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domingo, 9 de outubro de 2022

Mercado de alto risco - Revista Oeste

 Rodrigo Constantino

Eles podem até sonhar com Meirelles e Armínio, mas poderão acordar presos num pesadelo em que Dirceu e Boulos dão as ordens 

 Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock 

Há uma crença um tanto disseminada por aí de que o “mercado” não costuma errar. Como alguém que trabalhou por anos como analista e gestor, tenho uma visão bem diferente. Claro que, em termos gerais, não é trivial “bater” o mercado de forma sistemática. Pela interação dinâmica de milhões de indivíduos inteligentes, colocando suas carreiras em risco, quase tudo aquilo que é informação pulverizada, até mesmo privilegiada, acaba sendo precificada pelo mercado. Mas daí a considerar que os preços dos ativos refletem as previsões acuradas de um futuro incerto vai uma longa distância. Ou seja, o “mercado” não é necessariamente um vidente.

Este é um velho debate na academia e entre os próprios gestores. Por isso temos fundos passivos, que somente replicam uma cesta de ativos, e outros ativos, que tentam superar o retorno dos índices. Mas esse assunto é técnico demais e não será o foco aqui. Meu intuito ao trazer isso é apenas desmentir a tese de que, se o “mercado” está tranquilo com um eventual cenário projetado, então todos nós podemos dormir em paz. Eu estava no mercado quando vi muitos gestores apostarem na narrativa de Dilma como uma gestora eficiente, e levou certo tempo até eles se provarem totalmente infundados.

Vamos direto ao ponto: tem uma turma espalhando que o “mercado” está otimista pois um Congresso mais conservador e economistas tucanos ao lado de Lula fariam com que o PT, caso voltasse ao poder, adotasse um governo moderado. 
Considero essa tese extremamente otimista e até um pouco irreal. 
Não questiono o poder do tal sistema, e basta mencionar o impeachment da própria Dilma como evidência de que, quando foi preciso sacrificar um peão para preservar a galinha dos ovos de ouro, os donos do poder impediram o Brasil de afundar de vez
Mas corremos enorme risco de virar uma Venezuela ali…

São muitas variáveis agindo, e, não fossem os milhões de brasileiros se mobilizando para ocupar as ruas, o Eduardo Cunha como presidente da Câmara, o Michel Temer como vice-presidente, talvez a história tivesse terminado bem diferente, de maneira trágica. Não há esse controle todo por meio de alguns figurões, como as teorias da conspiração costumam pintar. Ao contrário: acredito que reine certo caos, e que as ações de alguns indivíduos podem fazer toda a diferença, para o bem ou para o mal.

Esses que ficam calmos só porque Lula colocou Geraldo Alckmin como vice e trouxe Meirelles e Arminio Fraga como apoiadores estão deveras iludidos, em minha opinião. Pode ser que tais forças, com a pressão de banqueiros e veículos de comunicação tucanos, sejam suficientes para criar uma barreira de contenção aos arroubos mais irresponsáveis dos petistas? Até pode. Mas é no mínimo uma aposta para lá de arriscada!

Afinal, Lula também está com o velho PT ao seu lado, com Dirceu e companhia, além de novos radicais, como Guilherme Boulos. Mesmo sem apresentar um projeto de governo, Lula deu dicas, e são temerárias.  
Ele fala em governar com o MTST, elogia o MST enquanto demoniza o agro, quer furar o teto de gastos, pretende reinstituir um imposto sindical, prometeu reverter privatizações, etc
A agenda petista é aquela mofada da esquerda radical latino-americana, que vem causando enorme estrago na Colômbia, no Chile, no Peru e na Argentina, sem falar da Venezuela, em desgraça total.
Isso é para focar apenas no aspecto econômico, de maior interesse do “mercado”, que deseja somente maximizar lucros de forma amoral. 
Mas não é preciso ser um analista muito atento para detectar o rancor nas falas de Lula, o clima de vingança que ele exala. 
Se temos grande insegurança jurídica por conta do ativismo supremo hoje, imagine se Lula puder apontar mais dois ministros do STF e estiver na Presidência. 
O grau de ousadia desses arrogantes autoritários será mais assustador ainda. 
Lula já falou também em regular a imprensa e até as redes sociais, eufemismo para censura.

Todo governante, especialmente numa democracia, precisa fazer concessões. Sim, o Congresso será mais conservador. O centrão fisiológico tem muito poder e não costuma ficar impune quem o despreza. Tudo isso dificulta um plano mais extravagante do PT. Mas não garante nada. Numa terra sem lei, com a cumplicidade de alguns agentes importantes, o partido pode comprar amplo apoio, intimidar aqueles que não estão à venda, e concentrar mais e mais poder em si.

Esses que ficam calmos só porque Lula colocou Geraldo Alckmin como vice e trouxe Meirelles e Arminio Fraga como apoiadores estão deveras iludidos

É por isso que Lenin dizia que os capitalistas venderiam a corda que seria usada para enforcá-los. O que notei em meus anos de mercado é que poucos ali se dão conta de aspectos mais culturais ou ideológicos por trás de movimentos políticos. Eles acham que todos são movidos pela planilha de resultados, enquanto há um pessoal ideológico e totalitário, com ambição desmedida pelo poder.

O “mercado” tucano tolera Lula por seu lado “pragmático”, ou seja, aceita levar o corrupto para casa se junto vierem Meirelles e Arminio, ignorando o seu lado totalitário.  
Esses gestores otimistas acham que vão teclar 13 e ter Alckmin em vez de Lula como presidente, Meirelles em vez de Boulos como ministro. 
Eles, por algum motivo qualquer, imaginam que o destino argentino jamais seria possível no Brasil, esquecendo que a Argentina já foi um país bem mais rico e culto que o Brasil.
zé dirceu mensalão
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, ao ser solto do 
Presídio da Papuda, em Brasília, (08/11/2019)
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
É a mesma postura da imensa maioria da velha imprensa. Há os petistas escancarados, penas de aluguel, que adoram Lula e não se importam se o Brasil virar uma espécie de província chinesa
Mas muitos são tucanos, “progressistas”, e preferem o PSDB ao PT, engolem Lula só com ajuda de um digestivo, por ódio patológico a Bolsonaro. 
Eles estão loucos para acreditar num aceno ao centro de Lula, por uma “promessa” de maior moderação. 
É como a mulher traída inúmeras vezes que resolve acreditar novamente no malandro, pois agora ele vai tomar juízo…
 
O “mercado” e a mídia estão brincando com fogo, numa aposta extremamente arriscada. Eles podem até sonhar com Meirelles e Arminio, mas poderão acordar presos num pesadelo em que Dirceu e Boulos dão as ordens, e o Brasil se torna cada vez mais rápido uma nova Argentina, quiçá Venezuela
Não há nada escrito nas estrelas que impeça tal cenário em nosso país. O futuro, afinal, é feito de escolhas.

Leia também “Caso de polícia”

Rodrigo Constantino, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Institutos de pesquisa acertaram (no seu alvo)-Percival Puggina

Principal elemento de informação sobre as viabilidades eleitorais dos candidatos às eleições majoritárias, os institutos de pesquisa são os regentes das desafinadas orquestras em que se convertem as campanhas eleitorais.

É possível que tenha havido algum recruta de passo mais ou menos certo nesse batalhão. Fique essa análise por conta dos veículos que têm funcionários para fazê-la. No entanto, falharam desastradamente nas previsões os ditos grandes institutos, cujo prestígio e destaque dados aos resultados que divulgam crescem na proporção de seus erros. Mas acertaram em seu próprio alvo.

Conseguiram apresentar um ex-presidiário como líder político competitivo enquanto prognosticavam para Bolsonaro a mais desoladora derrota.

Assim agindo, por meses a fio, naturalizaram o absurdo!

Ressuscitaram um cadáver político, deram vitalidade eleitoral a quem faltava a coragem de se medir pela régua da opinião pública e pôr o pé na calçada por onde passam os transeuntes do Brasil que trabalha, que não rouba, que paga todos os preços, todos os prejuízos, todas as contas. Inclusive a da desinformação que recebem.

Agora, para o futuro da nação brasileira, há um novo partidor. Novo risco foi traçado no chão. 
No entanto, as forças que durante os últimos quatro anos atuaram contra o presidente e seu governo se manterão em plena atividade
Voltarão os institutos de pesquisa às suas artes, manhas e artimanhas. Voltarão os grandes grupos de comunicação à sua infâmia. 
Voltarão TSE/STF à sua desnivelada interferência na política partidária muito bem expressa pelos afagos de Lula nas bochechas de alguns ministros. 
Voltarão as plataformas das redes sociais a sufocar nossa liberdade de opinião com a imposição de sua própria opinião (que atende com o nome supraconstitucional de “diretrizes da comunidade”).
 
Novas, porém, serão as forças políticas que atuarão em favor da reeleição de Bolsonaro.  
Novos governadores, senadores, parlamentares se incorporarão ao trabalho daquele que será o mais decisivo outubro verde e amarelo.

Nascido vermelho, como partido dos operários, dos sindicatos, das metrópoles, consolidou-se o PT como o partido do Nordeste brasileiro, dos grotões mais atrasados e mais tolerantes com a corrupção das elites políticas. 

Nesses grotões se desconhece a guerra cultural, a Nova Ordem Mundial, a importância dos bens morais, espirituais, sociais, políticos, econômicos em jogo na voracidade das urnas. 
A eles não chegam as consequências do combate que seus senhores travam, nos gabinetes e plenários, contra os fundamentos da nossa civilização.

Não é contra eles, mas por eles que temos que nos mobilizar.

Não solte a ponta da corda. Redobremos nossos esforços. Que o Senhor Deus abençoe o Brasil e o livre de todo mal. Amém.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Aliados pedem afago de Bolsonaro a Alexandre de Moraes e o motivo é um só

Para atrair votos de centro, ala moderada da campanha defende tom conciliador antes do 7 de setembro e presença na posse do ministro no TSE

A escalada da tensão entre o presidente Jair Bolsonaro e vários setores da sociedade civil, evidenciada em iniciativas como o recente manifesto pela democracia, acendeu o sinal amarelo na campanha de reeleição. [o tal 'manifesto pela democracia',não causou o impacto esperado, haja vista  MANIFESTO À NAÇÃO BRASILEIRA - DEFESA DAS LIBERDADES E APOIO À BOLSONARO, lançado bem depois já está próximo de 1.000.000 de assinaturas e sem nenhuma divulgação, maximizado, pela mídia militante.] Preocupados com o perfil intempestivo do presidente, alguns auxiliares diretos passaram a defender que ele busque uma conciliação com esses setores antes das comemorações do 7 de setembro. Mesmo que a contragosto.

O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada.

 O presidente Jair Bolsonaro participa de cerimônia comemorativa do 7 de Setembro, no Palácio da Alvorada.    
+Veja também: Bolsonaro diz a ministros que bateu o martelo sobre entrevista ao ‘JN’    [comentando: entendemos que o presidente não deve comparecer ao debate - estará em uma empresa que desde a posse de Bolsonaro sempre foi contra o presidente = maximizando   a narrativa de eventuais ocorrências, sempre apresentadas em narrativas destacando os aspectos negativos e quando o assunto é favorável ao presente, entendimento dificil de ser mudado via narrativa, eles omitem ou distorcem. Já teve ocasiões em que iniciavam uma notícia com algo positivo ao presidente e logo mudavam para aspectos negativos do passado.
Finalizamos sugerindo que caso o 'capitão do povo' decida ir exija que o Bonner não esteja presente e não tenha nenhuma participação = aquele cidadão age como inimigo pessoal do presidente. 
Quanto a sugestão de fazer afago ao ministro Moraes, entendemos que o presidente Bolsonaro - autoridade máxima do Brasil e Chefe de um dos Poderes da República -  e o ministro Moraes integrante de um outro Poder da República, não precisam ser amigos, cada um respeitando as leis e a Constituição Federal, já está de bom tamanho.]

Uma sugestão que circula entre os mais próximos ao presidente é que ele compareça à cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), como novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O evento está marcado para o próximo dia 16, às 19 horas. Dados os sucessivos embates judiciais entre Moraes e bolsonaristas, esses aliados defendem que o encontro – desde que pautado por um tom pacificador – teria uma simbologia importante para esta etapa da corrida presidencial.

Embora não seja unanimidade, essa ala mais moderada do time presidencial defende que Bolsonaro tenha o cuidado de não repetir o comportamento que teve no Dia da Independência no ano passado, quando disparou uma sucessão de ataques ao STF. O grupo argumenta que a base tradicional do presidente caminhará com ele de qualquer jeito e que o momento é de buscar votos de quem não é “bolsonarista raiz”.

Se Bolsonaro insistir em esticar demais a corda, segundo essa premissa, o resultado pode ser uma rejeição irreversível daquele eleitor que ajudou a elegê-lo em 2018, distanciou-se a partir da pandemia e saiu em busca de uma alternativa na chamada terceira via. Dada a fragilidade dos candidatos de centro nas pesquisas de intenção de voto, esse eleitor ainda poderia retornar para o presidente. [o importante é que não temos terceira via e o eleitor mencionado não vai votar no descondenado petista. E ele está na mira do petista não importa,. a mira do pétista só seus próprios pés.] A questão é que esse mesmo eleitor está também na mira do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que age para puxar sua candidatura para o centro.

+Leia também: Ciro Nogueira vê pacificação no 7 de setembro: ‘Pancadaria é coisa da esquerda’

Apesar de se dizerem otimistas, os que defendem esse movimento não se arriscam a dizer se Bolsonaro vai de fato atender às sugestões. “O problema é que ele faz o que quer, não é um cara que escuta nem mesmo o melhor marqueteiro do mundo”, disse à coluna um interlocutor do presidente.

Clarissa Oliveira, jornalista - VEJA


domingo, 22 de maio de 2022

Ficção à venda - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Quem decidiu que Lula é ladrão não foram os seus adversários. Foi a Justiça brasileira. [e a mesma Justiça não modificou o que decidiu; apenas, considerando filigranas jurídicas, decidiu  descondená-lo, sem inocentá-lo.]

Certas coisas, como se sabe há muito tempo, não devem ser ditas em certos lugares; a recomendação clássica, aí, é não se falar de corda em casa de enforcado. Em outros casos o problema não é o lugar onde se diz isso ou aquilo – é quem diz o quê. Certas pessoas, assim, não deveriam nunca falar de certos assuntos. O ex-presidente Lula, por exemplo, nunca deveria falar em “corrupção”. Ele nãotalvez um outro, qualquer outro, mas ele não. É duro, porque candidato a presidente do Brasil tem sempre de chamar o adversário de “ladrão”. Na verdade, isso é praticamente a única coisa compreensível que sabem dizer numa campanha eleitoral. Fazer o quê? Corrupção, no caso da campanha de Lula, é assunto proibido.

Como poderia ser diferente, se o seu próprio candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin, disse que ele quer ser presidente de novo para “voltar à cena do crime”? 
Alckmin acha que entre hoje e o momento em que falou isso Lula se transformou num santo homem. 
Mas falta combinar com os eleitores – quantos brasileiros estariam dispostos a acreditar nesse milagre da transformação da água em vinho? Isso será visto em outubro, mas até lá o candidato da esquerda nacional terá de resolver o seu problema com a ladroagem – e como não pode deletar os fatos que fizeram os seus oito anos de governo os mais corruptos de toda a história da República, o melhor que tem a fazer é se fingir de morto e não tocar no assunto.

‘Cadê a terceira via?’, pergunta tucano diante do ‘varal da polarização


Realidades são realidades. Quem decidiu que Lula é ladrão não foram os seus adversários. Foi a Justiça brasileira, que o condenou pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, em três instâncias e por nove magistrados diferentes. Mais que tudo, há o fato, também impossível de se negar, de que os corruptores confessaram publicamente a sua culpa, assinaram acordos de delação e, principalmente, devolveram uma parte do dinheiro roubado.  
O que mais seria preciso, em qualquer lugar do mundo, como prova material de roubalheira? 
Por acaso as empreiteiras condenadas e outros piratas devolveram o dinheiro sem ter feito nada de errado – só para agradar o promotor Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro?
 
Lula, porém, insiste em falar em corrupção. Quer vender a ficção de que foi “inocentado” pela Justiça quando a canetada que anulou seus processos não diz uma sílaba sobre culpa ou sobre provas
Quer, até, receber uma “indenização” do seu acusador – e está mortalmente ressentido com o fato de que ele recebeu em poucos dias mais de R$ 750 mil em doações espontâneas para pagar as despesas que o processo trouxer. Quer, enfim, o papel de “homem injustiçado”. A conferir.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
 

sábado, 14 de maio de 2022

Distender a corda - Alexandre Garcia

Vozes - Gazeta do Povo

Processo eleitoral

TSE não acolheu novas sugestões das Forças Armadas para o processo eleitoral

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de se manifestar sobre as dúvidas e sugestões dos militares, que visavam a mais segurança, transparência e confiança no processo de apuração.  
Especializados em guerra cibernética, sabem que não há segurança absoluta no mundo digital, militares convidados pelo TSE para integrar uma comissão de transparência das eleições, não permaneceram como espectadores passivos apenas para servir de avalistas do processo, mas fizeram muitas perguntas e sugeriram muitas ações que podem afastar as desconfianças de eleitores de quaisquer dos candidatos.

O TSE permanecera em silêncio sobre as sugestões, e até recusou pedido de deputado para torná-las públicas. Semana passada, o ministro da Defesa sugeriu que tudo fosse divulgado. Apuração é um ato da administração pública, e, como tal, precisa ter a publicidade exigida pelo artigo 37 da Constituição.

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As respostas do TSE certamente vão frustrar os militares, que vieram com a maior boa vontade de ajudar. O calor do ano eleitoral afeta o espírito e as emoções exacerbam as posições a respeito. De um lado o presidente da República a advogar transparência no processo, citando os precedentes da eleição Dilma x Aécio e do passeio do jovem hacker português no sistema do TSE, e de outro ministros do TSE, como Moraes, Barroso e Fachin, a não aceitar modificações num sistema que apresentam como seguro.[as urnas eletrônicas usadas no Brasil, são usadas em mais dois países de todo o mundo: Butão e Bangladesh.]

As respostas de agora refletem isso. Parece um tiroteio defensivo. Entre os milhões de eleitores, formam-se torcidas de um lado e de outro, muitas vezes estimulando posições cada vez mais radicais. Os militares, de instituições permanentes de estado, estão no meio do tiroteio, querendo ajudar e podendo ajudar.

O fato é que as duas partes aparentemente antagônicas têm o mesmo senhor: o povo brasileiro, fonte de poder e razão da existência do estado, constituindo para servir a esse mesmo povo. As partes da contenda devem ter a intenção de melhor servir ao povo, portanto precisam considerar que eleição é uma das ações mais sagradas do processo democrático.

Para que não pairem dúvidas, como as que subsistem desde que o PSDB não conseguiu auditar os resultados de 2014, cada eleitor precisa entender, sem dificuldade, como seu voto é contado e computado 
O que está em jogo é cumprir com um processo que é da sociedade. 
Não é por outro motivo que na maioria dos países, os votos são contados por representantes do povo e dos partidos, nas próprias sessões em que foram recolhidos.

Questões pessoais, antipatias, não podem ser consideradas nessa disputa, mesmo porque a Constituição exige que haja impessoalidade. Tensões precisam ser esfriadas, para que cabeças frias percebam que o objetivo interessa a todos, a menos que haja sonhos mal-intencionados. Não parece que as respostas do TSE tenham vindo para aliviar as tensões.

As sugestões dos militares que, embora sob o comando supremo do presidente da República foram convidados pela própria Justiça Eleitoral a participar da Comissão de Transparência, aparecem como uma oportunidade de solução para uma corda esticada. 
Adotadas mais medidas para segurança, transparência e credibilidade, num momento em que já não há tempo para mudar radicalmente o processo, pode distensionar a corda e dar aos brasileiros um avalista de alta credibilidade popular aos resultados das urnas.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 

quinta-feira, 12 de maio de 2022

"Constituição exige que haja impessoalidade"

Alexandre Garcia 

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acaba de se manifestar sobre as dúvidas e sugestões dos militares, que visavam a mais segurança, transparência e confiança no processo de apuração. 
Especializados em guerra cibernética sabem que não há segurança absoluta no mundo digital —, militares convidados pelo TSE para integrar uma comissão de transparência das eleições não permaneceram como espectadores passivos apenas para servir de avalistas do processo, mas fizeram muitas perguntas e sugeriram muitas ações que podem afastar as desconfianças de eleitores de quaisquer dos candidatos.

O TSE permanecera em silêncio sobre as sugestões, e até recusou pedido de um deputado para torná-las públicas. Semana passada, o ministro da Defesa sugeriu que tudo fosse divulgado. Apuração é um ato da administração pública e, como tal, precisa ter a publicidade exigida pelo artigo 37 da Constituição.

Nas respostas, o TSE burocraticamente negou tudo o que fora proposto. Coisas simples foram negadas com teimosia adolescente. Certamente frustrou os militares, que aceitaram o convite do Tribunal como uma oportunidade de ajudar.

O calor do ano eleitoral afeta os espíritos e as emoções exacerbam as posições a respeito. De um lado, o presidente da República a advogar transparência no processo, citando os precedentes da eleição Dilma Rousseff x Aécio Neves, e do passeio do jovem hacker português no sistema do TSE. Do outro lado, ministros do TSE, como Alexandre de Moraes, Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, a não aceitar modificações num sistema que defendem como seguro.

As respostas de agora negando ações simples que dariam mais confiança a eleitores e candidatos, refletem um jogo de cabo-de-guerra. Entre os milhões de eleitores, formam-se torcidas de um lado e de outro, muitas vezes estimulando posições cada vez mais radicais. E os militares, de instituições permanentes de estado, estão no meio dessa corda, querendo e podendo ajudar.

As duas partes aparentemente antagônicas têm o mesmo senhor: o povo brasileiro. É possível que os personagens da contenda tenham em mente que estão servindo ao povo, e sabem que eleição é uma das ações mais sagradas do processo democrático. Para que não pairem dúvidas, como as que subsistem desde que o PSDB não conseguiu auditar os resultados de 2014, cada eleitor precisa entender como seu voto é contado e computado.

Por isso, foi sugerido um teste aleatório num maior número de urnas, inclusive as do modelo mais recente; que os TREs apurem nos estados, para não centralizar tudo num só lugar; e que o Legislativo fiscalize, que haja medidas para o caso de irregularidades e que se tenha o número de abstenções e brancos por seção. Nada disso foi aceito.

Questões pessoais, antipatias, não podem ser consideradas nessa disputa, mesmo porque a Constituição exige que haja impessoalidade. Tensões precisam ser esfriadas para que, racionalmente, se perceba que segurança e transparência interessam a todos que não estejam mal-intencionados.

Não parece que as respostas do TSE tenham vindo para aliviar as tensões. As sugestões dos militares que, embora sob o comando supremo do presidente da República foram convidados pela própria Justiça Eleitoral a participar da Comissão de Transparência, aparecem como uma oportunidade de solução para uma corda esticada.

O que pode distensionar a corda e dar aos brasileiros um fiador de alta credibilidade popular aos resultados das urnas.

Alexandre Garcia, colunista -  Correio Braziliense


 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Juízes, verdades e democracia - Gazeta do Povo

Luís Ernesto Lacombe

Estaríamos certamente no caminho do desenvolvimento e do progresso, estaríamos certamente avançando, e não ensaiando passos para trás, se houvesse magia capaz de transformar hipocrisia em honestidade, mentira deslavada em verdade cristalina. 
No mundo real, esse de fingimentos e falta de vergonha na cara, infelizmente, ouve-se, como se suprema fosse, a voz dos que não têm razão. Não há leis, não há regras que os conduzam pelo caminho correto, único.  
Eles não querem saber de aprendizado, já sabem de tudo, tratam críticas legítimas como ataques, destratam, mas ai de quem lhes apontar o dedo.

“Nazista”, “genocida”, Bolsonaro é tudo isso, é responsável por um “desgoverno”. E é burro também. Luís Roberto Barroso disse que o presidente da República tem “limitações cognitivas e baixa civilidade...” Com base em quê? Em falas do tipo: “Estão esticando a corda”, “eu faço o que o povo quer”; “tá na hora de o Brasil dar um novo grito de independência”? São esses os atos antidemocráticos de Bolsonaro? Que inquérito abusivo ele abriu? Que veículos de comunicação censurou? Quem o presidente mandou prender? Barroso fala em tanques na Praça dos Três Poderes, numa “minguada” manifestação de 7 de setembro... Minguado parece ser o raciocínio do ministro. Cegueira e surdez seletivas. 

Foi Bolsonaro quem soltou corruptos, chefe de facção criminosa? 
É ele quem alimenta, todo dia, a terrível insegurança jurídica? Não! Isso é obra do STF, de Barroso e colegas seus.
Posso dizer que tem limitações cognitivas quem considera João de Deus um ser transcendental, e Cesare Battisti, terrorista condenado por quatro assassinatos na Itália, um santo? 
Posso dizer que tem dificuldades no processamento de informações, que tem problemas mentais como falta de atenção, raciocínio e memória, quem considera Lula um defensor da democracia e Dilma, vítima de um golpe?

Foram Barroso e colegas seus que interferiram no processo legislativo de avaliação de medidas que dariam mais segurança ao nosso sistema eleitoral, e jogando contra elas... 
Agora, o plano é banir do Brasil o Telegram, uma rede “sem leis”, ou seja, sem instrumentos de censura. Se o Telegram for mesmo banido, o Brasil se juntará a países que já tomaram essa atitude: China, Cuba, Irã... Não é exatamente o “clube da democracia”.

Veja Também:Sigiloso ou não sigiloso?

Leis e leões

Vírus do faz de conta

Barroso disse: “Na minha casa só entra quem eu quero!” Esqueceram de avisar ao hacker que passeou pelo sistema do TSE por sete meses em 2018...  
E a casa será em breve do ministro Edson Fachin, futuro presidente da Justiça Eleitoral, essa jabuticaba que nos leva R$ 10 bilhões por ano, quase R$ 28 milhões por dia, com ou sem eleições. 
Fachin nem estreou ainda e já disse que a corte terá pela frente “ameaças ruidosas do populismo autoritário”. 
E não estaríamos sujeitos a falas assim, se a verdade tivesse mais autoridade, se nossos ministros confirmassem a definição que Olavo de Carvalho dava para inteligência: a capacidade de perceber a verdade... De qualquer maneira, pergunto: de que adianta ter inteligência se ela é usada para o mal?
 
Luis Ernesto Lacombe, colunista - VOZES   - Gazeta do Povo

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos


terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

RETORNO AO GUETO? NÃO! - Percival Puggina

Uma fábula de verão, porque haverá outubro e haverá primavera.

 

Há exatos 10 anos, escrevi um artigo cujo título era, “No gueto, pensando”. A partir de 2015, porém, senti estar sendo alforriado. Conservadores e liberais haviam criado os próprios espaços, os que éramos poucos nos tornamos muitos, muitos. De repente, fomos 47 milhões e vencemos a eleição de 2018.

Naquele exato momento, vivemos o êxtase, mas realizamos o intolerável. Mobilizou-se o mundo das sombras. Acordamos as potestades do Averno. Foi tudo muito rápido. Agora, nos vemos de novo no gueto, contidos num sítio existencial bizarro, cujos muros são tão invisíveis quanto sensíveis, dentro dos quais vamos minguando em cidadania e sendo suprimidos, até mesmo, do direito de expressar opiniões. Estamos sitiados pelo Congresso, pelas altas Cortes, pela mídia que se abastardou, pelas “diretrizes da comunidade” nas plataformas das redes sociais.  

A caçamba e a corda foram recolhidas. As instituições jazem no fundo do poço do descrédito. Do ministro do STF ao camarada jornalista, do ex-presidente descondenado ao aluno que agride a professora, a noção de limites foi perdida. Mas não te passe pela cabeça, leitor, apontar causas para o que vê acontecer! Acabarás no gueto. O mundo das sombras veio às claras e te cobra total submissão.

Diariamente nos é ensinado que para não se dar mal, conservadores e liberais precisam reconhecer-se responsáveis por todos os males. Dizer que foi nosso mundo que gerou a desgraceira. 
Podemos criticar a corrupção, mas esse é o limite. 
Apontar suas causas e causadores é perigoso!  
Os que comandam fora do gueto esperam que você concorde quando dizem que as instituições funcionam bem, que corrupção sempre existiu e é igual em toda parte; 
esperam que você aceite que ser corrupto é um mal muito menor do que ser conservador, ou liberal. Eles não toleram os vocábulos "verdades", "princípios" e "valores". Aprende: no Brasil deles, é mais seguro entrar para o mundo do crime do que emitir opinião. O caminho dos princípios acaba no gueto.

Quem propuser algo de fato relevante perderá importância. Observa os partidos políticos, por exemplo, e se não quiseres ir para o gueto, faze como eles. Aprende a ser irrelevante. Quanto menos cada cidadão for, daquilo que deveria ser, quanto menor o conteúdo, mais importante será. Pode acabar numa tribuna. Ou de toga. Por isso, os partidos e os poderes de Estado estão fora do gueto. Mas o presidente está dentro, claro.

A coerência torna-se vício constrangedor. Sê incoerente e o STF te sorrirá. O mundo que o gerou, vê o sujeito coerente como antissocial, objeto de ameaças e maledicência. Se não quiser vir para o gueto, livre-se ele de suas convicções. É óbvio que para o mundo das trevas este país passa muito bem com pouco ou nenhum caráter, sem fé religiosa de qualquer espécie (à exceção da fé no grande demiurgo de Garanhuns). Sê fiel na igrejinha do politicamente correto, do pensamento fraco, onde a mentira deslavada se chama narrativa. É óbvio. Para um país ser como querem é preciso expurgar a virtude. Há que trancar a nação inteira no gueto, se necessário, para os arranjos do poder. 

Contudo, não! Essa fábula abjeta que descrevi não é o Brasil e a nação não será protagonista desse desastre multidimensional. O gueto é muito maior do que seus criadores. O pai da mentira não reinará entre nós.      

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 23 de outubro de 2021

Uma CPI de verdade - Revista Oeste

Silvio Navarro

Instalada no Rio Grande do Norte, uma Comissão Parlamentar de Inquérito faz o trabalho que deveria ser feito em Brasília: investigar a corrupção na pandemia 
 
Durante seis meses, o alto comissariado da CPI da Covid chefiado por Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) produziu centenas de manchetes de festim contra a condução da pandemia pelo governo federal. 
Mandou prender, devassou a vida de opositores e triturou reputações de profissionais da saúde. 
A poucos dias de sua votação no Senado, contudo, o relatório final da CPI gasta mais de mil páginas em malabarismos retóricos para tentar camuflar um ponto crucial: não conseguiu elaborar uma única denúncia robusta de desvio dos cofres públicos. 
 
Sem o picadeiro transmitido ao vivo pela TV Senado, um grupo de cinco deputados estaduais da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte e seus respectivos suplentes resolveu fazer o serviço direito. Em agosto, a Casa aprovou uma comissão para investigar 12 contratos que a governadora Fátima Bezerra (PT) firmou durante a crise sanitária
Já nas primeiras reuniões, tinham um nome, uma cifra e um misterioso “Consórcio Nordeste” a serem investigados.

O homem da caneta do tal consórcio era o petista Carlos Eduardo Gabas, que adquiriu 300 respiradores que nunca existiram ao custo de quase R$ 50 milhões. “Foi um dos maiores roubos durante a pandemia do coronavírus, não tenho dúvida nenhuma disso”, afirmou o deputado estadual Kelps Lima (Cidadania), que preside a CPI potiguar. “Há confissão, delação premiada e os documentos são estarrecedores.”

Quem é Carlos Gabas
Antes de traçar o caminho do roubo em curso aos cofres públicos, o leitor pode se perguntar: mas, afinal, quem é Carlos Gabas? Trata-se de um nome que apareceu dezenas de vezes em pedidos de convocação na CPI do Senado, mas foi protegido pelos xerifes da covid.

Gabas é um político da cidade de Araçatuba, no noroeste paulista, servidor de carreira do INSS. É um daqueles petistas orgânicos, ligados à máquina partidária. Muito amigo de figuras como o ex-presidente da sigla Ricardo Berzoini, do Sindicato dos Bancários, e do prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Foi Berzoini quem o levou para o ministério de Lula quando comandou a pasta da Previdência Social, cargo que o próprio Gabas herdaria anos depois na gestão Dilma Rousseff. Quando o ministério precisou ser leiloado em troca de guarida política no Congresso e ficou com o PMDB, Dilma o instalou na Secretaria de Aviação Civil — ainda que não haja nenhum registro prévio de sua experiência na área.

Àquela altura, entretanto, seus conhecimentos sobre o espaço aéreo brasileiro eram o que menos importava. Gabas havia se tornado amigo pessoal da então presidente. Ficou famoso nas páginas de jornais quando os fotógrafos que faziam plantão no Palácio da Alvorada descobriram que era ele quem a levava para passear na garupa das motos Harley-Davidson aos fins de semana.
Carlos Gabas e Dilma Rousseff | Foto: Divulgação
Assim como o segundo governo Dilma, o destino das motocicletas tampouco terminou bem. Acabaram apreendidas pela Polícia Federal durante a Operação Custo Brasil, da Lava Jato. 
Gabas foi investigado por participar de um propinoduto que abastecia o caixa do PT por meio de assalto aos fundos de pensão e à folha de empréstimos consignados de funcionários públicos. 
Foi levado pelos policiais em condução coercitiva para prestar depoimento, mas ficou calado. Outros colegas, como o ex-ministro Paulo Bernardo, marido da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, foram presos.

Respiradores fantasmas
Com a saída de Dilma e do PT do governo, o nome de Gabas andava esquecido. Até que um escândalo (devidamente acobertado pela imprensa tradicional) veio à tona na Bahia no ápice da pandemia. Entrou em cena o Consórcio Nordeste, criado pelos nove Estados da Região e chefiado por outro amigo de Gabas, o governador da Bahia, Rui Costa (PT). Gabas é o segundo no escalão da autarquia. É ele quem carimba as negociatas.

O consórcio intermediou a compra de 300 respiradores da empresa Hempcare Pharma. O nome se refere a uma importadora de produtos derivados de maconha dos Estados Unidos. Um dos escritórios da empresa fica na cidade de Araraquara, no interior paulista. O contrato assinado foi de R$ 48,7 milhões, sendo que a maior fatia, de R$ 10 milhões, saiu do caixa do governo baiano. Os demais oito Estados arcariam, juntos, com R$ 40 milhões. A unidade do respirador foi orçada em R$ 160 mil. A Bahia comprou 60, e os demais, 30 cada um.

O Ministério Público e a Polícia Civil da Bahia farejaram a pilantragem. Em síntese, a Hempcare atuava como lobista da compra de respiradores de uma empresa chinesa, que tampouco era do ramo e usava documentos falsos. Negociata amadora de fachada. A dona da Hempcare, Cristiana Prestes Taddeo, foi presa e teve os bens bloqueados. Só que o dinheiro público sumiu.

Foi aí que Cristiana Taddeo resolveu falar. Disse que pelo menos R$ 12 milhões foram pagos em propina para intermediadores dos aparelhos fantasmas. O restante acabou pulverizado em subcontratos num novelo que ninguém conseguiu desembaraçar até agora. As investigações correm em segredo de Justiça. O que se sabe é que, já com a corda no pescoço, Cristiana pediu socorro a outra fabricante de aparelhos, desta vez nacional e curiosamente também de Araraquara: a Biogeoenergy, que levou R$ 24 milhões.

Como a trama foi revelada e entrou no radar das autoridades, inclusive de Brasília, o proprietário da Biogeoenergy, Paulo de Tarso, deu a seguinte explicação: “A empresa tem margem de lucro. Não fico com o dinheiro parado. Não tenho que devolver dinheiro para o Consórcio Nordeste, tenho que entregar os respiradores. Prometi entregar para o governo do Estado, que se recusou a receber”. Em outras palavras: ele disse que usou o dinheiro, supostamente para começar a fabricar os respiradores. Mas, como o contrato virou alvo de investigação e o governo da Bahia não quis mais os respiradores, ficou tudo por isso mesmo. O caso segue sendo investigado pela polícia baiana.

O secretário de Segurança Pública da Bahia, Maurício Telles Barbosa, confirmou a fraude durante a operação policial. “Não encontramos nenhum respirador pronto. Por mais que a empresa alegasse a intenção de entregar modelos nacionais e não os chineses, eles tampouco existiam.”

Irmão de alma                                                                                           Com 240 mil habitantes, Araraquara é uma cidade paulista de porte médio, às margens da Rodovia Washington Luís. O município tem a 40ª economia do Estado. Foi de lá que o país acompanhou algumas das manchetes mais absurdas na pandemia, como o longo e rigoroso confinamento  obrigatório da população.
A cena de uma mulher detida com truculência pela Guarda Civil Municipal (GCM) porque estava sentada sozinha numa praça rodou o país.

Mas não foi só. O prefeito Edinho Silva, também ex-ministro de Dilma e ex-tesoureiro de campanhas do PT, foi citado na delação da dona da Hempcare. Segundo Cristiana Taddeo, Carlos Gabas a procurou porque Edinho precisava de 30 respiradores, mas não tinha como comprá-los. O amigo de Araraquara era chamado por Gabas de seu “irmão de alma”, conforme os documentos que agora a CPI do Rio Grande do Norte esmiúça. Cristiana disse que entendeu o recado como um pedido para que os aparelhos aparecessem como doação — algo em torno de R$ 1,5 milhão, valor que mais tarde seria ajustado nas planilhas do Consórcio Nordeste.

Gabas chegou a comparecer à CPI para prestar depoimento, mas ficou em silêncio
A prefeitura de Araraquara admitiu em documento oficial que receberia os ventiladores hospitalares como doação do consórcio. Como eles não foram entregues, o papel foi revogado por Edinho Silva. “É ridículo atribuir ‘ato de corrupção’ a doação de equipamentos para enfrentar a pandemia, respiradores para atender interesse público”, disse Edinho, por escrito. “Se todos os atos de corrupção fossem equivalentes a esse, não existiria desvio de recursos públicos no Brasil. O que existe, de fato, é uma tentativa desesperada do negacionismo e dos seus interlocutores em desgastar as medidas adotadas por Araraquara no enfrentamento à pandemia.” Ele também foi convocado para prestar depoimento à CPI.

Um detalhe importante deve ser frisado mais uma vez: não existiam aparelhos prontos. Nunca existiram.

O que a CPI nordestina busca
Além de aprovar as convocações de todos os envolvidos na trapaça, um dos principais feitos da CPI nordestina foi conseguir a quebra dos sigilos telefônico, bancário e fiscal de Gabas. O extrato bancário ainda não foi enviado pelo Banco Central. O petista chegou a comparecer à CPI para prestar depoimento, mas ficou em silêncio diante dos deputados potiguares. “Carlos Gabas é pago com dinheiro do povo nordestino para defender os interesses da Região, não os de Araraquara”, afirma Kelps Lima. “Havia uma cláusula de seguro no contrato para que os Estados recebessem a indenização se os respiradores não fossem entregues. Ela foi retirada e os Estados ficaram no prejuízo. O consórcio virou uma ferramenta para desvio de dinheiro público.”

O que a CPI de Brasília escondeu
O senador cearense Eduardo Girão (Podemos) foi quem mais se empenhou na apuração do que aconteceu no Nordeste,
enquanto Renan, Omar Aziz e a ala da histeria promoviam seus shows na TV. Girão disse mais de uma vez ao microfone em duas entrevistas a Oeste que havia blindagem explícita aos governadores da Região. “Dos 17 membros da CPI, dez senadores são representantes do Nordeste e 82% são do Norte e Nordeste. Coincidência? Não.” Mas pouco adiantou. Girão pediu a convocação de Gabas e a CPI barrou. A falcatrua dos respiradores descrita acima estará no centro do seu relatório paralelo da CPI.

Uma autarquia comandada pelo PT, que repassa recursos públicos a aliados por meio de empresas de fachada e cujo dinheiro vai parar no bolso de quem não deveria. 
Esse enredo, seus personagens, o partido político, o tal Consórcio Nordeste, tudo isso tem a cara de um velho Brasil — e seus escândalos de nomes aumentativos, como mensalão e petrolão. A CPI potiguar resolveu investigar o covidão.


Leia também “A imprensa doente”

Revista Oeste - MATÉRIA COMPLETA 

sábado, 2 de outubro de 2021

De peito aberto, Luciano Hang domina a arena da CPI - VOZES

Alexandre Garcia

A CPI da Covid teve seu ibope máximo nesta quarta-feira (29). O empresário Luciano Hang atraiu muita atenção para a CPI e ele dominou o ambiente, como se fosse um jogo de futebol de um contra sete. Inclusive dominando o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), e o relator Renan Calheiros (MDB-AL). Ele chegou a chamar os dois pelo primeiro nome.


Luciano Hang prestou depoimento à CPI da Covid no Senado nessa quarta-feira (29)| Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado

E aí alguns senadores se deram conta disso, de que se não parassem com isso Hang dominaria a sessão inteira. E, claro, protestaram no grito, como sempre. É óbvio que o que perguntaram para Luciano Hang não tinha nada a ver com a CPI. O objetivo da CPI é investigar ações e omissões do governo federal no enfrentamento da pandemia, o colapso da saúde no estado do Amazonas e a aplicação de recursos federais por estados e municípios no combate à pandemia. Ou seja, nada a ver com o Luciano Hang.

Mas o empresário aproveitou para protestar contra o tratamento desrespeitoso — ele chamou até de vil — com que a senhora mãe dele foi mencionada lá na CPI. E vejam só: Renan fez um discurso sugerindo que Luciano Hang é o "bobo da corte", mesmo tendo afirmado lá no início, quando assumiu a relatoria da CPI, que trataria todos sem valorizações pessoais, numa investigação técnica e despolitizada. [com certeza Renan após o 'banho' que levou do Hang, deve ter procurado um espelho para reconhecer o verdadeiro, o autêntico, o real bobo da corte.]

Agora o próprio Renan, em um momento de infelicidade, fez uma alegoria sobre circo durante a CPI. Disse que lembrava quando o circo chegava na cidade dele, com mágicos de capa e cartola, tirando coelhos, trapezistas, marmelada, fantasia, globo da morte, picadeiro, malabaristas, marionetes, anões, saltimbancos, domadores de pulgas.  Falavam em circo mambembe e palhaços maltrapilhos. Que alegoria, hein? É como falar de corda em casa de enforcado. Ele se referia a quem? Eu não preciso nem responder.

[Mais sobre Luciano Hang no Circo Covidão e os mil dias do governo Bolsonaro]

Covidão ganha um novo alento com a ida do empresário, dono das lojas Havan. Parece que foi por insistência do relator Renan Calheiros (MDB-AL), que está muito preocupado com a eleição do ano que vem e precisa de audiência; por isso, insistiu em convocar Luciano Hang.

Os outros senadores estavam meio receosos porque, afinal, o empresário não vendeu ou comprou nenhuma vacina; não vendeu nenhum respirador através de loja de vinho ou de outra empresa duvidosa. Inclusive não vendeu e não entregou nada para o Consórcio Nordeste, não superfaturou hospital de campanha, ou seja, não tem nada a ver com a pandemia.[caso queiram atualizar a folha corrida... ops., os currículos do trio 'dono' da covidão-19, especialmente do relator Calheiros, cliquem aqui.]

Inaugurações nos mil dias
O presidente Jair Bolsonaro finalmente comemorou, como ele gosta, os mil dias de governo, cercado pelo povo. Foi na Bahia e em Alagoas, onde os governadores são de oposição ao governo federal: Rui Costa (PT) e Renan Filho (MDB), filho de Renan Calheiros, respectivamente.

Bolsonaro esteve em Teixeira de Freitas (BA), onde entregou um centro poliesportivo; duas duplicações de BRs importantíssimas, a 116 e a 101; e entregou títulos de terra. Depois, em Teotônio Vilela (AL), ele entregou 200 casas populares. Foi uma apoteose nas ruas, do jeito que Bolsonaro gosta. Ele tem um prazer enorme de contrariar as pesquisas de opinião.

LEIA TAMBÉM: Ambientalistas, MP e Supremo são culpados por eletricidade cara no Brasil

Biden ignorou o conselho de generais
No Capitólio, em Washington, uma comissão do Senado ouviu generais sobre o processo de retirada das tropas americanas do Afeganistão. Eles disseram ter aconselhado o presidente Joe Biden a deixar algumas tropas naquele país para não acontecer o que aconteceu, aquele vexame todo registrado na desocupação. 

Mas Biden não os ouviu. Achou que tinha que fazer pela opinião pública e saiu todo mundo de uma só vez. Deixaram para trás milhares de fuzis, helicópteros, aviões e veículos para os terroristas do Talibã, tudo pago pelo contribuinte americano. Foi um vexame! [sem pressa;  Biden vai ter oportunidade para produzir mais vexames, que se somarão aos muitos que sua vice também cometerá, e os americanos vão aprender que o MAIOR DE TODOS OS VEXAMES foi eleger Biden e Kamala.

Só alguém gravemente afetado em sua capacidade pensante é capaz de autorizar a retirada de tropas antes da retirada dos civis e do material bélico.]

O peso do ICMS
Na Câmara dos Deputados, o presidente Arthur Lira (PP-AL) disse que quer votar um projeto para botar um ICMS fixo sobre o litro do combustível. Porque aquela média ponderada do preço final, que incide sobre tudo, é ICMS sobre tudo, sobre impostos anteriores também, e sobre um preço final dos combustíveis que é alterado quinzenalmente.

Tem estados hoje, como o Rio de Janeiro, que o ICMS é 34%, no Rio Grande do Sul é 30%, Minas Gerais é 31%, Maranhão é 30,5%, Mato Grosso do Sul e Goiás são 30%, Piauí é 31%. 
Como é que Santa Catarina, São Paulo, Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Mato Grosso podem cobrar 25%? 
Então é isso, ICMS pesa sim muito no preço de combustível. [a propósito: será que o maior todos os ladrões, aproveitou o tempo em que esteve acomodado no 'resort' da PF em Curitiba e aprendeu o que quer dizer CIDE?] 
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Lira terá que acatar pedido de impeachment contra Bolsonaro a qualquer momento - Merval Pereira

O Globo

Sete de Setembro - Remédio amargo

Nem todos foram tão contundentes e certeiros com as palavras como o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Fux. Mas todos os que se pronunciaram com críticas à retórica belicista do presidente Bolsonaro na terça-feira o fizeram como se avisassem ao presidente que está chegando o momento da verdade.

A fala do procurador-geral da República, Augusto Aras, foi acadêmica e clara na defesa da tese de que a democracia não existe sem o respeito entre os três Poderes. Não cometeu o erro do presidente da Câmara, deputado Arthur Lira, de igualar na responsabilidade pela crise o Judiciário e o Executivo, quando claramente qual ciência exata está sendo utilizada para medir qual ato, de qual poder, é o último que estica a corda e quer submeter o primeiro a seus interesses familiares e políticos. Colocando-se em posição proativa, Aras reafirma uma nova postura independente.

Lira colocou o Legislativo no centro da Praça dos Três Poderes, como se fosse a ponte entre os outros dois, na concepção que atribuiu a Niemeyer e Lucio Costa. A mesma tentativa de explicar a praça foi feita no documento que Febraban e Fiesp organizaram, e acabou não dando certo pela tibieza de seus termos.
 
[a narrativa muda um texto legal? uma interpretação criativa pode até mudar, mas uma narrativa NADA MUDA e já nasce desacreditada. 
 
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Arthur Lira,  tendo em conta que o Brasil vive em um 'estado democrático de direito', que pressupõe que TODOS respeitam as leis, tem o poder  de submeter aos integrantes daquela Casa Legislativa pedido, ou pedidos, de impeachment - não pode ser obrigado a tomar, ou não, tal providência = ainda dentro do estado democrático de direito, podem até retirá-lo da Presidência da Câmara dos Deputados, visto que quando querem, os motivos são encontrados ou criados, mas obrigá-lo jamais.

Optando o deputado Arthur Lira por submeter um pedido ao escrutínio  dos parlamentares serão necessários que 342 deputados - 2/3 - votem favoráveis a que o pedido seja aceito quando então será aberto no Senado Federal um processo de impeachment e seguido o devido processo legal.
Gostem ou não gostem é isso que está na Constituição, na legislação e todos, incluindo sem limitar, os 'inimigos do Brasil' estão obrigados a aceitar. 
 
Ainda que se desesperem, em português claro:
- 172 deputados votando contra a admissão da acusação contra o presidente da República = votando contra o impeachment = o pedido será arquivado.
- a presença de apenas 341 deputados já impede a apreciação do pedido de impeachment.
- o presidente da Câmara apenas recebe o pedido de impeachment e decide se submete ao exame de quem realmente decide.
 
Sair desse regramento constitucional é sair da lei, da ordem, do estado democrático de direito e  partir para o VALE TUDO. Os BRASILEIROS DO BEM, entre os quais nos incluímos, NÃO QUEREM que no Brasil passe a vigorar a LEI DO VALE TUDO.] 

Na carta, dizia-se que o espaço da praça “foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos Poderes. Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais”. Os dois, o discurso de Lira e o manifesto da Fiesp, com essa metáfora arquitetônica, queriam não criticar diretamente o presidente da República, fingindo que a culpa pela crise que vivemos é dos dois outros Poderes, quando, na verdade, somente o Executivo está em pé de guerra com o Judiciário e também com o Legislativo, quando Bolsonaro se recusa a aceitar a derrota do voto impresso.

O presidente da Câmara, que tem a chave [sic] do pedido de impeachment, não poderia ter se referido, como fez o ministro Luiz Fux, a crime de responsabilidade de Bolsonaro ao anunciar que não acataria mais decisões emanadas do ministro Alexandre de Moraes. Como cabe somente a ele abrir o processo de impeachment, uma palavra nesse sentido seria terminativa. Fux acusou o presidente de ter agido fora das quatro linhas a que tanto alude, mas lembrou que a investigação cabe ao Legislativo. O fato é que todas as autoridades se pronunciaram ainda impactadas pelas multidões que foram às ruas aderir ao discurso golpista de Bolsonaro.

Muitos continuavam ontem em Brasília fazendo arruaças. Tanto Fux quanto Lira aplaudiram quem foi à rua em manifestação pacífica, afirmando que assim funciona a democracia. Mas coube ao presidente do Supremo ressaltar que a forma era boa, mas o conteúdo não. Defender a extinção do STF ou a substituição de ministros, sem utilizar os meios legais para isso, é fora das quatro linhas. Assim como Bolsonaro não aceita a decisão do Congresso sobre o voto impresso, também não acata a decisão do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de arquivar o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes.

Mesmo que Arthur Lira alegue não ver razão para acatar um dentre as dezenas de pedidos de impeachment contra Bolsonaro, terá de fazê-lo a qualquer momento, pois ninguém, nem mesmo ele, acredita em acordos com Bolsonaro para que se modere. Ontem mesmo, na reunião do Conselho de Governo que improvisou depois de ter dito que convocaria o Conselho da República como ameaça, mostrou fotos das manifestações do dia 7 de setembro para garantir que o povo está com ele.

O ministro que pula de ministério em ministério de acordo com a conveniência de Bolsonaro teve a petulância de sugerir ao ministro da Justiça que proíba a Polícia Federal de acatar ordens emanadas do ministro Alexandre de Moraes. Como se a PF não fosse polícia judiciária e autônoma — e pudesse ser manipulada pelo governo. Ou como se isso não representasse mais um crime de responsabilidade.

A fala absurda de Bolsonaro, assim como estimulou Lorenzoni a propor besteiras, fará com que militantes bolsonaristas, como blogueiros e caminhoneiros a soldo, se sintam estimulados a resistir a um mandado de prisão, o que poderá ter sérias consequências. A crise mal começou e, como depende apenas de Bolsonaro, não será contida a não ser com o remédio amargo do impeachment.

Merval Pereira, colunista - O Globo