Ministra das Minas e Energia,
ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff chegou à Presidência da República pelas mãos do seu
chefe entre 2003 e final de 2010, Luiz Inácio Lula da Silva, e passou a ter o
poder formal sobre toda a administração pública. E uma responsabilidade do
tamanho deste poder.
Na
prática, porém, Dilma, desde a saída de José Dirceu da Casa Civil, avariado pela denúncia do mensalão,
e a quem ela substituiu, passou a exercer forte
ingerência na política econômica de Lula. Transcorria o ano de 2005, o
penúltimo do primeiro mandato do líder petista. Dilma,
então, completa agora aproximadamente nove
anos de influência sobre a política econômica, e de maneira direta,
incisiva, nos últimos quatro, seu primeiro mandato.
Um sinal forte de demarcação de
um novo rumo na economia foi emitido pela nova ministra da Casa Civil, ainda em 2005, quando
rebateu proposta do ministro da Fazenda Antonio Palocci de não permitir que os
gastos públicos correntes crescessem mais que o PIB, ideia considerada “rudimentar" pela economista Dilma.
Em vez de um ajuste fiscal, a ministra propôs o corte dos juros.
Delineava-se
ali o modelo “desenvolvimentista”, heterodoxo, voluntarista, para cuja implementação
seria importante a chegada de Guido Mantega para o lugar de Palocci, também
abatido por problemas éticos. A crise mundial deflagrada a partir do fim de
2008 foi o pretexto usado pela Casa Civil e a Fazenda para acelerar os gastos
públicos e conectar o Tesouro aos grandes bancos oficiais, principalmente o
BNDES. De alguma forma, o “novo marco
macroeconômico”, causa do fracasso
da política econômica da presidente Dilma, começou a ser aplicado em 2009,
dois anos antes da posse da sucessora de Lula.
Como acontece nesses turbinamentos
voluntariosos do consumo, a economia cresceu em alta velocidade logo
depois, em 2010 (7%), numa
providencial coincidência com as eleições, para em
seguida entrar na zona de turbulência em que se encontra até hoje.
Com evidente poder sobre o Banco Central de Alexandre Tombini, Dilma ainda
praticaria o corte de juros que defendeu em 2005, sob aplausos de
falanges radicais petistas. Mas as taxas tiveram de voltar a subir, como
se previa.
O governo acaba hoje em meio a um
balanço melancólico:
inflação longe da meta (4,5%), PIB estagnado,
contas públicas
desequilibradas, e desacreditadas pela “contabilidade criativa”, dívida pública em ascensão. O emprego ainda se
mantém, mas a
perda de dinamismo do mercado de trabalho é perceptível, enquanto a
inflação já se refletiu numa mudança de tendência na redução da pobreza.
Apuradas
as urnas, Dilma
afinal admitiu a pane na economia brasileira. E assume amanhã sob a perspectiva de um ajuste fiscal que sempre
combateu.
Os pontos-chave
A
presidente Dilma passou a interferir na política econômica desde que assumiu a
Casa Civil, em 2005.
A crise
mundial serviu de pretexto para Dilma e Mantega começarem a adotar o “novo marco”.
Como
acontece nesses modelos de turbinamento do consumo, há rápido crescimento e,
depois, crise.
Inflação,
estagnação, emprego sem fôlego e contas públicas desarrumadas atestam a
falência do modelo.
Reeleita,
a presidente admitiu a pane na economia e anunciou um ajuste de que sempre
discordou.
Fonte: Editorial – O Globo