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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

O conselho pedagógico da Odebrecht

A empreiteira diz que quer andar pelo bom caminho, falta o governo perceber que a Lava-Jato melhorou o Brasil

Uma das melhores notícias de 2015 foi a prisão de Marcelo Odebrecht. Ela coroava a colheita de maganos que se consideravam donos do Brasil e foram mandados para as celas de Curitiba pela Lava-Jato. Uma das boas notícias de 2017 foi o anúncio, pela Odebrecht, da criação de um conselho para educar a cúpula da empresa em questões de ética e sustentabilidade.

Serão dez pessoas, cinco das quais estrangeiras. Um, Jermyn Brooks, presidiu a Transparência Internacional, respeitada ONG de vigilância contra larápios, e membro do conselho ético da Siemens alemã. Lynn Paine é professora da Harvard Business School, com diversos livros publicados, cuidando de boa administração e da moralidade. Antes da Lava-Jato, as empreiteiras achavam que pessoas como Brooks e Payne eram inconvenientes sonhadores, mas vida e a cadeia fizeram com que mudassem de opinião.

Dos cinco brasileiros, dois pertencem aos quadros da empresa. Com experiência no setor público, só o ex-ministro Rubens Ricupero, que já pertence ao conselho de administração da empreiteira. [já esqueceram o peculiar senso de transparência do ex-ministro Rubens Ricúpero: 
"Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde"
Rubens Ricupero, então ministro da Fazenda, em 01/09/1994, em conversa nos bastidores da TV com o jornalista Carlos Monforte, captada por antenas parabólicas de telespectadores antes de entrar ao vivo no Jornal da Globo]

Esses conselheiros são pessoas que não colocariam seus nomes na vitrine para que a Odebrecht fizesse apenas um lance de propaganda. A instituição foi concebida com nome em inglês, Global Advisory Council, e vai se chamar Conselho Global da Odebrecht. Muita farofa e pouca carne, porque o grupo não terá poderes deliberativos.

Serão sonhadores convenientes. Seria adequado chamá-lo de conselho pedagógico, o que já é alguma coisa. A Operação Lava-Jato mudou a história do país, levando os diretores de grandes empreiteiras a confessar suas malfeitorias. A revisão das normas de conduta das empresas foi inaugurada pela Camargo Corrêa, e só o tempo dirá a eficácia dessas iniciativas moralizadoras. Uma coisa é certa, nenhuma delas está fazendo o que fazia. A Camargo também foi a primeira a criar uma diretoria para cuidar do respeito às leis e à moral. Faltou-lhe sorte, pois escolheu um executivo da Embraer que se viu acusado de pingar propinas na venda de aviões para a República Dominicana.

O processo de regeneração das grandes empreiteiras foi provocado pela ação de uma pequena parte do Poder Judiciário e do Ministério Público. Fora daí, houve um certo apoio da imprensa, e só. Os partidos políticos, as guildas patronais e até mesmo as centrais sindicais ficaram neutros-contra.  A má notícia está no Palácio do Planalto. Por duas vezes, a Procuradoria-Geral da República pediu à Câmara licença para processar Michel Temer por corrupção. Dois de seus ministros estão denunciados junto ao Supremo Tribunal Federal. Outros dois estão presos. Um deles, Geddel Vieira Lima, tinha um cafofo onde guardava R$ 51 milhões.

Temer colocou Pedro Parente na presidência da Petrobras e Paulo Rabello de Castro na presidência do BNDES. São pessoas a quem se entregaria a chave de um cofre mas, olhando-se para primeiro escalão de Temer, não se pode entregar a chave do carro a qualquer ministro. Enquanto as empreiteiras procuram mostrar que se regeneraram, o procurador Carlos Fernando dos Santos informa: “O governo Temer está fazendo, pouco a pouco, o que o governo Dilma queria, mas não conseguiu: destruir a Lava-Jato e toda a esperança que ela representa. (...) Em nenhum momento a Lava-Jato esteve tão a perigo quanto agora". [o que não pode acabar são as instituições Polícia Federal e Procuradoria- Geral da República; a Lava Jato, apesar de sua eficiência, é apenas uma operação conjunto da PF, PGR e JF - operação que como todas operações tem como principal característica a temporariedade.]

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Sócio de acionista da Camargo Correia diz: "levei mala de dinheiro para Lula"

“Levei mala de dinheiro para Lula”

Ex-sócio de Fernando de Arruda Botelho, acionista da Camargo Corrêa morto em acidente aéreo há cinco anos, Davincci Lourenço diz à ISTOÉ que ele foi assassinado e que o crime encobriu um esquema de corrupção na empresa. O ex-presidente petista, segundo ele, recebeu propina para facilitar contrato com a Petrobras

 A TESTEMUNHA-BOMBA Davincci Lourenço de Almeida diz que ordem partiu de Fernando Botelho, da Camargo Corrêa

 O personagem que estampa a capa desta edição de ISTOÉ chama-se Davincci Lourenço de Almeida. Entre 2011 e 2012, ele privou da intimidade da cúpula de uma das maiores empreiteiras do País, a Camargo Corrêa. Participou de reuniões com a presença do então presidente da construtora, Dalton Avancini, acompanhou de perto o cotidiano da família no resort da empresa em Itirapina (SP) e chegou até fixar residência na fazenda da empreiteira situada no interior paulista. A estreitíssima relação fez com que Davincci, um químico sem formação superior, fosse destacado por diretores da Camargo para missões especiais. Em entrevista à ISTOÉ, concedida na última semana, Davincci Lourenço de Almeida narrou a mais delicada das tarefas as quais ficou encarregado de assumir em nome de acionistas da Camargo Corrêa: o transporte de uma mala de dinheiro destinada ao ex-presidente Lula. “Levei uma mala de dólares para Lula”, afirmou à ISTOÉ. É a primeira vez que uma testemunha ligada à empreiteira reconhece ter servido de ponte para pagamento de propina ao ex-presidente.
 O Lula ia ajudar a vender o produto para a Petrobras? 
- Ajudar a vender o produto para a Petrobras. É.

Ele não soube precisar valores, mas contou que o dinheiro foi conduzido por ele no início de fevereiro de 2012 do hangar da Camargo Corrêa em São Carlos (SP) até a sede da Morro Vermelho Táxi Aéreo em Congonhas, também de propriedade da empreiteira. Segundo o relato, a mala foi entregue por Davincci nas mãos de um funcionário da Morro Vermelho, William Steinmeyer, o “Wilinha”, a quem coube efetuar o repasse ao petista. “O dinheiro estava dentro de um saco, na mala. Deixei o saco com o dinheiro, mas a mala está comigo até hoje”, disse. Dias depois, acrescentou ele à ISTOÉ, Lula foi ao local buscar a encomenda, acompanhado por um segurança. “Lula ficou de ajudar fechar um contrato com a Petrobras. Um negócio de R$ 100 milhões”, disse Davincci de Almeida. 


A atmosfera lúdica do desembarque de Lula na Morro Vermelho encorajou funcionários e até diretores da empresa a posarem para selfies com o ex-presidente. De acordo com Davincci, depois que o petista saiu com o pacote de dinheiro, os retratos foram pendurados nas paredes do hangar. As imagens, porém, foram retiradas do local preventivamente em setembro de 2015, quando a Operação Lava Jato já fechava o cerco sobre a empreiteira. Na entrevista à ISTOÉ, Davincci diz que o transporte dos dólares ao ex-presidente não foi filho único. Ele também foi escalado para entregar malas forradas de dinheiro a funcionários da Petrobras. Os pagamentos, segundo ele, tiveram a chancela de Rosana Camargo de Arruda Botelho, herdeira do grupo Camargo Corrêa. “O Fernando me dizia que a “baixinha”, como ele chamava Rosana Camargo, sabia de tudo”, disse Davincci.

A imersão de Davincci no submundo dos negócios, não raro, nada republicanos tocados pela Camargo Corrêa foi obra de Fernando de Arruda Botelho, acionista da empreiteira morto há cinco anos num desastre aéreo. Em 2011, Davincci havia virado sócio e uma espécie de faz-tudo de Botelho. A sintonia era tamanha que os dois tocavam de ouvido. Foi Botelho quem lhe disse que a mala que carregava teria como destino final o ex-presidente Lula: “A ordem do Fernando Botelho era entregar para o presidente. Ele chamava de presidente, embora fosse ex”. Numa espécie de empatia à primeira vista, os dois se aproximaram quando Arruda Botelho se encantou com uma invenção de Davincci Lourenço de Almeida: um produto revolucionário para limpeza de aviões, o UV30. O componente proporciona economias fantásticas para o setor aéreo. “Com apenas cinco litros é possível limpar tão bem um Boeing a ponto de a aeronave parecer nova em folha. Convencionalmente, para fazer o mesmo serviço, é necessário mais de 30 mil litros de água”, afirmou Davincci.

 (...)

 Acidente ou assassinato?
As negociatas também foram reveladas em depoimento ao promotor José Carlos Blat, do Ministério Público de São Paulo, que ouviu Davincci em quatro oportunidades. Blat encaminhou os depoimentos à força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba. À ISTOÉ, o promotor disse acreditar que a Camargo Corrêa possa ter usado Davincci como “laranja”. Outro trecho bombástico da denúncia de Davincci à ISTOÉ, reiterado ao Ministério Público, remonta ao acidente fatal sofrido pelo empresário Fernando Botelho no dia 13 de abril de 2012, durante um voo de demonstração, a bordo de um T-28 da Segunda Guerra Mundial, a empresários africanos, com os quais o acionista da Camargo havia negociado o UV30 em viagem à África dias antes. Segundo Davincci, Botelho foi assassinado. O avião, de acordo com ele, foi sabotado numa trama arquitetada pelo brigadeiro Edgar de Oliveira Júnior, assessor da Camargo e um dos gestores das propriedades da empreiteira. Conforme o depoimento, convencido de que o brigadeiro havia lhe dado um aplique, depois de promover uma auditoria interna, Botelho o demitiu na manhã do acidente durante uma tensa reunião, regada a gritos, socos na mesa e bate-bocas ferozes, testemunhada por diretores da Camargo. “O Fernando foi assassinado e o crime tramado pelo brigadeiro Edgar. O avião foi sabotado”, assegura o químico.

Uma sucessão de estranhos acontecimentos que cercaram a tragédia chamou a atenção do Ministério Público. Por exemplo: o caminhão de bombeiros comprado por Botelho exatamente para atender a eventuais emergências no aeródromo de sua propriedade estava trancado no hangar. “Tive que jogar meu carro contra a porta para estourar os cadeados. Peguei o caminhão e fui para o local. Ao chegar lá, as chamas estavam tão altas que não pude chegar muito perto”, afirmou Davincci. Mas o então sócio de Arruda Botelho se aproximou o suficiente para conseguir resgatar o GPS, que havia se descolado da parte externa da aeronave. Porém, o aparelho, essencial para municiar as investigações com informações sobre o voo, não pôde ser conhecido pelas autoridades, segundo Davincci, a pedido do brigadeiro Edgar. “Ele tomou o aparelho das minhas mãos, dizendo que poderia ficar ruim para a família se entregássemos à investigação, e ainda me obrigou a mentir num primeiro depoimento à delegacia”. Com a morte de Fernando de Arruda Botelho, o brigadeiro acabou não tendo seu desligamento da empreiteira oficializado. Já o ex-sócio, desde então, enfrenta um calvário. “Sofri 11 ameaças de morte”, contou.


Motivado pelos depoimentos de Davincci, o caso que havia sido arquivado pela promotora Fernanda Amada Segato em março de 2013 foi reaberto em setembro do ano passado por ordem da promotora Fábia Caroline do Nascimento. As novas investigações estão a cargo do delegado José Francisco Minelli. “Estou na fase da oitiva das testemunhas”, disse à ISTOÉ o delegado. Dois dos quatro irmãos de Fernando de Arruda Botelho, Eduardo e José Augusto, suspeitam de que pode ter havido mais do que um acidente. “Vou ajudar a descobrir a verdade sobre o que aconteceu. Mas um conhecido ligado ao Exército procurou meu irmão (José Augusto) para dizer que estavam convencidos que não foi acidente”, disse Eduardo Botelho em mensagem, ao qual ISTOÉ teve acesso, enviada em janeiro para Davincci.

Ler na IstoÉ Matéria Completa

 

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Choque de delações podem enfraquecer credibilidade da Lava Jata; provocar choq será função atribuída a Sérgio Machado pelo PT?

Delação de Machado põe em xeque colaboração da Camargo Corrêa

Executivos correm risco de perder benefícios, se ficar comprovado que esconderam fatos

A Procuradoria-Geral da República poderá chamar alguns empreiteiros que fizeram delação premiada e nada disseram sobre o envolvimento das empresas administradas por eles com pagamentos de propinas citados pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Caso fique comprovado que eles mentiram ou omitiram informações relevantes para proteger determinados políticos, poderão perder em parte ou todos os benefícios obtidos a partir das delações.

O Ministério Público Federal deverá deliberar sobre o assunto antes de definir os pedidos de inquéritos que serão enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF) com base nas denúncias apresentadas por Machado. Na delação, ele citou os nomes da Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e Odebrecht como empresas que desviaram dinheiro de contratos com a Transpetro para pagar propinas a políticos.

Entre os executivos que podem ser atingidos pela delação de Machado estão Dalton Avancini e Eduardo Leite, respectivamente ex-presidente e ex-vice-presidente da Camargo.

Em depoimentos ao Ministério Público Federal ainda na primeira fase da Operação Lava-Jato, Avancini e Leite reconheceram crimes atribuídos a eles pelos investigadores, e falaram sobre desvios na Eletronuclear e na usina de Belo Monte. Porém, deixaram de fora os dutos da propina da Transpetro.

Segundo Machado, a Camargo atendeu a vários pedidos dele para repassar dinheiro de origem ilegal para políticos, incluindo o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ex-ministra Ideli Salvatti (PT-SC) e o ex-deputado Cândido Vacarezza (PT-SP).  Machado disse que, a partir de transações intermediadas por ele, a Camargo repassou R$ 500 mil a Vacarezza em 2012 e R$ 500 mil a Ideli em 2010. Disse também que a Camargo contribuiu com R$ 350 mil para financiar o projeto de Aécio de eleger pelo menos 50 deputados nas eleições de 1998 e, com isso, garantir-lhe apoio a na Câmara. “A Camargo ajudava fortemente e sempre foi um grande doador nas campanhas tucanas”, disse Machado. Nas delações de Avancini e Leite não fariam referência aos fatos relatados por Machado.

MARCELO ODEBRECHT NEGOCIA DELAÇÃO
Em outro depoimento, Machado disse que a Lumina Resíduos, ligada à Odebrecht, pagou R$ 500 mil ao senador Valdir Raupp (PMDB) em 2012. O dinheiro também teria como origem contratos entre a empresa e a Transpetro. Machado ainda listou repasses da Queiroz Galvão e Galvão Engenharia para políticos de diversos partidos, a seu pedido. Na lista de Machado, a Queiroz Galvão surge como uma das maiores fontes de propinas a políticos.


Executivos da Queiroz Galvão já teriam iniciado negociação para um acordo de delação. Mas não está claro se houve avanço nessa negociação. O ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht e outros executivos da empresa estão em processo de delação.

Machado citou outras empresas com menos visibilidade na Lava-Jato, mas que agora podem ser levadas ao centro das investigações. Entre elas, está a JBS que, segundo o ex-presidente da Transpetro, teria repassado R$ 40 milhões ao PMDB, a partir de um pedido do PT.
A revisão de eventuais delações não seria uma novidade na Lava-Jato. O lobista Júlio Camargo precisou refazer depoimentos para detalhar pagamento de propina ao deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Num primeiro momento, Camargo confessou a prática de vários crimes, mas nada disse sobre Cunha. Quando foi descoberta a omissão, ele voltou a depor e detalhou repasses que resultaram na abertura de processo e afastamento de Cunha da presidência da Câmara.

Fonte: O Globo


segunda-feira, 6 de junho de 2016

A turma da Zelotes deve ouvir a de Curitiba

Três orquídeas do andar de cima caíram no noticiário da Operação Zelotes

O presidente do Bradesco, Luiz Trabuco, foi indiciado pela Polícia Federal, que o acusa de ter articulado a recuperação de R$ 3 bilhões em créditos tributários por meio de maquinações no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

A Justiça Federal aceitou uma denúncia semelhante contra Joseph Safra, fundador e dono do banco com seu nome. Com um patrimônio estimado em US$ 18 bilhões, ele é um dos homens mais ricos do Brasil. André Gerdau, presidente da centenária metalúrgica de sua família, com operações em 14 países, caiu na mesma rede, foi levado para depor na Polícia Federal e viu-se indiciado sob a acusação de armar o cancelamento de autuações no valor de R$ 1,5 bilhão cobrado pela Receita Federal.

Essa novela começou em 2014, quando a PF desarticulou quadrilhas de advogados e ex-auditores da Receita que vendiam serviços a empresas que deviam ao Fisco e recorriam legalmente ao Carf. Desde então, todas as empresas negam tudo.

As acusações deverão passar pela prova do juízo. A denúncia contra Safra tem pelo menos um argumento risível, quando relaciona o valor da dívida (R$ 1,5 bilhão) ao capital do banco (R$ 4,3 bilhões). Trabuco é acusado de ter cumprimentado os quadrilheiros que, mais tarde, mencionam-no numa conversa interceptada.

No centro da questão está o trabalho de um grupo de veteranos vendedores de decisões do Carf e grandes empresas que tiveram contato com eles. Na Petrobras havia quadrilhas saqueando a companhia. No Carf havia quadrilhas achacando empresas para lesar a Viúva. Essa diferença torna incompreensível a postura virginal da turma que caiu na Zelotes.

Elas negam tudo, mas não se entende por que conversavam com os atravessadores, conhecidos desde o século passado. Replicam a soberba das empreiteiras que até o final de 2014 negavam tudo. A casa caiu quando a Camargo Corrêa passou a colaborar com a Viúva, e hoje há fila de maganos na porta do Ministério Público oferecendo-se para colaborar com o juiz Sérgio Moro. Se as empresas achacadas (ou procuradas por malfeitores) colaborarem com a Justiça, todo mundo ganha, inclusive elas e seus executivos.

Fonte: Elio Gaspari, jornalista

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Não basta uma nota fiscal

Há uma questão ética com as palestras de Lula: ele não é só o ex-presidente, mas o líder de um partido que permanece no governo

Dia desses, perguntaram ao ex-presidente Lula quanto ele cobrava por palestra. Ao seu estilo, meio de brincadeira, meio bravo, ele disse que era fácil saber: bastava contratá-lo. Contato com a LILS Palestras Eventos e Publicidade. Pois agora é oficial: por conferência no exterior, Lula cobra R$ 375 mil. Pelo menos foi o que recebeu da Camargo Corrêa.

A informação saiu primeiro em um relatório da Polícia Federal, no âmbito das investigações da Lava-Jato. E foi confirmada pela assessoria do ex-presidente: a empresa LILS recebeu R$ 1,5 milhão da Camargo Corrêa em três parcelas, de 2011 a 2013 — a título de patrocínio de quatro conferências no exterior.  Considerando-se o mercado internacional de ex-chefes de Estado, pode-se dizer que está muito bem pago. É verdade que Bill Clinton já recebeu até US$ 700 mil por palestra, mas foram casos claramente excepcionais. No mais das vezes, o ex-presidente americano cobra US$ 100 mil — ou cerca de R$ 310 mil ao câmbio de hoje, até menos do que Lula faturou naqueles quatro eventos.

Isso, antes de mais nada, mostra que Lula de fato se tornou uma estrela internacional de primeira grandeza. [em termos de uso para lavagem de dinheiro as palestras do Lula superam as de Bill Clinton ou qualquer outro estadista - já, em termos de conteúdo, se anotadas em papel, teriam excelente destinação em Cuba e Venezuela, países que sofrem com a falta de papel higiênico.]  Seu governo, especialmente no primeiro mandato e início do segundo, teve uma feliz combinação: política econômica ortodoxa, reduzindo inflação e dívida pública, amplos programas sociais e um boom da economia mundial puxado pelos altos preços das comodities. Boa macroeconomia e distribuição de renda — eis a marca que Lula construiu. E que se mostrou um capital valioso no circuito global de palestras. É uma das vantagens do capitalismo, transformar prestígio, experiência política, conhecimento em dinheiro vivo.

No mercado, ganhar dinheiro não é feio. Além disso, ressalte-se, Lula não é investigado na Lava-Jato. Os pagamentos apareceram na investigação sobre a empreiteira, esta sim envolvida na operação. Portanto, tudo certo com o ex-presidente?  Mais ou menos. Sendo rigoroso, como se deve ser com um líder político dessa envergadura, há perguntas a fazer.

De certo modo, as mesmas que a imprensa americana tem feito a Bill Clinton. Ocorre que ele não é apenas ex-presidente, mas marido de Hillary, que ocupou o cargo de secretária de Estado no governo Obama, e é candidatíssima a presidente dos EUA. Assim, quem contrata Bill podia e pode estar querendo mais do que ouvir uma boa conversa. 

Especialmente se o contratante for um governo ou uma empresa com interesses dependentes de ações da Casa Branca. Qual a resposta para isso? Clinton, o marido, respondeu com transparência. Ampla demonstração sobre as palestras — como, quando, onde, para quem — e prometeu não mais trabalhar para quem pudesse ter interesse na campanha de Hillary.
A mesma questão ética e política se aplica a Lula. Não é apenas o ex-presidente, mas o líder de um partido que permanece no governo, sobre o qual ele exerce notória influência. 

Além disso, o contratante conhecido neste caso, a Camargo Corrêa, tem notórios interesses neste governo e na sua política. E fez doações ao PT e ao Instituto Lula. É por isso que não bastam os contratos e as notas fiscais dadas pela empresa LILS contra os pagamentos da empreiteira. Ok, foram pagamentos formais e legais, mas: para quem foram as palestras? Onde? Quem mais patrocinou? Governos? Empresas? Quais? Em quais circunstâncias?

E ainda: teria havido também serviços de representação que muitos chamam de lobby — para a Camargo Corrêa em outros países?  A empresa de José Dirceu, por exemplo, afirma ter feito esse tipo de trabalho para a mesma Camargo Corrêa e outras empreiteiras. Já houve tempo em que a Justiça brasileira entendia que um documento formal explicava e justificava tudo. Tanto era assim que boa parte das propinas pagas na Lava-Jato foi nessa forma, mediante notas fiscais e contratos de prestação de serviços. O pessoal tomava cuidados legais.

Mas, depois do mensalão e, entre outras coisas, da teoria do domínio do fato, é preciso mais do que uma nota fiscal, mesmo eletrônica.

PAGANDO DOIS PECADOS
Não há dúvida: o ajuste fiscal é o aspecto mais doloroso de uma política econômica ortodoxa, ou de direita, se quiserem.

Também não há dúvida: o forte aumento de impostos é o aspecto mais doloroso de uma política de esquerda baseada no gasto público, conhecida como “taxar e gastar”.

Pois acontece que estamos sofrendo as duas dores. O enorme desastre feito nos últimos anos exige um ajuste fiscal conservador. Para “compensar” esse passo à direita, o PT quer compensar com um giro à esquerda, na forma de um monte de novos impostos, a começar pela CPMF. É o que dá não termos partidos com programas. O eleito quer acertar com todos os lados e acaba atrapalhando todo o país.

Por: Carlos Alberto Sardenberg é jornalista - O Globo

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Lula agora é investigado pela Lava Jato



Sujou? Doações de R$ 4,5 milhões da Camargo Corrêa colocam Lula no rol de investigados pela Lava Jato
Há muito tempo que todo mundo já sabe que a Força Tarefa da Operação Lava Jato tem todos os elementos para envolver o santo nome de Luiz Inácio Lula da Silva nos processos envolvendo o "clube" de empreiteiras que roubou não só a Petrobras - mas outras estatais ainda sequer investigadas, com a mesma modelagem de negociatas.

Só duas grandes dúvidas persistem no mercado da politicagem: 1) Em que momento Lula será indiciado? 2) Haverá coragem política suficiente para pedir a prisão de um ainda influentíssimo ex-Presidente da República? A primeira tem altíssima chance de ocorrer. A segunda, não, principalmente no Brasil do jeitinho, da conciliação e da impunidade.

Fato concreto é que ontem a "oposição" de mentirinha e os inimigos de Lula puderam comemorar a divulgação de uma notícia mais que esperada. A Construtora Camargo Corrêa pagou R$ 3 milhões ao Instituto Lula e outros R$ 1,5 milhão à LILS Palestras Eventos e Publicidade. A grande bobagem cometida pelos contadores da empreiteira, para desespero de Lula, é que a grana não aparece como uma mera doação, que teria até ares de legalidade. Além de estarem listados como "contribuições e doações", em 2012, os pagamentos também foram registrados com a suspeitíssima rubrica de "Bônus Eleitorais".

 Como Lula não disputou qualquer eleição municipal, o tal bônus tem efeito pior que batom na cueca da amante achada pela esposa traída nas vésperas do Dia dos Namorados.

A descoberta tende a ser fatal para Lula e para o PT por um motivo muito simples: A Camargo Corrêa foi a única que fez doação semelhante para o "ilustre palestrante" Lula ou para o instituto dele? O Ministério Público Federal, a partir de várias delações premiadas, já tem indícios de que a resposta é negativa: outras empreiteiras também deram dinheiro a Lula. A grande expectativa no mercado da politicagem é pela divulgação de que outras grandes contribuições vieram da maior transnacional privada brasileira, a Odebrecht. Esta é a "surpresa" que falta, já que se tornou público que a OAS bancou as obras do apartamento triplex de Lula no Guarujá (SP).

Pior que um soneto mal escrito é a versão do Instituto Lula alegando que "deve ser algum equívoco" da contabilidade da Camargo Corrêa sobre os pagamentos a Lula: "O Instituto Lula não prestou nenhum serviço eleitoral, tampouco emite bônus eleitorais, o que é uma prerrogativa de partidos políticos". A assessoria do Presidentro nega que os pagamentos tenham qualquer relação com contratos da Petrobras e ressalta que "essas doações e pagamentos foram devidamente contabilizados, declarados e recolhidos os impostos devidos". A Camargo Corrêa garante que as contribuições ao Instituto Lula referem-se a apoio institucional e ao patrocínio de palestras do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no exterior.

O caso de Lula ganha repercussão mundial. A Polícia Federal anexou os pagamentos de R$ 4,5 milhões feitos a Lula pela Camargo Corrêa ao inquérito que apura a participação da empresa e de seus executivos no esquema de corrupção. De acordo como o laudo, entre 2011 e 2013. A construtora informou à Receita Federal que pagou R$ 1,5 milhão a LILS Palestras, Eventos e Publicidade. A empresa foi criada pelo ex-presidente após a sua saída do Planalto e era responsável pelos contratos de palestras e eventos feitos por Lula no Brasil e no exterior.

Não foi só Lula o beneficiado. A empreiteira repassou R$ 183 milhões a políticos, em doações legais feitas pela empresa a campanhas eleitorais de diversos partidos, entre eles o PT, PMDB, PP e PSDB. A empresa JD Consultoria, de José Dirceu (que agora reclama que ele, Lula e Dilma estão no mesmo saco), recebeu R$ 900 mil da construtora. A empresa recebeu R$ 900 mil da Camargo Corrêa. A empreiteira pagou também R$ 3,5 milhões a empresa de Pedro Paulo Leoni Ramos. O político foi ministro no governo Collor é um dos investigados na Lava-Jato suspeito de intermediar o pagamento de propina ao senador alagoano. A Camargo pagou também para Costa Global, do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, o delator premiado Paulo Roberto Costa.

Enquanto nada efetivamente acontece com Lula, ele continua livre, leve e soltinho da Silva, fazendo negócios pelo mundo afora, como "consultor" e palestrante, e político falante... A diferença é que aumentou a impopularidade daquele que, até outro dia, era um mito inquestionável da politicagem tupiniquim. A coisa está tão feia que Lula já não pode mais viajar em avião comercial, sem levar vaias. Também foi obrigado a se mudar do apartamento de São Bernardo do Campo para uma luxuosa casa no condomínio Swiss Park, na mesma cidade do ABC paulista, para não ser alcançado pela bronca popular...

Assim a sonhada sucessão presidencial de 2018 fica cada vez complicada e inviabilizada para ele...

terça-feira, 26 de maio de 2015

Vaccari propôs a empreiteira quitar dívida com doação ao PT, diz ex-executivo



Segundo ex-vice-presidente da Camargo Corrêa, construtora teria "dívidas oriundas de propina" com o partido
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, preso na Operação Lava Jato, propôs à Camargo Corrêa que a empreiteira efetuasse o pagamento de “dívidas oriundas de propina” por meio de doações legais ao partido. A afirmação foi feita hoje (26) pelo ex-vice-presidente da empresa Eduardo Hermelino Leite em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras.  “No segundo encontro que tivemos, ele [Vaccari] disse que estávamos em débito com o pagamento de propina à Diretoria de Serviços e me ofereceu quitar a dívida por meio de doações oficiais ao PT”, contou Leite. “Tive ‘n’ encontros com o Vaccari”, acrescentou.

À época, a diretoria de Serviços era comandada por Renato Duque. Duque e Vaccari são réus em ações penais decorrentes da Lava Jato, acusados de lavagem de dinheiro. De acordo com o empreiteiro, a proposta de Vaccari foi levada à diretoria da Camargo Corrêa, que não aceitou mudar a forma do pagamento de propina.

Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Padim Lula: da unção à maldição



Ricardo Pessoa, ex-engenheiro da OAS e empreiteiro da UTC, foi escalado na seleção dos “campeões mundiais” ungidos com as bênçãos do padim Lula de Caetés.

Egresso de uma carreira anônima de executivo da construtora baiana, cujo dono era genro de um figurão da República nos anos JK, na ditadura militar, na Nova República e no mandarinato tucano, Antônio Carlos Magalhães, o ACM – dependendo das circunstâncias, Toninho Malvadeza ou Ternura –, subiu na vida como um foguete. E caiu ao fundo do pré-sal acusado de chefiar um cartel que demoliu o patrimônio e a credibilidade da joia da coroa estatizada brasileira, no qual dava cartas para os ex-patrões da OAS e outros figurões carimbados da construção civil nacional: Camargo Corrêa e Odebrecht, entre eles. 

Subida ao céu e descida aos infernos sob a égide do padroeiro. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, filhos de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, que em 1953 abriu a Casa de Carnes Mineira, um pequeno açougue em Anápolis (GO), adotaram as iniciais do nome do pai, JBS, para denominar um grupo que, no século 21, passou a ser o maior processador de proteína animal do mundo, com 152 mil empregados. Para recorrer a uma metáfora futebolística, tão ao gosto do padim, é como se a Anapolina, cuja torcida chama de xata (com x mesmo), decolasse da Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol para ganhar o título mundial contra Barcelona ou Juventus de Turim, não importa.

Há, contudo, uma diferença capital entre os Batistas e Pessoa: enquanto este usa uma tornozeleira para não sair de casa, os goianos comemoram, ano após ano, lucros fabulosos. O máximo de incômodo pode ter sido a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de exigir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) abra o sigilo, que tem mantido teimosamente, sobre as vultosas quantias a que a instituição pública se tem associado em suas conquistas no Brasil e alhures. O estouro da boiada, de Consuelo Dieguez, na Piauí, conta como.

Se o TCU não encontrar nada de errado nas relações entre empresa particular e banco estatal, a não ser generosidade de compadre, a esta altura do campeonato restará a constatação de que os filhos de Zé Mineiro serão privilegiados também pelo fato de o ouro do esperto alquimista de Caetés não ter virado cinzas. Mas o clã mineiro em Goiás nunca será acusado de esbanjar, pois tem multiplicado cada centavo da “viúva” injetado. Ao contrário de Eike Batista, filho de Eliezer, o badalado gestor da Vale estatal que operou o “milagre” da transformação de metal precioso em porcaria, reduzindo a pó todos os papagaios de notas de dólar que empinou e tornando uma herança de mandarim um festival de falências.

Já houve quem dissesse que o melhor negócio do mundo é um poço de petróleo bem administrado e o segundo melhor, um poço de petróleo mal administrado. Eike desafiou essa lei do mercado, mas não passou de um golden boy num ringue de pesos pesados. Se é verdadeiro o grave conteúdo das delações premiadas coletadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e que têm merecido atenção e aprovação do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, a ex-maior empresa brasileira, a estatal Petrobrás, despencou do alto de desempenho e reputação invejáveis no mundo para o fundo dos próprios poços na profundeza dos mares, em caixa, patrimônio e credibilidade.

Um dos presos na investigação, antes condenado no escândalo do mensalão, o ex-deputado Pedro Corrêa disse à CPI da Petrobrás que o ex-presidente Luiz Inácio só não foi preso porque ninguém teve coragem de fazê-lo. No depoimento, ele delatou: “Lula achava que o Paulo deveria ser diretor de Abastecimento”. O delator recorreu ao testemunho de um morto, José Janene, mas não faltam vivos que se lembrem do carinho com que Lula tratava seu afilhado de “Paulinho”.

Essa talvez seja a única explicação razoável para o desabafo que o dono do dedo que ungiu os “campeões mundiais” andou fazendo em Brasília na semana passada. De acordo com relato dos colegas Andreza Matais e Ricardo Brito, da sucursal de Brasília, publicado neste jornal no sábado, o ex “admitiu” que “não atravessa uma boa fase”. Duvida quem, como o autor destas linhas, frequentou sua casa na vila operária do Jardim Assunção e sabe que hoje o padim mora em apartamento de luxo na mesma cidade de São Bernardo. E tem garantido conforto para veraneios no Guarujá em apartamento tríplex que, segundo seus acusadores, foi concluído pela OAS para a Bancoop, que não tem um histórico muito católico de entregar vivendas que vendeu. Será exagero concluir que ele cospe na própria sorte? Talvez.

Mas uma parábola futebolística é muito adequada se se juntar o que se publica nas páginas de política, polícia e esportes hoje em dia. O Corinthians não sabe, nem tem, como pagar dívida de R$ 1,15 bilhão pelo estádio ainda sem nome que o BNDES ajudou a Odebrecht a construir para o time do coração de Lula. E este e vários dos ungidos por ele enfrentam dificuldades mais amargas do que a eliminação do ex-campeão mundial da Libertadores.

O MPF leva adiante investigação sobre o poder de indicar executivos heterodoxos para gerir dinheiro público de uma amiga íntima de Lula, Rosemary Noronha, que, nomeada por ele, chefiou o escritório da Presidência da República em São Paulo. Em Portugal, o ex-premier José Sócrates, preso, responde por suspeita de protagonizar o escândalo dos sanguessugas. No processo, o colega brasileiro é citado, e não pelo feito de ser autor do prefácio de seu livro sobre tortura.

Relatam os repórteres que o preocupa mais a eventual delação premiada de Pessoa, cuja empresa tinha há sete meses R$ 10 bilhões em contratos ativos com a Petrobrás. Se este contar por que chefiava os maiores tocadores de obras de Pindorama, aí, quem sabe, a vaca tussa e a porca torça o rabo.

Publicado no Estadão - JOSÉ NÊUMANNE