Pela
segunda vez em menos de um mês, centenas
de milhares de manifestantes, espalhados por mais de 500 municípios de 22
Estados e do Distrito Federal, saíram às ruas neste 12
de abril para condenar a corrupção impune e a incompetência endêmica, ambas institucionalizadas pelos governos
lulopetistas ─ e exigir o imediato despejo da presidente Dilma Rousseff. Em
qualquer paragem do planeta, tamanha onda de atos de protesto promovidos pela
oposição real (e agora majoritária)
seria um fato político de alta relevância.
É muito
mais que isso num Brasil em que só se vê multidão
ao ar livre no Carnaval, na parada gay, no réveillon ou nas grandes celebrações
evangélicas. Trinta anos depois da campanha pelas Diretas-Já, o Brasil decente
redescobriu a rua ─ e vai aprendendo que
esse é o caminho mais curto para o futuro. Duas mobilizações de grosso
calibre bastaram para chancelar a mudança de dono dos espaços urbanos
aparentemente expropriados pelo PT. As
ruas agora pertencem ao país que pena e presta. Passaram ao controle dos
incontáveis democratas unidos em torno de palavras de ordem: Fora Dilma! Fora
PT! Fora Lula! Fora corruptos!
Unificadas
as inscrições nos cartazes e faixas, integrantes dos
maiores grupos envolvidos na organização do movimento Impeachment, eles
vêm desmatando trilhas que contornam armadilhas e driblam tocaias com a
determinação de quem só admite descansar depois de atingidos os alvos
prioritários e lancetados os tumores que determinam a indignação coletiva.
Lá está
tudo o que tenho a dizer sobre mais um dia com alguns parágrafos já assegurados
nos livros que tentarão decifrar estes tempos estranhos. “Abril é o mais cruel dos meses”, avisa o poeta T. S. Elliot num
verso de The Waste Land. O primeiro
trimestre inteiro foi impiedoso com Dilma e seu partido, mas o quarto mês do
ano tem sido exemplarmente feroz. Nesta
sexta, o índice da inflação anual e a
taxa de desemprego passaram a rondar a fronteira dos dois dígitos. No
sábado, a constatação menos desoladora extraída da pesquisa Datafolha informou que o raquítico índice
de aprovação da governante à deriva não piorou. No domingo, os acólitos de Dilma e os devotos de Lula
quase sucumbiram a um surto de euforia ao saberem que
as manifestações de rua foram menos portentosas que as de 15 de março.
Talvez sejam apenas cínicos. Talvez
estejam homiziados num mundo imaginário. Em qualquer hipótese, os
incapazes capazes de tudo não entenderam nada, não aprenderam nada. Pior: os parceiros de bando nem desconfiam que agonizam brincando
com fogo.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes – VEJA