consegue mais esconder de ninguém, a coisa complica um pouco. Como disse Guilherme Fiuza, melhor Moro trocar de marqueteiro, pois esse aí está dando muita bandeira. Todos já perceberam que Moro vem como uma espécie de "tucano da Globo", talvez pelo Podemos, talvez com Luciano Huck.
Mas esse papo de "alternativa aos extremos" pode pegar mal quando cada vez mais gente notar que a tal alternativa tem inclinação à esquerda.
Quando Moro tiver de apresentar suas ideias políticas, o que veremos?
A defesa do desarmamento?
O globalismo de Ilana Szabó? Um discurso politicamente correto que agrada ao establishment? Boa sorte, pois vai precisar!
O risco de Moro é ser demandado demais pela esquerda oportunista, que odeia Bolsonaro, mas acabar ignorado pelo povo, como aconteceu com Joaquim Barbosa. Mandetta dificilmente é eleito para síndico de prédio, imagina para a Presidência da República (mas o sonho é livre). Se Moro seguir na mesma linha de discursinho pasteurizado, dando entrevistas ao Fantástico atacando o governo, vai fazer o maior sucesso nas festinhas do Beautiful People, mas vai afundar nas urnas em 2022.
Talvez o caso de "duplo cego" seja mesmo o dos dois ex-ministros, que não se deram conta das mudanças no país, do cansaço do povo com as falas mansas de quem, na prática, endossa as mesmas receitas fracassadas dos "progressistas".
Rodrigo Constantino, jornalista - Vozes - Gazeta do Povo
É natural que depois de passar pelo que ele passou em Juiz de Fora ele se preocupasse mais com a proteção da família. Nada disso tem a ver com o ministro da Justiça. Bastava falar com o ministro que comanda o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, das suas apreensões. Certamente a segurança seria reforçada para a tranquilidade do presidente.
Mas todo o conflito foi com o então ministro da Justiça, toda a pressão foi para tirar o diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo, porque queria outro com quem ele tivesse mais “afinidade”, e o fim último era trocar o superintendente no Rio de Janeiro. Não faz sentido, se a preocupação era a segurança da família. Dentro do governo argumentam em favor do presidente certas minúcias. Aí é que está. Esse tipo de argumentação de detalhes só mostra a posição de fragilidade em que já se encontra o governo. O argumento de que Valeixo disse que nunca ocorreu interferência enquanto ele estava lá só confirma que Moro e Valeixo foram impedimentos para que Bolsonaro realizasse seu projeto e por isso eles precisaram ser removidos.
Não fica de pé o argumento que Bolsonaro usou ontem de que não falou em “Polícia Federal” durante a reunião. Nem precisava. Se a bronca era sobre Moro, que era o chefe hierárquico da Polícia Federal, de que outro órgão ele estaria falando? E os fatos que se seguiram à reunião do dia 22 mostraram que era isso mesmo que ele queria que acontecesse, tirar um diretor sem qualquer motivo aparente, mesmo que para isso precisasse derrubar um ministro, para assim nomear seu amigo Alexandre Ramagem. E trocar o superintendente do Rio. Todos os outros argumentos que Bolsonaro usou ontem são sem sentido, como o de que ele poderia destruir a fita. Não poderia. Seria obstrução de Justiça, destruição de prova. Ele estaria muito mais encrencado ainda.
A maneira absurda e criminosa com que Bolsonaro está agindo durante esta crise, que só no dia de ontem matou 881 pessoas, já é motivo suficiente para o afastamento do presidente. Ele não conseguiu entender até este momento, diante de 12.400 mortos, que riscos os brasileiros correm diariamente. Ainda ameaça quem não cumprir seus decretos desprovidos de razão, como o da liberação de academias e salões, e defende a tese de que não precisa ouvir o Ministério da Saúde. No meio desta pandemia que nos sangra, com uma crise econômica brutal, o país é exaurido em suas forças pelos problemas criados pelo presidente. Tanto a demissão de Mandetta quanto a de Moro foram crises que ele inventou para tumultuar ainda mais a situação do país.[duas demissões merecidas:
- a do Mandetta se justifica já que nada fazia para combater o vírus - só comícios contra o chefe - e era indisciplinado e insubordinado;
- a do Moro, simplesmente se transformou do magistrado que merecia a consideração de milhões de brasileiros em um cidadão que se colocou, pensando na eleição de 2022, a serviço do 'mecanismo' e demonstrou que o seu conceito de dignidade é vago = vazou conversas de afilhada de casamento.]
A soma dos indícios que já se acumulam em torno dele mostra que Bolsonaro gastará os próximos meses se defendendo, na PGR ou no Congresso. Suas únicas saídas são a de Aras preparar uma pizza ou de o centrão evitar seu naufrágio. Nesse último caso, nada sobrará da política econômica com a qual o ministro Paulo Guedes defendeu sua eleição junto aos agentes econômicos. [o presidente Bolsonaro não vai precisar gastar muito tempo para sua defesa = as acusações não se sustentam.]
Míriam Leitão, jornalista - O Globo - com Alvaro Gribel, de São Paulo