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quarta-feira, 6 de novembro de 2019

O dia em que a história desembestou - Blog do Noblat - VEJA

Ricardo Noblat

A unificação da Alemanha


Em junho de 1989 Mikhail Gorbachev, então presidente da União Soviética, visitou a Alemanha Ocidental, sendo aclamado por onde passou. Todos lhe fizeram a mesma pergunta: quando a Alemanha seria unificada? Diplomaticamente, o pai da perestroika dizia que o problema teria de ser resolvido um dia, mas não naquele momento. Isto havia sido combinado com o então primeiro-ministro alemão, Helmut Kohl: a unificação alemã era uma questão a ser equacionada apenas no século 21.

O mesmo ponto de vista tinha François Mitterrand, presidente da França, para quem a Europa deveria respirar por meio de dois pulmões: o da comunidade europeia e o do leste europeu renovado pela perestroika. A unificação da Alemanha deveria se dar pela renovação do bloco socialista, de forma lenta, gradual e segura.  Mas a história desembestou no outono de 1989, para utilizar uma expressão do próprio Gorbachev. Em 9 de novembro uma multidão derrubou o Muro de Berlim, pondo fim à fronteira física que separava os alemães em dois países de sistemas diferentes. Um capitalista e democrático e outro socialista e de ditadura do partido único.

Símbolo maior da guerra-fria, o muro era também o atestado de que os povos do leste europeu rejeitavam o modelo socialista implantado na esteira dos tanques do exército vermelho, após o fim da 2ª guerra mundial. Em toda a região o “socialismo real” foi uma imposição da União Soviética e só se sustentou por quarenta anos porque reprimiu a ferro e fogo os povos que tentaram se sublevar. Hungria em 1956, Polônia várias vezes, Checoslováquia em 1968 e a própria Alemanha Oriental em 1952.
Se deve a Gorbachev o mérito de liberar o gênio da garrafa. Sem ele, a queda do muro dificilmente aconteceria ou se daria muito tempo depois.

Os ventos da renovação e o sopro de liberdade daquele outono abalaram muito mais do que os alicerces do Muro de Berlim. Como peças de dominó, as ditaduras do leste europeu foram caindo uma a uma. Os escombros do muro enterraram a ilusão do comunismo como ideário libertário, sinônimo do paraíso terrestre.  Mais do que desembestar, a história atropelou quem quis detê-la.  Em 7 de outubro de 1989 a fina flor do “Pacto de Varsóvia” lotou a tribuna no desfile do aniversário dos quarenta anos da República Democrática Alemã. Os burocratas do “socialismo real” não percebiam a mudança dos ventos. E ela saltava a olhos nus. A multidão que desfilava olhava para Gorbachev e clamava: “ajude-nos, ajude-nos!” Espantado com o que via, o então premiê da Polônia, Mieczyslaw Rakovski, disse a Gorbachev: “você não percebe que isso aqui acabou?”

Indiferente ao clamor da multidão, o Secretário Geral do Partido Comunista e presidente da Alemanha, Erich Honecker, jactava-se que via no desfile a prova da vitalidade do socialismo na Alemanha Oriental. Ultra ortodoxo, dizia que seu país não precisava de nenhuma perestroika. Nada a estranhar. Dois anos antes, Honecker tinha rechaçado o conselho dos soviéticos de demolir o Muro de Berlim. Toda nomenclatura aboletada na tribuna iria cair em pouco mais de dois anos. Não sobrou ninguém. A começar pelo stalinista Honecker, destronado do poder um mês depois do desfile.

Nem a temida Stasi, polícia política com mais de 25 mil informantes, foi capaz de deter a avalanche da história. Em 9 de outubro, 70 mil pessoas participam de um ato público em Leipzig, exigindo democracia. As pessoas tinham perdido o medo e a ditadura não tinha mais condições de reprimir. Ironicamente acontecia o vaticínio de Lenin para o desaparecimento de um regime: “quando os de baixo já não querem e os de cima já não podem”.E já não podiam em todo o bloco socialista. Cinco meses antes da queda do Muro de Berlim, o Solidarność ganhou a primeira eleição livre na Polônia.  

Em agosto, dois milhões de pessoas formaram a maior corrente do mundo para abraçar os países bálticos. Por fim, a Hungria derrubou a cerca de arame farpado de sua fronteira com a Áustria, criando um enorme corredor para a fuga de alemães orientais.



Simbolicamente a queda do Muro de Berlim representou também a vitória da democracia como o grande valor do século 20.  Esse valor está em jogo hoje em países do antigo bloco socialista, como na Hungria de Victor Orban e  na Polônia. E também na antiga  Alemanha socialista, com o crescimento  da AFD – partido de extrema direita. A história tem dessas ironias.

 
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Blog do Noblat - Publicado na edição 2659, de VEJA, 06/11/2019

segunda-feira, 1 de abril de 2019

Objetivo do premier israelense era ter mais uma cartada na campanha e incendiar sua base religiosa e nacionalista

Decisão de Bolsonaro sobre embaixada em Jerusalém é derrota para Netanyahu

Benjamin Netanyahu, um dos mais hábeis e inteligentes políticos do planeta, fracassou na sua tentativa de convencer Jair Bolsonaro a transferira embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém. O “escritório de negócios” é um mero prêmio de consolação. Claro, o premier israelense não falará publicamente, mas deve ter ficado decepcionado com o presidente brasileiro. Avaliava não ser muito difícil convencer um líder populista de direita latino-americano apoiado por evangélicos, ainda mais depois de Donald Trump, ídolo bolsonarista, ter levado adiante a mudança da representação dos EUA.

O objetivo de Netanyahu era ter mais uma cartada na sua campanha eleitoral e incendiar sua base religiosa e nacionalista. Buscaria mostrar ser capaz de convencer uma nação emergente e grande como o Brasil a transferir a embaixada. Não se trata da Guatemala, um país pequeno e desconhecido para muitos israelenses. Trata-se do Brasil, uma das maiores democracias do planeta e visto como uma nação neutra em questões do Oriente Médio.

Os opositores do premier de Israel já ironizavam essa aproximação com Bolsonaro, repudiado pela sociedade mais cosmopolita e progressista de Tel Aviv por suas declarações consideradas homofóbicas e a favor da ditadura. A magnífica metrópole israelense do Mediterrâneo sempre teve orgulho de sua comunidade LGBTI, sendo inclusive considerada uma das capitais gays do mundo. Yair Lapid, um dos líderes da coalizão liderada pelo ex-comandante das Forças Armadas Benny Gantz, já indicou em entrevista ao “New York Times” que, se a oposição chegar ao poder, eles pretendem se distanciar de “líderes populistas de direita” como “Jair Bolsonaro e Viktor Orbán”.

Apesar da provável insatisfação de Netanyahu, a decisão de Bolsonaro, no fim, foi correta, embora não a ideal, já que acabou sendo condenada pelos palestinos de qualquer maneira. O presidente foi ajudado pela ala pragmática e pró-comércio de seu governo, incluindo sua ministra da Agricultura e seu vice-presidente. Evitou ser convencido pela facção ideológica e extremista anti-Palestina de seu chanceler, Ernesto Araújo, e de seus filhos.

Uma alternativa, que propus no GLOBO tempos atrás, era seguir o conselho do escritor israelense Amos Oz e fazer História, transferindo a embaixada em Israel de Tel Aviv para Jerusalém Ocidental, mas também levando a representação diplomática na Palestina de Ramallah para Jerusalém Oriental, que tem maioria árabe cristã e muçulmana e é reivindicada pelos palestinos como sua capital
 
A parte Ocidental já é na prática a capital de Israel, afinal é onde fica o Knesset, o Poder Executivo do primeiro-ministro e a Suprema Corte.
 

domingo, 11 de janeiro de 2015

Traficante brasileiro deve ser executado na Indonésia - Finalmente será feita Justiça e traficante será executado – exemplo a ser seguido pelo Brasil

Brasileiro pode se tornar o primeiro ocidental executado na Indonésia

O governo indonésio negou definitivamente clemência ao brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, condenado à pena de morte por tráfico de drogas.  

No país asiático sentenciados à morte só podem fazer dois pedidos de clemência e a segunda solicitação de Marco foi negada em 31 de dezembro pelo presidente Joko Widodo. 



O brasileiro, que hoje tem 53 anos, foi preso em 2003 depois de tentar entrar no aeroporto de Jacarta com 13,4 kg de cocaína escondidos em tubos de asa-delta. O Itamaraty afirma não ter recebido comunicação “oficial” a respeito. [não há nada a ser comunicado ao Itamaraty, trata-se de um criminoso condenado à "pena de morte" que deve ser executada o mais breve possível e amplamente divulgada para que sirva de exemplo.]

Relembre o caso: 

Finalmente será feita Justiça e traficante será executado – exemplo a ser seguido pelo Brasil 

Indonésia anuncia que irá fuzilar brasileiro condenado por tráfico
O governo da Indonésia decidiu que o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, 50, condenado à morte por tráfico internacional de drogas em 2004, será executado nas próximas semanas. A decisão foi anunciada anteontem pelo procurador Andi Konggoasa ao "The Jakarta Post", o principal jornal em língua inglesa do país. Procurado, o Itamaraty informou que está ciente da situação e que está adotando medidas sobre o caso. 

Marco será o primeiro brasileiro a ser executado em outro país - e o primeiro ocidental a ser morto na Indonésia. O país mantém cerca de 30 estrangeiros, entre eles outro brasileiro, no corredor da morte --a maioria por tráfico. A execução se dá por fuzilamento. Além dele, outros dois estrangeiros morrerão, segundo o procurador. A Indonésia não executa ninguém desde 2008. 

Segundo o jornal, Marco já fez até o último pedido: uma garrafa de Chivas Label. Os outros dois estrangeiros que serão mortos são o maluiano Namaona Dennis e o paquistanês Muhammad Abdul Hafeez, presos por tráfico de heroína em 2001. Dennis e Hafeez escolheram um encontro com suas famílias.
 
O presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yudhoyono, que está no Brasil participando da Rio+20, recusou o último pedido de clemência feito em 2008. Foi a segunda recusa: a primeira ocorrera em 2006. Não há mais possibilidade de recursos na Justiça. 

Nascido no Rio de Janeiro e instrutor de asa-delta, Marco foi preso em 2003 ao tentar entrar com 13,4 quilos de cocaína no aeroporto de Jacarta, ainda hoje uma das maiores apreensões de droga no país, distribuídos em 19 sacos plásticos escondidos dentro de um equipamento de voo livre. A droga foi descoberta quando a bagagem dele passava pelo aparelho de raios X do aeroporto Soekarno-Hatta, em Jacarta. Archer ainda conseguiu fugir do aeroporto e se esconder, mas foi capturado 16 dias depois na ilha de Sumbawa.

Segundo o procurador do caso, Andi Konggasa, os acusados tiveram o direito total respeitado: - Eles assumiram todos os tipos de esforços legais para reduzir a sentença, a partir de admissão dos recursos e pedidos de revisão de caso com a Suprema Corte para pedir um perdão presidencial, mas não adiantou. A condenação veio em 2004: pena de morte. Segundo ele, a venda da droga serviria para pagar uma dívida contraída com um hospital em Cingapura. 

Em 1997, Marco sofreu uma queda de um parapente em Bali e teve que ser transferido para o país vizinho. Não conseguiu pagar todo o tratamento e era constantemente cobrado. Foi então que, segundo ele, viajou para o Peru para comprar a droga e tentar entrar na Indonésia para vendê-la. A pena de morte para tráfico de drogas foi instituída no país em 1997, a exemplo do que ocorre em outros países do Sudeste Asiático, como Tailândia, Malásia, Cingapura e Filipinas. 

ARREPENDIMENTO
O brasileiro está preso em Nusakambangan, um complexo de prisões a 430 km de Jacarta. A Folha esteve com ele em 2010. Na época, Marco disse que estava arrependido do que fez e que sonhava em voltar ao Brasil. Ele não é casado nem tem filhos. A sua mãe morreu em 2010 e ele tem duas tias. Uma delas, que está mais envolvida com o caso, ficou bastante abalada. A embaixada da Indonésia ficou de enviar um pedido de desculpas a ela.

O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira em cela na Indonésia após ser condenado por tráfico de drogas

OUTRO BRASILEIRO
Além de Archer, outro brasileiro também está preso por tráfico de drogas na Indonésia. O surfista Rodrigo Gularte, 39, foi detido em 2004 portando 6 kg de cocaína e condenado à morte no país no ano seguinte. Ele e Archer são os únicos brasileiros condenados à execução no mundo.
Gularte, que levava a droga em uma prancha de surf, perdeu todos os recursos possíveis na Justiça --o último, em 2011 - e sua única chance de evitar ser fuzilado é obter o perdão do presidente indonésio. 

Governo brasileiro trata caso com discrição
O governo brasileiro trata com toda discrição possível, sem alarde, o caso de Marcelo Archer. O Ministério das Relações Exteriores evita tratar publicamente do assunto. O Itamaraty informou apenas que o governo está ciente do assunto, está cuidando do caso e adotando as providências possíveis. 

Em março de 2005 e em janeiro de 2006, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu clemência ao presidente da Indonésia, Susilo Yudhoyono, que está no Brasil para participar da Rio+20. Solicitação semelhante foi feita também ao Judiciário. Todas as comunicações enfatizaram que, embora fosse reconhecida a gravidade do crime pelo qual Marco Archer estava sendo processado, a pena de morte não existe no Direito brasileiro. “Sua aplicação a um compatriota causaria enorme consternação na opinião pública nacional”, disse o Itamaraty. [provavelmente entre bandidos, incluindo os MENSALEIROS – PT, as pessoas de bem só esperam que em breve idêntica punição seja aplicada aos traficantes brasileiros, inclusive aos corruPTos. ATUALIZAÇÃO: agora temos que incluir a turma do PETROLÃO - PT = petroleiros - PT, ELETROLÃO - PTe, muito em breve, o BANCÃO - PT e também o CAIXÃO - PT.]

Fonte: UOL – Notícias