Em depoimento à Lava Jato, executivo da Odebrecht diz que Luís
Cláudio recebeu propina da empreiteira por meio de sua empresa
Touchdown Promoções
REFÚGIO CONVENIENTE: O filho de Lula ao lado de dirigentes do Juventud de Las Piedras, time uruguaio no qual vai trabalhar
Enquanto as autoridades brasileiras investigam indícios de que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter uma mansão não
declarada em Punta Del Este, no Uruguai, o filho mais novo dele se
adiantou e já arrumou um emprego no país vizinho. Luís Cláudio Lula da
Silva se articulou e conseguiu receber uma proposta de um clube de
futebol da primeira divisão uruguaia, o Juventud de Las Piedras, para
trabalhar nas categorias de base. Aceitou o pouco espontâneo convite e
foi apresentado como novo reforço em um evento do clube no último dia
18. Mas o motivo por trás da sua ida para o Uruguai pode não ter nada a
ver com esporte. Segundo apurou ISTOÉ, além de estar comprometido em
investigações da Operação Zelotes, Luís Cláudio aparece na delação de
executivos da Odebrecht. O caçula de Lula foi acusado por Alexandrino de
Alencar, ex-diretor da empreiteira, de receber propina por meio de sua
empresa Touchdown Promoções e Eventos Esportivos. Antes de chegar à
conta da empresa de Luis Cláudio, o dinheiro enviado pela Odebrecht
receberia antes o carimbo da Cervejaria Petrópolis, que é sócia da
empreiteira no mercado financeiro. A propina viria de uma conta fora do
País, onde a Odebrecht fazia o depósito, segundo Alexandrino.
Nada mais conveniente para o filho de Lula como sair de cena – ou
ainda melhor, do País – no momento em que o cerco se fecha em torno
dele. A contratação de Luís Cláudio pelo Juventud de Las Piedras foi
possível por meio de um vínculo entre o clube e a Organização das Nações
Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês),
vinculada à ONU. O presidente do clube, Yamandú Costa, esclareceu que o
brasileiro vai atuar em projetos desportivos e sociais do time. No
Brasil, ele já havia trabalhado em clubes como Corinthians e Palmeiras.
Em entrevista a um portal de notícias do Uruguai, Luís Cláudio afirmou
que ainda não tinha definido se vai levar de uma vez toda sua mudança
para o país vizinho. “Estamos considerando as possibilidades de viver
aqui ou continuar no Brasil, viajando frequentemente”, disse.
Propina para Luís Cláudio viria de uma conta fora
do País, onde a Odebrecht efetuava depósitos
Mesmo distante do País natal, o caçula não deverá ser esquecido pelas
autoridades brasileiras tão cedo. Além dos relatos dos delatores da
Odebrecht, que o atingem em cheio, os pagamentos à sua empresa estão
sendo destrinchados pela equipe que conduz a Operação Zelotes, composta
por procuradores do Ministério Público Federal, policiais federais e
auditores da Receita. Há suspeita de que recursos pagos à empresa de
Luís Cláudio por um lobista possam ter sido propina para obter
favorecimentos no governo federal, mas os investigadores ainda buscam
identificar de que forma o filho de Lula poderia atuar pelos empresários
dentro do governo. A investigação ainda está em andamento e corre sob
sigilo. Segundo a PF, ele pode ter sido favorecido pelo pai, o
ex-presidente Lula, na contratação de sua empresa LFT Marketing
Esportivo para prestar consultoria ao lobista Mauro Marcondes. O
trabalho rendeu ao professor de Educação Física aproximadamente R$ 2,4
milhões entre 2014 e 2015. Os pagamentos foram detectados durante a
quebra dos sigilos de Luís Cláudio e da empresa dele no período de 2009 a
2015. Sua defesa argumenta que os serviços foram efetivamente prestados
e que não houve irregularidades.
Em novembro, o MPF denunciou 16 pessoas na Zelotes sob acusação de
envolvimento na compra de medidas provisórias do governo federal. A
força-tarefa responsável pelo caso aponta a prática de crimes como
corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro, organização criminosa e
extorsão. Entre os denunciados estão os proprietários da Marcondes e
Mautoni Empreendimentos, Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, que
chegaram a ser presos. Na acusação, o MPF descreve que a atuação dos
dois sempre foi no sentido de patrocinar “interesses de particulares
junto ao Estado” e indica que eles agiram ilegalmente com o objetivo de
obter benefícios tributários para o setor automotivo. O juiz Vallisney
de Souza Oliveira condenou nove dos acusados, dentre eles Marcondes.
Fonte: Isto É