J. R. Guzzo
Presidente se empenha em declarações cretinas ao dizer que país tem de entregar uma parte do seu território invadido pela Rússia, a Crimeia
Ninguém, em nenhuma chancelaria do mundo, tinha pedido até agora algum palpite do Brasil, e muitíssimo menos do presidente Lula, sobre a guerra na Ucrânia.
É natural: não há nada de construtivo, do ponto de vista prático, que
um ou outro possam fazer a respeito.
Mas Lula, no seu surto atual e cada
vez mais agressivo de arrogância desqualificada e sem controles, enfiou
mais uma vez o pé na jaca: disse que a Ucrânia tem de entregar uma
parte do seu território invadido pela Rússia, a Crimeia, se quiser
voltar a ter paz um dia.
O presidente tem se empenhado, desde que voltou
ao governo, em fazer o máximo de afirmações cretinas no mínimo de tempo
possível. Mais uma vez, conseguiu acertar bem no centro do alvo.
Ninguém,
nem a mais tosca figura com alguma responsabilidade de governo, tinha
dito algo assim até agora – mesmo que ache isso, ou mais ou menos isso,
não pode dizer o que acha em público, em hipótese nenhuma. É coisa que
se aprende nos cursos primários de diplomacia em qualquer lugar do
mundo.
Lula não fez curso nenhum sobre nada; tem certeza de que sabe
tudo, sem nunca ter se esforçado cinco minutos para aprender o que quer
que seja.
Não sabe o que é a Crimeia, nem onde fica, nem qual é a sua
história.
Por que saberia, se já disse que Napoleão invadiu a China?
[em um dos seus mandatos passado, outra ocasião declarou que o Brasil precisava cuidar mais de sua fronteira com os EUA.]
Nesse caso, disse para o mundo uma estupidez em estado puro.
Qual chefe
do Estado pode recomendar que um país, depois de invadido militarmente
por outro, entregue ao inimigo parte do seu território? “A Ucrânia não
pode querer tudo”, disse Lula. Como assim, tudo? Ela quer o mínimo, que é
manter o território que tinha antes de ser atacada.
[certamente valerá a pena ouvir, e guardar para a posteridade, as duas SUMIDADES EM NADA, trocarem ideias sobre o futuro do universo.] O
presidente brasileiro passou a vergonha de ouvir de um homem público
ucraniano a seguinte recomendação: “Porque o senhor não dá o território
do Rio de Janeiro para a Rússia?”
O Brasil também não pode querer
“tudo”, não é mesmo?
Lula ouviu e ficou de boca fechada; não tem nada
para falar sobre esse assunto, nunca mais. Foi também um tiro no meio do
pé: dizer o que disse vai diretamente contra tudo o que as democracias
“globalistas” da Europa, apaixonadas há anos por ele e por seu “espírito
democrático”, acham a respeito de Rússia, Ucrânia e Crimeia. Não só
acham: mandam armas, sustento e bilhões de dólares para os ucranianos.
Sua posição é exatamente contrária à de Lula; isso é jeito de tratar
países aliados? “Ao tentar desempenhar, com esforço demais, o papel de
pacificador global, Lula corre o risco de parecer ingênuo, em vez de um
velho estadista”, escreveu o The Economist, um dos maiores
devotos que o presidente tem na mídia internacional.
Disseram “ingênuo”
porque estão falando de um dos seus ídolos.
O que quiseram dizer, mesmo,
foi: “idiota”.
Nessa
sua campanha para redesenhar o mapa do mundo, Lula não se contenta com a
Ucrânia. Quer, também, entregar a potências estrangeiras parte do
território do Brasil – a maior parte, aliás. “A Amazônia não pertence só
a nós”, acaba de dizer ele.
Se não pertence “só a nós”, pertence também
a outros, certo? É o que ele, Lula, disse em público – ele, e ninguém
mais.
Já vinha dando a entender, há tempos, que é a favor de algum tipo
de “internacionalização” da floresta amazônica; agora, avançou mais do
que tinha avançado até hoje. Sua desculpa é que é preciso “abrir” a
Amazônia à “pesquisa científica” – como se fosse proibido, atualmente,
pesquisar alguma coisa por ali.
A reza é para que a entrega da Amazônia
seja a mesma coisa que a entrega da Ucrânia – uma idiotice, e só isso.
Se Lula, o PT e a esquerda quiserem mesmo doar território do Brasil a
países “bons” e “responsáveis”, o STF vai dizer que é legal e o
comandante do Exército brasileiro, na sua ideia fixa de servir à
“legalidade”, vai receber os ocupantes com banda de música e desfile de
onça com coleira.
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES