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domingo, 15 de março de 2020

Palavra de presidente - Folha de S. Paulo

 Hélio Schwartsman

Bolsonaro mente ou perde a oportunidade de ficar calado

Qual o valor da palavra de Jair Bolsonaro? Julgue você mesmo. Ao longo da última semana, o presidente abordou quatro assuntos principais: manifestações contra o Congresso, Orçamento impositivo, fraude eleitoral e coronavírus. Em duas dessas ocasiões, Bolsonaro mentiu e, nas outras duas, deveria ter ficado quieto.

As mentiras são facilmente demonstráveis. Na quarta (11), ele disse que não convocou ninguém para as manifestações que ocorreriam neste domingo (15). Mas há um vídeo, gravado em Roraima no sábado (7), em que o presidente fala da manifestação e instruí seus simpatizantes a participaremNa terça (10), ele voltou a afirmar em suas redes sociais que não havia negociação entre o governo e o Parlamento em torno da verba do Orçamento disponível para investimentos. Mas há farta documentação mostrando que o governo negociou, sim, e longamente, para ter acesso a ao menos parte do dinheiro. [o próprio articulista e acusador, movido pela honestidade que a hostilidade ao nosso Presidente não conseguiu sufocar, isenta Bolsonaro de dolo, quando reconhece, no último parágrafo, ser comum aos políticos a imprecisão e falta de objetividade nos discursos - o que preferimos considerar adaptações/versões criativas - tornando  fato que palavra de político não combina com a verdade que a palavra do homem expressa.

Infelizmente é aceitável que os políticos tenham o comportamento padrão de sempre tentar em seus pronunciamentos mudar o teor ou sentido do que falou - fosse só o presidente Bolsonaro, seria fácil corrigir tal prática.

Devemos também ter presente que não houve necessidade do presidente mentir - convocar manifestações legítimas é um direito de qualquer cidadão e o cargo de presidente da República não cassa do seu titular a condição de cidadão.]


Passemos às oportunidades perdidas. Na segunda (9), Bolsonaro veio com a história de uma suposta fraude eleitoral que o teria impedido de vencer no primeiro turno. Aqui ele se põe na fronteira do Código Penal. Se tem mesmo provas e não as exibe, comete prevaricação; se não tem e diz que tem, só conta mais uma mentira.

É no coronavírus, porém, que Bolsonaro se supera. Enquanto a maior parte dos líderes mundiais já se decidia por medidas duras para conter a progressão da Covid-19, nosso presidente, talvez por julgar que um ser tão pequenininho como um vírus não pode causar grande mal, passou boa parte da semana denunciando um suposto exagero da mídia e dizendo que a epidemia tinha muito de fantasia. Foi só quando a doença bateu à porta de sua casa que ele passou a agir de forma menos exótica. [é um péssimo hábito dos governantes - que não se limita apenas aos brasileiros - tentar esconder eventuais doenças ou mesmo suspeitas de estar doente - atribuem a morte de Tancredo Neves, ao fato de ter escondido a gravidade da doença que já portava e se manifestou às vésperas da sua posse.
O nosso presidente Bolsonaro agrava essa propensão política com o fato do hábito inconveniente de conceder entrevistas improvisadas - de corredor - quando o correto seria sempre se manifestar através do porta-voz e em entrevistas agendadas e com perguntas apresentadas previamente.]


O discurso de governantes não costuma mesmo ser exemplo de precisão e objetividade, mas o nível de deterioração que Bolsonaro impôs à palavra presidencial impressiona.

 Hélio Schwartsman, colunista - Folha de S. Paulo