Konrad Adenauer tinha
73 anos em 1949,
quando
assumiu a chefia do governo da Alemanha Ocidental, e 87 ao deixar o cargo em 1963. Entre a posse e a renúncia, reconstruiu o país
devastado pela Segunda Guerra Mundial. Nelson Mandela tinha 76 anos em 1994,
quando assumiu a presidência da África do Sul, e 81 ao deixá-la em 1999. Nesse
curto período, transformou a terra dividida e dilacerada pelo apartheid numa
nação democrática.
Se
tivessem nascido por aqui, os dois admiráveis setentões até poderiam tentar
enfeitar o peito com a faixa presidencial. Como Tancredo Neves, que tinha 73 anos em 1984, quando aceitou a missão
de disputar a sucessão de João Figueiredo, primeira etapa do processo de
restauração democrática. Ao morrer em
abril de 1985, a era dos generais-presidentes havia chegado ao fim. Em
menos de um ano, Tancredo juntou oposicionistas e governistas dissidentes numa
frente política tão heterogênea quanto poderosa, transformou-se no candidato
dos milhões de brasileiros sem acesso às urnas, nocauteou Paulo Maluf no
Colégio Eleitoral e montou o ministério que não pôde presidir. Até ontem,
Adenauer, Mandela e Tancredo estariam
proibidos de sonhar com a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal.
No Brasil, leis e decretos decidiram que a juventude
acaba só aos 29 anos, a velhice começa já aos 60 e
os magistrados têm de cair fora dos tribunais aos 70. Esta terceira restrição
imbecil começou a morrer nesta quarta-feira. Uma proposta de
emenda constitucional (PEC) que adia por cinco anos a despedida obrigatória foi
aprovada pela Câmara dos Deputados. Basta mais uma votação para sepultar-se de
vez a limitação injustificável.
O
documento que homenageia a sabedoria, a experiência e a sensatez merecia ser
batizada de PEC da Maturidade. A
imprensa optou pelo apelido pejorativo: PEC
da Bengala. Faz sentido: os
redatores do noticiário sobre o Petrolão insistem em rebaixar a “delatores” todos os depoentes que, por
ajudarem a esclarecer as bandalheiras em que se meteram, são qualificados de “colaboradores da Justiça” por
jornalistas de países civilizados. Além de prolongar a permanência no STF de septuagenários com reputação ilibada e
notável saber jurídico, como exige a Constituição, a
decisão da Câmara vai impedir que Dilma
Rousseff amplie a bancada dos ministros da defesa de culpados com a nomeação de bacharéis cinquentões que
tratam a pontapés a lei, a ética e a verdade. Luiz Inácio Adams e José
Eduardo Cardozo, por exemplo.
VÍDEO: A bengalada de José Dirceu
O advogado-geral da União (50) e
o ministro da Justiça (55) estão longe da bengala. Mas nunca estiveram tão perto de uma velha e
boa bengalada no lombo. Como aprendeu José Dirceu, não há corretivo
mais pedagógico para gente que perdeu a vergonha.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes