Decisão de Bolsonaro sobre embaixada em Jerusalém é
derrota para Netanyahu
Benjamin Netanyahu, um dos mais hábeis e inteligentes políticos do
planeta, fracassou na sua tentativa de convencer Jair Bolsonaro a
transferira embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. O
“escritório de negócios” é um mero prêmio de consolação. Claro, o
premier israelense não falará publicamente, mas deve ter ficado
decepcionado com o presidente brasileiro. Avaliava não ser muito difícil
convencer um líder populista de direita latino-americano apoiado por
evangélicos, ainda mais depois de Donald Trump, ídolo bolsonarista, ter
levado adiante a mudança da representação dos EUA.
O objetivo de Netanyahu era ter mais uma cartada na sua campanha
eleitoral e incendiar sua base religiosa e nacionalista. Buscaria
mostrar ser capaz de convencer uma nação emergente e grande como o
Brasil a transferir a embaixada. Não se trata da Guatemala, um país
pequeno e desconhecido para muitos israelenses. Trata-se do Brasil, uma
das maiores democracias do planeta e visto como uma nação neutra em
questões do Oriente Médio.
Os opositores do premier de Israel já ironizavam essa aproximação com
Bolsonaro, repudiado pela sociedade mais cosmopolita e progressista de
Tel Aviv por suas declarações consideradas homofóbicas e a favor da
ditadura. A magnífica metrópole israelense do Mediterrâneo sempre teve
orgulho de sua comunidade LGBTI, sendo inclusive considerada uma das
capitais gays do mundo. Yair Lapid, um dos líderes da coalizão liderada
pelo ex-comandante das Forças Armadas Benny Gantz, já indicou em
entrevista ao “New York Times” que, se a oposição chegar ao poder, eles
pretendem se distanciar de “líderes populistas de direita” como “Jair
Bolsonaro e Viktor Orbán”.
Apesar da provável insatisfação de Netanyahu, a decisão de Bolsonaro, no
fim, foi correta, embora não a ideal, já que acabou sendo condenada
pelos palestinos de qualquer maneira. O presidente foi ajudado pela ala
pragmática e pró-comércio de seu governo, incluindo sua ministra da
Agricultura e seu vice-presidente. Evitou ser convencido pela facção
ideológica e extremista anti-Palestina de seu chanceler, Ernesto Araújo,
e de seus filhos.
Uma alternativa, que propus no GLOBO tempos atrás, era seguir o conselho
do escritor israelense Amos Oz e fazer História, transferindo a
embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém Ocidental, mas também
levando a representação diplomática na Palestina de Ramallah para
Jerusalém Oriental, que tem maioria árabe cristã e muçulmana e é
reivindicada pelos palestinos como sua capital.
A parte Ocidental já é
na prática a capital de Israel, afinal é onde fica o Knesset, o Poder
Executivo do primeiro-ministro e a Suprema Corte.