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quinta-feira, 1 de junho de 2023

Como Alexandre de Moraes se tornou o homem mais poderoso do Brasil - Ideias

Gabriel de Arruda Castro


O ministro do STF Alexandre de Moraes veio ao mundo numa sexta-feira, 13 de dezembro de 1968. O dia em que o AI-5 foi promulgado.

As manchetes dos jornais matutinos noticiavam com surpresa o fato de a Câmara dos Deputados ter rejeitado a autorização para que o Supremo Tribunal Federal processasse o deputado Márcio Moreira Alves. 
A maioria dos parlamentares se opôs à permissão, o que significa que o STF não poderia levar adiante as acusações contra o parlamentar.

A queda-de-braço tivera início três meses antes, depois que Moreira Alves fez declarações contundentes contra o regime militar. “Creio haver chegado, após os acontecimentos de Brasília, o grande momento da união pela democracia”, disse ele, que pedia um boicote aos militares e prosseguia: “Enquanto não se pronunciarem os silenciosos, todo e qualquer contato entre civis e militares deve cessar, porque só assim conseguiremos fazer com que este país volte à democracia.”

Sem a autorização ou “licença”, Moreira Alves não poderia ser responsabilizado. 
As repercussões políticas eram graves: por causa disso, o presidente Costa e Silva colocou as tropas do Exército de prontidão. "Votei pela licença na presunção de optar por um mal menor. A atitude da Câmara, porém, foi corajosa, porque a maioria dos deputados assumiu o risco conscientemente", elogiou o deputado Clóvis Stenzel ao jornal O Estado de S. Paulo.

No mesmo dia 13, o Executivo decidiria por uma das maiores violações dos direitos políticos praticada na história do país: o Ato Institucional número 5. Em nome da" ordem democrática" e com base "na liberdade" e no "respeito à dignidade humana", o presidente fechava o Congresso Nacional e suspendia direitos básicos, como o habeas corpus.

A coincidência de datas talvez seja insignificante. Mas, como jurista e professor de Direito, Moraes certamente estudou com detalhes os acontecimentos daquele 13 de dezembro
Talvez ela tenha percebido que parte das pessoas está disposta a aceitar muita coisa em nome da democracia e da liberdadeaté mesmo a dilapidação da democracia e da liberdade.

Jurista precoce, autor respeitado
O jurista Alexandre de Moraes não aceitaria que o político Alexandre de Moraes se tornasse o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

Em sua tese de doutorado, defendida em 2000, ele escreveu que o presidente da República não deveria ter o poder de indicar para a Suprema Corte alguém que tenha ocupado cargo de confiança em sua gestão.  

Mas foi exatamente assim que Moraes chegou ao STF: alçado por Michel Temer de ministro da Justiça a integrante da corte. Sem escalas.

Esta é uma das muitas contradições na trajetória do ministro que, tendo sido aluno exemplar, promotor implacável e político hábil, em pouco tempo se tornou o protagonista do Supremo Tribunal Federal.  
De estudante de Direito a político a promotor de justiça a ministro do STF a (dizem alguns) “imperador absoluto” do Brasil, o paulistano Alexandre de Moraes já fez muito em seus 54 anos de vida.

Tanto que é fácil esquecer como, há apenas seis anos, ele era a esperança de um nome mais conservador para o STF, motivo pelo qual foi duramente atacado por figuras da esquerda. A vida pública de Moraes tem suas raízes na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco,  a mais tradicional instituição de ensino superior brasileira. Alexandre de Moraes formou-se lá, na turma de 1990, e ainda hoje é tratado como o grande destaque da classe que também formou advogados e professores influentes.

Ele foi considerado um jurista precoce. Já em 1997, Moraes lançou a primeira edição de um livro que o tornaria conhecido entre alunos de graduação país afora: Direito Constitucional, hoje com mais de 30 edições, apresenta de forma objetiva os dispositivos constitucionais. Ele tinha apenas 29 anos quando a obra foi publicada.

Em 2000, Moraes obteve o título de doutor também pela USP, orientado pelo jurista Dalmo de Abreu Dallari — tão conhecido por sua obra acadêmica respeitada quanto por sua militância a favor do Partido dos Trabalhadores.

A tese de doutorado recebeu o título de “Teoria geral do direito constitucional administrativo — perfil constitucional da administração pública.” Nela, o futuro ministro do Supremo Tribunal Federal faz uma sugestão curiosa: ele propõe que figuras com vínculo com o governo não possam ser indicadas ao STF — como ele, então ministro da Justiça, acabaria sendo 17 anos depois. “É vedado para o cargo de Ministro do STF o acesso daqueles que estiverem no exercício ou tenham exercido cargo de confiança no Poder Executivo [...] durante o mandato do Presidente da República em exercício no momento da escolha, de maneira a evitar-se demonstração de gratidão política ou compromissos que comprometam a independência da nossa Corte Constitucional”, escreveu Moraes, em suas recomendações.

O antigo Moraes também se opunha à usurpação de prerrogativas pelo Poder Judiciário. Em entrevista dada em 2008 ao site Conjur, ele afirmou que uma intervenção excessiva da Justiça sobre os outros poderes levaria a uma crise de legitimidade. “O Judiciário, por meio do Supremo Tribunal Federal, fica responsável por interpretar a Constituição. Pode extrapolar de vez em quando mas, se isso acontecer sempre, vai haver uma guerrilha institucional. Se o Judiciário começar a interferir muito nos outros dois Poderes, estes passam a não cumprir mais as decisões judiciais e o Judiciário perde sua legitimidade.”

O promotor do “frangogate”
Um ano depois de se formar, Moraes passou em primeiro lugar no concurso para promotor de Justiça do Estado de São Paulo. Olhando em retrospectiva, a escolha pelo Ministério Público em vez da advocacia ou a magistratura talvez fosse um indicativo do perfil de alguém que prefere acusar em vez de defender. Há quem diga que Direito Constitucional, ainda hoje muito usado em cursos de graduação, dá relativamente pouco espaço a opiniões divergentes; Moraes apresenta suas ideias com eloquência, mas sem se preocupar em contemplar visões alternativas.

Em 1996, Moraes se envolveu no primeiro caso de grande repercussão na carreira. Ele e outros promotores pediram à Justiça a cassação do mandato do então prefeito de São Paulo, Paulo Maluf, por improbidade administrativa. Quando o juiz negou o pedido, Moraes não fez questão de esconder sua contrariedade. “A decisão é absurda e foi totalmente equivocada. A rapidez com que o juiz despachou causa muita estranheza”, ele insinuou ao jornal O Estado de S. Paulo.

Como promotor, Moraes aparecia nos jornais com frequência. Em 1999, por exemplo, ele abriu dois inquéritos contra fabricantes de cigarros. Um pedia o fim de propagandas que associassem o fumo a profissionais bem-sucedidos e a praticantes de esportes. O outro pedia uma indenização à Philip Morris e à Souza Cruz por não terem informado os clientes a respeito dos riscos oferecidos pelo cigarro.

Durante seu tempo na promotoria, ele também se envolveu em uma controvérsia. Em 1997, aos 29 anos de idade, Moraes convocou uma coletiva de imprensa para anunciar uma denúncia contra o prefeito Paulo Maluf. Moraes afirmou que a gestão do então prefeito havia comprado frangos superfaturados, e pior: de empresas ligadas a sua família.

O advogado Ênnio Bastos de Barros criticou Moraes: “Ele não guarda o necessário comedimento”, disse o defensor de Maluf. Na época, a insinuação era que Moraes teria agido politicamente para favorecer o PSDB ao lançar uma operação contra Paulo Maluf, possível adversário dos tucanos na disputa pelo governo estadual.

Maluf foi inicialmente condenado a ressarcir os cofres públicos em R$ 21,7 mil, além de ter os direitos políticos suspensos por cinco anos. Mas recorreu e saiu vitorioso "Há um grande abismo entre suspeitar de algo e perpetrar a condenação pretendida. Há a necessidade de provas mais robustas de fraude ou da existência de medidas tomadas sem a menor justificativa", afirmou o desembargador Nogueira Diefenthaler, ao dar razão a Maluf.

Embora o caso propriamente dito seja prosaico (especialmente quando se leva em conta as outras denúncias que surgiriam contra Maluf), o episódio alimentou  a suspeita, até hoje sem provas, de que Moraes estivesse tentando tirar Maluf da disputa pelo governo de São Paulo em 1998 — o que favoreceria o tucano Mário Covas.

O salto para a política pelas mãos de Alckmin
Moraes continuaria sendo promotor de Justiça até 2002, quando deixou o cargo para se tornar Secretário de Justiça do governo de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin. O time também tinha Gabriel Chalita na Educação, Eduardo Guardia na Fazenda e Cláudia Costin na Cultura. Entre 2004 e 2005, Moraes acumulou o cargo com o comando da Febem. A acusação contra Maluf continuava sendo o ponto de maior destaque na sua carreira até ali. “Promotor do Frangogate assume a Justiça em SP”, noticiou o Diário do Grande ABC quando o futuro ministro do STF tomou posse.

Advogado do PCC?
Fora de Prefeitura, Moraes decidiu advogar. Essa foi a sua ocupação principal entre julho de 2010 e dezembro de 2014. Entre julho de 2010 e dezembro de 2014, atuou como advogado. O escritório “Alexandre de Moraes Sociedade de Advogados” ocupava o nono andar de um prédio espelhado no bairro do Itaim Bibi, um dos mais caros da capital paulista.

Em abril de 2014, por exemplo, ele se reuniu com o então Secretário de Transportes da capital paulista, o petista Jilmar Tatto. Moraes também advogou para o PSDB e para Aécio Neves na campanha presidencial de 2014 e entregou um parecer jurídico encomendado pelo Conselho Federal de Farmácia por R$ 150.000.

Mas o caso mais controverso deste período envolve o PCC
(Primeiro Comando da Capital).

A rigor, ninguém é “advogado do PCC” porque o PCC não existe formalmente. Mas a organização criminosa opera em muitas frentes. Uma delas, o transporte alternativo. 

Pai bolsonarista
O ministro do STF é casado desde 1992 com a advogada Viviane Barci de Moraes. Formada na UNIP (tanto em Direito quanto em Propaganda e Marketing), ela comanda o escritório Barci de Moraes, que já atuou em 23 processos no Supremo Tribunal Federal — muitos deles depois que Alexandre já havia se tornado ministro.

O endereço e o CPF do escritório de Viviani Barci de Moraes são exatamente os mesmos daquele comandado pelo marido na década passada. Na verdade, o escritório também é o mesmo: somente o nome mudou. O ex-deputado Gabriel Chalita também advoga lá. O time inclui dois ex-colegas de Moraes na prefeitura paulistana: Mágino Alves e Olheno Ricardo Scucuglia.

Com Viviane, o ministro do STF teve três filhos: Giuliana, Alexandre e Gabriela. Todos seguiram carreira no Direito. Mas as ceias de Natal na família Moraes não devem ser das mais harmônicas.

O pai do ministro, Leon Lima de Moraes, é apoiador declarado de Jair Bolsonaro. Ao lado da madrasta do ministro do STF, Elizete Gomes Lima, Leon exibe suas preferências políticas no Facebook. A madrasta disse estar de “luto” no dia que Bolsonaro perdeu a reeleição. No ano passado, o casal se mudou para Toledo, nos Estados Unidos, onde vive uma filha de Elizete.

Leon é conterrâneo e contemporâneo de Michel Temer: ambos se criaram na cidade de Tietê (SP). Do pai, o ministro do STF herdou a torcida pelo Corinthians.

A chegada ao STF
Moraes sempre foi hábil em construir relacionamentos no poder. Ainda em 2002, quando lançou o livro “Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional”, ele convenceu o então ministro do STF Celso de Mello a assinar o prefácio da obra. Nele Mello afirma que o livro tem um “alto nível científico”. Moraes tinha 33 anos. Ainda em 2002, Moraes já estava sendo citado pelo mesmo Celso de Mello como integrante de um grupo de “eminentes autores.”

Na mesma época, Moraes também assinou um artigo na Folha de S. Paulo em que apresenta medidas do governo paulista a favor dos direitos humanos. O artigo tem trechos de difícil leitura, como este: “A previsão dos direitos humanos fundamentais direciona-se basicamente para a proteção à dignidade humana em seu sentido mais amplo, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar.”

(...) 

Ascensão rápida dentro do STF
No Supremo Tribunal Federal, o tempo de casa produz uma espécie de hierarquia: os ministros mais novos prestam deferência aos mais antigos.

Com Moraes, as coisas aconteceram de forma mais rápida. Ele tem duas características únicas em relação a seus colegas: a ampla experiência política e o histórico de procurador de Justiça. Moraes é o único integrante da corte a ter sido membro do Ministério Público.

A mudança do status do ministro novato aconteceu de forma mais marcante em abril de 2019, quando o novato recebeu uma missão do então presidente da corte, Dias Toffoli: investigar “ataques” e “ameaças” contra membros da corte.

O então presidente da corte — que, assim como Moraes, frequentou a Faculdade do Largo de São Francisco — se baseou numa argumentação frágil: o artigo 43 do Regimento Interno do STF afirma que o presidente poderá instaurar inquérito (tarefa que normalmente cabe ao Ministério Público) se a infração penal ocorrer “na sede ou dependência do tribunal.” O dispositivo foi criado para tratar de casos internos, como atos de vandalismo dentro do prédio da corte. Mas, em uma canetada, Toffoli passou a considerar que qualquer “ataque” publicado na internet era equivalente a um pedrada nas vidraças do prédio do Supremo. “O objeto deste inquérito é a investigação de notícias fraudulentas (fake news), falsas comunicações de crimes, denunciações caluniosas, ameaças e demais infrações revestidas de animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, que atingem a honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros; bem como de seus familiares, quando houver relação com a dignidade dos Ministros”, escreveu Moraes, em seu primeiro despacho no inquérito.

(...)

Se Moraes cumprir o tempo que lhe resta para a aposentadoria compulsória, ficará no cargo até 13 de dezembro de 2043. Ele — e o AI-5 — completarão 75 anos naquele dia.

Correção
A primeira versão deste texto trazia a informação que o ex-ministro do STF Teori Zavascki morreu em um acidente de helicóptero. Ele morreu em um acidente de avião.
Corrigido em 29/05/2023 às 10:11

 MATÉRIA COMPLETA

 Gabriel de Arruda Castro, colunista - Gazeta do Povo - Ideias

 


quarta-feira, 17 de maio de 2023

Democracia cassada e caçada: decisão do TSE sobre Deltan Dallagnol afronta o país - Marcel van Hattem

Vozes - Gazeta do Povo

Deltan Dallagnol estuda concorrer às eleições para prefeito de Curitiba


O deputado federal Deltan Dallagnol (Podemos-PR), ex-chefe da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba.| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

 Um minuto de julgamento, sete votos favoráveis sem nenhuma contradição e o mandato outorgado por 344.917 paranaenses a um deputado federal foi cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tomando por base a Lei da Ficha Limpa mas, na verdade, contrariando seus dispositivos, sete juízes do TSE decidiram inovar sem a menor cerimônia e sem a menor discussão, inventando uma inelegibilidade inexistente e contrariando os entendimentos das cortes inferiores e até mesmo do Ministério Público junto à Corte Eleitoral.

Independentemente de quem seja o alvo dessa ação, a decisão do TSE, seja na forma, seja no conteúdo, é um desrespeito ao sistema jurídico brasileiro, à lei e ao Parlamento que a faz e, claro, sobretudo, um deboche com a democracia brasileira e um tapa na cara do cidadão. Nesse caso, em especial, trata-se de uma afronta aos quase 350 mil paranaenses que votaram em Deltan Dallagnol para representá-los na Câmara dos Deputados.

    A decisão do colegiado do TSE não cabe no ordenamento jurídico brasileiro, não cabe em uma democracia.

Venho alertando há tempo que a situação institucional é muito grave no país. A ditadura em curso conduzida por ministros do Supremo Tribunal Federal vem perseguindo abertamente quem ousa ser a favor da justiça e da democracia, ao passo que beneficia quem está no poder para fins escusos
 
É sintomático que no mesmo dia em que se julgou de forma expedita a cassação de Deltan Dallagnol, símbolo personificado do combate à corrupção no país, o STF extinguia as penas de prisão de Paulo Maluf, condenado em 2017 pelo mesmo Tribunal por lavagem de dinheiro no período em que foi prefeito de São Paulo, três décadas atrás. Além de tardar, a Justiça falha quando o tema é corrupção. Já quando é para se vingar de quem a combate, o sistema é muito eficiente.
 
Chegamos a um ponto em que parlamentares de oposição já não têm mais segurança sobre sua condição. 
E é importante que esta consciência seja disseminada. 
A reação da Câmara dos Deputados à cassação de Deltan Dallagnol precisa ser robusta, determinada, sem meias palavras
O que o ministro Alexandre de Moraes leu como suposta decisão no julgamento de ontem não passa de um pedaço de papel contendo uma determinação ilegal. Inconstitucional. Abusiva.


A decisão do colegiado do TSE não cabe no ordenamento jurídico brasileiro, não cabe em uma democracia. Aceitá-la é render-se definitivamente à ditadura da toga que, além de desvirtuar e atacar a própria democracia brasileira ao exorbitar suas funções e agir em lugar do Executivo e do Legislativo, ainda quer decidir quem pode e quem não pode representar o povo brasileiro no Parlamento

Vamos deixar nosso país politicamente nas mãos de juízes sem um único voto popular?  
O Congresso Nacional não pode admitir esta subversão institucional!
 
Cassado ilegalmente pelo TSE, Deltan Dallagnol vem sendo caçado há muito tempo.  
Presa das aves de rapina mais corruptas da política brasileira, alvo daqueles que, como promotor, Dallagnol processou e até mesmo colocou na cadeia pelos crimes que cometeram contra o país, era evidente que a reação viria. 
Ele sempre soube que sua coragem e persistência teriam um alto preço, mas Deltan se dispôs a pagá-lo com desprendimento, determinação e convicção. Exonerou-se do serviço público brasileiro para servir ao povo no Parlamento Nacional. Foi eleito para isso como o mais votado do seu estado, o Paraná.

Toda sua dedicação à nossa nação não será em vão. Pelo contrário: este é o momento em que um ponto de inflexão para recobrar a democracia brasileira foi criado e a participação do povo, que tanto sustento deu às operações da Lava Jato, será crucial para exigir o fim da ditadura da toga e a volta à normalidade democrática.

Marcel van Hattem, deputado segundo mandato, Coluna Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Fora, Lula! - Revista Oeste

Augusto Nunes

O PT sonha com a união de todos os brasileiros em torno do ex-presidiário que dividiu o Brasil 

 Fruto do acasalamento de dirigentes sindicais que achavam leitura pior que exercício em esteira, intelectuais que só viam pobres de perto nas fotos de Sebastião Salgado e veteranos da luta armada que caíram fora do país antes que aprendessem a diferença entre coronha e gatilho, o Partido dos Trabalhadores nasceu em 1980 já fantasiado de detentor do monopólio da virtude. A chegada ao governo federal em 2002 apressou o fim da farsa. E o Brasil decente não demorou a espantar-se com a multidão de messalinas aglomeradas no templo das vestais que o PT fingira existir por mais de 20 anos.

 

Em Brasília, manifestantes contra o governo FHC pedem a saída do presidente | Foto: Roberto Stuckert Filho/26-08-1999

Em Brasília, manifestantes contra o governo FHC pedem a saída do presidente | Foto: Roberto Stuckert Filho/26-08-1999

Fora do partido ninguém prestava, recitaram as virgens de bordel nas duas últimas décadas do século 20. Em 1985, por exemplo, o já morubixaba Lula ordenou à bancada no PT que se abstivesse de votar no Colégio Eleitoral formado para escolher o civil que ocuparia a Presidência da Repúblicaatribuição privativa de generais desde 1968. Para o chefe, não havia diferenças entre um Paulo Maluf — ele mesmo — e Tancredo Neves. Três deputados federais entenderam que Tancredo era infinitamente melhor. Foram expulsos do partido.

Impedido de assumir o cargo pela doença que ocultara para garantir uma transição sem traumas, Tancredo foi substituído pelo vice José Sarney. “Fora, Sarney!”, gritaria a companheirada nos cinco anos seguintes. (“Sarney é o maior ladrão do Brasil”, afirmou Lula em 1988, num comício em Vitória. Hoje os dois casos de polícia são amigos.) No mesmo ano, o então deputado Luiz Inácio Lula da Silva, líder do PT na Assembleia Constituinte, determinou que a bancada inteira assinasse o texto aprovado por ampla maioria, com uma ressalva: todos rejeitavam “uma Constituição que ignora os direitos da classe trabalhadora”. Que direitos seriam esses? Ninguém sabe.

Na eleição presidencial de 1989, o segundo colocado no primeiro turno vencido por Fernando Collor negou-se a pedir apoio aos demais candidatos afastados da etapa final. Sempre avesso a demonstrações de altivez, líderes do PSDB e do PMDB decidiram comparecer a um comício nas imediações do Estádio do Pacaembu. Hostilizados na chegada pela plateia restrita a militantes do PT, figuras como Fernando Henrique Cardoso, Mário Covas e Ulysses Guimarães se enfurnaram por duas horas no fundo do palanque. Nenhum deles foi convidado a discursar. Se houvesse o convite, é improvável que algum topasse.

Até 1992, quando o adversário vitorioso foi afastado da Presidência, a companheirada berrou “Fora, Collor!”. Consumado o impeachment, bucaneiros incansáveis colocaram na alça de mira o vice que acabara de assumir. Disposto a cauterizar ao menos algumas feridas abertas pela polarização feroz, Itamar Franco convenceu a petista Luiza Erundina a aceitar uma vaga no ministério. Erundina foi suspensa pelo PT. E os gritos de “Fora, Itamar!” só cessaram quando o substituto de Collor repassou o gabinete no Palácio do Planalto.

“Fora, Fernando Henrique!”, atualizou-se o coro dos descontentes profissionais depois da derrota de Lula no primeiro turno da eleição de 1994. Ignorante em economia, o chefão não consultou ninguém do ramo para qualificar de embuste o conjunto de medidas que domaria a inflação selvagem. 
Político presunçoso, acreditou na conversa fiada dos áulicos: um intuitivo genial era mais sabido que gente com doutorado em jogadas eleitorais capazes de virar qualquer jogo.
Continuou desdenhando do plano econômico mesmo quando plateias eufóricas já brandiam cédulas do novo dinheiro nos comícios do adversário. 
 
Lula não acordou nem mesmo quando o prenome composto foi aposentado por três iniciais e Fernando Henrique Cardoso virou FHC.
Entre 1994 e 1998, os deputados federais do PT tentaram sepultar todos os projetos, propostas e ideias que tivessem o endosso do presidente da República. Isso mesmo; TODOS. Sempre por unanimidade, a bancada do partido na Câmara votou contra para ficar em três assombros — o Plano Real, a Lei de Responsabilidade Fiscal e a privatização de mastodontes que sangravam com perversidade os cofres da nação
Em outubro de 1998, Fernando Henrique reelegeu-se de novo no primeiro turno. 
O segundo mandato mal começara quando, em janeiro de 1999, a direção do PT resumiu em duas palavras e um ponto de exclamação o programa eleitoral do partido para os quatro anos seguintes: “Fora, FHC!”.

A face escura começou a exibir suas dimensões siderais antes mesmo do triunfo de Lula na eleição de 2002: seis meses antes, o PL recebeu do PT R$ 4 milhões em troca da cessão do candidato a vice, José Alencar, e da promessa de apoio parlamentar. A expansão da “base governista no Congresso” custaria uma bolada multimilionária em espécie — e um prejuízo político astronômico

Em 2012, quando o Supremo Tribunal Federal enfim promoveu o Julgamento do Mensalão. 
A compra de apoio no Legislativo resultaria no primeiro dos escândalos da Era PT. 
Ao longo de 13 anos, a roubalheira seria institucionalizada por gente que jurava só pensar na pobreza. Pensava tanto que tratou de enriquecer primeiro, e muito.

Como o janismo, o getulismo, o ademarismo, o brizolismo, o lulismo morrerá com a morte física do único deus da seita

Só poderia dar no que deu: o Petrolão. A roubalheira banalizada pelos governos de Lula e Dilma fez do Brasil o berço do maior esquema de corrupção desde o Dia da Criação.  
E transformou a Lava Jato na maior e mais bem-sucedida operação anticorrupção de todos os tempos. 
O que parecia ser um partido se tornara um bando de larápios compulsivos, viciados em parcerias com políticos à venda e empreiteiras insaciáveis. O povo espantou-se com a novidade: a lei agora valia para todos, e sobravam celas à espera de bandidos da primeira classe. Antes que Lula fosse para a cadeia, o impeachment mandou Dilma para casa.
São Paulo – Manifestação na Avenida Paulista, 
região central da capital, contra a corrupção e 
pela saída da presidente Dilma Rousseff  - 
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Nem assim faltaram gargantas para ressuscitar a barulheira. “Fora, Temer!”, esgoelaram-se os corais de picadeiro até o fim do governo do vice de Dilma. Em 1º de janeiro de 2019, começou o “Fora, Bolsonaro!”, com o patrocínio do consórcio de imprensa, das lojinhas de porcentagens, das bestas quadradas de distintos setores, de banqueiros sensíveis e, sobretudo, dos ministros do Supremo Tribunal Federal. A conspiração dos democratas que odeiam a liberdade ainda não chegou ao desfecho. Mas é possível enxergar o Brasil redesenhado pelo rebaixamento do STF a partido político.

 Como em todas as ramificações do populismo, o chefe não tem programa administrativo, ideário político, opção ideológica — nada disso. E por isso mesmo não tem herdeiros. Sem Lula, o PT logo será apenas uma má lembrança.  
Em contrapartida, o partido liberal-conservador que vai tomando forma tem o que falta aos devotos de um ex-presidiário. As urnas identificaram vários líderes da direita democrática qualificados para garantir a sobrevivência das ideias libertárias defendidas por milhões de eleitores de Bolsonaro.
 
Apesar de tais e tantas evidências, seguem zanzando por aí sabujos de Lula que reincidem na exigência desvairada: o país deve engolir sem engasgos um demagogo que mistura vulgaridade, insolência, estupidez e presunção, fora o resto.  
Que esperem sentados esses surdos à voz das ruas. As palavras de ordem enunciadas por multidões inconformadas podem ser condensadas em poucas vogais e consoantes: “Fora, Lula!”

Leia também “Os manés estragaram a suprema boca-livre”

Augusto Nunes, colunista - Revista Oeste

 

 

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Casamento-ostentação de Lula implode o fetiche pobrista da militância gourmet - Gazeta do Povo

Madeleine Lacsko

Culpa burguesa

Depois de dizer que a classe média ostenta porque tem duas televisões em casa, luloafetivos precisam dizer que R$ 100 mil em bebida não é ostentação.

"O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual", cravou o inesquecível carnavalesco Joãosinho Trinta, famoso pelos desfiles-ostentação. Reside nessa diferença um grande drama do PT. Enquanto os trabalhadores que formam o partido querem melhorar de vida e desfrutar de luxo e conforto, os intelectuais do partido idolatram a pobreza e cultivam internamente a culpa burguesa.

O casamento-ostentação de Lula colocou esses dois mundos em choque. Ele é um homem milionário que gosta de luxo e jamais escondeu isso de ninguém.                                                     Ocorre que a militância do PT se esvaiu.                       Desapareceram os trabalhadores, sindicalistas, comunidades eclesiais de base. Os mais ruidosos são a militância gourmet, que tem o fetiche do pobrismo. Para esses, o casamento-ostentação virou um drama e foi preciso culpar a imprensa.

O contorcionismo intelectual para lidar com a culpa burguesa mas permitir o justo gosto de Lula por luxo contaminou até a imprensa. Uma tese muito interessante girou em torno do vinho de R$ 90. Ele é caro sim e é impossível para a maioria dos brasileiros. Mas o fetiche pobrista não pode admitir que Lula seja Lula, que goste de coisa cara mesmo e tudo bem. Foi preciso dizer que a imprensa queria um casamento com "coisas de pobre", tipo Itaipava latão.

Como filha de sindicalista do ABC da década de 1980, eu adoro luxo igualzinho a Lula. Se puder, eu quero mesmo. Fosse eu com 76 anos casando com alguém 20 anos mais novo, eu descia de paraquedas embrulhada em diamantes já bêbada de champagne Cristal. Ia ser a cafonalha mais cara que o país já viu. A diferença é que eu não fico chamando de esbanjador quem tem duas televisões em casa.

O falecido Hélio Bicudo toca num ponto que intriga muita gente: a origem da fortuna de Lula. Os luloafetivos argumentam que ele fez esse dinheiro com palestras, conta que só fecha na cabeça de quem tem as próprias contas pagas por papai. 
É um porte de fortuna que não foi construída nem por políticos como Paulo Maluf, que começou a vida indo para a faculdade a bordo de uma Mercedes Benz própria e depois teve todos os problemas que sabemos.

Provavelmente Lula tem uma explicação lógica para a origem de sua fortuna. Infelizmente, apesar de tanto carnaval, ninguém teve competência para esquadrinhar isso. Já ouvi todas as desculpinhas mequetrefes de gente com estabilidade vitalícia e salários nababescos sobre manobras de políticos para se safar. É uma tarefa que não admite erro nem vaidade, simples assim. Dar entrevista condenando corrupção e dar desculpa é muito mais fácil que dar resultado. Tem quem aceite.

A verdade é que o Lula rico com hábitos de elite existe há mais de 20 anos e nunca viu problema nisso. Aliás, duvido que algum pobre raiz veja problema nisso. Quem vê problema e fica com vergonha do gosto de Lula pelo luxo é a militância gourmet luloafetiva. Ela projeta a própria culpa burguesa nele. É o pessoal que paga uma fortuna para se vestir igual mendigo e vive pregando justiça social em Santa Cecília.

No documentário Entreatos, feito durante a primeira campanha vitoriosa de Lula à presidência, já se via o homem de gosto refinado e hábitos de elite. Isso foi antes de chegar ao poder, não depois e com palestras. Numa cena icônica em que prova um terno maravilhoso sob medida com Ricardo Almeida, ele ouve de Vicentinho que tinha saudades da época de metalúrgico.

Lula fica revoltado. E com razão. É hipocrisia dizer que tem saudades de usar um macacão que secou atrás da geladeira quando se está vestindo um Ricardo Almeida lã super 180 sob medida. Uma outra cena do filme mostra que Lula sabe muito bem escolher comida. Ele está num jatinho comendo o serviço de catering e manda devolver porque está ruim. Palocci não percebeu e come.

Como eu sou filha de pobre, já fiz de tudo. No departamento de marketing da holding da CCR, eu cuidava dos eventos. Era uma empresa das empreiteiras durante os governos Dilma e Sérgio Cabral. Sei bem o que esse povo come e bebe. Não entendi a escolha do buffet de Lula até anunciarem a transmissão ao vivo. Explico: não é comida e bebida no padrão de luxo que esse pessoal está acostumado, mas tem a estrutura sensacional de lives da Faria Lima.

O buffet é de luxo, não se enganem. Eles fazem o catering de grandes empresas ali e também no Club Med, em casamentos feitos no Lake Paradise e em Trancoso. Ocorre que o padrão de luxo dos nossos políticos é muito acima até do luxo do nosso empresariado. Sempre você tem de trazer algo de fora ou pedir algo especial e bem mais caro. Foi assim com a lista de Lula, não seria diferente.

Rolei de rir com o contorcionismo do pessoal falando do vinho de R$ 90 e dizendo que não é caro porque no mercado tal você compra um vinho muito mais caro. Coisa de pobre remediado que tem culpa burguesa. Eita, cafonalha, me dá até alergia. Não tem vinho de mercado nesses lugares e o preço de coisas melhores é mais baixo porque vem no atacado. Lula e Janja quiseram um upgrade do serviço que já é de luxo.

Qual o problema de Lula querer gastar R$ 100 mil em bebidas, achar que um dos serviços mais luxuosos do Brasil era pouco e pedir um upgrade? Para mim nenhum, eu não tenho culpa burguesa, sou liberal e amo luxo. Mas o luloafetivo pobrista quer morrer de catapora. Ele precisa imaginar um Lula também pobrista, que nunca existiu. Campanha sem projeto é isso: você estimula a imaginação do fanático. Quem quer um cheque em branco precisa ser uma tela em branco.

Uma biografia antiga de Lula, feita por Denise Paraná, conta a história do segundo casamento dele, com Marisa Leticia. Este foi uma espécie de "Vale a Pena Ver de Novo". Mais uma vez era coisa bem menos luxuosa do que ele queria mas feita num contexto em que as pessoas acham aquilo super luxuoso porque ninguém tem dinheiro.

Estamos numa crise econômica, com preços altíssimos de combustíveis, o maior nível de calote em conta de luz do país, mais expectativa de aumentos, uma guerra mobilizando a Europa. 
Pagar R$ 90 numa garrafa de vinho num país em que você já é rico com salário de R$ 5 mil é ostentar. 
E aqui não falamos em uma garrafa, mas num preço médio de garrafa maior do que o preço médio de um buffet de luxo da Faria Lima. Até aí, coisa de rico.

Ocorre que Lula conhece sua nova militância gourmet. Dia desses, fez discurso falando de "racismo estrutural". E obviamente botou o dedo na ferida que movimenta bilhões na publicidade com o identitarismo, a culpa burguesa. Foi lá simplificar o "eu odeio a classe média" da Marilena Chauí numa versão que veta mais de um aparelho de tevê por família:

Qual foi o bug na cabeça do militante gourmet que tem fetiche pobrista?                                                                                           Ele estava muito feliz até ontem dizendo que a elite brasileira é escravista e que a classe média gasta demais porque tem duas televisões. Condenar o outro é uma forma de fingir não ser parte dessa elite e aplacar a culpa burguesa. Daí ele precisa defender os luxos de Lula, que ontem mesmo mandou ser pobre. Se for fanático, será capacho o suficiente para fazer as duas coisas e ainda se achar virtuoso.

Agora, a militância gourmet vai precisar decidir se virou liberal ou se vai continuar com o fetiche pobrista. Ou a classe média esbanja e ostenta ou vinho de R$ 90 é barato e cada um compra o que quer com seu dinheiro. Eu sempre fui da segunda turma, do cada um faz o que quer com seu dinheiro. Mas entendo a dificuldade de quem até ontem defendia que o Elon Musk acabasse com a fome no mundo.

Eu, sinceramente preferia que o pessoal virasse liberal e começasse a gastar o dinheiro com comida e roupa que não sejam do fetiche pobrista. Ninguém aguenta mais esse povo pagando fortunas por coisas xexelentas para aplacar a culpa burguesa. Umas roupas que ninguém entende, bolsa de lacre de lata de refrigerante, uns cabelos esquisitos e esses desodorantes naturais que - vamos lançar a verdade - não desodorizam sovaco nenhum. Eu não tenho mais paciência.

Para finalizar, deixo aqui para vocês a prova cabal de que pessoas de origem pobre aproveitam a ostentação sem culpa e ainda dividem com os irmãos. Meu convidado preferido do casamento foi o sensacional Paulo Vieira. Fez amizade com o garçom e levou uma caixa inteira de doces embora. Distribuiu para a imprensa. Confesso que me identifiquei. Só estranhei que não levou nenhum arranjo de mesa para botar em casa. Eu teria levado pelo menos um par.

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

As ditaduras de Lula - O Estado de S. Paulo

J.R.Guzzo

Petista, que sempre admirou Cuba e Venezuela, promove a China a condição de regime da sua preferência

De uma coisa ninguém vai poder acusar Lula caso ele volte um dia à presidência da República, como garantem as pesquisas eleitorais que no momento lhe dão 110% dos votos, com viés de alta: de ter escondido, durante a campanha, que queria criar uma ditadura no Brasil. Isso não. É raro passar um dia inteiro sem que ele diga, com todas as palavras, que quer governar com base num regime de força (ele chama de “regime forte”), em que só manda um “partido forte”, o PT, e em que tudo se subordina a um “Estado forte” – tudo isso, claro, comandado por um “homem forte” que naturalmente só pode ser ele próprio.

Lula não tem nenhum constrangimento em dizer essas coisas em público porque tem certeza absoluta de que é isso mesmo, exatamente, o que ele quer hoje – não tem mais interesse e nem paciência, à essa altura, para ficar “negociando” cada portaria que tiver de assinar, cedendo isso ou aquilo “à direita” ou obedecendo regras que ele não criou. Ou é assim, ou então não interessa. Esqueçam o Lula de 2002, que queria tanto parecer um boa praça e seguia as instruções dos publicitários para fazer comerciais fofos na tevê. O Lula 2022 é outro homem. Está decidido a ser quem ele realmente é – e não um presidente obrigado a fingir que gosta de democracia, quando gosta exatamente do contrário.

Lula sempre foi um político dissimulado, ambíguo e sem espinha dorsal – chegou a beijar a mão de Paulo Maluf tempos atrás – mas numa coisa nunca variou: em sua admiração sem limites por Fidel Castro e Cuba, e por Hugo Chávez e Venezuela. Sempre quis ser um deles, ou os dois juntos ao mesmo tempo só não tentou porque tinha medo de não conseguir. Parece não ter mais essa preocupação; acha que “a esquerda” está levando tudo, no Chile, no Peru, na Bolívia, fora o que já levou, e que em novembro será a sua vez.

Para não deixar dúvidas, o candidato do PT e dos advogados criminalistas especializados em corrupção também está dizendo, com toda a convicção do mundo, que o Brasil deveria ser governado como a China. Pois é: além de Cuba e Venezuela, a China, ultimamente, foi promovida a condição de regime da sua preferência. 
O que deixa Lula fascinado, ali, não é o capitalismo selvagem praticado na economia, coisa que aliás nem entende direito o que seja – e sim a ditadura do Partido Comunista. Prepare-se, portanto, para ouvir falar muito de China, “modelo chinês” e mais do mesmo no palanque lulista de 2022.
 
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

O conto do vigário - Revista Oeste

Ex-presidente Lula abraçando o ex-governador Geraldo Alckmin | Foto: Reprodução Instagram 
 
Acertos políticos, de um modo geral e segundo ensina a experiência, são tramoias entre quadrilhas e entre quadrilheiros para encher o próprio bucho; 
O perdedor, invariavelmente, é o povo extorquido o tempo todo por eles. Mas, desta vez, em termos de desastre moral em estado puro, estão dando um capricho poucas vezes visto neste país, num ambiente político onde já se viu de tudo. Não existe um átomo de sinceridade em nenhuma das preces que Alckmin está dirigindo a Lula. Até outro dia, ele dizia os piores horrores em relação ao seu possível futuro chefe — e de lá para cá não aconteceu absolutamente nada capaz de apagar nenhuma das realidades que provocaram cada um desses horrores. 
 
Os fatos que tornaram Lula o ex-presidiário que ele é hoje não sumiram; continuam todos aí, do mesmo tamanho, mas Alckmin decidiu que eles não existem mais. Lula não acredita em nenhum agrado que recebe do parceiro, mas aceita todos; para quem já foi pedir a obtenção de Paulo Maluf, esses poemas ao fingimento são a coisa mais natural do mundo. Eis aí, à vista de todos, o maior conto do vigário que está sendo aplicado no eleitor brasileiro na presente campanha eleitoral.

Alckmin, que já disse em público que Lula é ladrão, deixou 15 milhões de desempregados e quebrou o Brasil, está disposto agora, para ganhar uma vice, a se ajoelhar na frente de um criminoso condenado por corrupção e lavagem de dinheiro em terceira e última instâncias. Está dizendo que aceita a volta das gangues que, segundo ele próprio, quebraram a Petrobras. Está dando o seu aval às invasões de terra do MST, que prega a destruição do agronegócio e já se vê governando o Brasil ao lado de Lula a partir de outubro de 2022. Está chamando de volta os empreiteiros de obras que confessaram crimes e devolveram dinheiro roubado — e que estão desesperados para poder roubar de novo. Está se colocando a favor da censura, que Lula promete implantar com o seu “controle social dos meios de comunicação.Está aceitando que a população pague os seus jatinhos de campanha, com os R$ 6 bilhões que a bandidagem política nacional acaba de roubar do Erário através do seu “Fundo Eleitoral”. Está fazendo de conta que é um devoto das causas femininas, negras, índias, homossexuais ou da “linguagem neutra” — em suma, está disposto a qualquer coisa. Desse jeito ainda acaba aparecendo na parada gay.

Na última vez que se candidatou a alguma coisa, nas eleições presidenciais de 2018, Alckmin ficou com 4% dos votos

Lula, nessa trapaça, não precisa dar nada, nem mudar nada — com Alckmin de vice, ou com qualquer outro, vai fazer exatamente o que quer. Se Alckmin (com o incentivo de sua turma) imagina a si mesmo como alguma espécie de contrapeso para o esquerdismo, a irresponsabilidade e o estilo Lula de lidar com o dinheiro público, está cometendo um ato aberto de megalomania. Lula, na verdade, anuncia em plena luz do sol, o tempo todo, que pretende piorar em relação ao que foi. 
Quer mais gasto do governo — para “os pobres”, é claro, mas quem vai se dar bem, como sempre, não tem nada de pobre. Quer mais estatal, mais obra tipo estádio-para-copa-do-mundo, mais Venezuela. Quer vender as reservas internacionais do país, para fazer, segundo diz, “distribuição de renda”. Quer uma economia parecida com a da Argentina, um dos governos que mais contam com a sua admiração no presente momento. Quer entupir o serviço público, mais uma vez, com empregos para a companheirada do PT e dos seus subúrbios. 
Quer mais invasão de terra. Quer voltar a distribuir diretorias da Petrobras — e por aí afora. Alckmin vai ter de querer tudo isso, também. Aliás, ao formar uma chapa com Lula e o PT, estará aceitando formalmente cada uma dessas coisas, e quantas mais vierem.
 
O ex-governador já teve voto em São Paulo, principalmente no interior — sempre surrando o PT, por sinal. 
Hoje seu verdadeiro patrimônio eleitoral é um mistério. 
Na última vez que se candidatou a alguma coisa, nas eleições presidenciais de 2018, ficou com 4% dos votos. 
Quantos eleitores vai trazer para Lula, se for agora o seu vice? 
Os analistas políticos garantem que sua posição terá, para a candidatura de Lula, a mesma importância do movimento de rotação da Terra. 
Vamos ver. Ele precisa entrar na chapa, primeiro, e depois mostrar serviço. De qualquer forma, sendo ou não sendo o candidato a vice, o que vai sobrar dessa salada é a espetacular farsa que ele, Lula, e as forças que o apoiam montaram para bater a carteira de votos do eleitor brasileiro.

Leia também “Lula está sem promessas”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Terceira via - Deslumbramentos - Gazeta do Povo

Vozes - Alexandre Garcia

O PSDB teve sua semana da paixão. Uma via crucis que foi de domingo à aleluia de sábado, quando João Doria emergiu das urnas digitais com maioria de 54% dos votos válidos, que significa 1,25% dos filiados. Eduardo Leite voltou para o Rio Grande recebendo aceno de Gilberto Kassab, do PSD a que se filiara Rodrigo Pacheco. Arthur Virgílio voltou a Manaus praguejando contra Aécio e os que bolsonarizam o PSDB. Será que valeu a pena ter feito essas desgastantes prévias? Para Doria, valeu evitar decisões da cúpula do partido. Mas os tucanos foram derrotados por si mesmos, concorrendo sozinhos, numa disputa que desgastou o partido perante o eleitor e entre os tucanos de maior. E na mídia em geral, anunciou-se, como de costume, uma solução de terceira via, - essa dificilmente irá aninhar outro terceirista forte, que aceite ser vice de Doria.

Grupos feministas começam a se posicionar contra a agenda LGBT e defendem banheiros exclusivos para mulheres

You Tube - Feministas defendem banheiro exclusivo para mulheres

Feministas se posicionam contra avanço da agenda LGBT sobre banheiros femininos

A mosca azul do poder inocula suas vítimas com anticorpos para a humildade e a razão. Os infectados começam a levitar e perdem noção da realidade. O chavão da terceira via faz com que o incauto se olhe no espelho e constate que está diante da alternativa que superará a polarização esquerda-direita, aquele com quem o eleitorado sonha. Os áulicos mais próximos aplaudem - e eles traduzem como o aplauso da população. Esquece de ir até a esquina e perguntar ao primeiro passante: Você me conhece? Vai votar em mim? E vai dançando nas ilusões de partidos que estão com um olho no candidato e outro nos fundos com que os pagadores de impostos os sustentam.

Alguém acredita mesmo que terceira via subirá a rampa do Planalto

Enquanto o PSDB subia o calvário com sua cruz, no DEM, Mandetta desistia dessas ideias. Percebeu ter sido um fenômeno passageiro, promovido pelo coronavírus e pelos que promovem os dissidentes. Ao mesmo tempo, o MDB apressava-se em prometer para este dezembro, o anúncio da candidatura da senadora Simone Tebet, lançada no palanque da CPI, supostamente para evitar no partido o que acontece no PSDB, a bolsonarização. Para a direção do MDB, melhor mostrar logo candidato antes que seja tarde demais. Ciro, que já havia contratado marqueteiro, tirou o pé do acelerador, depois que viu votos com o governo no próprio PDT. Moro continua sua alegre descoberta da política fora dos tribunais, junto com general da reserva cheio de esperança. Ambos com o charme da dissidência. Fora da ilha dos políticos e jornalistas, o povo continua dividido entre Bolsonaro e Lula. Sabe que vai ter que decidir o que quer e o que não quer. Nunca ouviu falar sobre alguma proposta de terceira via, seja lá o que for isso.

Certa vez o esperto Paulo Maluf fingiu pedir conselhos ao presidente Figueiredo. O general pôs no bolso do político um papelucho com apenas uma palavra escrita: humildade. Em qualquer atividade, humildade é a mais inteligente e mais produtiva das virtudes. Não é TER humildade para mostrar. É SER humilde. Quando a mosca azul pica, alguns levitam e os humildes ficam com os pés no chão. Não se enganarão nem serão enganados. Aí, não haverá sucesso que os derrube.

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 24 de outubro de 2021

Lei aprovada em São Paulo faz avenida com nome de ex-senador ‘sumir do mapa’

Fábio Matos

Avenida Auro Soares de Moura Andrade, onde fica o Memorial da América Latina, foi ‘apagada’ em decisão quase unânime dos vereadores

Desde o dia 7 de outubro, a rua na qual está localizado o Memorial da América Latina, em São Paulo, na Barra Funda (zona oeste da capital), mudou de nome. A antiga Avenida Auro Soares de Moura Andrade, que homenageava um ex-senador da República, simplesmente sumiu do mapa e passou a ser considerada uma continuação da Rua Mário de Andrade, situada entre as Avenidas Pacaembu e General Olímpio da Silveira. A lei que “apagou” o antigo endereço (17.671/21) foi promulgada pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB) e publicada no Diário Oficial do município no próprio dia 7. Mário de Andrade foi escritor, poeta, historiador e um dos ícones da Semana de Arte Moderna de 1922.

O desaparecimento da avenida que homenageava Auro de Moura Andrade tem como ponto de partida um projeto de lei (PL 249/21) de autoria de dois vereadores do PSDB, João Jorge e Xexéu Trípoli. O texto foi apresentado inicialmente à Câmara Municipal de São Paulo em abril deste ano, depois de Jorge ter sido procurado por representantes da Fundação Memorial da América Latina, ligada ao espaço cultural localizado na avenida. Na petição, os signatários relembram que Mário de Andrade dava nome ao endereço original do memorial, inaugurado em 1989. Em 1996, o local foi rebatizado por meio de um decreto do então prefeito, Paulo Maluf.

Na justificativa para o projeto, os vereadores tucanos afirmaram que a Lei 14.454/2007 [mais uma lei que mostra o lixo legislativo produzido pela "nova república", sujeira que precisa ser jogada ao esgoto.]  permite a mudança do nome de vias ou logradouros públicos “quando se tratar de denominação referente à autoridade que tenha cometido crime de lesa-humanidade ou graves violações de direitos humanos”. Segundo os parlamentares, é “imperativa a alteração da denominação, que representa uma injusta homenagem a uma autoridade que, a despeito de seu compromisso com a nação, desrespeitou os preceitos democráticos fundamentais do Brasil”. O projeto teve amplo apoio no plenário da Câmara: nas duas votações, apenas a vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos) se manifestou de forma contrária. [a covardia é uma característica comum a quase todos os políticos;
O  senador Auro Soares de Moura Andrade, NÃO COMETEU crime de lesa humanidade ou violação aos direitos humanos - apenas teve a CORAGEM, o CARÁTER, a HONRA e a DIGNIDADE que o ocupante do elevado cargo de Presidente da República, havia abandonado suas funções para tentar iniciar uma guerra civil que além de matar milhares de brasileiros transformaria nossa PÁTRIA AMADA  - nada justifica que não seja também PÁTRIA ARMADA - em mais um satélite da extinta URSS - hoje o Brasil seria uma miserável Cuba ou uma faminta Venezuela.]

O verdadeiro Auro de Moura Andrade

Auro Soares de Moura Andrade (1915-1982) era advogado formado em Direito na Faculdade do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo (USP). Iniciou sua atuação na vida política ainda jovem, aos 17 anos, na Revolução Constitucionalista de 1932. Esteve à frente de periódicos como A Urna e O Democrata, que acabaram fechados pelo governo de Getulio Vargas. Exímio orador — característica que o acompanhou por toda sua trajetória na vida pública —, Moura Andrade atuou como advogado e exerceu diversos cargos no Estado. Foi também diretor da Associação Comercial e presidente do Banco de Desenvolvimento do Estado de São Paulo.
Auro Soares de Moura Andrade foi presidente do Senado por sete anos | Foto: Reprodução

Em 1947, foi eleito deputado estadual pela União Democrática Nacional (UDN). Em 1950,  tornou-se deputado federal. Em 1954, elegeu-se senador pelo Partido Trabalhista Nacional (PTN). Mais tarde, filiou-se ao Partido Social Democrático (PSD), pelo qual ganhou projeção nacional ainda maior. Em 1961, foi eleito para a presidência do Senado e lá permaneceu por sete anos, sendo reeleito sucessivas vezes. Em 1958, disputou o governo do Estado de São Paulo e foi derrotado — Carvalho Pinto venceu a eleição. No ano seguinte, foi reeleito senador por São Paulo com mais de 1 milhão de votos. Moura Andrade comandava o Senado quando o então presidente da República, Jânio Quadros, renunciou, em agosto de 1961.

1964
No dia 1º de abril de 1964, tropas do Exército lideradas pelo general Olympio Mourão Filho iniciaram o processo de deposição de João Goulart, o Jango. Coube a Moura Andrade presidir a sessão do Senado que declarou vaga a Presidência da República — Goulart havia viajado para o Rio Grande do Sul, onde estava à frente de tropas que prometiam resistir. Sob vaias e aplausos, Moura Andrade acusou Jango de ter deixado “a Nação acéfala em uma hora gravíssima da vida brasileira” e afirmou que era fundamental “que o chefe de Estado permanecesse à frente do governo”. No dia 2 de abril, Ranieri Mazzilli, que presidia a Câmara dos Deputados, assumiu a Presidência da República provisoriamente. Em 11 de abril de 1964, com 361 votos favoráveis e 72 abstenções, o Congresso Nacional elegeu indiretamente o marechal Castelo Branco para completar o mandato de Jânio e Jango como presidente da República.

Moura Andrade foi embaixador do Brasil na Espanha, entre 1968 e 1969. Diante da inflexão dos governos militares a partir dos atos institucionais — especialmente o AI-5, em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e Silva —, da perseguição de opositores e de uma série de ações arbitrárias que violavam a Constituição, Moura Andrade decidiu retornar ao Brasil, mas pouco pôde fazer contra o regime. Foi autor da célebre frase “Japona não é toga”, dirigida a um chefe do Exército que ameaçava descumprir normas constitucionais, entrando em rota de colisão com os militares. Já na Aliança Renovadora Nacional (Arena), foi derrotado na convenção que definiu os candidatos da legenda ao Senado por São Paulo em 1970. Decepcionado com os rumos do país Moura Andrade abandonou a política. “Ele nunca mais pisou em Brasília. Voltou lá quando o [João] Figueiredo fez a anistia. Só foi para cumprimentar o Figueiredo pela redemocratização”, relata a Oeste Antonio Joaquim de Moura Andrade Neto, de 63 anos, filho do ex-presidente do Senado.

Revolta da família
“Tudo que se refere a 1964, ditadura, essas coisas, é muito deturpado. Qualquer opinião mais à direita é considerada fake news”, afirma Antonio, que não se conforma com as adjetivações usadas contra o pai no projeto de lei que embasou a mudança do nome da avenida em São Paulo. “Na deposição do Jango, o povo estava a favor, a imprensa a favor… O próprio Roberto Marinho chamou de ‘volta da democracia’ a eleição indireta do Castelo Branco. Havia grande apelo popular”, relembra.

“Em 1964, o Brasil saía de uma desordem total. Foi feita uma eleição indireta para presidente, Castelo Branco foi eleito pelo Congresso, tomou posse e começaram a fazer uma Constituinte. Meu pai sempre manteve a Constituição acima de tudo e não deixou que houvesse nenhum ato que a ferisse.”

Antonio lamenta a deturpação da longa trajetória política do pai, que passou a ser qualificado como “apoiador da ditadura” em reportagens veiculadas na grande imprensa. “Você abre o jornal e tem gente falando em apoiador da ditadura, crime de lesa-humanidade… É fake news.”, afirma.

Segundo o filho de Moura Andrade, os vereadores paulistanos poderiam ter mudado o nome da rua em que fica o Memorial da América Latina sem ofender a memória do ex-senador. “O fato de terem mudado o nome da rua não é um problema em si. Poderiam ter mudado, mas não acusando meu pai de ser a favor da ditadura. Era exatamente o contrário. Meu pai era um democrata”, diz Antonio. “Eles não precisavam fazer essa violência. Poderiam ter mudado o nome da rua sem nada disso.”

Além da Avenida Auro Soares de Moura Andrade, já apagada da história, há uma praça com o nome do ex-senador localizada no bairro do Morumbi, zona sul da capital paulista. A denominação foi dada em 1988, durante a gestão do prefeito Jânio Quadros. “É uma pracinha pequena em frente a uma igreja, onde, inclusive, o meu filho se casou. Se mudassem o nome, ali eu sentiria até mais do que a própria avenida”, diz Antonio. A Praça Senador Auro Soares de Moura Andrade permanece viva. Não sumiu do mapa, pelo menos por enquanto.

Revista Oeste - Fábio Matos


segunda-feira, 26 de julho de 2021

Meia-volta, volta e meia, os militares no Brasil - Fernando Gabeira

In Blog

Civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa garantem que as Forças Armadas não embarcam numa aventura golpista. Eles sabem mais do que eu. No entanto tenho algumas dúvidas. 

Não são dúvidas turbinadas pelo preconceito ou pelo ressentimento. Como jornalista, sempre destaquei ações positivas dos militares; no Congresso, mantive as melhores relações com assessores parlamentares das Forças Armadas, entre eles o general Villas Bôas. Os fatos abalam qualquer certeza. Desde a não punição do general Pazuello até as recentes notícias sobre ameaças do ministro da Defesa, o curso dos acontecimentos nos leva à desconfiança. É difícil imaginar como uma sucessão de pequenas atitudes autoritárias pode conduzir a uma firme decisão democrática, no dia D e na hora H, como diz Pazuello.
[Nenhum dos civis que ocuparam o cargo de ministro da Defesa, possuem credenciais para opinar sobre ações que se e quando pensadas não se destacam pela publicidade. 
Aliás, o currículo dos ex-ministro da Defesa não os credencia para dissertar sobre o tema = os cinco primeiros e do sexto ao décimo, nem eles nem os presidentes que os nomearam sabem as razões e motivação da nomeação;
o sexto quem o nomeou não possui credencial que justifique a nomeação de uma fusão de jurista, político, para ocupar um cargo que no seu entendimento leigo no assunto, era tão militar, que autorizava ao titular da pasta o uso de uniforme de General de Exército; 
O décimo primeiro, oficial general, foi nomeado por Temer, corrigindo o erro que cometeu ao manter Jungmann; 
O décimo terceiro foi uma nomeação adequada e oportuna do presidente Bolsonaro e o atual outra  de excelente nomeação do capitão.]

Outro dia, um general ficou bravo comigo porque critiquei Pazuello por sua audácia ao assumir um cargo para o qual não tinha a mínima competência. Mencionei sua obediência cega a Bolsonaro, e o general entendeu minha crítica como uma tentativa de minar o conceito de disciplina dos militares. E disse que era capaz de matar ou morrer pela pátria. Na verdade, peço muito menos que matar ou morrer: simplesmente pensar. Bolsonaro não merece uma obediência cega. Ninguém merece. O que está em jogo é uma noção de dignidade dos militares, discussão importante, pois, do seu prestígio, depende parcialmente a consistência da defesa nacional. [o ilustre jornalista, possui um passado, ainda que distante, não muito favorável à democracia = integrou o MR-8, movimento terrorista, que tentou combater o Governo Militar - nem ele, nem o movimento foram exitosos. O ilustre Gabeira sofreu graves ferimentos durante uma fuga, foi preso, foi banido do Brasil em função de uma troca dele e mais 39  pela embaixador alemão covardemente sequestrado; participou do sequestro do embaixador americano e como consequência foi proibido até 2009 de ingressar em território dos Estados Unidos; apesar de ser apresentado como elemento operacional do grupo terrorista, ele não participou das ações  de maior risco. Voltou ao Brasil em 1979 e com a Anistia voltou à condição de brasileiro. Essa longa memória sobre Fernando Gabeira é mais como consequência de em vários de seus escritos deixar, ainda que de forma sutil, sua propensão a incitar uma reação belicosa contra o governo Bolsonaro. Como sempre, a qualidade literária do que produz é excelente e não será este humilde escriba que ousar apresentar reparos à mesma.]

O perigoso esporte de humilhar generais, título do artigo que provocou a ira dos generais, continua a ser praticado. O general Ramos soube de sua saída da chefia da Casa Civil pela imprensa e confessou que se sentiu atropelado por um trem. O general Mourão é enviado numa missão a Angola para defender, em nome do Brasil, a política da Igreja Universal do Reino de Deus. Isso não é política de Estado, e a tarefa não deveria ser aceita por um general. [até que uma interpretação com viés crítico ao presidente Bolsonaro pode deixar a impressão de que um oficial general está sendo 'humilhado' ao receber certas missões; no caso do general Ramos entendemos que não ocorreu humilhação e sim uma troca de função; o general Mourão é o vice-presidente da República e tem o direito de recusar qualquer encargo que lhe seja atribuído pelo presidente da República, por não existir subordinação do vice-presidente ao presidente.]

Tenho muita tranquilidade em discutir o conceito de obediência na política. Não acho que seja uma extensão do conceito de disciplina militar. Nisso, sempre discordarei dos generais da direita, assim como discordei dos generais da esquerda nos longos debates sobre o chamado centralismo democrático. O melhor instrumento que a sociedade tem para tratar da questão militar que aparece volta e meia é precisamente determinar uma meia-volta: aprovar o projeto que impede militares da ativa de ocupar cargos civis no governo. Votar logo essa proposta de voto impresso, decidir democraticamente se o teremos ou não. [parabéns ao articulista poder defender que a proposta seja votada pelo Congresso Nacional - a quem cabe discutir, analisar e votar as leis. Discutir a conveniência das leis, criar ou revogar leis = legislar = é competência exclusiva do Poder Legislativo.]

Isso não basta. Concordo com o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann: o Congresso é omisso ao não discutir os grandes temas da defesa nacional. A omissão dos parlamentares passa aos militares uma sensação de irresponsabilidade ou mesmo de ignorância em relação à dimensão do tema. Impede que a variável ambiental tenha a importância estratégica que merece, atrasa uma solução negociada para o futuro da Amazônia.

A fragilidade da representação política contribui também para que os militares tenham uma visão resignada do Congresso. Nos Anos de Chumbo, seus aliados eram da Arena, partido dos coronéis nordestinos; na eleição indireta à Presidência, o candidato dos militares era Paulo Maluf. Não me espanta que o governo atual tenha se transformado numa associação entre militares e o Centrão. A escolha ideológica sempre foi mais importante que uma sempre anunciada recusa à corrupção.

Durante a Guerra Fria, a ideia de se unir com qualquer um para evitar o comunismo tinha um poder maior de atração. De lá para cá, a sociedade brasileira evoluiu, o comunismo fracassou, apesar da sobrevivência autoritária do PC chinês. Resistir aos impulsos autoritários de Bolsonaro dará à sociedade brasileira mais força contra qualquer nova ameaça aos fundamentos da democracia. O argumento ganha um peso maior se for aceito pelos militares. Ele é a base real da conciliação.

Artigo publicado no jornal O Globo em 26/07/2021

 Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista