Amigo da onça de Temer, Geddel informa
que estenderá a Lula mão que pode afundar chefe: é tolo ou traíra?
O ministro da Secretaria
de Governo e responsável pela articulação politica de Michel Temer, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA),
informou que vai procurar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que
este ajude o governo a buscar saídas para a atual crise política e econômica do
país. Em entrevista a Erich Decat, publicada domingo pelo Estadão, Geddel,
que foi ministro do petista, disse: “Não
tenho nenhuma dificuldade de diálogo com o ex-presidente e tenho certeza de
que, passado esse momento de emoção, o Lula, na condição de ex-presidente,
haverá de dar sua contribuição para o distensionamento”.
A
proposta do articulador do novo governo é uma ideia de jerico e a entrevista, um desastre do começo ao fim. Demonstra, acima de tudo, completo desconhecimento da
alma do ex-chefe e atual adversário, da natureza humana em geral e, em
particular, da estratégia de combate político dele. O
ex tem dado diariamente provas de que não merece mais a definição de gênio –
nem mesmo de craque – da política com que já foi designado, inclusive pelo autor
destas linhas, várias vezes.
Ao contrário, a forma como
tem atuado, principalmente ao longo do
segundo governo de sua afilhada, escolhida e protegida, tem desmanchado fio a fio a teia em que enredou seu presente,
as chances de seu Partido dos
Trabalhadores (PT) e, sobretudo, o futuro de todos os que lhes estão próximos.
Dar a mão de
vencedor ao derrotado, neste momento, é se oferecer ao abraço do afogado.
Por inabilidade ou sede de protagonismo, que terminou demonstrando que não
merece, o baiano só pode é criar
embaraços para o novo chefe, do qual deveria receber dura reprimenda. Caso
não o desautorize publicamente, o presidente em exercício dará sinais de falta
de comando sobre a própria equipe, o que na atual conjuntura poderá tornar-se
até fatal para ele.
Uma
aulinha banal de História precisa ser dada ao ministro, que, inebriado pelo poder, ao que
parece, nem se lembra de fatos recentes, que se tornarão o epílogo de um relato
que já começa por mostrar a falta de equilíbrio, oportunidade e sensatez do
palpite infeliz.
Quando
era presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, hoje do
ABC, nos anos 70, e depois das greves
que liderou na virada para os 80, foi sugerido a Lula um gesto de conciliação
que lhe daria, ainda antes de começar
sua carreira política, uma chance de ouro de entrar para a História do país
pelo portão da frente. O general Golbery
do Couto e Silva, então chefe da Casa Civil do último governo da ditadura
militar, sob a chefia do general João Figueiredo, mandou o então presidente
do diretório paulista do partido do governo em São Paulo, Cláudio Lembo, pedir
o apoio do arcebispo dom Paulo Evaristo cardeal Arns e de Lula à anistia dos
exilados políticos brasileiros. Dom
Paulo estendeu a mão, mas o dirigente sindical recusou-se a imitá-lo.
Seu gesto foi tão
brusco e surpreendente que o presidente Figueiredo imaginou que o bruxo da “Sorbonne” – como então era conhecida a Escola Superior de Guerra (ESG) – podia estar mentindo. Pediu ao maior
adversário de Golbery no Palácio do Planalto, o chefe do Serviço Nacional de
Informações (SNI), general Octavio Aguiar de Medeiros, que mandasse um agente a São Paulo só para conferir. O então major
Gilberto Zenkner encontrou-se com o líder operário num apartamento do
jornalista Alexandre Von Baumgarten, na Liberdade, e ouviu dele próprio a confirmação de que não apoiaria a anistia porque
não admitia, depois, obedecer a
ordens dadas por asilados que estavam no “bem bom” enchendo a cara da melhor produção de
vinho francês, em Paris.
Lula,
que já atendera a pedido mais difícil de ser atendido de Golbery ─
de desalojar seu arqui-inimigo Leonel Brizola das bases sindicais ─, manteve-se alheio aos ex-guerrilheiros até
que estes aceitaram fundar sob seu comando o Partido dos Trabalhadores. O PT nasceu da fusão desses militantes desarmados com católicos
de esquerda (que Nelson Rodrigues
chamava de “padres de passeata”) e sindicalistas
independentes em relação a comunistas ou pelegos do PTB. Mas sob a égide
de um líder acima de todos – ele mesmo, claro.
Foi
nesta condição que participou da campanha pelas diretas já e da construção dos
alicerces da Nova República,
depois da derrota da emenda Dante de Oliveira na Câmara. No entanto, expulsou do partido três deputados da bancada petista – Airton Soares, Bete Mendes e José Eudes –
que ousaram desobedecer à sua ordem de
não votar em Tancredo Neves.
Porque, a seu ver,
este e o adversário, Paulo Maluf, seriam “iguais”. Isso não o impediria de, depois,
levar seu ungido para a Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, aos jardins
da casa daquele que chamava de “filhote
da ditadura”, na
disputa política para fazer de seu “poste”
prefeito paulistano.
Tancredo
morreu, o vice, José Sarney, assumiu a Presidência e Lula foi eleito
constituinte.
Participou das sessões, teve seus votos computados, mas resolveu proibir que os constituintes petistas
assinassem a Constituição dita “cidadã”,
presidida por Ulysses Guimarães. Depois,
convencido pelo presidente da
Constituinte, do PMDB e da Câmara dos Deputados à época, além de eminência
parda de Sarney, assinou a Carta tão discretamente que
até hoje há quem diga e escreva que ele não o fez.
Também
nunca fez questão de confirmar nem desmentir esse recuo, do qual ele parece não se ter
arrependido, apesar de hoje, na luta para manter na Presidência a sua sucessora,
Dilma Rousseff, defendê-la com empenho que o próprio dr. Ulysses nunca teve. Ou
pelo menos nunca o demonstrou. Derrotado por Fernando Collor de Mello na
primeira eleição presidencial direta após 31 anos, participou ativamente da deposição dele, mas ficou na
oposição ao mandato-tampão do mineiro nascido em águas do mar baiano.
E condenou ao expurgo do PT a ex-prefeita de
São Paulo, Luiza Erundina, que aceitou chefiar o órgão que cuidava da
administração pública no governo que o partido ajudou a tornar viável, mas ao
qual não quis dar sustentação. Há uma explicação para isso: só lhe interessava
chegar ao topo da República por qualquer razão, sem ter de se aliar com
ninguém, mas podendo se reservar o poder de fazer vassalos em vez de aliados e
inimigos no lugar de adversários.
Nada
há que indique que ele tenha mudado agora. Depois de seus dois mandatos e de ter escalado a substituta
para mais dois, enquanto a maior organização criminosa da História pilhava os cofres
públicos, e flagrado por descuido, ambição e arrogância, ele tenta emergir
do naufrágio da grei, agarrado à tábua de salvação do mito do melhor presidente
da História do Brasil. Construiu o muro
da vergonha que divide os “brancos
opressores da elite” e os “pardos
pobres e oprimidos”. Destilou ódio, fragmentou a
Nação, as famílias e as instituições apenas para tentar reconstruir a própria
utopia pessoal nas ruínas da maior crise moral, econômica e política de todos
os tempos. Inventou o golpe “parlamentar
e jurídico” da burguesia, que estão depondo sua protegida. Seus compadres também falidos da
Sul-América bolivariana fingem que acreditam nele, até porque também
levaram os próprios povos à bancarrota.
Içado do poço lulodilmista por Temer, Geddel promete puxar o
ex-presidente encrenqueiro pra cima.
Isso na certa implicará afundar o chefe bonachão. Dizem que Lula bebe. Mas é Geddel quem fica tonto. Será tolo ou traíra?
Publicado no Blog do Nêumanne