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sexta-feira, 1 de março de 2019

Moro quer ser o chefe de Bolsonaro

O ex-juiz realizou o sonho que o PT, partido estruturado, tentou e não conseguiu

O Partido da Polícia (Papol) arreganha os dentes. É composto por setores do Ministério Público, da PF, do Judiciário e, agora se sabe, da Receita Federal. E já ameaça abocanhar o calcanhar de Jair Bolsonaro. Fiquem atentos! Os eventos deletérios já estão em curso, e a reforma da Previdência, vital para a sobrevivência política do presidente, também é território de luta.
Sergio Moro quer o poder total. Será que o Messias, que não é de todo desprovido do dom da profecia, está disposto a resistir? Basta que tenha nomeado para o Ministério da Justiça alguém indemissível "ad nutum", se me permitem a graça. Afinal, Moro fica até quando quiser; uma só vontade é suficiente para isso: a sua. O ex-juiz está empenhado agora em fazer o nome que vai substituir Raquel Dodge na Procuradoria-Geral da República em setembro. Compõem a sua lista pessoal José Robalinho Cavalcanti, presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), e Deltan Dallagnol, dublê de procurador, coordenador da Lava Jato e youtuber.
Com a transferência do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que Bolsonaro nem sabia direito o que era, para a pasta de Moro, o ex-juiz realizou o sonho que o PT, como um partido solidamente estruturado, tentou e não conseguiu: aparelhar todas as instâncias do Estado de repressão ao crime e investigação. E o doutor sabe o que fazer com o Coaf, o DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), com a própria PF e com parcelas consideráveis do Ministério Público Federal, das quais não se distingue. Mas o que quer Moro?
Reproduzo, a título de resposta, uma mensagem de Rosangela Wolff Moro, mulher do ministro, publicada no dia 8 de fevereiro no Instagram: "Já estou iniciando HOJE campanha para 2022. Vamos anotando no nosso caderninho". Ela encerra a sua antecipação de agenda com "#foraquemnãopensanobrasil". Em lugar do nome do país, vem uma bandeirinha. Escrito de outro modo: "Brasil, pense nele ou deixe-o". Ela aproveitou a oportunidade para dar um pito nos políticos, exortando-os a trabalhar. Quem tem medo de Rosangela Wolff? Se eu fosse Bolsonaro, teria.

Se Moro obtiver também o controle terceirizado da PGR, o fato de o presidente não poder demiti-lo será a menor das sujeições. E o assédio é grande. Robalinho, por exemplo, colou-se a Onyx Lorenzoni, hoje chefe da Casa Civil, quando este, deputado federal (DEM-RS), foi feito relator das ditas "Dez Medidas Contra a Corrupção". Escalado para escoimar as porra-louquices fascistoides que lá estavam, Lorenzoni tornou-se seu entusiasta e porta-voz. Quanto a Dallagnol, contenta-se, por enquanto, em ser cabo eleitoral do presidente da ANPR, que é a entidade de caráter sindical (!) que promove a eleição, que não está prevista na Constituição, da lista tríplice entregue à Presidência da República.
O jogo é pesado. Robalinho já comandou dois motins de procuradores contra Dodge. Um deles conta com a adesão de Dallagnol, da procuradora Thaméa Danelon, da Lava Jato em São Paulo, e do procurador regional da República José Augusto Vagos, também da operação, mas no Rio. Tão logo veio a público a proposta de reforma da Previdência, o presidente da ANPR se juntou a seus congêneres de associações de entidades da elite do funcionalismo para atacar o texto. Uma leitura óbvia da Lei Complementar 75 informa que é preciso ser subprocurador-geral da República para ser titular da PGR. Não é o caso nem de Robalinho nem de Dallagnol. Mas lei é coisa do passado, de quando procurador não era youtuber...
Vazamentos de investigações irregulares promovidas na Receita têm como alvo ministros de tribunais superiores, entre outros. Os delatores da OAS, como viram, fizeram mira, entre outros, em Rodrigo Maia(DEM-RJ), presidente da Câmara. Sem ele, a reforma da Previdência nem sai da estação. E, a depender das insatisfações do Papol, a família Bolsonaro pode ou não virar suco. Ainda bem que alguém pensa no futuro: Rosangela já deu início à campanha de 2022. A propósito: se o marido dessa visionária disse alguma coisa em defesa da reforma da Previdência, eu não li.
O Papol arreganha os dentes. Ou, se quiserem, lá vai um clichê da zoologia política que continua a fazer sentido: "Cría cuervos, y te sacarán los ojos".
 
Reinaldo Azevedo - Folha de S. Paulo 


 

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Quem tem medo do Lobo Mau? Mulher de Moro deixa Instagram depois de expressar inconformismo com liberdade de imprensa

A mulher de Sérgio Moro, a advogada Rosangela Wolff Moro, é tão, vamos dizer assim, buliçosa como o marido, cujo espaço de atuação é o tribunal, mais especificamente a 13ª Vara Federal de Curitiba, um verdadeiro palco de seus heterodoxias jurídicas e da Lava Jato se o vivente decide levar em conta irrelevâncias como a Constituição, o Código Penal e o Código de Processo Penal, esses diplomas legais que, a levar a sério os zurros da direita xucra, existem apenas para atrapalhar a verdadeira Justiça. O PT também já chegou a achar isso quando vivia seus dias de glória. Fascistas de esquerda e de direita só divergem quanto aos fins, mas jamais quanto aos meios. Se o marido é um astro na 13ª Vara, Rosangela Wolff é uma “causona”, como diz a molecada, nas redes sociais.

Ela tinha uma página no Facebook de apoio ao marido, onde emitia algumas opiniões políticas, especialmente retransmitindo mensagens de terceiros que endeusavam o “esposo” e sentavam a pua na política e nos políticos. Decidiu fechá-la em novembro. Chamava-se: “Eu MORO com ele”. O “moro” era escrito todo em maiúsculas para chamar a nossa atenção para o duplo sentido. Ao extingui-la, temos um trocadilho a menos no mundo, o que faz bem à sanidade intelectual. Gosto, em particular, do “ele” para se referir ao marido porque é como Deus é chamado na linguagem bíblica: “Ele”. Afinal, dar um nome a Deus é reduzir o seu poder. Daí que seja o Altíssimo, por perífrase, “Aquele que não tem nome”. Como esquecer as camisetas “IN MORO WE TRUST”? Em suma, Deus! E, ora vejam, Deus chegou até a gravar alguns vídeos para a página de sua senhora.

A opiniática Rosangela Wolff Moro tinha ainda um perfil no Instagram. Nesta terça, decidiu fechá-lo também, depois de ter feito uma malcriação com a imprensa.
Who’s afraid of wolf?
Wh’os afraid of Rosangela Wolff?
Na peça de Edward Albee, sobrava um “o”: “Who’s afraid of Virginia Woolf?”
Nem todo trocadilho lustra a infâmia, rsss.

Doutora Rosangela sempre deu ampla divulgação nas redes sociais às mesuras que a imprensa costuma dispensar ao marido. Afinal, como sabemos, os jornalistas “trust in Moro”, siga ele a lei ou não. “Trust in Moro”, condene ele com provas ou sem provas. “Trust in moro”, mas nem tanto na Constituição, no Código Penal e no Código de Processo Penal. Quando o juiz, então, trata advogados de defesa aos tapas e pontapés, a crença atinge aquele ar de devoção de Santa Teresa de Ávila diante do Cristo. Já li textos em que os colunistas consideram insultuoso que o defensor de um réu conteste o juiz.

Pois bem! Rosangela Wolff estava acostumada com a imprensa como um verdadeiro cordeiro do seu Deus. Bastou que esta noticiasse que seu marido recebe auxílio-moradia, embora more com ela num confortabilíssimo apartamento próprio, e a senhora Wolff passou a ver os jornalistas como um bando de lobos. Em sua conta no Instagram, publicou a imagem de um jornal amassado embrulhando um cacho de bananas. Desfocado, vê-se o logotipo de Folha de S. Paulo, veículo que primeiro publicou a informação.


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