O Estado de S.Paulo
Finalmente, a direita real e moderna descola-se da direita fake e patética. E o Exército?
O presidente Jair Bolsonaro continua sendo uma fonte de instabilidade e
temos dois milhões de contaminados e perto de 80 mil mortos pela
covid-19, mas o Brasil conteve a dupla escalada e – ainda que em
patamares desesperadores – vai chegando a um platô na política e no
vírus e é hora de deslanchar o pós-pandemia e prestigiar a força das
instituições e da sociedade civil. A imagem do País esfarela mundo
afora, mas é preciso reconhecer a incrível capacidade de resistência a
ameaças e bravatas.
[Com o estilo que lhe caracteriza a ilustre colunista escreveu um ótimo artigo, com três falhas - talvez, propositais, para forçar uma leitura diversa.
Vamos a elas;
1º - acusar o presidente Bolsonaro de ser uma fonte de instabilidade e vincular os dois milhões de contaminados, não tem como prosperar. O fracasso foi dos governadores e prefeitos, é fato notório que o presidente foi retirado, por decisão do STF, da linha de frente de combate ao coronavírus.
Os governadores e prefeitos se perderam em ridículas quarentenas meia boca,divulgação da aquisição de urnas funerárias e por aí vai;
2º - as posições do presidente Bolsonaro, citadas na última linha do penúltimo parágrafo em contribuíram para redução ou acréscimo dos malefícios da pandemia; e,
3º - a primeira frase do penúltimo parágrafo tem uma interpretação tão absurda, tão sem cabimento, do termo genocídio, que somos forçados a atribuir sua presença a uma falha de edição do artigo.]
Com Bolsonaro em fase de trégua e de quarentena, o Judiciário em recesso
e o Legislativo trazendo as reformas estruturais de volta à pauta do
País, vem essa sensação de platô político e de volta à normalidade,
reforçada por indicadores ainda frágeis, mas em viés de alta, na
economia. A situação da pandemia ainda é macabra, sem prazo para
terminar, mas constrói-se união para minimizar os danos colaterais e
tratar as feridas: quebradeira de empresas, milhões a mais de
desempregados e o aprofundamento da miséria.
Esse debate é possível depois da fantástica resistência aos ataques
contra as instituições, a ciência e a inteligência. O Supremo liderou
esse processo e, mesmo atuando no limite, às vezes balançando
perigosamente para o excesso, deu a sustentação indispensável para uma
reação que brotou de todos os lados e cristalizou a certeza de que o
Brasil não é o melhor dos mundos, mas sabe sustentar a democracia.
Mesmo antes de pegar a covid-19 (o que ele buscou fervorosamente),
Bolsonaro já tinha parado de disparar insultos diários, atiçar as hordas
golpistas, avalizar a guerra da internet contra tudo e todos, reabrindo
o diálogo e as relações com os poderes. O vírus fez o resto e, com o
presidente devidamente recolhido, o País passou a respirar melhor, a
acordar sem tanto sobressalto. Antes tarde do que nunca, o governo passou a ouvir o grito estridente,
ensurdecedor, dos que defendem o Meio Ambiente, descobrindo com enorme
surpresa que a gritaria pela preservação não é só de ONGs, conselhos,
Igreja Católica e esquerdistas. Ela veio forte de fundos de investimento
internacionais, bancos e grandes empresas nacionais, ex-ministros da
economia e ex-presidentes do Banco Central.
Esse movimento estabelece, enfim, uma distinção entre a direita moderna,
culta e pragmática e essa direita instalada no poder, atrasada,
ignorante, com um discurso ideológico incompreensível. Pior: no ataque,
agressiva, endeusando armas, guerras imaginárias, inimigos fantasmas e
desmanchando tudo sem construir nada. Isso não é ser “de direita”. A
direita entendeu e obrigou Bolsonaro a começar a entender.
Assim surge a novidade: o debate sobre saídas para o País. O Congresso
se reúne em torno da reforma tributária, o governo entrega na
terça-feira sua proposta de simplificação de impostos, grupos e
entidades civis participam do processo. Exemplo: a Liderança Pública
(CLP), coordenada pelo cientista político Luiz Felipe D’Ávila, apadrinha
28 projetos essenciais, a começar das reformas. O Brasil demonstra que
tem instituições, sociedade ativa, imprensa livre, e que ninguém e
nenhum poder consegue impor pensamento único e ideias estapafúrdias.
Aí entramos na Saúde. As posições de Bolsonaro sobre isolamento social,
aglomerações, máscaras e cloroquina deixaram de ser só chocantes para
cair num terreno onde perigo e ridículo se misturam.
Os militares, se reagiram mal ao uso da expressão “genocídio”, sabem que
o ministro do STF Gilmar Mendes tem razão ao alertar para a associação
da imagem das Forças Armadas com uma política que custa vidas e é
recriminada no mundo inteiro. É preciso bater em retirada de uma guerra
perdida – e que não é sua – para a covid-19. Enquanto é tempo.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo