Nota
do editor: o general Ion Mihai Pacepa (foto) é o oficial de mais alta
patente que desertou do Bloco Soviético para o Ocidente. Em dezembro de 1989, o
presidente romeno Nicolae Ceauscescu foi executado após um julgamento no qual
as acusações foram, quase palavra por palavra, tiradas do livro Red Horizons,
de Pacepa, subsequentemente publicado em 27 países. Após o presidente Carter
ter aprovado o seu pedido de asilo político, Pacepa se tornou cidadão americano
e trabalhou com agências de inteligência americanas contra o Bloco Oriental. A
CIA elogiou a colaboração de Pacepa por ter proporcionado “uma contribuição
importante e única para os Estados Unidos”. O seu livro mais recente, Disinformation, em coautoria com Ronald
Rychlak, foi publicado pela WND Books em 2013.
A análise de que a mais recente onda de violência islâmica mundial – incluindo o ataque mortal à embaixada americana na Líbia e as novas ameaças do Irã – seja, de alguma forma, uma reação “espontânea” ao filme de baixo orçamento A Inocência dos Muçulmanos tem se revelado, na melhor das hipóteses, ingenuidade política e, na pior, um uso do episódio como bode expiatório, por ignorância ou intencionalmente. Afinal de contas, até mesmo o presidente da Líbia, Yousef El-Magariaf, afirmou que, “sem dúvida”, o ataque havia sido “planejado”, enfatizando que os terroristas haviam escolhido uma “data específica para essa auto-denominada demonstração”.
Como quer
que seja, o dia do assassinato do nosso embaixador, 11 de setembro de 2012,
coincidiu com o exato dia em que o Kremlin comemorou um aniversário importante
– 125 anos do nascimento de Feliks Dzerzhinsky, fundador do KGB, agora
rebatizada FSB.
A minha
experiência no topo da comunidade de inteligência do Bloco Soviético me dá uma
sólida base para garantir que os ataques islâmicos às embaixadas americanas e o
assassinato do nosso embaixador na Líbia, levados a cabo por lança-granadas,
Kalashnikovs e coquetéis Molotov, foram tão “espontâneos” quanto os desfiles de
Dia das Mães em Moscow – e também garanto que eles tẽm os mesmos organizadores.
Em 1972,
tomei café da manhã com o então chefe da KGB, Yuri Andropov, em Moscow. O
Kremlin, ele me disse, havia decidido converter o anti-semitismo árabe em
credo antiamericano para todo o mundo muçulmano. A idéia era retratar os EUA
como um país sionísta bélico financiado pelo dinheiro dos judeus e governado
por um voraz “Conselho dos Sábios de Sião” (epíteto irônico da KGB para o
Congresso americano) empenhado em fazer do resto do mundo um feudo judeu.
Andropov salientou que um bilhão de inimigos poderia causar um dano muito maior
do que apenas 150 milhões. Mesmo Maomé, disse ele, não havia restringido a sua
religião aos países árabes.
O chefe
da KGB descreveu o mundo muçulmano como uma placa de petri pronta para que nela
cultivássemos o ódio contra os americanos, gerado a partir da bactéria do
pensamento marxista-leninista. O anti-semitismo islâmico era profundo, disse
ele. Os muçulmanos tinham uma tendência para o nacionalismo, jacobinismo e
vitimologia, e as suas multidões iletradas e oprimidas poderiam ser facilmente
insufladas até um ponto de ebulição. Tínhamos apenas de continuar repetindo,
dia após dia, que os Estados Unidos eram um país sionísta bélico ávido por se
apropriar do mundo inteiro.
A
comunidade da KGB enfiou milhões de dólares e milhares de pessoas naquele
projeto gigantesco. Até 1978, quando eu deixei a Romênia para sempre, apenas o
meu serviço de espionagem romeno havia enviado cerca de 500 agentes infiltrados
para diversos países islâmicos. Muitos deles eram religiosos, engenheiros,
médicos, professores e instrutores de arte. De acordo com uma estimativa
grosseira recebida de Moscow, até 1978 a comunidade de inteligência do Bloco
Soviético como um todo havia enviado cerca de quatro mil agentes de influência
para o mundo islâmico.
Até onde
chegou a influência de todo esse esforço? Ninguém pode saber ao certo, mas mais
de 20 anos de efeito cumulativo da disseminação de milhões de traduções árabes
dos “Protocolos dos Sãbios de Sião” em todo o mundo islâmico retratando os
Estados Unidos como um criminoso sionista deve ter deixado alguma marca. Veja a
invasão à embaixada americana em Teerã em 1979, o atentado ao quartel dos marines
americanos em Beirute em 1983, o atentado ao World Trade Center em Nova
Iorque em 1993, a destruição das embaixadas americanas no Quênia e na Tanzânia
em 1998 e os abomináveis ataques terroristas ao próprio EUA em setembro
de 2001 que mataram quase três mil americanos.