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domingo, 2 de maio de 2021

O que George Washington tem a nos dizer - Ana Paula Henkel

Revista Oeste 

Nossa revolução não acontecerá depois de algumas batalhas. Tampouco ela está perdida porque colecionamos mais derrotas do que vitórias até aqui 

A vida do brasileiro não é fácil. Nunca foi, mas sempre conseguimos tocar o dia a dia com um otimismo inebriante, digno de embasbacar qualquer estrangeiro. Somos constantemente alcançados por tentáculos, vindos de várias partes, que impedem que a nação tome um rumo de verdadeiro progresso. Falo daquele progresso sem volta, quando ações que causariam retrocessos grotescos são colocadas num baú guardado no passado e apenas o horizonte à nossa frente brilha.
 
Montagem fotográfica sobre monumento em homenagem a George Washington (1732–1799)Montagem fotográfica sobre monumento em homenagem a George Washington (1732–1799)

Temos um Estado inchado, onipotente e onipresente a quem temos de pedir bênção ou permissão para tudo. Temos uma Constituição extensa e confusa demais. Temos mais de trinta partidos políticos que trocam de opiniões e “princípios” como seus representantes trocam de roupa. Temos um Congresso abarrotado de parlamentares encalacrados com uma Justiça leniente, e que são protegidos pela mais alta Corte do país.

E essa Corte, que deveria salvaguardar a Constituição, por mais imperfeita que ela seja, com a atual composição de ministros se transformou numa corte política. Diante das mais absurdas e inconstitucionais decisões, o Supremo Tribunal Federal tornou-se a maior fonte de decepções, tristezas e incertezas.  
Não respeita mais o povo, a Constituição e nenhum braço importante de nossas instituições
Juízes de primeira e segunda instâncias, policiais, membros do Ministério Público. A atual insegurança jurídica causada pelo Supremo Tribunal Federal em razão das decisões tomadas em total desconformidade com as competências constitucionalmente estabelecidas afeta diretamente nossos direitos, garantias fundamentais e futuro.

Mas, se o STF é capaz de impor tanta instabilidade e apreensão, contribuindo de modo incontestável para a perpetuação da corrupção e da impunidade; se o Congresso, uma de nossas ferramentas de freios e contrapesos, se acovarda diante desses atos, a quem podemos recorrer antes que nosso último fio de esperança se esvaia em decepções diárias?

Acredito que, no momento, haja apenas um caminho para nós: a História. Em tempos de pura escassez de líderes inspiradores, é preciso resgatar os bravos exemplos não apenas de liderança, mas de resiliência, estratégia e inteligência emocional. Nosso Brasil não foi contaminado por agentes do retrocesso em poucos anos. E não será em um ou dois ciclos presidenciais, ou trocando algumas cadeiras do Congresso, que teremos ampliado nosso horizonte. Não estamos em uma corrida de 100 metros, mas em uma maratona olímpica. E, para isso, não podemos ser soldados de uma batalha. É necessário fôlego de general.

Usar princípios e valores essenciais como guia já se demonstrou prioritário por gerações e no enfrentamento de qualquer desafio. George Washington (1732–1799) é, sem dúvida, o personagem mais influente a enfeitar as páginas dos livros de História. Seu efeito no mundo é ilimitado. Contra todas as probabilidades de vitória, Washington liderou as colônias na luta com o Império Britânico para construir uma nação livre. Mais tarde, comandou o novo país durante os primeiros oito anos sob a Constituição e deu o exemplo para todos os futuros líderes. O primeiro presidente norte-americano decidiu fortalecer a América e fez exatamente isso, criando uma potência mundial que se tornaria o farol para a liberdade no mundo. Do seu legado, podemos utilizar métodos do estilo firme de administração e lições de comprometimento durante toda a Revolução Americana.

Além dos impactos mais óbvios que George Washington teve no país, foram incomensuráveis os efeitos que produziu no que mais tarde veio a ser conhecido como “espírito americano”. Para entender como isso ocorreu, convém compreender a personalidade, a moral e o sistema de crenças desse personagem. Embora pouco se saiba sobre sua prática doutrinária, ele era conhecido por ser um homem religioso — como a maioria na época — e frequentemente era visto orando. Washington nunca foi ferido em batalha, o que fez com que muitos de seus contemporâneos, amigos e inimigos, pensassem que ele tinha a proteção da Providência Divina. Na verdade, o próprio general disse isso, não de maneira arrogante, mas com humildade e gratidão por ter sido protegido de perigos enquanto cumpria seu dever militar. Orai e vigiai.

Muitos quando olham para uma pintura de George Washington imaginam um general destemido e imbatível, que derrotou uma grande potência. Destemido, sim, mas imbatível, nem tanto. O que poucos sabem quando seguram uma nota de 1 dólar, onde seu rosto está estampado, é que, apesar da pouca experiência prática na gestão de grandes exércitos convencionais, Washington provou ser um líder capaz e resiliente das forças militares norte-americanas durante a Guerra Revolucionária, e perdeu mais batalhas do que venceu. Antes de sua nomeação como chefe do Exército Continental, nunca comandara um grande exército no campo. A escolha de prioridades e estratégias que lhe rendeu vitórias cruciais — como a Batalha de Trenton, em 1776, e em Yorktown, em 1781 — foi o que fez uma revolução praticamente impossível contra um gigante avançar com sucesso.

Washington viveu e trabalhou com filósofos, pensadores, escritores e oradores brilhantes, como Franklin, Mason, John Adams, Jefferson, Patrick Henry, Hamilton, Madison, Dickinson. Apesar da frenética troca de ideias, quase todos esses nomes eram muito distantes academicamente de Washington. Ainda assim, nas três principais junções da fundação da nação norte-americana — a Revolução, a Convenção Constitucional e a escolha do primeiro presidente —, o líder escolhido foi George Washington. Em sua própria época, era visto como o homem indispensável, o Moisés americano, o pai do país. Por quê?

O próprio Washington não foi o mais brilhante intelectualmente dos Pais Fundadores. Ele não era o mais ambicioso nem o mais capaz. Na verdade, Washington não era um Thomas Jefferson. Nem um Alexander Hamilton. E certamente não era um Benjamin Franklin. Ele não elaborou a Constituição, mas a apoiou com ações e palavras. Representou tudo o que era a América e ajudou a dar o exemplo do que seria um americano. Liderou as pessoas implementando os pensamentos e planos de outras mentes brilhantes, para que o país um dia — um dia — viesse a prosperar. George Washington nunca foi o homem mais inteligente, espirituoso, ambicioso ou carismático, mas ele foi George Washington, e é exatamente disso que a América precisava.

Até hoje, Washington é considerado a força motriz que tornou possível o estabelecimento da nação. Antes e agora, ele é apontado como o “Pai dos Estados Unidos” e fonte de inspiração em momentos decisivos. Quando nos falta o ar em desespero contra algo injusto e maior, tento imaginar o que homens como George Washington nos diriam. Seus discursos caem como uma luva, ou como um cobertor quente em corações cansados, como andam os nossos. Em uma sociedade coberta de platitudes vazias e discursos imediatistas, é um alento mergulhar no universo de quem esteve em situação muito pior do que a nossa e deparar com mensagens como esta: “Quanto mais difícil for o conflito, maior será o triunfo. A felicidade humana e o dever moral estão inseparavelmente ligados.”

Somos um povo apaixonado, feliz por natureza, mas que está cansado da luta diária contra um emaranhado de configurações políticas que insistem em frear nosso desenvolvimento como nação. É fácil desanimar, confesso. Mas é necessário seguir. Se não há líderes como antigamente, que sejamos os líderes inspiradores em nossa família, em nossa comunidade, com os amigos. Que tentemos incorporar características desses grandes homens nos sonhos, sim, mas principalmente nas ações do dia a dia, com pragmatismo. Não precisamos vencer toda as batalhas, mas precisamos vencer as “batalhas certas”. Durante os oito anos da Revolução Americana, o General Washington gastou muito mais tempo, pensamento e energia como organizador e administrador das forças militares do que como estrategista militar tático. Sem a liderança persistente e inteligente de Washington, o Exército, como organização, teria entrado em colapso de dentro para fora. Ele enfrentou alistamentos de curto prazo, deserções, precariedade de armamentos para os soldados, congressistas e legisladores estaduais lenientes, traidores do movimento. Mesmo assim, muitos combatentes e civis confiaram nele, acreditaram nele, o amaram e permaneceram com ele e suas ideias.

Em 1778, a batalha em Monmouth, New Jersey, também revelou sua liderança carismática e genialidade como estrategista de campo. Nessa batalha crucial, as tropas americanas estavam em retirada e total desordem quando Washington assumiu o controle. Hamilton disse que sua presença interrompeu a retirada, e sobre esse episódio escreveu: “Outros oficiais têm grande mérito em desempenhar bem suas funções, mas ele dirigiu o todo com a habilidade de um mestre operário. Nunca vi o General com tanta vantagem”. Os britânicos, mesmo em maior número, acabaram se retirando para Nova York.

Não podemos desanimar, é tudo o que eles mais querem. Nossa “revolução” não acontecerá depois de alguns embates. Tampouco ela está perdida porque colecionamos mais derrotas do que vitórias até aqui. Seja um soldado desse tipo de general, mesmo que ele esteja presente apenas em espírito e em nosso coração. Talvez George Washington não seja apenas o “Pai dos Estados Unidos” como exemplo de perseverança em tempos impossíveis, mas de todos nós.

Ana Paula Henkel - colunista - Revista Oeste 


terça-feira, 31 de março de 2020

O tsunami - Nas entrelinhas

“Mesmo que a pandemia avance, Bolsonaro mantém litígio com governadores, prefeitos e autoridades de saúde, que defendem a permanência de Mandetta”

A epidemia de coronavírus é um tsunami invisível que varre o mundo. No momento, seu epicentro é Nova York, nos Estados Unidos, o que obrigou o presidente Donald Trump a mudar completamente o discurso no domingo, quando pediu para a população ficar em casa até 30 de abril. Trump vinha defendendo o afrouxamento das medidas de isolamento e chegou a declarar no sábado que uma quarentena não seria necessária em Nova York, New Jersey e Connecticut. Mudou de ideia no dia seguinte, quando admitiu que o pico da epidemia será daqui a 15 dias. Já são mais de 2 mil mortos e mais de 100 mil casos confirmados, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, na economia mais poderosa do mundo. O sistema de saúde de Nova York está à beira do colapso.

Ao contrário de Trump, aqui, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou o domingo para contestar a política de isolamento social e deu um rolé pelo comércio do Sudoeste, de Ceilândia e de Taguatinga, defendendo que as pessoas precisam trabalhar para sobreviver. Depois do périplo, devidamente registrado no Twitter — que apagou duas de suas postagens por colidirem com a orientação das autoridades de saúde pública —, Bolsonaro disse que era preciso enfrentar a situação como homem e não como moleque, porque as pessoas um dia vão mesmo morrer. Não se sabe a quem ele se referia, mas o fato é que desautorizou a orientação do seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, o que aumentou as especulações de que ele seria demitido.
Nas Entrelinhas - CB
Não foi o que aconteceu, porém, apesar de Mandetta estar visivelmente constrangido na entrevista coletiva concedida no final da tarde de ontem pelo comitê de crise do Palácio do Planalto, que coordena as ações do governo contra a epidemia, sob comando do ministro-chefe da Casa Civil, general Walter Souza Braga Netto. Quando Mandetta foi indagado pelos jornalistas sobre as divergências com Bolsonaro e se sairia do governo, foi interrompido por Braga Netto, que matou a pergunta no peito e respondeu: “Está fora de cogitação”, “Não existe essa ideia”. Também participaram da entrevista os ministros Tarcísio Gomes (Infraestrutura), Onyx Lorenzoni (Cidadania) e André Mendonça (Advocacia Geral da União), além de um representante do Ministério da Defesa.

[a mudança do formato das entrevistas diárias foi uma medida excelente e permite conter os arroubos do ministro da Saúde.
Quanto ao comentário do presidente Bolsonaro afirmando: 'porque as pessoas um dia vão mesmo morrer', se trata de uma verdade e falar a verdade as vezes magoa, aborrece, mas não é crime.

A OMS não tem primado pelo acerto de suas manifestações - no inicio da crise chegou a prever uma vacina para breve e nada de concreto até agora. É mais um cabide de empregos estilo ONU - esta, nada faz contra a mortandade perpetrada na Síria.
O impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro, é um sonho - e sonhar, por enquanto, não custa nada.]

Na sua entrevista, Mandetta desconversou sobre o assunto e reiterou que a orientação do Ministério é focada no combate à epidemia, em termos técnicos e científicos. Justificou a decisão de mudar o formato das avaliaçoes diárias, que agora serão feitas por todos os ministros, não sob seu comando, mas o de Braga Netto, com o argumento de que a pandemia transbordou a esfera de sua pasta e exige engajamento de todo o governo, o que é verdadeiro. Bolsonaro vem defendendo o relaxamento das medidas de isolamento adotadas nos estados e a retomada da atividade econômica, com a reabertura do comércio e volta dos estudantes às escolas. As recomendações de especialistas, da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do próprio Mandetta são de que o isolamento é necessário para evitar a expansão da pandemia.

Tensões
Ontem, o diretor executivo da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, fez nova advertência quanto à expansão da pandemia. Disse que o coronavírus ultrapassou as ruas e está sendo levada para “dentro das famílias”, o que reforça a necessidade de isolamento social, sobretudo onde há transmissão comunitária e faltam testes, como é o caso do Brasil. “O ideal é que a quarentena ocorra em um lugar que não seja a casa [do infectado], porque esse doente pode infectar sua família. Mas isso não é sempre possível”, disse. No Brasil, já houve 159 mortes, com 4.579 casos confirmados, uma taxa de letalidade de 3,5%. A epidemia ainda está concentrada no Sudeste, com 2.507 casos, 55% do total. São Paulo é o epicentro, com 1.451 casos. O aumento do número de mortos de ontem para hoje no estado foi de 17%, sendo 7,9% o de casos.


Mesmo que a pandemia avance, Bolsonaro mantém seu litígio aberto com os governadores, prefeitos e autoridades de saúde pública, que defendem a permanência de Mandetta no cargo. O ex-ministro da Cidadania Osmar Terra(MDB-RS), que é deputado federal e médico, se movimenta para substituir Mandetta e faz coro com as teses de Bolsonaro. As relações de Mandetta com Bolsonaro vão de mal a pior e somente não houve uma ruptura porque o ministro já avisou que não pede demissão. Demiti-lo agora seria a implosão da equipe de sanitaristas do ministério e uma porta aberta para a articulação do impeachment do Bolsonaro, por crimes de responsabilidade. O Congresso está fazendo seu dever de casa, mas cobra um comportamento mais responsável do presidente da República.

Ontem, o Senado aprovou o chamado “corona voucher”, a ajuda de R$ 600,00 para os trabalhadores informais sem atividade, que se soma ao pacote de medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. É fundamental para garantir uma renda básica aos que ficaram sem nenhuma outra fonte e evitar uma situação de caos social. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, articula a aprovação do que está sendo chamado de “orçamento de guerra”, as medidas necessárias para o país atravessar a pandemia sem um cenário de tragédia social e reativar a economia logo depois. De certa forma, o foco na pandemia e nessas medidas econômicas é um elemento estabilizador do processo, em meio às tensões criadas por Bolsonaro, que ameaçam transformar a pandemia num tsunami político.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - Correio Braziliense