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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Caso Marielle: 'Crime espiritual e mediúnico', ironiza advogado do ex-PM Élcio Queiroz - O Globo


Desde março afastado de unidades da Polícia Civil , o delegado Giniton Lages, que foi encarregado da investigação sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes , na Delegacia de Homicídios (DH) da Capital, foi a principal testemunha da audiência de instrução e julgamento dos réus Ronnie Lessa e Élcio Queiroz , no fim da noite de sexta-feira, no Tribunal de Justiça. Em seu depoimento, que durou quatro horas, Giniton enfatizou que as provas obtidas se basearam em dados retirados dos celulares dos acusados e em imagens da câmera OCR (Reconhecimento Óptico de Caracteres). Considerado um radar inteligente, o equipamento captou as letras e os números da placa do Cobalt prata, usado no ataque à vereadora, em 14 de março do ano passado.
 
Ao explicar as técnicas da investigação, o delegado disse que há provas contundentes sobre a participação do sargento reformado Ronnie e do ex-PM Élcio no duplo homicídio. Giniton atualmente está lotado no Departamento Geral da Polícia da Capital (DGPC), mas sem cargo. Ele disse, no entanto, que não foi possível obter imagens que capturassem a fisionomia dos dois acusados. 

A principal evidência de que Ronnie Lessa estaria dentro do Cobalt usado na execução é uma tatuagem dele. De acordo com a denúncia, apesar de estar usando uma luva para encobri-la, o PM reformado descuidou-se num momento e deixou a marca à mostra ao recostar o braço, sem a cobertura, no banco traseiro do veículo, estacionado na Rua dos Inválidos, próximo à Casa das Pretas, onde Marielle participava de um evento no dia do crime. Por uma fração de segundo, o gesto foi filmado por uma câmera da região. A equipe da Coordenadoria de Segurança e Inteligência do MP comparou a imagem com fotos, mostrando que ela era compatível com a tatuagem do suspeito.

O titular da Delegacia de Homicídios (DH) Capital, Daniel Rosa, também não tem dúvidas da participação de Élcio Queiroz, como o motorista do Cobalt usado na emboscada, e do sargento reformado da PM Ronnie Lessa como o autor dos disparos. — Não há dúvida quanto a prática do crime por Lessa e Élcio. Os indícios de autoria são robustos, coesos e muito bem concatenados nos autos do inquérito policial. Além disso, eles não apresentaram álibis para o que estavam fazendo no dia dos homicídios de Marielle e Anderson — afirma o delegado que assumiu a investigação do caso desde março deste ano.
“Inauguraram um instituto penal novo: o do crime espiritual e mediúnico”
Henrique Telles - Advogado de defesa do ex-PM Élcio Queiroz
É dessa maneira que o advogado Henrique Telles, responsável pela defesa do ex-policial militar Élcio Queiroz , resume a acusação da DH e do Ministério Público do Rio. O ex-PM é apontado como o motorista do carro Cobalt prata usado no assassinato da vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes . Segundo ele, a declaração, em tom de ironia, se dá pela falta de provas que coloquem Élcio dentro do veículo.

— Brinquei que eles inauguraram um instituto penal novo (uma norma jurídica), o do crime espiritual e mediúnico. Só assim para colocar meu cliente dentro do carro, ali no Estácio, onde ocorreu o assassinato da vereadora e do motorista — disse Telles, alegando que antenas acusavam que o celular de Élcio estava na Barra, entre 17h e meia-noite, no dia do crime.

Na denúncia do MP, o celular dos acusados permanece durante toda a noite em um ponto fixo na Barra da Tijuca. Investigadores acreditam que a dupla deixou o celular na casa de Ronnie para criar um álibi.

A Delegacia de Homicídios (DH) investiu no acesso à nuvem dos celulares usados pelos assassinos no dia da morte de Marielle, já que a arma e o carro utilizados no crime nunca foram encontrados. Em depoimento prestado antes de serem presos, quando ainda eram tratados como testemunha, em janeiro deste ano, ambos disseram ao delegado Giniton Lages, encarregado do inquérito na época, que não se lembravam exatamente do que fizeram no dia do crime. Lessa afirmou que bebia demais e que vivia em bares da Barra da Tijuca, onde morava. Já Élcio, compadre de Lessa, não só confirmou o que o amigo dissera, como acrescentou que o policial reformado apresentava problemas de depressão. O ex-PM contou ainda que, possivelmente, tinha ido trabalhar na manhã do dia em que Marielle e Anderson foram assassinados.  
 
A rota traçada a partir de imagens das câmeras — que mostraram o Cobalt usado na emboscada durante a fase do pré-crime — também foi questionada pelo advogado de Lessa. Nenhuma câmera registrou o que aconteceu com o carro depois do crime.
“Não conseguiram captar imagens do carro em nenhuma das rotas possíveis que vem para Barra”
Henrique Telles
Advogado do ex-PM Élcio Queiroz
Não conseguiram captar imagens do carro em nenhuma das rotas possíveis que vem para Barra. Seja pelo Alto da Boa Vista ou Grajaú Jacarepaguá. Nem Linha Amarela ou Zona Sul. Sendo que há câmeras particulares e OCRs da prefeitura nesses percursos. Nada do pós-crime — questiona Telles.

A fala do advogado em entrevista ao GLOBO foi feita após o término da segunda parte da audiência de instrução e julgamento nesta sexta-feira. Todos foram ouvidos, menos os réus. A sessão foi feita por meio de videoconferência já que tanto Élcio quanto Ronnie estão presos na Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia.

Para a realização da audiência, o juiz do 4º Tribunal do Júri, Gustavo Kalil, foi extremamente rigoroso a fim de evitar o vazamento de informações. A sessão secreta foi realizada no espaço restrito ao oitavo andar do fórum central, com o bloqueio das entradas do nono andar, onde ficam os bancos da plateia que costuma assistir aos julgamentos. O número de vigilantes foi reforçado, como é raro de se ver em audiências comuns, com o objetivo de dar mais segurança às testemunhas e proibir o acesso da imprensa. Durante a audiência, as testemunhas tiveram de ficar trancadas em salas separadas, por ordem do magistrado, para evitar qualquer tipo de contato entre elas. Até mesmo a entrada de comida e bebida era controlada.

A sessão, marcada para 14h, começou com um atraso de cerca de uma hora. A viúva da vereadora, Mônica Benício, foi uma das primeiras a depor no grupo de  testemunhas de defesa. Lessa e Elcio foram denunciados pelo assassinato e também pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, assessora da vereadora que estava no carro e sobreviveu ao ataque. O advogado de Lessa, Fernando Santana, também questiona as provas utilizadas na acusação, criticando o uso de evidências telemáticas (a partir dos dados dos celulares) e técnicas. Se basearam somente em prova técnica e telemática que supostamente tinham a percepção de tal coisa ou daquilo, entende? Não há testemunha ocular, nem nada que comprove de forma robusta que ele tenha participado — contesta Santana.


Kalil pretendia concluir a fase de instrução e julgamento no mesmo dia, havendo a possibilidade de audiência terminar de madrugada. Só que um acordo entre defesa e acusação, excluindo algumas pessoas do rol de testemunhas, fez com que a sessão fosse encerrada.Os réus ainda serão ouvidos, mas não há data marcada de uma futura audiência. Os interrogatórios da dupla acontecerão de acordo com a disponibilidade de agenda para videoconferência da Penitenciária Federal de Porto Velho. Para o advogado de Élcio Queiroz, cada depoimento deve durar, em média, três horas.

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