Nota rebaixada pode ser
apenas o começo
Sem ajuste fiscal, por incompreensões no
Legislativo e no Judiciário, é impossível a avaliação do Brasil não piorar, o
que deflagra vários outros fatos negativos
A sirene
de alerta disparada quinta-feira pelo rebaixamento da nota do Brasil pela
Standard & Poor’s (S&P), maior agência mundial de avaliação de risco,
precisa ser ouvida em especial pela classe política. Ao mover o Brasil do nível
de “BB” para “BB-”, colocando-o na companhia de Bangladesh e República
Dominicana, na verdade os avaliadores da S&P fazem uma convocação à
reflexão: o que políticos, magistrados, altos servidores públicos em geral,
eleitores querem para o país?
Continuam
sendo emitidos sinais de que mais forte que tudo é a cultura da manutenção de
privilégios na máquina pública e da ideia ilusória, desinformada de que o
Tesouro é capaz de continuar a bancar custos em elevação na máquina pública,
sem consequências. Algo delirante. Apesar do
quadro fiscal assustador, de uma penada, o ministro do Supremo Ricardo
Lewandowski suspendeu medidas necessárias para o ajuste fiscal, como o não
reajuste dos servidores federais este ano e o aumento da sua contribuição previdenciária
(como vários estados já fizeram e estão fazendo). [quando o 'coisa ruim' do Lula obrigou os servidores públicos aposentados a contribuírem para o INSS, a justificativa era que resolveria a crise - todos vemos o quanto resolveu;
quando criaram a CPMF (qualquer hora alguém lembra dela) iria resolver todos os problemas da saúde e mais alguns de outras áreas (sabemos o quanto resolveu);
falam em adiar o reajuste dos servidores federais (só o reajuste Executivo) para resolver o problema e todos sabemos que não vai resolver - o percentual do reajuste é inferior a 5% e só alcança o Executivo.
O primeiro passo para TALVEZ ter êxito na solução da crise é deixar que o presidente da República exerça suas atribuições.
O Congresso, pela resistência as reformas, está sendo acusado de ser um dos fatores que pesaram na avaliação da S&P.
Tudo bem, só que perguntamos. Que credibilidade a Standard & Poor’s confere a um País, regime presidencialista, cujo presidente não consegue governar, mesmo seguindo os ditames da Constituição Federal?
Temos um presidente da República que baixa um INDULTO NATALINO - ato rotineiro todo final de ano - e o STF suspende!
nomeia um ministro, alguém não gosta, vai ao Judiciário e um magistrado suspende a nomeação!
o presidente edita uma MP para privatização de uma estatal desnecessária, alguém não gosta, vai ao Judiciário, e a MP é suspensa!
E todas essas decisões são proferidas sem análise do mérito. O caso da Eletrobras mesmo, quem avalia a urgência ou não, é o Congresso.
Pessoal, uma Nação cujo presidente não consegue praticar os atos de Governo mais simples, rotineiros, tal Nação tem CREDIBILIDADE ZERO.
Deixem o Temer governar e quando chegar primeiro de janeiro 2019, partam para cima dele com força total: processem, julguem, prendam e joguem a chave fora, mas, até lá deixem ele governar.
O mandato dele acaba em onze meses e alguns dias, ele, se deixarem que governe, talvez consiga CONTINUAR MELHORANDO as coisas, caso não deixem, SÓ VAI PIORAR para o Brasil e para os brasileiros - especialmente os menos favorecidos.]
Ainda na
esfera do Judiciário, anteontem o juiz da 6ª Vara da Justiça Federal em
Pernambuco, Cláudio Kitner, criou problemas para a tramitação da privatização
da Eletrobras. Percalços desse tipo acompanham também o processo de venda da
Cedae ao setor privado. Assim,
interesses corporativistas se impõem à racionalidade, via Judiciário, além de
já estarem bem representados no Congresso, que ainda resiste a iniciar a
reforma da Previdência, um dos fatores que pesaram na avaliação da S&P.
Não há
mesmo como não reduzir notas de risco do Brasil, o que não acontece sem
desdobramentos negativos para o país e suas empresas. Ontem, várias foram
rebaixadas, além do Rio de Janeiro, estado e cidade. Não adianta
maldizer as agências, mesmo que tenham péssima folha corrida, construída da
crise asiática, em fins dos anos 1990, quando não perceberam a fragilidade dos
bancos da região, à explosão da bolha imobiliária americana, em 2008/9, estopim
de grave recessão mundial, em que foram sócias do embuste do refinanciamento de
hipotecas “pobres” por bancos. Não adianta maldizê-las, porque elas continuam
balizando grandes investidores (bancos, fundos etc).
A duas
semanas e meia da volta dos trabalhos no Congresso, parlamentares podem tentar
compreender o que acontece com um país em crise fiscal estrutural e que se
recusa ao ajuste: fuga de capitais, consequente elevação do câmbio, volta da
inflação elevada, juros em ascensão. Somando-se
tudo, tem-se recessão, desemprego, perda de poder aquisitivo da população. É
isto que a falta de sensatez em Casas Legislativas e tribunais semeia.
Infelizmente,
o rebaixamento da nota do país pela S&P, a ser seguido por outras agências,
pode ser apenas a primeira de uma série de más notícias.
Editorial - O Globo