Não é por falta de erros que Temer está em baixa. Mas cai até quando não é sua culpa. A alta do diesel e da gasolina tem vários pais. E uma mãe
Temer já sabia que ganhar as eleições seria tarefa impossível. E, com a parada dos caminhões e a alta do combustível, é bom nem falar em votos. Não é por falta de erros que Temer está em baixa. Mas cai até quando não é sua culpa. A alta do diesel e da gasolina tem vários pais. E uma mãe. A mãe é Dilma: ao segurar o preço dos combustíveis no país abaixo do custo do petróleo, quebrou as usinas de álcool e endividou a Petrobras. Hoje, a Petrobras vende combustíveis a preços que cobrem o custo do petróleo, do prejuízo que teve, dos juros que paga. O preço varia dia a dia, conforme a cotação do petróleo. Em 12 meses, a gasolina subiu 17,96% (a inflação esteve por volta de 2%). Aí aparece o primeiro pai da alta: o dono dos postos. Quando a Petrobras baixa o preço (e isso aconteceu algumas vezes), o posto o segura lá em cima. Concorrência entre postos? Então tá!E vai subir mais: o dólar se valoriza e o petróleo marcha para US$ 90 o barril. É o outro pai da crise: a Venezuela já reduziu a produção à metade, por desorganização. O Irã está mais preocupado em mandar na Síria e sofre com as sanções americanas. Menos petróleo, mais preço. Há quem estime que a gasolina chegue a R$ 5,10 se câmbio e petróleo mantiverem o rumo. Outro pai é o Governo, em todos os níveis: os vários impostos são mais de 40% do preço do litro. Resultado: o litro, para os americanos, custa menos de R$ 2; no Brasil, o custo é de R$ 4,75. E Temer paga em votos.
Temer fora
Ou não paga mais. Deixou a conta para seu ex-ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, que disputará o voto de centro com Geraldo Alckmin.
Dado o carisma de ambos, pode parecer engraçada a frase seguinte: existe
a possibilidade de que um deles seja eleito: basta chegar ao segundo
turno, e beneficiar-se do radicalismo do adversário, seja Bolsonaro,
seja o poste que Lula escolher. Alckmin, que conhece o jogo faz tempo,
tem mais chances que Meirelles, cuja força é a capacidade de pagar
sozinho a campanha. O MDB de Meirelles é forte, mas desde 1994 não
disputa a Presidência. Se sempre se deram bem aderindo ao vitorioso, por
que mudar justo agora?
Pedra no caminho
Há um grupo de parlamentares que tenta convencer Josué Alencar (cujo
nome é Josué Gomes da Silva, mas resolveu se lembrar da herança política
do pai, José Alencar) a sair para a Presidência, pelo centro – desde
que pague sua própria campanha. O líder do grupo é o presidente da
Câmara, Rodrigo Maia. Se der certo, Alckmin e Meirelles terão mais
dificuldades.
O olímpico
Rodrigo Maia tenta também lançar Eduardo Paes para o Governo do Rio.
Ele era o prefeito do Rio na época dos Jogos Olímpicos, lembra?
Perdemos todos
Um dos grandes
jornalistas brasileiros, Alberto Dines, morreu ontem aos 86 anos. Dines
foi repórter, editor, diretor (mandava mais no Jornal do Brasil do que o dono – e merecia), escritor, professor em Princeton, criador do Observatório da Imprensa em TV e site. Foi um dos mestres deste colunista, que escreve sobre ele para a Folha de S.Paulo (só para assinantes); e, com leitura livre, neste link.
O Tribunal de Justiça de Minas rejeitou os recursos do ex-governador
Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB, e ordenou sua prisão.
Azeredo foi condenado a 20 anos e 1 mês por participação no Mensalão
mineiro, uma espécie de ensaio do que viria a ser o Mensalão petista, e
que incluiu até a participação do publicitário Marcos Valério. Azeredo
pode recorrer ao Superior Tribunal de Justiça, mas não em liberdade.
Onde está o dinheiro?
A servidora Mirella Menezes Celestino pediu aposentadoria voluntária
do Tribunal de Justiça da Bahia. Com a aposentadoria, a funcionária terá
“proventos integrais de R$ 39.936,17”, segundo despacho do presidente
do TJ baiano, desembargador Gesivaldo Brito. O salário propriamente dito
(o nome oficial é “vencimento básico”) é de R$ 8.276,67. O restante,
que põe seu salário acima dos pagos aos ministros do Supremo, são
penduricalhos: “vantagem pessoal AFI símbolo”, R$ 17.802,72; “vantagem
art. 263”, R$ 7.127,57. O desembargador determina que, na implantação
dos proventos, deverá ser observado “o limite do teto constitucional –
R$ 30.471,10”. Ou seja, com redução e tudo, uma economista de um
Tribunal de Justiça estadual tem direito a ganhar quase tanto quanto um
ministro do STF; mais de 90% dos vencimentos dos onze magistrados mais
importantes do país – e, não esqueçamos, dentro da lei. Há algum risco
de o país dar certo?
Publicado na Coluna de Carlos Brickmann