Shinko Nakandakari é apontado como um dos intermediadores da Galvão Engenharia que pagavam propina ao ex-diretor da Petrobras
O consultor Shinko Nakandakari fechou um acordo de delação
premiada com o Ministério Público Federal na manhã desta quarta-feira.
Ele é um dos onze operadores investigados na 9ª fase da Operação
Lava-Jato, que desvendou o esquema de desvio de recursos e propinas
pagas a políticos, diretores e gerentes da Petrobras.
Segundo o delator Pedro Barusco, ex-gerente de Petrobras e
subordinado a Renato Duque, diretor da área de Serviços na cota do PT, o
valor das obras da Petrobras intermediadas por Nakandakari chegaria a
R$ 4,36 bilhões. No total, pelo menos 87 obras foram prejudicadas pela
corrupção que, segundo delatores, "fazia parte da relação" com
fornecedores da estatal.
Nakandakari trabalhou durante 16 anos na construtora
Odebrecht, onde foi diretor até 1992, e é considerado peça importante na
montagem do quebra-cabeça do esquema comandado por Duque, diretor da
área responsável por licitação, execução e fiscalização de obras.
Barusco listou 10 contratos que Nakandakari teria
intermediado, fechados entre 2007 e 2010, a maioria para a Galvão
Engenharia, sozinha ou em consórcio com outras empresas. Entre as obras
estão edificações na Refinaria Abreu e Lima, unidades da carteira de
diesel da Refinaria de Paulínia (Replan) e o gasoduto Cabiúnas, no Norte
fluminense. A Galvão Engenharia nega que houvesse qualquer vínculo ou
percentual de propina relacionado diretamente a contratos firmados com a
estatal.
O delator disse que, além da Galvão Engenharia, o
Nakandakari teria intermediado o pagamento de propinas em obras
executadas pela EIT Engenharia e Contreras. Segundo Barusco, Nakandakari
lhe entregava a propina em dinheiro vivo em jantares ou drinks marcados
em hotéis como Sofitel, Everest e Ceasar Park.
A delação de Shinko ainda precisa ser homologada no Supremo
Tribunal Federal (STF). A colaboração do operador com os investigadores
pode garantir benefícios, como redução de pena. O MPF comunicou a
negociação e o início dos depoimentos à Justiça Federal de Curitiba.
Galvão Engenharia diz que foi extorquida
O
executivo Erton Fonseca, da Galvão Engenharia, que está preso desde
novembro passado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, afirmou
que foi extorquido por Nakandakari, que se apresentou como emissário de
Duque. Ele teria sido orientado a fazer depósitos de propina na conta da
empresa de Nakandakari, a LFSN Consultoria. Em depoimento à Justiça,
Fonseca afirmou que cedeu à corrupção porque a Galvão Engenharia vinha
sendo sucessivamente preterida, e o nome da empresa havia sido excluído
da lista das “convidadas” a participar da licitação.
Fonseca entregou notas de pagamentos feitos à LFSN num total
de R$ 8,8 milhões da Galvão Engenharia entre 2010 e 2014. O último
pagamento foi feito em junho passado, cerca de dois meses depois de a
Operação Lava-Jato ter sido deflagrada. As notas têm valores entre R$
115 mil e R$ 750 mil e o valor líquido da propina, descontados impostos,
foi de R$ 8,3 milhões.
A assessoria de imprensa da Galvão Engenharia reiteirou que
os pagamentos foram resultado de "extorsão e concussão", e que não houve
pagamento para obtenção de contratos. Havia apenas ameaça de retaliação
contra a empresa nos contratos em vigor.
Nakandakari: problemas também em obra em Viracopos
Shinko
Nakandakari é ainda um dos denunciados num processo de improbidade
administrativa envolvendo a construtora Talude, contratada pela Infraero
para obras no aeroporto de Viracopos, em Campinas. O valor inicial do
contrato, assinado em 2000, foi de R$ 13,892 milhões. Seis meses depois
da assinatura, foi feito um aditivo de R$ 1,904 milhão. O segundo
aditivo, de R$ 1.540.352,97, ocorreu em 2011. Para o Ministério Público
Federal, não havia razões para firmar os aditivos, que tornaram a obra
mais cara. O caso está na Justiça.
Em nota, a Odebrecht contestou a ligação de Shinko com a
empresa. A empresa informa que o engenheiro deixou a empresa há 23 anos,
em 1992, tendo ocupado o cargo de gerente . E que em nenhum momento “o
engenheiro é citado por qualquer depoente ou testemunha como alguém que
tivesse atuado em algum momento em nome da Odebrecht no contexto dos
fatos investigados”.