O Estado de S. Paulo - J.R. Guzzo
Os ministros Gilmar e Barroso condenam o governo federal pelo que iria fazer contra a covid-19, mas não conseguiu
Em suma: os ministros Gilmar e Barroso
(aguarda-se, agora, os pronunciamentos dos colegas) condenam o governo
federal pelo que iria fazer, mas não conseguiu. Pode ser apenas mais um,
dentro do processo de produção contínua de despropósitos que o STF
colocou em funcionamento já há bom tempo. Mas, quando se pensa um pouco,
talvez haja algum método nessa loucura. O fato é que os ministros estão
diante de um problema sem solução.
No início da epidemia, proibiram o governo Bolsonaro de fazer qualquer ação contra a covid-19: tinha de liberar todo o dinheiro exigido para o tratamento da doença, mas tudo deveria ficar exclusivamente a cargo das “autoridades locais”, ou seja, dos governos estaduais e das Prefeituras. Cinco meses depois, temos 85.500 mortos, até a contagem desta última terça-feira, e uma massa de sofrimento que não é possível contabilizar.
A culpa, então, é dos governadores e prefeitos? Não se sabe; o Supremo ainda não baixou nenhuma bula em resposta específica a essa pergunta.
Mas do governo federal com certeza não é – por atestado do próprio STF, que vetou a sua entrada na questão. Que fazer?
Os
ministros não gostam da ideia de terem alguma responsabilidade pelo
desastre. Vem, então, essa história do genocídio. Como o presidente
disse, no começo da epidemia, que era tudo uma “gripezinha” de nada, e o
seu governo pensou numa campanha do tipo “acelera Brasil”, o Supremo
teve de impedir que esse tipo de postura viesse a turbinar o vírus; por
isso proibiu o governo de entrar na questão e evitou que estragasse
tudo, mas a culpa continua sendo dele, porque ia causar uma calamidade
que acabou não causando.
E o que aconteceu depois da decisão do STF – o que seria? A tese de Barroso é que se não fosse pelos ministros, aí sim é que a coisa ia ficar preta. Com a sua intervenção, houve só 85.500 mortes – o que, tanto quanto se possa deduzir, Barroso está achando que foi um tremendo sucesso.
Para não perder a viagem, ele disse, na mesma ocasião, que o liberalismo está acabando com o Brasil. O Supremo brasileiro, hoje em dia, é isso.
J.R. Guzzo, jornalista - Coluna no Estadão
No início da epidemia, proibiram o governo Bolsonaro de fazer qualquer ação contra a covid-19: tinha de liberar todo o dinheiro exigido para o tratamento da doença, mas tudo deveria ficar exclusivamente a cargo das “autoridades locais”, ou seja, dos governos estaduais e das Prefeituras. Cinco meses depois, temos 85.500 mortos, até a contagem desta última terça-feira, e uma massa de sofrimento que não é possível contabilizar.
A culpa, então, é dos governadores e prefeitos? Não se sabe; o Supremo ainda não baixou nenhuma bula em resposta específica a essa pergunta.
Mas do governo federal com certeza não é – por atestado do próprio STF, que vetou a sua entrada na questão. Que fazer?
E o que aconteceu depois da decisão do STF – o que seria? A tese de Barroso é que se não fosse pelos ministros, aí sim é que a coisa ia ficar preta. Com a sua intervenção, houve só 85.500 mortes – o que, tanto quanto se possa deduzir, Barroso está achando que foi um tremendo sucesso.
Para não perder a viagem, ele disse, na mesma ocasião, que o liberalismo está acabando com o Brasil. O Supremo brasileiro, hoje em dia, é isso.
J.R. Guzzo, jornalista - Coluna no Estadão