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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O conselho pedagógico da Odebrecht

A empreiteira diz que quer andar pelo bom caminho, falta o governo perceber que a Lava-Jato melhorou o Brasil

Uma das melhores notícias de 2015 foi a prisão de Marcelo Odebrecht. Ela coroava a colheita de maganos que se consideravam donos do Brasil e foram mandados para as celas de Curitiba pela Lava-Jato. Uma das boas notícias de 2017 foi o anúncio, pela Odebrecht, da criação de um conselho para educar a cúpula da empresa em questões de ética e sustentabilidade.

Serão dez pessoas, cinco das quais estrangeiras. Um, Jermyn Brooks, presidiu a Transparência Internacional, respeitada ONG de vigilância contra larápios, e membro do conselho ético da Siemens alemã. Lynn Paine é professora da Harvard Business School, com diversos livros publicados, cuidando de boa administração e da moralidade. Antes da Lava-Jato, as empreiteiras achavam que pessoas como Brooks e Payne eram inconvenientes sonhadores, mas vida e a cadeia fizeram com que mudassem de opinião.

Dos cinco brasileiros, dois pertencem aos quadros da empresa. Com experiência no setor público, só o ex-ministro Rubens Ricupero, que já pertence ao conselho de administração da empreiteira. [já esqueceram o peculiar senso de transparência do ex-ministro Rubens Ricúpero: 
"Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde"
Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, em 01/09/1994, em conversa nos bastidores da TV com o jornalista Carlos Monforte, captada por antenas parabólicas de telespectadores antes de entrar ao vivo no Jornal da Globo]

Esses conselheiros são pessoas que não colocariam seus nomes na vitrine para que a Odebrecht fizesse apenas um lance de propaganda. A instituição foi concebida com nome em inglês, Global Advisory Council, e vai se chamar Conselho Global da Odebrecht. Muita farofa e pouca carne, porque o grupo não terá poderes deliberativos.

Serão sonhadores convenientes. Seria adequado chamá-lo de conselho pedagógico, o que já é alguma coisa. A Operação Lava-Jato mudou a história do país, levando os diretores de grandes empreiteiras a confessar suas malfeitorias. A revisão das normas de conduta das empresas foi inaugurada pela Camargo Corrêa, e só o tempo dirá a eficácia dessas iniciativas moralizadoras. Uma coisa é certa, nenhuma delas está fazendo o que fazia. A Camargo também foi a primeira a criar uma diretoria para cuidar do respeito às leis e à moral. Faltou-lhe sorte, pois escolheu um executivo da Embraer que se viu acusado de pingar propinas na venda de aviões para a República Dominicana.

O processo de regeneração das grandes empreiteiras foi provocado pela ação de uma pequena parte do Poder Judiciário e do Ministério Público. Fora daí, houve um certo apoio da imprensa, e só. Os partidos políticos, as guildas patronais e até mesmo as centrais sindicais ficaram neutros-contra.  A má notícia está no Palácio do Planalto. Por duas vezes, a Procuradoria-Geral da República pediu à Câmara licença para processar Michel Temer por corrupção. Dois de seus ministros estão denunciados junto ao Supremo Tribunal Federal. Outros dois estão presos. Um deles, Geddel Vieira Lima, tinha um cafofo onde guardava R$ 51 milhões.

Temer colocou Pedro Parente na presidência da Petrobras e Paulo Rabello de Castro na presidência do BNDES. São pessoas a quem se entregaria a chave de um cofre mas, olhando-se para primeiro escalão de Temer, não se pode entregar a chave do carro a qualquer ministro. Enquanto as empreiteiras procuram mostrar que se regeneraram, o procurador Carlos Fernando dos Santos informa: “O governo Temer está fazendo, pouco a pouco, o que o governo Dilma queria, mas não conseguiu: destruir a Lava-Jato e toda a esperança que ela representa. (...) Em nenhum momento a Lava-Jato esteve tão a perigo quanto agora". [o que não pode acabar são as instituições Polícia Federal e Procuradoria- Geral da República; a Lava Jato, apesar de sua eficiência, é apenas uma operação conjunto da PF, PGR e JF - operação que como todas operações tem como principal característica a temporariedade.]

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo