Doria e Guedes estão em outro mundo ao falar de violência
Ministro teme gente quebrando tudo, mas, até agora, quem apareceu quebrando os outros foram policiais
Todas as vitimas, fatais e feridas, sofreram ferimentos causados pelo pisoteamento. Depoimentos anônimos, informais, - sem credibilidade e imparcialidade - relatam a ocorrência de tiros - nenhuma vítima, ferida ou morta, foi ferida por arma de fogo.
O grande responsável pelo tumulto - gerado quando mais policiais tiveram que ingressar no recinto da bagunça (bailes Funk precisam ser proibidos - além de representarem atentado a MORAL, BONS COSTUMES, são realizados em locais SEM A MÍNIMA ESTRUTURA para o caso de incêndios, tumultos) atender ao solicitado por policiais que estavam cercados pela multidão - é o responsável pelo realização do que chamam de 'baile'.
Quem promove qualquer atividade com grande concentração de multidão é o responsável por qualquer tragédia que venha a ocorrer - não vale argumentar que é favela e lá tudo vale, o local tem certamente um proprietário e este tem ser responsabilizado se não existir (o que é improvável) um responsável pelo evento.
O correto é responsabilizar os promotores do evento. Na boate KISS foram responsabilizados os proprietários da boate e autoridades que foram coniventes em liberar o local sem prévio atendimento das condições de segurança.]
Há algumas semanas, o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional, acompanhando uma ameaça vinda de um filho do presidente, havia cantado a pedra do perigo chileno como justificativa para um surto ditatorial: “Acho que, se houver uma coisa no padrão do Chile, é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter.” [o comentário do general merece apoio de qualquer pessoa sensata - ou a regra é permitir que o Brasil se transforme em uma Nação com ocorrência de tumultos, manifestações violentas e coisas do gênero?
quanto às críticas à Polícia Militar, pelo uso de bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, é uma obrigação de tropa responsável pelo controle de tumultos, optar, sempre que possível pela utilização de meios não letais. ]
É irresponsabilidade (ou desejo) trazer o espantalho chileno para a situação brasileira, e a tragédia de Paraisópolis, bem como a pancadaria da festa do Flamengo, mostra que nos dois casos a insanidade saiu da PM. Não é de hoje que isso acontece.
Em outubro do ano passado, durante a gestão do governador Márcio França, a PM entrou num pancadão de Guarulhos, e três pessoas morreram em situação semelhante à de Paraisópolis. Doutor Doria poderia examinar a investigação do episódio de Guarulhos. Com uma polícia “preparada, equipada e bem informada”, deu em nada.
Um morador de Paraisópolis contou que a PM “chegou jogando bombas de efeito moral”. Pode ser que não tenha sido assim, mas na noite de 13 de junho de 2013, a PM paulista bloqueou uma passeata que protestava contra o reajuste dos ônibus na esquina da Rua da Consolação com a Maria Antônia. Quem estava lá viu que uns 20 policiais vieram do nada, jogando bombas de efeito moral. Aquela passeata era ordeira, convocada pelo Movimento Passe Livre e povoada por gente de tênis baratos e camisetas.
Guedes teme que apareça gente “quebrando tudo”, mas, até agora, quem apareceu quebrando os outros foram policiais, em São Paulo e no Rio. Esse comportamento persiste pela garantia da impunidade.
Nas divagações chilenas de Guedes e do general Heleno insinuam-se paralelos de incitação política. Já que é assim, pode-se temer também que a incitação política venha de outro lado. Em 1968, ela vinha de um maluco chamado Aladino Félix. Antes que terroristas de esquerda começassem a assaltar bancos e a matar gente (naquele ano), ele roubava dinamite e armas. Assaltou pelo menos um banco, explodiu uma bomba na Bolsa e outra num oleoduto. Como era doido, não se pode acreditar na sua palavra quando dizia que estava ligado a um general da reserva que, por sua vez, teria conexões com o governo. Uma coisa é certa: no seu grupo estavam 14 soldados e sargentos da Força Pública de São Paulo, mais tarde transformada numa Polícia Militar.
Folha de S.Paulo e O Globo - Elio Gaspari, colunista