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segunda-feira, 7 de março de 2016

Contra mártires e pela decência na política



Acho pouco oportuno levar Lula para depor no camburão com policiais armados. É dar palco para ele se fazer de vítima [o porte de arma é inerente a função policial e necessário tanto para proteger o próprio policial quanto a proteção do preso (no caso de Lula, na sexta-feira passada, o termo conduzido é mais apropriado) e também evitar tentativa de resgate.
Quanto ao Lula ser conduzido em camburão (o que não ocorreu, já que foi transportado em um S.U.V descaracterizado da PF) é apenas mera questão de tempo que isto se torne rotina, já que camburão é a viatura adequada para transportar criminosos. Lula, devido a idade, talvez seja poupado das algemas.]

É obsceno que representantes do povo usem mandatos para enriquecer ilicitamente e garantir mordomias vitalícias ou imunidade. Há décadas ouvimos dizer que Paulo Maluf está sendo investigado, processado e condenado - mas precisamos da Justiça francesa para encurralar um dos políticos mais caras-de-pau já produzidos pela República. Maluf está na lista de procurados da Interpol desde 2010, abrigado pela condescendência brasileira.

Um país que beneficia clãs como os Sarneys, com descendentes como a ex-governadora Roseana vivendo como filha de paxá, acumulando aposentadorias, pensões, subsídios e privilégios. Um país que reabilita figuras como Fernando Collor, impedido como presidente, mas anos depois amigo e cúmplice do "poder popular", abraçado a Lula. 

 [Collor nunca foi impedido; no transcorrer do processo de impeachment a conjuntura política levaria fatalmente ao seu  impedimento e para evitar ele renunciou e, posteriormente, foi absolvido pelo STF.
Só que os crimes dos quais Collor era acusado eram insignificantes quando comparados com o da atual mandatária, que circulou com desenvoltura tanto na área dos crimes de responsabilidade, quanto na área penal (estelionato eleitoral e fraudes na campanha.]

Num país assim, transformar o presidente da Câmara Eduardo Cunha em réu, por unanimidade no STF, deve ser motivo para celebrar. Num país assim, vir à tona o que os últimos presidentes Lula e Dilma fizeram é motivo para celebrar. Se for verdadeiro o depoimento de Delcídio do Amaral, não um mero doleiro mas o ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, foram crimes e mais crimes contra o povo, contra os recursos públicos, contra as prioridades de um país em desenvolvimento, contra o Orçamento e contra a democracia.

Os ventos estão a favor de mãos limpas. Espero que a Lava-Jato, a Procuradoria-Geral, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral e a Polícia Federal abram as asas sobre nós e não poupem aves ou tucanos de nenhuma plumagem, vermelha, verde ou amarela. E é sempre salutar começar por quem está nos Poderes. Federal, estaduais e municipais. Começar por quem manda! Por quem meteu o Brasil nesse buraco negro.

Que todos olhem para seu umbigo, suas contas e seu passado e se perguntem: recebi propina alguma vez? Lavei dinheiro? Roubei? Favoreci empresários em troca de doações? Empreguei amigos de amigos para ganhar favores? Traí meus eleitores e os deixei à míngua para beneficiar minha família e decuplicar o patrimônio dos que têm meu sangue? Por que me tornei político?

A sexta-feira foi um dia excelente para não tomar partido com paixão nas redes sociais e correr, assim, o risco de perder a razão. Achei pouquíssimo oportuno levar Lula para depor na Polícia Federal em Congonhas logo após a publicação do rol de denúncias de Delcídio do Amaral - que não confirmou nem desmentiu o conteúdo da reportagem exclusiva da IstoÉ.

De que adianta a Polícia Federal transformar o ex-presidente em mártir, quando na verdade ele não tem nada de vítima? Acho meio patético colocar Lula num camburão e juntar tantos homens armados para nada. E dar palco para ele fazer mais um discurso populista e se dizer ofendido? 

Lula tem muito a explicar ao país, ao eleitorado e ao partido sobre o depoimento devastador do senador do PT à Procuradoria-Geral da República, onde é acusado de agir como o pior dos mafiosos. Ou poderia ser tudo invenção de Delcídio? Tudo? O mais importante acabou ficando em segundo plano. Vamos deixar de lado os açodamentos.

Não torço pela prisão de Lula e Dilma nem por qualquer arbitrariedade ou show. Torço para que o Brasil deixe de ser ludibriado em nome de um projeto de poder que beneficia uma casta política e sindical, arrasa com a economia do país e pune sobretudo os destituídos e os jovens. Torço pela decência no exercício da política.

Fonte: Ruth de Aquino – Época