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quarta-feira, 5 de julho de 2017

A farra do boi

Lula e Dilma não davam um pio sem pedir a bênção do vice. Todo mundo sabe que Dirceu morria de medo de Temer


O país do carnaval foi salvo do marasmo pelo procurador-geral da banda. Isso aqui estava um tédio de dar dó. Depois do golpe de Estado que arrancou do palácio a primeira presidenta mulher, cuja quadrilha estava roubando honestamente sem incomodar ninguém, a sombra desceu sobre o Brasil. Um mordomo vampiresco entregou a Petrobras a um nerd que deixou os pais de família da gangue do Lula no sereno — extinguindo sumariamente o pixuleco, principal direito trabalhista conquistado na última década.

Mas não foi só isso. Além de arrancar a maior empresa nacional da falange patriótica de José Dirceu, o governo golpista da elite branca e velha deu um tranco na economia. Em pouco mais de um ano, estragou um trabalho de três mandatos presidenciais que levara o país a um recorde — a maior recessão da sua história. Enxotou do comando da tesouraria nacional todos aqueles cérebros amanteigados, e aí se deu o choque: inflação e juros caíram, dólar e taxa de risco idem. Uma tragédia.

Como se não bastasse, o mordomo começou a fazer as reformas estruturais que passaram 13 anos na geladeira do proselitismo coitado, que é o que enche a barriga do povo. Antes que o pior acontecesse — a retomada do emprego e do crescimento — apareceu Rodrigo Janot.  Mas não apareceu sozinho, que ele não é bobo e sabe que com elite branca e velha não se brinca. Veio com o caubói biônico do PT — aquele vitaminado por injeções bilionárias do BNDES, o brinquedo predileto do filho do Brasil. Só mesmo um caubói de laboratório teria a bravura suficiente para dizer ao país que comprou todo mundo e o culpado é o mordomo. A partir daí foi só alegria.

A dobradinha do procurador-geral da banda com o supremo tribunal companheiro nunca foi tão eficiente. A enxurrada de crimes da Lava Jato envolvendo atos diretos e indiretos de Dilma Rousseff passou dois anos morrendo na praia. Já a homologação da pegadinha do caubói caiu do céu como um raio. Aí o delator foi amargar o exílio no seu apartamento em Manhattan, deixando o país paralisado, mas feliz — como no carnaval.

Nesta revolução progressista, também conhecida como farra do boi, Joesley Batista apontou Michel Temer como o chefe da quadrilha mais perigosa do país. Os brasileiros já deviam ter desconfiado disso. Lula e Dilma não davam um pio sem pedir a bênção do vice. Todo mundo sabe que Dirceu morria de medo de Temer, e não deixava Vaccari, Delúbio, Valério, Duque, Bumlai, Palocci e grande elenco roubarem um centavo sem pedir a autorização do mordomo. Chegaram a pensar em denunciá-lo à Anistia Internacional, mas se calaram temendo represálias. Já tinham visto no cinema como os mordomos são cruéis.

Agora estão todos gratos ao caubói biônico, que por sua vez está grato ao procurador-geral da banda — e ao seu homem de confiança que saiu do Ministério Público para montar o acordo da salvação da boiada (sem quarentena, que ninguém é de ferro). O pacto que emocionou o Brasil, festejado nas redes sociais como Operação Free Boy, é um monumento à liberdade talvez só comparável à Inconfidência Mineira.  Nada seria possível sem o desassombro de Edson Fachin, o homologador-geral da banda. Um candidato a juiz capaz de circular no Senado a reboque do lobista de Joesley não teme nada.

O legal disso tudo, além de bagunçar esse governo recatado e do lar com mania de arrumação (a melhora dos indicadores estava dando nos nervos), foi ressuscitar o PT. Depois da delação de João Santana, o roteiro criminal sem precedentes elucidado por Sergio Moro se encaminhava para a prisão de Lula e Dilma — os presidentes do escândalo. Aí veio a farra do boi dizer ao Brasil que, na verdade, Lula e Dilma eram coadjuvantes do mordomo — quem sabe até laranjas dele. E o Brasil, como se sabe, crê.

Alegria, alegria. Zé Dirceu solto, Vaccari absolvido pela primeira vez na Lava Jato, pesquisas indicando aumento de aceitação ao PT! (Ok, é Datafolha, mas o Brasil crê). E você achando que não viveria para ver rehab de bandido. O auge da poesia foi o lançamento da denúncia de Janot em capítulos, como uma minissérie. Alguns especialistas classificaram-na como “inepta” (ou seja, a cara do pai), mas estão enganados. A denúncia de Janot é apenas um lixo. Quem gosta de inépcia é intelectual.

A alegação de corrupção passiva, por exemplo, é uma espécie de convite à investigação do Cade. Só faltou escrever “tem coisa estranha ali…” Um estudante de Direito poderia achar que quem denuncia sem apurar está cambaleando entre a negligência e a falsidade ideológica. Algum jurista na plateia?  Farra do boi não tem jurista. Tem quadrilha dançando em torno da fogueira de mais uma greve geral cenográfica, porque sacanear o país nunca é demais. Mas eis que chega um correio do amor para o procurador-geral do bando (devem ter errado a grafia). Vamos reproduzi-lo: “Companheiro, agora dê um jeito de completar o serviço e botar esse presidente na rua, depois em cana; acabe com ele, parceiro, porque dizem que maldição de mordomo é terrível. Só não é pior que a de mordomo-vampiro.”

Fonte: Ricardo Fiuza - Publicado no Globo 

 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Contra mártires e pela decência na política



Acho pouco oportuno levar Lula para depor no camburão com policiais armados. É dar palco para ele se fazer de vítima [o porte de arma é inerente a função policial e necessário tanto para proteger o próprio policial quanto a proteção do preso (no caso de Lula, na sexta-feira passada, o termo conduzido é mais apropriado) e também evitar tentativa de resgate.
Quanto ao Lula ser conduzido em camburão (o que não ocorreu, já que foi transportado em um S.U.V descaracterizado da PF) é apenas mera questão de tempo que isto se torne rotina, já que camburão é a viatura adequada para transportar criminosos. Lula, devido a idade, talvez seja poupado das algemas.]

É obsceno que representantes do povo usem mandatos para enriquecer ilicitamente e garantir mordomias vitalícias ou imunidade. Há décadas ouvimos dizer que Paulo Maluf está sendo investigado, processado e condenado - mas precisamos da Justiça francesa para encurralar um dos políticos mais caras-de-pau já produzidos pela República. Maluf está na lista de procurados da Interpol desde 2010, abrigado pela condescendência brasileira.

Um país que beneficia clãs como os Sarneys, com descendentes como a ex-governadora Roseana vivendo como filha de paxá, acumulando aposentadorias, pensões, subsídios e privilégios. Um país que reabilita figuras como Fernando Collor, impedido como presidente, mas anos depois amigo e cúmplice do "poder popular", abraçado a Lula. 

 [Collor nunca foi impedido; no transcorrer do processo de impeachment a conjuntura política levaria fatalmente ao seu  impedimento e para evitar ele renunciou e, posteriormente, foi absolvido pelo STF.
Só que os crimes dos quais Collor era acusado eram insignificantes quando comparados com o da atual mandatária, que circulou com desenvoltura tanto na área dos crimes de responsabilidade, quanto na área penal (estelionato eleitoral e fraudes na campanha.]

Num país assim, transformar o presidente da Câmara Eduardo Cunha em réu, por unanimidade no STF, deve ser motivo para celebrar. Num país assim, vir à tona o que os últimos presidentes Lula e Dilma fizeram é motivo para celebrar. Se for verdadeiro o depoimento de Delcídio do Amaral, não um mero doleiro mas o ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, foram crimes e mais crimes contra o povo, contra os recursos públicos, contra as prioridades de um país em desenvolvimento, contra o Orçamento e contra a democracia.

Os ventos estão a favor de mãos limpas. Espero que a Lava-Jato, a Procuradoria-Geral, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral e a Polícia Federal abram as asas sobre nós e não poupem aves ou tucanos de nenhuma plumagem, vermelha, verde ou amarela. E é sempre salutar começar por quem está nos Poderes. Federal, estaduais e municipais. Começar por quem manda! Por quem meteu o Brasil nesse buraco negro.

Que todos olhem para seu umbigo, suas contas e seu passado e se perguntem: recebi propina alguma vez? Lavei dinheiro? Roubei? Favoreci empresários em troca de doações? Empreguei amigos de amigos para ganhar favores? Traí meus eleitores e os deixei à míngua para beneficiar minha família e decuplicar o patrimônio dos que têm meu sangue? Por que me tornei político?

A sexta-feira foi um dia excelente para não tomar partido com paixão nas redes sociais e correr, assim, o risco de perder a razão. Achei pouquíssimo oportuno levar Lula para depor na Polícia Federal em Congonhas logo após a publicação do rol de denúncias de Delcídio do Amaral - que não confirmou nem desmentiu o conteúdo da reportagem exclusiva da IstoÉ.

De que adianta a Polícia Federal transformar o ex-presidente em mártir, quando na verdade ele não tem nada de vítima? Acho meio patético colocar Lula num camburão e juntar tantos homens armados para nada. E dar palco para ele fazer mais um discurso populista e se dizer ofendido? 

Lula tem muito a explicar ao país, ao eleitorado e ao partido sobre o depoimento devastador do senador do PT à Procuradoria-Geral da República, onde é acusado de agir como o pior dos mafiosos. Ou poderia ser tudo invenção de Delcídio? Tudo? O mais importante acabou ficando em segundo plano. Vamos deixar de lado os açodamentos.

Não torço pela prisão de Lula e Dilma nem por qualquer arbitrariedade ou show. Torço para que o Brasil deixe de ser ludibriado em nome de um projeto de poder que beneficia uma casta política e sindical, arrasa com a economia do país e pune sobretudo os destituídos e os jovens. Torço pela decência no exercício da política.

Fonte: Ruth de Aquino – Época