Análise Política
O Sete de Setembro foi marcado pela expressiva, ainda que não decisiva,
mobilização do bolsonarismo, ao colocar seus contingentes civis na rua.
Em Brasília, em São Paulo e espalhados pelo Brasil. Acabou sendo um
movimento taticamente defensivo, mas que prepara uma ofensiva
estratégica.
Defensivo por Jair Bolsonaro convocar as reservas dele para resistir a
eventuais tentativas de estrangular seu governo, por meio do Supremo
Tribunal Federal (STF), ou depô-lo, por meio do Congresso.
E ofensivo por agrupar as forças que, imagina, são o passaporte de seu grupo político ao segundo turno em 2022.
Outro movimento do presidente é dar um passo adiante no esticar da corda
com o STF, como fez ao editar a medida provisória sobre a remoção de
conteúdo pelas grandes redes sociais.
Se prevalecer, terá conquistado terreno para si e seus apoiadores. Se
novamente for barrado pelo STF, colocará mais um tijolinho na construção
da narrativa segundo a qual ele defende a liberdade e a democracia, ao
contrário dos adversários.
Pelos discursos, recuar não está nas cogitações.
Todas as pesquisas mostram um mesmo fenômeno. Uma certa convergência do
teto e do piso das intenções de voto no presidente. Ele está no momento
bem para ir ao segundo turno, mas chegando ali agrega pouquíssimo, pois
enfrenta uma rejeição proibitiva.
E o caminho para a eleição? O presidente já informou como pretende agir:
utilizando todos os instrumentos de que dispõe para emparedar os
adversários e evitar que o emparedem. Pode-se apostar portanto numa
elevação progressiva da temperatura.
Mas o jogo tem um aspecto sendo jogado em sintonia fina. A cena vai
aquecer, mas até quando cada lado cuidará de não parecer que está
saindo, como repete Bolsonaro, das “quatro linhas da Constituição”? [um integrante de um dos lados, já mostrou, mais de uma vez, que a Constituição é o que ele quer que seja = adaptando o famoso "o Estado sou eu" de Luiz XIV, para o brasileiro "o Supremo sou eu."]
Claro que acontecimentos podem fazer desandar a receita, o que fica mais
provável quanto mais alta a temperatura. No momento, não dá para prever
se, ou quando, vamos alcançar a energia de ativação, em que a reação
química é desencadeada. Entretanto o cenário aponta para situações em
que os diversos atores vão queimando as pontes atrás de si ao avançar.
Bem, supondo que a corda continue esticada, mas não rompa, o governo e o
presidente terão saído do Sete de Setembro com uma momentânea vitória
tática, e com o problema estratégico mantido do mesmo tamanho: como
romper o cerco que seu expressivo exército sofre. Sem isso, caminha para
uma derrota honrosa em 2022. E derrota é algo que não parece frequentar
os planos de Jair Bolsonaro.
E o impeachment? Um subproduto do esticar de corda neste feriado foi
reacender a esperança da “terceira via” de depor Jair Bolsonaro pelo
método já rotineiro no Brasil. Seria um atalho para removê-lo da
eleição. [o impeachment não depende da vontade do Lira - e Lira tem se mostrado menos dobrável do que Pacheco - só que parlamentares não votam pelo impeachment de quem faz o que Bolsonaro fez ontem na Esplanada e na Paulista - para ficar em dois exemplos.] Ainda que não resolva completamente o assunto, pois o atual
presidente pode, em todo caso, apoiar alguém que se torne competitivo.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político