[O apoio manifestado ontem ao presidente Bolsonaro, além de repudiar os que sonham derrubá-lo, foi veemente em silenciar o 'panelaço'.
O silêncio de Bolsonaro demonstra sua consciência da pouca importância dos que desejam o fracasso do seu Governo e até o seu afastamento e a certeza espontaneidade dos seus eleitores.
Mostra que aos poucos o presidente vai se adaptando à liturgia do cargo, especialmente em termos de comunicação: - evitar entrevistas de 'corredor', improvisadas, dando preferência a se manifestar através de porta-voz, por 'nota oficial', rede nacional de tevê e, excepcionalmente, entrevista com hora marcada, perguntas por escrito e apresentadas antecipadamente.]
Jair
Bolsonaro reagiu com um ruidoso silêncio à manifestação que seus simpatizantes
fizeram neste domingo em duas dezenas unidades da federação. Foi a terceira
incursão dos bolsonaristas às ruas desde o início do governo. Os atos foram
menores que os anteriores, atiçados e celebrados pelo presidente nas redes
sociais. Dessa vez, Bolsonaro e seu clã tomaram distância do meio-fio. Até a
madrugada desta segunda-feira, o capitão não esboçara reação no Twitter nem no
Facebook. Nenhuma palavra.
Há método no silêncio do capitão. Conforme já comentado aqui, Bolsonaro
e o pedaço do asfalto que lhe é fiel passaram a trafegar em faixas opostas. O
presidente frita Sergio Moro, gruda em Deltan Dallagnol a pecha de esquerdista,
hesita em vetar artigos da lei de abuso de autoridade. Tudo isso e mais a proximidade
com Dias Toffoli. A rua enaltece Moro, sonha com Deltan na chefia da
Procuradoria, pede o veto integral à lei anti-Lava Jato. E ainda exige o
impeachment de Dias Toffoli. Como não tinha nada a dizer sobre as demandas dos
seus apologistas, Bolsonaro se absteve de demonstrar seus paradoxos em
palavras. Ao longo do final de semana, inúmeros internautas postaram
comentários nas redes sociais instando o presidente a sintonizar-se com a rua.
Um deles, identificado como Bunny Sam, conseguiu arrancar meia dúzia de
palavras do presidente. Não deve ter gostado do que leu.
"Cuide bem do ministro Moro", escreveu o internauta.
"Você sabe que votamos em um governo composto por você ele e o Paulo
Guedes." Em sua resposta, Bolsonaro não disse se irá retirar Moro do
micro-ondas. E ainda insinuou que não se considera um devedor do ex-juiz.
"Com todo respeito a ele, mas o mesmo não esteve comigo durante a
campanha." Se conversasse com seus botões, Bolsonaro talvez retornasse às
redes sociais, nesta segunda-feira, para dar respostas às demandas de seus
súditos. Sob pena de transformar dúvidas em hostilidade. Na sexta-feira, nas
pegadas de manifestações de rua em defesa da Amazônia, Bolsonaro ocupou uma
rede nacional de tevê para tratar da encrenca das queimadas. Conseguiu
ressuscitar as panelas. Se continuar desprezando a opinião dos seus adoradores,
arrisca-se a juntar numa próxima manifestação a turma do panelaço com a tropa
dos desiludidos.
UOL - Blog do Josias de Souza