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quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Haddad: Defesa de Lula vai ao STJ por candidatura e TSE deveria esperar


Candidato a vice na chapa, ex-prefeito afirmou que pedido questionará inelegibilidade e chamou impugnação de Dodge de parte da 'perseguição sem fim'


Após o registro da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência, PT e a defesa do ex-presidente já definiram o próximo passo na tentativa de mantê-lo na disputa: vão recorrer ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), em ação que tratará exclusivamente da inelegibilidade do petista, pedindo à Corte que suspenda o efeito da Lei da Ficha Limpa no caso do ex-presidente.

A movimentação foi anunciada pelo candidato a vice na chapa, o ex-prefeito Fernando Haddad, após o primeiro ato oficial da campanha de rua, uma sabatina promovida pela ONG Todos Pela Educação. Haddad criticou a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por ter pedido a impugnação da candidatura de Lula, o que chamou de parte da “perseguição sem fim” da Justiça aos direitos do ex-presidente e defendeu que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aguarde uma manifestação do STJ para definir sobre as manifestações contrárias à candidatura feitas após o registro. [Haddad esqueceu de citar que Lula tem tanto direito a ser candidato à presidência da República quanto o Marcola e RFernnadinho Beira-Mar.]   “Se estamos ingressando, pela Lei da Ficha Limpa, com um recurso liminar, para suspender os efeitos da condenação em segunda instância, como é que o TSE vai se manifestar antes do posicionamento do STJ? Me parece que é incompatível com a legislação em vigor”, afirmou o ex-prefeito. Além da Procuradoria-Geral da República (PGR) o ativista Kim Kataguiri, do Movimento Brasil Livre (MBL), e o ator Alexandre Frota, ambos candidatos a deputados federais, também propuseram a impugnação da postulação do ex-presidente.

Lula já havia apresentado um recurso ao STJ contra a sua condenação a doze anos e um mês de prisão no âmbito da Operação Lava Jato. A diferença do pedido de agora, portanto, é uma nova ação que versa apenas sobre o efeito da condenação na situação eleitoral do ex-presidente e terá como “fato novo” o registro da candidatura na Justiça Eleitoral. Quando o pedido chegar ao Tribunal, deve ser distribuído ao relator, o ministro Félix Fischer, que já negou diversos outras solicitações do ex-presidente ao longo do seu processo.
Procurado por VEJA, o STJ afirmou que o pedido ainda não havia sido protocolado até as 12 horas desta quinta-feira, 16.

Campanha
Fernando Haddad também negou que o PT posa desistir da candidatura e adotar um “plano B” assim que a postulação de Lula for indeferida na Justiça Eleitoral, o que deve ocorrer pelo atual entendimento da Ficha Limpa. A preocupação de parte do partido é que, se Haddad, cotado para ser o substituto, entrar na corrida muito tarde, ele pode ter pouco tempo para divulgar seu nome.  “Nós sempre trabalhamos em exaurir todos os recursos que estiverem à nossa mão para garantir a candidatura. Estamos falando aqui de uma questão democrática, não estamos preocupados com calendário nesse momento”, afirmou. Neste final de semana, o ex-prefeito vai ao Piauí, para um ato com estudantes.

A previsão era que ele só fosse ao Nordeste na próxima terça-feira, mas o cronograma foi antecipado após um pedido do governador desse estado, Wellington Dias (PT), que se queixava da ausência de um representante nacional do partido no evento, considerado importante em sua candidatura à reeleição. A “caravana” de Haddad para divulgar o programa de governo no Nordeste – e também para torná-lo conhecido antes de uma eventual substituição do cabeça-de-chapa – começa na próxima terça-feira e vai até sábado.

Ele deve passar pelos estados da Bahia, Sergipe, Paraíba, Ceará e Maranhão nesta primeira rodada. Depois do conflito envolvendo a candidatura de Marília Arraes (PT) ao governo de Pernambuco, retirada após um acordo do partido com o PSB do governador Paulo Câmara, a campanha petista decidiu não ir para o estado nesse primeiro momento, para evitar desgastes. Já no Ceará, Haddad deve enfrentar a sua única saia-justa, já que o governador, o petista Camilo Santana, divide seu palanque entre a campanha do partido e a do seu padrinho político, Ciro Gomes (PDT).

Dallagnol
Haddad também respondeu a uma manifestação do procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, que, de acordo com o jornaFolha de S.Paulo, questionou em despacho a presença dele e da presidente nacional do PT, a senadora Gleisi Hoffmann (PR), como advogados do ex-presidente, o que lhes dá livre acesso a Lula.

O ex-prefeito de São Paulo afirmou que, como coordenador do programa de governo do PT, um documento que o ex-presidente tinha a obrigação de apresentar à Justiça Eleitoral, precisava de acesso ao candidato do partido. Ele também ressaltou que não tem obrigação de informar ao Ministério Público as conversas entre advogado e cliente. “Eles não estão lá para saber do que a gente trata? Ou botaram uma escuta?”, questionou. Ainda nesta quinta, Haddad viaja à Curitiba para visitar o ex-presidente na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde o petista está preso desde o dia 7 de abril.


Veja


domingo, 5 de agosto de 2018

“O que parece, e o que é” e outras notas de Carlos Brickmann



Alckmin escolheu Ana Amélia sob a alegação de que ela sempre foi sua favorita. Verdade: Ele não conseguiu Alencar, e optou pela melhor candidata

Aécio desistiu de disputar a reeleição ao Senado, e tenta a Câmara Federal. Alegação: “A gravidade da situação de nosso Estado exigirá uma bancada forte e unida na defesa dos interesses de Minas”. Verdade: Aécio temia ser derrotado. E, sem foro, é com Moro. Aécio prefere o STF.

Alckmin escolheu uma grande vice: a senadora gaúcha Ana Amélia. Alegação: Alckmin disse que ela sempre foi sua favorita. Verdade: Alckmin tentou Josué Alencar, que pagaria sua própria campanha; e Álvaro Dias, para livrar-se do oponente que disputa seus eleitores. Na falta do dinheiro de um e dos votos do outro, optou pela melhor candidata.
Os verdes se aliaram a Marina, indicando Eduardo Jorge para vice. Alegação: “A aliança reforça o trabalho nos Estados”, disse o presidente do PV. Verdade: ou aceitava a vice de Marina ou ficava sem nada.

O PSC, do Pastor Everaldo, retirou a candidatura de Paulo Rabello de Castro à Presidência e o indicou para vice de Álvaro Dias, do Podemos. Alegação:A aliança”, diz Paulo Rabello, “é o primeiro passo para acabar com a picaretagem na política”. Verdade: Rabello corria o risco de ter menos votos que Meirelles, pois de Meirelles se sabe ao menos que é candidato e foi ministro de Temer. Álvaro Dias empacou nas pesquisas e não tinha um vice popular. Vai portanto de Rabello, que não é popular, mas tem boa reputação e é ficha limpa. Antes ao lado do que concorrendo.

Assim é…
A aliança de Álvaro Dias com Rabello foi rica em boas frases. O Pastor Everaldo, presidente do PSC de Rabello, disse que a principal negociação foi programática. “O senador aceitou incorporar à sua proposta de governo nosso Plano de 20 Metas”. Claro! E o fará assim que descobrir que metas são essas. Renata Abreu, presidente do Podemos de Álvaro Dias, festejou a aliança: “Além de PSC e Podemos, o PRP estará na aliança”. Álvaro Dias disse que busca o apoio do PROS. E ainda falou com ar de alegria!

…se lhe parece
E Alckmin? Na Globonews, elogiou a história do PTB, que o apoia. É uma história rica, riquíssima: Roberto Jefferson, seu presidente, cumpriu pena por ser condenado no Mensalão, e é investigado pela Polícia Federal no caso da venda de registros de sindicatos no Ministério do Trabalho.

... 


Falsos puros
Lula jogou pesado e, de seu escritório na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, torpedeou a candidatura de Ciro Gomes (que foi seu ministro), única possibilidade real de união dos partidos de esquerda. A união de esquerda que podia admitir era em torno de seu nome — embora inelegível.
 
O PT mantém o discurso da pureza ideológica. Mas se aliou àqueles a quem chamava de “golpistas” para as disputas estaduais. Em Alagoas, fechou com Renan Calheiros; em Pernambuco, fez o possível para rifar Marília Arraes e se aliar ao governador Paulo Câmara, do PSB (mas Marília venceu a convenção — e agora?). No Piauí, a senadora Regina Souza, do PT, foi queimada; o partido apoia Ciro Nogueira, do PP, um dos líderes do Centrão (que, nacionalmente, está com Alckmin). E no Ceará o PT apoia Eunício — que não apenas chamavam de “golpista” mas atacavam por ser amigo do presidente Michel Temer. Em resumo, vale tudo, exceto aquilo que possa prejudicar a suprema posição de Lula.

Atenção às mulheres
Vale a pena prestar atenção nas duas gaúchas envolvidas na disputa pela Presidência: Manuela d’Ávila, candidata do PCdoB à Presidência, e Ana Amélia, do PP, vice de Alckmin, são adversárias, pensam diferente, mas pensam. Manuela d’Ávila tinha sido lançada pelo PCdoB para ocupar o espaço até que o partido decidisse o que fazer, mas ocupou-o tão bem que, a menos que haja uma união das esquerdas, é candidata até o fim. Ana Amélia é competente, ficha limpa, corretíssima (este colunista, que trabalhou com ela na Rede Bandeirantes de Televisão, é seu admirador). E há anos é colocada pelos jornalistas entre os melhores senadores. Observe.




A convenção do candidato preso

Máscaras, cantos pró-Lula e a rebelião dos jovens militantes, ao tempo que Delegados gritam em defesa da candidatura de Marília Arraes, impedida pela cúpula do PT de disputar o governo de Pernambuco

Em cada uma das quatrocentas cadeiras de plástico na casa que abrigou a convenção nacional do PT em São Paulo, na manhã deste sábado, havia uma máscara de papelão com uma foto do ex-presidente Lula e um folheto à espera dos militantes. "É pra sentar em cima do homem? Ele já está na pior e agora essa", brincou um sindicalista.

A declaração impressa na folha de papel resumia o mote do dia: "Lula livre, Lula candidato, eleição sem Lula é fraude!". Os apoiadores do partido, vindos de todo o país, têm em comum a crença de que as eleições deste ano não têm legitimidade, já que o candidato do partido, que tem a maior intenção de votos nas pesquisas eleitorais, está encarcerado desde 7 de abril.

Mascarados e entoando o canto "eu sou Lula", os petistas deram um ar de "V de Vingança" tupiniquim à convenção. No palco, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, explicou didaticamente: "Somos milhões de Lulas, como ele pediu." Apesar da instrução, muitos não entenderam onde deviam colocar a máscara. “Vamos lá, gente, na frente da cara”, instruíam alguns militantes na hora de tirar uma foto coletiva.

Como todos os eventos recentes do partido, a convenção foi um misto de palanque eleitoral e ato contra a prisão de Lula, condenado em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. Os temas políticos propositivos praticamente desapareceram dos discursos, centrados em Lula e em críticas ao sistema Judiciário e político. Só o paulista Eduardo Suplicy, candidato a senador, foi ao palanque para falar de uma proposta, a renda básica universal, seu xodó. Já com 77 anos, ficou rouco com um breve discurso.

Os repórteres e fotojornalistas dos grandes veículos de imprensa foram relegados a um camarote, sem acesso à plateia principal nem aos banheiros e bebedouros. Nos discursos dos membros do partido, como de costume, a mídia foi um dos principais alvos, acusada de ser golpista. Só podiam chegar perto do palco a agência de notícias do PT e fotógrafos ligados à militância.

O clima era de defesa fervorosa do ex-presidente, cujo rosto era retratado em canecas, broches, camisetas, livros e todo tipo de lembrancinha sendo vendida por apoiadores. Na plateia e fora dela, a cada segundo alguém gritava "Lula livre", inclusive crianças. Até de dentro da cabine do banheiro feminino, urinando, uma estudante secundarista puxou gritos apaixonados pedindo a soltura do ex-presidente. E foi acompanhada por outras mulheres. [a secundarista estava em um local duplamente adequado para fazer m ... : um banheiro e em uma convenção do partido 'perda total'.]    Entre os universitários, havia presença de algumas dezenas de cariocas e petistas de outros estados, mas não tantos paulistas, dando sinal do desgaste do partido nas universidades de São Paulo. A juventude puxou gritos contra o juiz Sergio Moro, o presidente Michel Temer e outros personagens repudiados pelos petistas.


A coesão em torno da figura de Lula e a constante gritaria coordenada a seu favor não significam que não haja rusgas no partido. O diretório pernambucano, que desobedeceu a Executiva Nacional e indicou a vereadora Marília Arraes para concorrer ao governo do estado nesta semana, levou dezenas de cartazes com os escritos "Marília governadora!" para manifestar a insubordinação, por exemplo.

A cúpula do PT, que já derrubou o recurso do diretório estadual a favor de Marília, quis evitar que a pernambucana concorresse com o governador Paulo Câmara (PSB), cujo partido costurou um acordo com o PT para permanecer neutro nestas eleições. Os delegados de Pernambuco eram numerosos e ocupavam quase um quarto do espaço. Inconformados, se comportavam quase como oposição.  A defesa da candidatura própria virou uma causa querida entre militantes mais jovens, e não só os pernambucanos. No grito entoado por eles, o recado é claro: "Não tem acordo com golpista, Marília candidata governadora petista". A referência da rima é ao fato de PSB ter apoiado o impeachment de Dilma em 2016.

Diversos discursos foram interrompidos por gritos em prol de Marília, para visível constrangimento e sorrisos amarelos dos membros da Executiva no palco. Entre eles, estavam os deputados federais Paulo Pimenta (RS) e Paulo Teixeira (SP), Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais, e a filósofa Marcia Tiburi, candidata ao governo do Rio de Janeiro que não desgarrava de sua máscara de Lula.  A combinação com o PSB nesta semana teve como intenção isolar Ciro Gomes (PDT), que passou a fazer críticas mais ferozes ao PT e ao seu séquito. Em entrevista à GloboNews na última quarta-feira, chamou de "caudilhismo" a greve de fome que petistas mantêm em Brasília em defesa de Lula desde a última segunda-feira. Os famintos, inclusive, participaram da convenção com um relato emocionado em vídeo, transmitido no telão e aplaudido.

À exceção de Lula, porém, as lideranças que despontam no PT não são tão queridas assim, a julgar pelos cochichos nos corredores. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo cotado para substituir Lula caso sua candidatura seja impugnada, é visto como moderado demais e descolado da base. Quando fala, desperta olhares de reprovação, apesar de seus discursos cada vez mais radicalizados e do protagonismo que ganhou nas últimas semanas como interlocutor do ex-presidente Lula na prisão.  Até o nome da candidata a senadora Dilma Rousseff, sofre alguma rejeição. "Dilma não lutou como deveria. Nós perdoamos muita coisa vindo dela. Ela teve câncer, mas o Lula não teve também? Só porque é mulher a gente espera que seja mais fraca?", esbravejou uma petista. Os militantes ao seu lado concordaram.   Um dos apoiadores da ex-presidente é Luis Dantas, que compareceu ao evento travestido de Dilma, com direito a terninho vermelho, faixa presidencial e um "pixuleco" de Aécio Neves (PSDB-MG) com roupa de presidiário.
 
Quem caísse de paraquedas teria a impressão de que o único nome popular o suficiente para substituir Lula na corrida presidencial é o de Marília Arraes, mas a realidade é que ela encarna o descontentamento de boa parte dos jovens e dos sindicalistas com as alianças feitas pelas lideranças do partido nos últimos anos, antes, durante e depois do impeachment. O pragmatismo dos dirigentes, que não se afastaram nem do PMDB, que articulou a saída de Dilma, irrita parte da base de apoiadores do PT que estava lá. "Somos radicalmente contra a decisão da Executiva de barrar a candidatura de Marília", diz à ÉPOCA a petista pernambucana Leda Carvalho, dando sinais de desolamento. "A estratégia eleitoral está toda centrada em torno de Lula livre, mas, com essas alianças, vai ser a maior derrota eleitoral que o PT já teve."

Já para o sindicalista e metalúrgico Eduardo Vieira, de Minas Gerais, a vida política tem dessas coisas. “Temos que fazer aliança com quem for, cada estado sabe sua conjuntura. Parte do PMDB apoiou o golpe, outra parte não. Fazer o quê?”, questiona.  No fim do dia, a unanimidade é só mesmo em torno de Lula. Como o mascarado V., na graphic novel de Alan Moore, é mais do que uma pessoa, é uma ideia. É o que está escrito no poema "IDEIA", que faz parte da coletânea "Lulalivre Lulalivro", distribuída para militantes na porta do evento. "Aprisionaram / Seu nome-carne / Isolaram / Seu nome-espírito / Mentiram / Sobre seu nome / Mas seu nome / Virou nome-ideia.

Em seu discurso, Dilma arranhou uma explicação de que ideia exatamente é essa. "O Lula representa todas as realizações feitas nos últimos 13 anos. Representa a esperança de que vamos mudar esse país", afirmou.

O evento durou cerca de três horas, das 11h às 14h, quando o vendedor de amendoim do PT já estava sucumbindo à pressão e distribuindo seu produto de graça. Quando foi lida a carta de Lula, lamentando não poder participar da convenção pelo fato de estar em uma cela da Polícia Federal, em Curitiba, metade da plateia já havia saído para almoçar.


Época