A irmã Danielle foi uma das reféns no
ataque à igreja e conseguiu fugir para pedir ajuda, após dois terroristas
degolarem o padre
A freira que conseguiu fugir
de uma igreja católica em Saint-Étienne-du-Rouvray, na França, onde dois
homens haviam feito reféns contou que os terroristas obrigaram o padre a se ajoelhar e o
degolaram enquanto filmavam o crime. Os
homens falavam árabe e declararam agir em nome do Estado Islâmico
(EI), de acordo com irmã Danielle.
O padre Jacques Hamel, de 84 anos, foi
degolado após dois homens armados com faca invadirem a paróquia em que
trabalhava em Saint-Etienne-du-Rouvray, na Normandia, nesta terça-feira (26)
(Foto: AFP)
Em entrevista à emissora de
rádio RMC, a freira explicou que os
assassinos ordenaram ao padre, às duas irmãs e aos dois fiéis que estavam
dentro da igreja para ficarem juntos. Apesar das súplicas dos reféns para
que não cometessem o assassinato, eles não hesitaram em nenhum momento. Os homens forçaram
o sacerdote Jacques Hamel, de 86 anos, a se ajoelhar e quando este tentou se
defender, “começou o drama”, segundo a freira. “Gravaram em vídeo. Fizeram uma espécie de
sermão em árabe em torno do altar. Foi horroroso”, contou Danielle.
A
irmã, que era uma das reféns, conseguiu fugir no momento em que os terroristas atacaram o sacerdote e
pediu socorro a uma pessoa que passava de carro pela rua da igreja. Os dois responsáveis pelo crime foram
mortos pela polícia francesa ao saírem da igreja, pouco antes 11h da manhã
(6h no horário de Brasília) desta terça-feira. Além de Hamel, um dos reféns ficou
gravemente ferido e está “entre a vida e
a morte”, segundo fontes policiais.
De acordo com fontes ligadas
à investigação, um dos criminosos já “era
fichado pelos serviços antiterroristas”. O
indivíduo tentou viajar à Síria em 2015 e, ao voltar à França através da
Turquia, foi colocado em prisão preventiva, acusado de associação a uma
organização terrorista. O homem foi libertado com a condição de usar
uma pulseira eletrônica.
Um
padre morreu degolado nesta terça-feira em uma pequena igreja no noroeste da
França, em um novo
ataque reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), que deixa o país novamente
em choque, menos de duas semanas depois de um atentado em Nice. “Os
criminosos da igreja da Normandia são soldados do Estado Islâmico que
realizaram o ataque em reposta a chamados para atacar países da coalizão
internacional que combate o EI no Iraque e na Síria”, informou a Amaq, um órgão
de propaganda do grupo extremista.
O
ataque, no qual ocorreu uma tomada de reféns, começou às 09h30 (04h30 de Brasília) em plena missa. Cinco pessoas estavam
nesta igreja de Saint-Etienne-du-Rouvray, uma localidade na Normandia de 29.000
habitantes a 125 quilômetros de Paris, quando dois criminosos entraram no local
ao grito de “Allah Akbar!” (Deus é grande), segundo uma testemunha. Os
agressores foram abatidos ao sair da igreja por membros da Brigada de Busca e
Intervenção (BRI), especializada em sequestros, que teriam cercado o
templo.
“Pensava
que (os atentados) ocorriam apenas nas grandes cidades e que nunca poderiam chegar
até nós”, reagia,
incrédula, Joanna Torrent, funcionária de uma loja de Saint-Etienne-du-Rouvray. Três reféns foram
libertados sãos e salvos e um quarto, um paroquiano, estava entre a vida e a
morte.
O padre
degolado se chamava Jacques Hamel e tinha 84 anos.
O papa Francisco
expressou “dor e horror” por este “assassinato bárbaro”, indicou o
Vaticano em um comunicado. “Estamos
particularmente abalados por esta violência horrível ocorrida em uma igreja, um
lugar sagrado no qual se anuncia o amor de Deus”, afirma a nota. A Casa Branca também condenou “nos termos mais firmes” o ataque e
ofereceu sua ajuda na investigação do crime. “França e Estados Unidos têm um compromisso
comum de proteger a liberdade religiosa (…) e a violência de hoje não abalará este
compromisso”, declarou em um comunicado Ned Price, porta-voz da presidência
americana.
Esta
tomada de reféns ocorre em um contexto de alerta máximo na França, doze dias depois de um atentado em
Nice (sudeste), reivindicado pelo EI e que deixou
84 mortos e mais de 300 feridos. O
presidente francês, François Hollande, que se dirigiu imediatamente ao local do
crime, condenou este “ataque terrorista
vil”. “Estamos diante de um grupo, Daesh, que nos declarou guerra. Devemos
desenvolver esta guerra, por todos os meios, respeitando o direito, porque
estamos em uma democracia”, acrescentou. A procuradoria antiterrorista assumiu imediatamente a investigação e um
homem foi detido preventivamente poucas horas depois do ataque.
Críticas da
oposição
O
primeiro-ministro, Manuel Valls, expressou seu horror por este “ataque bárbaro contra uma Igreja”. “Toda a França e todos os
católicos estão feridos. Permaneceremos juntos”, escreveu no Twitter. Valls
havia advertido há uma semana que a França deveria se preparar para ser alvo de
“outros atentados”.
Como era esperado, a oposição
aproveitou a ocasião para criticar o governo. “Devemos mudar profundamente a dimensão, a medida, a estratégia de
nossas respostas”, declarou o ex-presidente e líder da oposição Nicolas
Sarkozy, denunciando “uma ação incompleta
contra o terrorismo”. Além disso, insistiu na iniciativa de criar centros
de detenção para os suspeitos de radicalização. “Devemos ser implacáveis”, afirmou.
A
presidente do partido de extrema-direita Frente Nacional (FN), Marine Le Pen,
denunciou no Twitter a “responsabilidade
(…) imensa” de “todos os que nos
governam há 30 anos”. A França, que
foi alvo de três ataques de grande porte nos últimos 18 meses – 17 mortos em janeiro de 2015, 130 mortos em 13 de novembro
deste ano e 84 mortos no dia 14 de julho – vive afundada no medo de
novos ataques.
O “reino da
Cruz”
Depois do ataque em
Nice, a França estendeu por seis meses o estado de emergência, em vigor desde os atentados
terroristas de 13 de novembro de 2015 em Paris.
Este regime dá à polícia poderes adicionais. Em sua propaganda e seus
comunicados de reivindicação, o grupo Estado Islâmico convoca a atacar os
líderes “cruzados” ocidentais e o “reino da Cruz”. A ameaça de um ataque contra um local de culto cristão estava na mente de
todos na França, sobretudo depois
que um projeto de atentado contra uma igreja católica nos arredores de Paris em
abril de 2015 foi abortado.
Após
este projeto de atentado,
o governo havia anunciado que adaptaria seu dispositivo
de luta antiterrorista aos locais de culto católicos. Cerca
de 700 escolas e sinagogas judaicas, assim como entre 1.000 e 2.500 mesquitas,
estão protegidas por militares, mas parece difícil aplicar estas mesmas medidas de segurança
nas 4.500 igrejas católicas do país.
Fonte:
EFE e AFP