Prováveis manifestações em 7 de setembro ligam o sinal de
alerta em órgãos responsáveis pela segurança do Congresso e da
Esplanada. PM também se prepara para o evento do dia do soldado, na
próxima quarta-feira
As forças militares que cuidam da segurança do Congresso e da Esplanada
dos Ministérios estão em estado de alerta para possíveis manifestações
no feriado da Independência, em 7 de setembro, em Brasília. Fontes
ouvidas pelo Correio afirmam que, apesar de ainda não
existir nenhum planejamento especial em relação o dia, os militares
estão preparados para conter qualquer possível ação violenta.
A operação começou após a investigação a respeito de
postagens e vídeos, publicados nas redes sociais nos últimos dias, que
incitam a população a praticar atos criminosos e violentos às vésperas
do feriado. Como medida de segurança, o ministro Alexandre de Moraes, do
Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o cumprimento de 13 mandados
de busca e apreensão, atendendo a um pedido da subprocuradora Lindôra
Araújo, da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Políticos, cantores, blogueiros e empresários estiveram
na mira da Polícia Federal. Entre eles, o cantor e ex-deputado Sérgio
Reis. Ele está sendo investigado por convocar uma manifestação de
caminhoneiros em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, com cobrança ao
Congresso para derrubar todos os ministros do STF e pedidos de uma ação
militar no país.
A repercussão do caso foi negativa e Sérgio Reis foi
desautorizado por lideranças de caminhoneiros e ruralistas, que diziam
que não apoiavam nenhuma manifestação. O músico se disse arrependido,
mas continuou pedindo que as famílias fossem para as ruas. Na avaliação do deputado federal Neri Geller (PP-MT), o
posicionamento de Sérgio Reis foi “infeliz” e precipitado. “Sou
radicalmente contra a possibilidade de quebra institucional. Não tem
nenhuma possibilidade de defender”, afirma.
Geller, que é produtor rural e um dos fundadores da
Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), ressalta que
não é a favor de manifestações antidemocráticas e da separação dos
Poderes. “Tem algumas lideranças que estão se excedendo um pouco. Essa
suposta exigência do Senado votar um impeachment e, se isso não
acontecer, fecharem rodovias, sou totalmente contra. Inclusive, eu sou
da base do Bolsonaro, mas eu penso que o Brasil precisa de convergência e
diálogo”, diz.
A Polícia Militar também se prepara para o evento do
dia do soldado, em 25 de agosto, próxima quarta-feira. As forças de
segurança temem que o espaço seja transformado em um local de ato
político. A cerimônia prevê poucas pessoas e tem uma estrutura física. A reportagem entrou em contato com o Departamento de
Trânsito, com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e com a Secretaria de
Segurança Pública do Distrito Federal. No entanto, nenhum órgão se
manifestou sobre qual é o planejamento para cuidar da segurança de
Brasília em 7 de Setembro.
O cientista político Leonardo Queiroz Leite, doutor em
administração pública e governo pela Fundação Getúlio Vargas de São
Paulo (FGV-SP), afirma que Bolsonaro se mostra perdido diante dos fatos.
“Ele parece que está perdendo o rumo do próprio governo ao atacar o
Supremo. Esse pedido de impeachment é o primeiro da história e a chance
de fracassar é enorme. Tem uma série de autoridades se manifestando
contra e apoiando o STF”, aponta. [senhor Leonardo, respeitosamente, peço que se atualize - só este ano, ingressaram no STF 18 pedidos de impeachment contra ministros do STF; é um procedimento previsto na Constituição, que para passar a processo precisa ser encaminhado pelo presidente do Senado a uma Comissão daquela Casa, se aprovado no colegiado, segue para Plenário, etc, etc. Um processo transparente e democrático.]
Leite explica que todo cidadão tem direito de
protestar, desde que a manifestação seja democrática. “As pessoas podem
se manifestar contra ou a favor do governo. O problema é ter uma
manifestação antidemocrática de destituir um ministro do Supremo. Isso é
um absurdo do ponto de vista constitucional. A questão principal é o
tom que esses manifestantes estavam adotando”, ressalta.
Política - Correio Braziliense