A
revista “Time” está com um problemão nas mãos. Como todos os anos, ela
está perto de anunciar quem será a “Person of the Year” (“Pessoa do
Ano”), como faz desde 1927 – até 1999, era o “Man of the Year”, vale
lembrar.Quem escolhe o vencedor oficial são os
editores da revista. Mas a “Time” também faz uma enquete entre os
leitores, que indica quem seria a “Pessoa do Ano” na votação popular. Normalmente,
os resultados são compatíveis com a linha editorial da revista e
complementares entre si: no ano passado, por exemplo, o título oficial
foi para a dupla Joe Biden - Kamala Harris, enquanto na enquete popular
quem venceu foram os trabalhadores da linha de frente contra a pandemia
de Covid-19.
Pois bem, a enquete de 2021 já está no
ar há mais de duas semanas e se aproxima do fim. Qualquer pessoa de
qualquer país pode votar, no site da revista. O site
apresenta 52 candidatos, e cada um aparece com um percentual de
aprovação/rejeição com base na pergunta: “Fulano deve ser a Pessoa do
Ano de 2021?” O leitor tem duas opções: “Yes” e “No”.
Pois
bem, no momento em que escrevo (manhã de domingo, 28/11), o candidato
com melhor desempenho na enquete é... Jair Bolsonaro. Ele tem 78% de
“Yes” e 22% de “No”. O segundo lugar é... Donald Trump, o fascista
reacionário ultradireitista que odeia os pobres e as minorias, que
aparece com 39% de aprovação. Alexey Navalny, ativista russo
anticorrupção, também se destaca com uma votação razoável.
Já os candidatos da lacração progressista do ódio do bem, do bom-mocismo fake e da falsa virtude de rede social aparecem com menos de 10% – como mostram as imagens abaixo, que acabei de printar:
Joe
Biden, o presidente gente boa, tem 7% de “Yes”; Mark Zuckerberg, o
todo-poderoso censor do Facebook, tem 3%, mesmo índice do democrático
presidente vitalício da China, Xi Jinping; Greta Thunberg, a salvadora
do planeta, tem 7%; o casal-lacração Príncipe Harry e Meghan Markle tem
7%; nem o boa-praça Papa Francisco consegue decolar: tem apenas 8% de
“Yes”. Celebridades do esporte e do entretenimento que aderiram ao
ativismo lacrador/cancelador também têm um desempenho medíocre.
Mas
como assim? Bolsonaro não é o político mais detestado do planeta, o
ditador fascista genocida heteronormativo reacionário ultradireitista
que tem 99% de rejeição do eleitorado brasileiro? Pois é, parece que
alguém está mentindo. Para desgosto de bastante gente, o mundo real é muito diferente do feed
das redes sociais e do noticiário da grande mídia. Vivemos uma época em
que a verdade e a mentira deixaram de importar: o que interessa é impor
aos demais a própria narrativa, por bem ou na grosseria mesmo.
Mas há momentos em que a realidade teima em negar as narrativas hegemônicas: a enquete da revista "Time" é um desses momentos. Mesmo
que os números da enquete ainda mudem, o resultado provisório é
revelador do abismo cada vez mais avassalador que separa a narrativa da
grande mídia – aí incluída a própria “Time” – e o mundo real, de pessoas
comuns, que não são ideologicamente motivadas.
O
problemão da “Time” é: como explicar aos seus leitores que os dois
políticos vendidos como os mais impopulares do planeta derrotem de forma
acachapante os candidatos “do bem” – um dos quais, seguramente, será a
“Person of the Year” do júri oficial?
Mas a verdade é
que isso só seria um problema se houvesse boa-fé e honestidade
intelectual por parte de quem tenta impor à sociedade as suas próprias
"verdades" e convicções. Muito provavelmente, o resultado da enquete
popular mal será noticiado, aparecendo, no máximo, como uma
inconveniente nota de rodapé.
No Brasil, agências de checagem se apressarão a encontrar uma forma de afirmar que a enquete é fake. E
a “galera do bem” rejeitará a enquete como “golpe” e desqualificará
qualquer pessoa que, mesmo sem votar em Bolsonaro, ouse citar seu
desempenho - já que, evidentemente, os responsáveis por essa votação
absurda foram robôs, ou os grupos de WhatsApp conhecidos como as “Tias
do Zap”.
Em
último caso, em nome da democracia e da liberdade de expressão, vão
pedir cancelamento, censura e cadeia para essa gente burra que insiste
em pensar e votar de forma diferente da deles. Onde já se viu?