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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Lula - viagens internacionais - agenda - Janja - Havana - PT - Alexandre Garcia

VOZES - Gazeta do Povo

Neste ano, o Presidente do Brasil visitou 26 países e ficou 62 dias fora. 
No balanço, essa política externa viajante parece ter gerado mais desgaste que ganhos. 
Em Buenos Aires, em entrevista à Rádio Mitre, Bolsonaro ironizou as viagens internacionais  de Lula, dizendo que quando voltar a ser presidente vai nomeá-lo ministro do Turismo.  
O pior é Lula ter que engolir isso, em razão da opção feita por países onde o autoritarismo abafou a democracia e por objetivos no mínimo polêmicos, que não são aprovados pela maioria do público brasileiro e nem sequer são compreendidos pelo seu próprio público. 
E sem resultados práticos: o investimento estrangeiro em setores produtivos no Brasil caiu 40% até setembro.
Com dois meses de governo, Lula já criava tensão com o mais tradicional parceiro do Brasil, os Estados Unidos, ao autorizar que dois navios de guerra iranianos – uma fragata e um porta-helicópteros – fossem acolhidos no porto do Rio de Janeiro. 
 
Os americanos, reconhecendo a soberania brasileira, recomendaram que não os acolhesse, pois se trata de navios que facilitam o terrorismo e já tiveram sanções da ONU. 
Lula os recebeu às vésperas da visita oficial a Washington. 
O Irã é parte do “eixo do mal”, segundo o governo americano. 
Lula também defende abertamente os regimes de Cuba, Nicarágua e Venezuela.
 
Em maio, em Brasília, tentou limpar a imagem de Maduro na reunião de Presidentes Sul-Americanos
Falou em democracia relativa e até em Maduro defensor dos direitos humanos, irritando profundamente o socialista do Chile, Gabriel Boric. 
Um mês antes, havia sugerido que a Ucrânia cedesse a Crimeia para acabar com a guerra. 
Por meia dúzia de vezes defendeu uma governança global para cuidar da Amazônia, arrepiando os nacionalistas brasileiros. 
E, provocando arrepios também nos que prezam a representação popular, por algumas vezes argumentou que é preciso uma ordem supranacional para cuidar de certos assuntos, principalmente do clima, porque os acordos e tratados têm sido anulados pelos congressos nacionais. 
É a ideia da Nova Ordem Mundial.
 
Depois do ataque terrorista do Hamas, o governo brasileiro mostrou a mesma hesitação que agora demonstra ante as ameaças de Maduro contra a Guiana
Fica fácil perceber que o presidente não consegue esconder suas simpatias. 
E o mundo, principalmente a Europa, percebe que o Brasil tem um presidente que não condena agressores. 
E o acordo Mercosul-União Europeia foi pelo ralo. 
Aliás, o Mercosul, pelo jeito, vai estagnar. 
Lula mandou marqueteiros para impedir a vitória de Milei, coisa que o vencedor não vai esquecer. E não terá amigos do peito no Paraguai, Uruguai e Argentina
A vizinhança toda certamente esperava uma ação decisiva de Lula para impedir as fanfarronices de Maduro, mas o que se vê é uma reação pastosa, sem assumir a responsabilidade de quem tem crédito com o vizinho belicoso.
 
Os áulicos anunciaram aos quatro ventos que Lula poderia mediar o conflito Rússia-Ucrânia e encontrar a paz; 
- que poderia mediar a liberação dos reféns do Hamas, e resolver a questão Israel-Palestina. 
Tudo geograficamente longe dos brasileiros e fácil de esquecer sem cobrar. Restaria a fama de ser o pacificador potencial. 
Agora a questão está aqui, ao lado do Brasil, e Lula em vez de ir pessoalmente a São Vicente tentar alguma coisa, manda Celso Amorim, como observador. 
O Brasil vai ficar olhando, observando a oportunidade passar. Viajando. Nem a conta das viagens compensou e fica no ar a cobrança da mediação brasileira, na expectativa criada pela propaganda. 
Em 2007, o Rei Juan Carlos perguntou a Chavez¿Por qué no te callas? Quando será que Lula vai perguntar a Maduro ¿Por que no paras?

Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise

Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

 

quarta-feira, 19 de julho de 2023

Guerra Assimétrica na Ucrânia – O Mau Uso das Forças Blindadas Russas e o Preço das Táticas Obsoletas

DefesaNet

A CHAMADA GUERRA DA UCRÂNIA é uma guerra que apresenta muitos aspectos clássicos europeus, misturados a novas estratégias típicas do século XXI
Datar seu início é um desafio em si, porque não existem documentos públicos oficiais que estabeleçam quando a decisão de tomar território da Ucrânia foi tomada, se é que isso é possível determinar, dada a presença de forças especiais e de russos étnicos no território antes do conhecimento público das hostilidades.
 Como na maioria dos conflitos modernos, determinar o quando, onde justamente o Tempo é uma dimensão vital do conflito, é desafiador.
Ao se decidir impor um governo local submisso à antiga potência imperial, não seria uma forma de guerra, bastante antiga e familiar aos europeus? Ou se deveria considerar o início da ação das Forças Especiais russas na região leste do país?  
Ou a tomada da península da Criméia?
 
Ou mesmo a imposição velada do desarmamento nuclear unilateral, já abrindo caminho para uma futura invasão? 
Desta forma, este breve trabalho não tentará estabelecer data para o início histórico do conflito, que remonta de um passado longínquo que inclui historicamente dominação político-ideológica, genocídio, deslocamento de população e perda de vastas partes de território, somados à toda pletora de técnicas das operações especiais modernas. 
Portanto, quando este trabalho se referir ao “início” do conflito, estará apenas cobrindo os episódios referentes ao período iniciado em 24 de fevereiro de 2022 e se estendendo até a semana anterior de sua publicação. Caso o fato mencionado não esteja contido neste período, será feita uma menção explícita a isto.
 
QUANDO DO INÍCIO DESTA FASE ATUAL DO CONFLITO NA REGIÃO, muitos “experts” entenderam como sendo uma oportunidade de se estudar a real capacidade da Rússia de combater uma guerra moderna, nos termos entendidos no Ocidente. 
Ficando subentendido que não existe material primário (ordens do Estado Maior das partes em conflito, análises de Serviços Secretos etc) disponível, uma vez que todas as operações ocorridas são muito recentes e ainda estão sob manto de segredo de estado.
 
(...)
 
A determinação da defensiva ucraniana e sua capacidade de aceitar baixas sem entrar em colapso selam o destino da ofensiva inicial russa. Fogos de longo alcance sobre a área de suprimentos russos paralisam  o conflito, que degenera em ação sobre civis e guerra de propaganda. 
Se as forças russas não se revelaram capazes de apresentar flexibilidade sob pressão, um velho problema desde os tempos da Stavka, que se radicalizou na era soviética, também não foram um completo desastre. Porém, para além de suas tropas de elite, algumas graves deficiências surpreenderam e até o presente momento não tem explicação convincente.
 
A PRIMEIRA SURPRESA NAS FORMAÇÕES BLINDADAS RUSSAS foi a presença maciça dos veteranos T-72, ainda que reequipados e modernizados, liderando as formações russas
Esses carros de combate (CC), projetados nos anos 60 e fabricados até hoje em versões atualizadas, foi pensado como um CC simples e barato, para ser operado por 3 homens em um exército de conscritos. Seu preço inicial oscilava em torno de US$ 500.000, cerca de metade do valor dos modelos básicos ocidentais. 
Foi equipado com blindagem reativa e telêmetro laser. 
Seu canhão de 125 mm é considerado poderoso, mas o sistema de pontaria oferecido aos aliados fora do Pacto de Varsóvia e a munição eram de qualidade muito inferior, o que ficou desconhecido até o fim da URSS. Quando países como Polônia e Alemanha Oriental abriram seus arsenais para técnicos ocidentais, estes tiveram a amarga surpresa de descobrir que a performance da munição e aparelhos de pontaria do Pacto eram muito superiores, por exemplo, aos capturados no Iraque ou antes disso, pelos israelenses durante suas guerras contra vizinhos.De qualquer forma, a Rússia já dispunha do modelo T-90, porém relativamente poucos foram vistos na Ucrânia e o novo CC T-14 Armata, aparenta continuar ainda em desenvolvimento, não operacional. 

Figura 1 – T-14 Armata, o mais novo CC da Rússia. (Foto Eurasia Times)

O EMPREGO DE MATERIAL CONSIDERADO COMO NÃO SENDO DE ÚLTIMA GERAÇÃO não representa em si um problema. 
Israel venceu 3 guerras (48, 67 e 73) lutando contra vizinhos equipados com armas mais modernas e em maior número. 
Os alemães derrotaram franceses e ingleses em 1940 equipados com material terrestre inferior. O que se impõe no campo de batalha é a Doutrina, treinamento e motivação das tropas, associado à logística e a manutenção.

(...)

Figura 2 – Carro de combate T-72 B3, versão mais moderna deste veículo, usado na invasão da Ucrânia. (Foto Agência TASS).

(...) 

a) Deslocamentos em colunas por estradas. Basicamente centenas de CCs foram destruídos em esquinas, entroncamentos, curvas e outros pontos facilmente identificáveis em qualquer carta topográfica
Estes pontos são facilmente batidos por fogos de artilharia e que a opção russa por não se deslocar fora da estrada (atribui-se ao tipo de solo, mas essa explicação parece não se justificar em áreas urbanas) tornou muito fácil a missão da artilharia ucraniana. Embora a narrativa ocidental tenha atribuído as mudanças nos ventos da guerra às armas anticarro, na verdade, foram as duas brigadas de artilharia ucranianas que salvaram o país da derrota e pararam o ataque o russo às portas de Kiev (agora Kyiv) Embora, não se possa reduzir o efeito destas armas como imobilizadoras de colunas, nem como armas de propaganda. 
Mas o fato é que tropas que se deslocam por estradas, rodovias ou caminhos claramente usados pela população em geral, serão facilmente atingidos pelo fogo adversário. Normalmente tropas com baixo nível de treinamento preferem a “segurança” das estradas, onde as viaturas não atolam ou as frações não se perdem no terreno. 
 A contrapartida é a facilidade com que são localizados e caem em emboscadas.

Foto 3 – CC destruído em estrada ucraniana. Notar uma “inocente” placa de trânsito, que na verdade serve como referência para emboscada. (Foto Reuters)

b) Ausência de Infantaria. Um dos paradigmas originais da guerra blindada, desde de sua concepção moderna na 2ª Guerra Mundial, tem sido o combinado Infantaria – Carro. Binômio este que foi expandido em anos recentes para incluir elementos de Engenharia de Combate, de forma a não permitir a paralisia da Força Tarefa. 
Isso não quer dizer que não exista infantaria russa. 
Apenas que não existe proteção de Infantaria aos CCs russos que são atingidos a curtas distâncias por armas anticarro sem que o operador seja molestado pelos GCs desembarcados que deveriam estar varrendo todo o entorno da coluna. Na verdade, muitas vezes, os poucos infantes observados estão sentados no topo de VBTPs que seguem atrás dos CCs em fila indiana. 
Em outros casos os CBTPs se encontravam sem tropas embarcadas, apenas com sua guarnição de operação do carro. 
É possível especular que isso se devesse ao fogo da artilharia ucraniana, o que causaria eventuais baixas pesadas. 
Mas por outro a ausência da infantaria russa expôs a tropa blindada à destruição por mísseis e rojões em proporções exageradas.

Figura 4 – CC russo T-72 destruído na Ucrânia. A presença de blindagem reativa (ERA) teve efeito mínimo na proteção dos carros.

Figura 8 – Leopard 2A4 polonês, um dos possíveis CCs a serem doados aos ucranianos.
(Foto Reddit)

Um aspecto que não pode ser desprezado é o fato de que a profusão de fontes e modelos de material bélico podem atrapalhar o esforço ucraniano, fazendo com que líderes militares contem com material que podem não estar disponível por questões logísticas diversas, como possível falta de material e equipamentos de apoio (vide caso dos Challengers), confusão nas cadeias logísticas no campo, ou simplesmente falta de conhecimento suficiente para mantê-los em funcionamento.

AS CONCLUSÕES PARCIAIS DESTE INÍCIO DE CONFLITO devem ser lidas com muita cautela, posto que ainda estão muito turvas pela névoa da guerra em andamento e são possivelmente contaminadas pela maciça campanha de desinformação realizada pelos dois lados em luta e seus aliados. Ainda assim algumas observações podem ser listadas e posteriormente verificadas, quando do acesso à documentação primária e outras fontes como serviços de inteligência e grupos profissionais de análise de conflitos. Assim sendo temos que:

a) A fase inicial do ataque russo foi executada com relativo sucesso, mas a campanha falhou em atingir seu objetivo, a tomada em 10 dias de Kiev e consequente rendição da Ucrânia. A falta de flexibilidade tática foi desastrosa, expondo as tropas russas a perdas incompatíveis com a capacidade inicial do inimigo.

b) As perdas materiais russas foram exorbitantes, mesmo para uma campanha de grande porte e convencional como esta. A perda de cerca de 1/3 da frota de CCs da Federação Russa torna a possibilidade de novas grandes ofensivas cada vez menor.

c) A artilharia ucraniana foi a grande responsável pelas perdas materiais e humanas russas, em que pese o “glamour” das novas armas anticarro e as baixas substanciais causadas por estas armas. O deslocamento preferencial por estradas  facilitou bastante este fato.

(...)

Eduardo Atem de Carvalho, PhD
Universidade Estadual do Norte Fluminense

Rogerio Atem de Carvalho, DSc
Instituto Federal Fluminense

 Notícia  - DefesaNet - ÍNTEGRA DA MATÉRIA

 


quinta-feira, 27 de abril de 2023

A volta do trapalhão - Percival Puggina

A ONU era tão forte que em 1948 ela conseguiu criar o Estado de Israel, em 2023 ela não consegue criar o Estado Palestino (Lula).

        “Sem apresentar provas” (valho-me do bordão da Rede Globo), a bobagem acima, com intuito recriminatório, foi proferida pelo presidente do Brasil no dia do aniversário da Independência de Israel.  
Seguiram-se imediatos protestos e contestação da Embaixada de Israel no Brasil... Lula falava em Madrid no mesmo tom habitual de reitor de mesa de boteco com que sugeriu à Ucrânia entregar a Crimeia à Rússia.  

Cada vez que põe os pés fora do Brasil, vestindo a fantasia de “líder dos povos” que pediu emprestada a Stálin, Lula me faz lembrar o comediante britânico Peter Sellers pegando um copo e derrubando a cristaleira, ou acendendo um cigarro e explodindo a casa do vizinho.  

Lula atravessou a vida no desempenho da miserável tarefa de falar mal dos outrosde tudo e de todos como forma de afirmar sua suposta superioridade. Isso não é incomum. 
Há muitas pessoas assim e a política as atrai porque os ingênuos caem nessa como peixinhos que vão parar no aquário comendo ração.
 
Contudo, não é graças a esse longo treinamento em destruição de reputações que Lula e seus consectários estão sempre atacando algo ou alguém. Não!  
É que simplesmente nunca aprenderam a falar de modo positivo, sustentável, nem mesmo sobre o conjunto sistematizado de suas crenças e afirmações. 
isso, elas nunca passam de um amontoado de contradições em que os fins com que se embalam as promessas são antagônicos aos meios utilizados.

Assim como o presidente da APEX-Brasil vai à China e critica o agronegócio brasileiro, Lula vai à Espanha e diz, em encontro com empresários, que é impossível investir no Brasil. Tal conduta eleva o petismo a seu estado de bem-aventurança e é o motivo pelo qual a atual diplomacia brasileira quer dar lições ao mundo e não perde oportunidade de criticar o próprio país.

Atribuem a Juca Chaves a frase: “Quando a esquerda perde uma eleição, ela tenta destruir o país. Quando ganha, consegue”. 
Está sendo escrito o quinto volume desse curso de estupidez política. 
É óbvio que um governo com essa mentalidade, com o passado que tem e o futuro que prenuncia, precisa submeter sua oposição à mordaça da censura.

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


sábado, 15 de abril de 2023

Políticas semelhantes, cenários bem diferentes - Alon Feuerwerker

Análise Política

Toda tentativa de justificar política exterior com base em princípios tão bonitos quanto absolutos costuma terminar em impasse, quando não em comédia; ou tragédia.  
Pois os interesses frios sempre acabam prevalecendo, restando aos ideólogos dar aquela maquiada básica para salvar a face
Um exemplo recente é o conflito da Ucrânia.

Dois princípios nas relações internacionais são o direito à autodeterminação e o direito à integridade territorial. No conflito da hora, Kiev esgrime com o segundo, mas Moscou argumenta com o primeiro para as repúblicas do Donbass e as regiões sulistas do vizinho, Crimeia inclusive, que decidiram [autodeterminação.] se desligar.

Na dissolução e fragmentação da Iugoslávia, duas décadas atrás, os Estados Unidos e a OTAN invocaram o direito à autodeterminação, enquanto uma enfraquecida Rússia argumentava, imponentemente, em defesa da integridade territorial da Iugoslávia. No final, quem pôde mais chorou menos.

O observador razoavelmente atento notará que os EUA e a União Europeia retiraram dos arquivos o play-book da Guerra Fria 1.0 para conter a ascensão da China. Impor crescentes constrangimentos econômicos, deflagrar uma corrida armamentista e dar o golpe final por meio das tensões étnico-nacionais e do separatismo.

Entre as dificuldades na tentativa de repetir o roteiro, uma frequenta mais amiúde os pesadelos do Ocidente. Quando a URSS declinou e finalmente desapareceu, havia tempo que não era mais aliada da China, que na geopolítica estava até mais próxima dos EUA. Hoje, a ameaça existencial comum empurra chineses e russos a aliar-se estrategicamente.

Na economia e na esfera militar são nações que se complementam num encaixe quase perfeito.

Eis por que o Ocidente não pode nem pensar em conter a China, o objetivo central na Guerra Fria 2.0, sem atrair a Rússia para sua esfera de influência ou desmembrá-la, a exemplo do que foi feito com a URSS.
[não podemos olvidar, que a China conta agora com o apoio, que não pediu, nem precisa, do 'estadista' de todos os estadistas, ex-presidiário que preside o Brasil.]

Ou as duas coisas.

A Federação Russa permanece um dos poucos estados de fato plurinacionais no planeta, com potenciais tensões separatistas permanentes. Enquanto o Ocidente argumenta com o direito à integridade territorial da Ucrânia, usa a Ucrânia para desestabilizar a integridade territorial russa.

O que, aliás, somado à crescente simpatia ocidental pela tese de Taiwan independente e pelas pressões separatistas em Hong Kong e Xinjiang, ajuda a amalgamar a aliança entre Moscou e Beijing.

E o Brasil com isso? O cenário internacional para nós, também pelos motivos expostos, é incomparavelmente mais complexo do que quando Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto pela primeira vez, em 2003.

Naqueles tempos, 1) os EUA tinham o foco na guerra ao terror; 2) uma enfraquecida Rússia estava saindo do catastrófico governo de Boris Ieltsin; e 3) ainda prevalecia a esperança ocidental de que o desenvolvimento econômico chinês, orientado ao mercado e à globalização, faria entrar em colapso o poder comunista.

Assim, Lula pôde implodir o projeto norte-americano da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) sem maior consequência, teve espaço para projetar poder econômico-financeiro regional e o Brasil ajudou alegremente a construir os Brics. Mas os ventos começaram a mudar lá pelo final da década, acelerados pela crise de 2008/09, e quem acabou pagando o pato da insatisfação de Washington com o expansionismo e o independentismo brasileiros foi Dilma Rousseff.

Os EUA estão crescentemente nervosos diante da ameaça de um ocaso em seu reinado de única superpotência. E bem quando a história parecia ter chegado ao fim, dando razão a Francis Fukuyama, e quando o breve século XX, na definição de Eric Hobsbawm, tinha ficado para trás.

Mas as duas teses balançam. Fukuyama e Hobsbawn estão em xeque. O século XXI está cada vez mais parecido com o anterior.  Como Lula vai descascar o abacaxi? Até agora, recorreu aos velhos truques, de eficácia comprovada. Foi a Washington e disse coisas agradáveis aos anfitriões, depois dirigiu-se a Beijing para falar coisas que fizeram bem aos ouvidos dos chineses. Nas duas viagens, procurou extrair o melhor da relação.
[será que qualquer das partes acreditou no que ouviu? sabem que são palavras proferidas por um mentiroso patológico - .vide Lula se jactando para Jaime Lerner de que  mentia.]

Não deixa de ser inteligente como aposta para não queimar pontes.

Só é preciso saber até quando isso será suficiente. Pois de vez em quando chega uma hora em que os princípios, como tratado no início deste texto, e as declarações genéricas de intenções não dão mais para o gasto.

E 2023 não é 2003. 

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político 

 


quarta-feira, 12 de abril de 2023

Lula enfia mais uma vez o pé na jaca ao falar sobre guerra na Ucrânia - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Presidente se empenha em declarações cretinas ao dizer que país tem de entregar uma parte do seu território invadido pela Rússia, a Crimeia

Ninguém, em nenhuma chancelaria do mundo, tinha pedido até agora algum palpite do Brasil, e muitíssimo menos do presidente Lula, sobre a guerra na Ucrânia. É natural: não há nada de construtivo, do ponto de vista prático, que um ou outro possam fazer a respeito. 
Mas Lula, no seu surto atual e cada vez mais agressivo de arrogância desqualificada e sem controles, enfiou mais uma vez o pé na jaca: disse que a Ucrânia tem de entregar uma parte do seu território invadido pela Rússia, a Crimeia, se quiser voltar a ter paz um dia.  
O presidente tem se empenhado, desde que voltou ao governo, em fazer o máximo de afirmações cretinas no mínimo de tempo possível. Mais uma vez, conseguiu acertar bem no centro do alvo.
 
Ninguém, nem a mais tosca figura com alguma responsabilidade de governo, tinha dito algo assim até agora – mesmo que ache isso, ou mais ou menos isso, não pode dizer o que acha em público, em hipótese nenhuma. É coisa que se aprende nos cursos primários de diplomacia em qualquer lugar do mundo. 
 Lula não fez curso nenhum sobre nada; tem certeza de que sabe tudo, sem nunca ter se esforçado cinco minutos para aprender o que quer que seja
Não sabe o que é a Crimeia, nem onde fica, nem qual é a sua história. 
Por que saberia, se já disse que Napoleão invadiu a China? [em um dos seus mandatos passado, outra ocasião declarou que o Brasil precisava cuidar mais de sua fronteira com os EUA.]  
Nesse caso, disse para o mundo uma estupidez em estado puro. 
Qual chefe do Estado pode recomendar que um país, depois de invadido militarmente por outro, entregue ao inimigo parte do seu território? “A Ucrânia não pode querer tudo”, disse Lula. Como assim, tudo? Ela quer o mínimo, que é manter o território que tinha antes de ser atacada.
[certamente valerá a pena ouvir, e guardar para a posteridade, as duas SUMIDADES EM NADA, trocarem ideias sobre o futuro do universo.] 
 
O presidente brasileiro passou a vergonha de ouvir de um homem público ucraniano a seguinte recomendação: “Porque o senhor não dá o território do Rio de Janeiro para a Rússia?” 
O Brasil também não pode querer “tudo”, não é mesmo? 
Lula ouviu e ficou de boca fechada; não tem nada para falar sobre esse assunto, nunca mais. Foi também um tiro no meio do pé: dizer o que disse vai diretamente contra tudo o que as democracias “globalistas” da Europa, apaixonadas há anos por ele e por seu “espírito democrático”, acham a respeito de Rússia, Ucrânia e Crimeia. Não só acham: mandam armas, sustento e bilhões de dólares para os ucranianos
 
Sua posição é exatamente contrária à de Lula; isso é jeito de tratar países aliados? “Ao tentar desempenhar, com esforço demais, o papel de pacificador global, Lula corre o risco de parecer ingênuo, em vez de um velho estadista”, escreveu o The Economist, um dos maiores devotos que o presidente tem na mídia internacional.  
Disseram “ingênuo” porque estão falando de um dos seus ídolos. 
O que quiseram dizer, mesmo, foi: “idiota”.
 
Nessa sua campanha para redesenhar o mapa do mundo, Lula não se contenta com a Ucrânia. Quer, também, entregar a potências estrangeiras parte do território do Brasil – a maior parte, aliás. “A Amazônia não pertence só a nós”, acaba de dizer ele. 
Se não pertence “só a nós”, pertence também a outros, certo? É o que ele, Lula, disse em público – ele, e ninguém mais. 
Já vinha dando a entender, há tempos, que é a favor de algum tipo de “internacionalização” da floresta amazônica; agora, avançou mais do que tinha avançado até hoje. Sua desculpa é que é preciso “abrir” a Amazônia à “pesquisa científica” – como se fosse proibido, atualmente, pesquisar alguma coisa por ali. 
A reza é para que a entrega da Amazônia seja a mesma coisa que a entrega da Ucrânia – uma idiotice, e só isso. Se Lula, o PT e a esquerda quiserem mesmo doar território do Brasil a países “bons” e “responsáveis”, o STF vai dizer que é legal e o comandante do Exército brasileiro, na sua ideia fixa de servir à “legalidade”, vai receber os ocupantes com banda de música e desfile de onça com coleira.
 
J. R. Guzzo, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 
 
 
 
 

domingo, 24 de abril de 2022

Até quando a Ucrânia vai lutar por Mariupol?

A notícia de que a cidade de Mariupol, um porto importante no sudeste da Ucrânia, está prestes a cair tem aparecido com frequência no noticiário nos últimos dias. A Rússia já clamou vitória diversas vezes e a Ucrânia vem afirmando que a cidade não caiu nas mãos de seus adversários. Mas até quando vai durar esse impasse?

As tropas russas controlam praticamente toda a cidade, exceto pela fábrica de aço de Azovstal, um complexo industrial de 11 quilômetros quadrados localizado próximo à região portuária da cidade. O local foi transformado na principal base das forças ucranianas, pois foi construído para resistir a bombardeios e possui uma rede de túneis subterrâneos que somam cerca de 24 quilômetros. Se deslocando por eles sem serem descobertos, cerca de 2 mil combatentes ucranianos têm resistido a repetidas investidas russas. É também nesse complexo de túneis que estariam abrigados cerca de 2 mil civis - que seriam parentes dos combatentes.
 
Mariupol é um alvo militar de grande importância estratégica por dois motivos: sua conquista garantiria à Rússia um corredor terrestre ligando seu território à Crimeia (anexada por Moscou em 2014) e privaria a Ucrânia de um importante porto - por onde era escoada grande parte de produção de grãos e aço do país.

Na prática, a Rússia já atingiu esses objetivos. Isso porque controla as principais rodovias e ferrovias que passam pela cidade ligando a região com a Crimeia. O porto já estava com as atividades suspensas desde o início da guerra, em 24 de fevereiro. Estima-se que 140 navios estrangeiros e suas tripulações estejam hoje presos em portos ucranianos, porque a Rússia fez um bloqueio naval ao país no Mar Negro - que também está repleto de minas navais.

Não há possibilidade dos defensores de Azovstal romperem o cerco russo. Eles também têm poucas chances de trocar as fardas por roupas civis e escapar em meio à população civil. Até agora, o discurso dos ucranianos é lutar até o fim.

Moscou já ofereceu ao menos três vezes oportunidades para os combatentes ucranianos se renderem. Todas elas foram recusadas até agora. Kiev queria o estabelecimento de um corredor humanitário para que seus combatentes pudessem fugir sem ser presos, mas Moscou não concordou.

O leitor deve estar se questionando: por que os combatentes não se entregam de uma vez e esperam pelas próximas trocas de prisioneiros (que têm sido recorrentes)?

Isso não ocorreu até agora porque a Ucrânia quer manter o maior número de tropas russas pelo maior tempo possível engajadas na Batalha de Mariupol. Enquanto estão na região, essas tropas não podem ser deslocadas para reforçar as fileiras russas mais ao norte, na Batalha de Donbass, segundo afirmou a este colunista o general de divisão ucraniano Andrii Kozhemiakin, comandante do batalhão Mriya, de Kiev.

Na quarta-feira (20), tropas russas bombardearam e lançaram sucessivos ataques contra o complexo industrial - mas não conseguiram tomá-lo. Os bombardeios são pouco efetivos nessa área específica. Acredita-se que o complexo poderia resistir até a um ataque nuclear. Por isso, o combate tem que ser feito homem a homem - o que eleva muito o número de baixas dos dois lados.

O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou então que as tropas russas isolassem o complexo, para evitar a entrada de suprimentos e a fuga de combatentes. Não se sabe, porém, a quantidade de água e mantimentos que os ucranianos possuem, nem o número de feridos em suas fileiras.

Em paralelo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia afirmado que não seria possível voltar a negociar com a Rússia caso os combatentes de Mariupol sejam massacrados. Ao oferecer sucessivos acordos de rendição, Putin também parece não querer ser culpado pelo eventual fracasso das negociações de paz.

Esse é o cenário militar e diplomático, mas como ficam os civis nessa conta?

Estive na sexta-feira (22) no centro de recepção de refugiados na cidade de Zaporizhzhnya, a 200 quilômetros de Azovstal, e encontrei pouquíssimos moradores da cidade de Mariupol.  Isso ocorre porque a Rússia não tem autorizado com frequência o estabelecimento de corredores humanitários para a cidade. A última vez que isso aconteceu foi na quinta-feira (21), mas apenas 60 pessoas conseguiram escapar em alguns ônibus providenciados pelas autoridades ucranianas.

Os corredores são necessários porque a frente de batalha no sudeste da Ucrânia não está consolidada. Bombardeios e enfrentamentos entre os exércitos russo e ucraniano têm sido reportados próximo a Zaporizhzhnya - em cidades como Huliaipilske, Kamyanske, Novodanylivka, Orikhiv, Pavlivka, Vremivka, Temyrivka, Preobrazhenka, Charivne, Uspenivka, Mala Tokmachka, Malynivka, Poltavka e Novoandriivka.

Ou seja, é muito perigoso para os cidadãos pegarem seus veículos e dirigirem até o lado ucraniano, pois podem ser atingidos no fogo cruzado. Mas algumas pessoas estão fazendo isso. Elas amarram bandeiras e panos brancos em seus veículos e se arriscam a passar por áreas onde não se sabe se há tropas ou não.

A família de Alex Besmrtni, de 14 anos, tentou a sorte e chegou ilesa. “Nós caímos em um posto de controle, mas não havia russos lá, e sim tropas do Daguestão (que combatem ao lado dos russos). Ficamos oito horas esperando até deixarem a gente passar. Mas antes de irmos, eles disseram: ‘Não adianta vocês irem para Zaporizhzhnya, porque lá vai ser a segunda Mariupol’”, disse.

O jovem era o único membro da família capaz de falar algumas palavras em inglês. Para entender uma parte de sua entrevista, tentei recorrer a um tradutor de ucraniano online no celular, mas me surpreendi com a reação dele: “Coloque tradução de inglês para o russo porque não sei falar muito bem o ucraniano”.

Eu havia notado que em toda a Ucrânia é normal ouvir as pessoas misturando palavras russas ao idioma ucraniano, mas antes de vir a Zaporizhzhnya não havia encontrado ucranianos que não sabem a língua oficial do país. E como trata-se de um adolescente, não se pode atribuir o fato ao período de dominação soviética. Segundo o único censo realizado na Ucrânia no período pós-União Soviética, no começo dos anos 2000, cerca de 85% dos cidadãos falam ucraniano e pouco menos de 15% falam russo. Os falantes de russo estão exatamente no sudeste do país e na região de Donbass.

Na sexta-feira, Zelensky lançou mais um de seus vídeos e dessa vez fez um apelo aos moradores de Zaporizhzhnya e Kherson: não forneçam nenhuma informação para autoridades russas que aleguem estar fazendo um censo na região. Uma grande parte do oblast (estado) de Zaporizhzhnya já é controlado pelos russos. Kherson foi a primeira cidade ucraniana a ser conquistada. “Não é só para fazer um censo (...). Não é para dar ajuda humanitária de qualquer tipo. É para falsificar um suposto referendo em sua terra”, disse Zelensky.

A Rússia diz que a invasão do leste e do sul da Ucrânia tem como objetivo libertar russos étnicos que estariam descontentes e sofrendo supostos abusos de direitos humanos pelo governo de Zelensky. O presidente ucraniano diz temer que Putin faça um referendo falso para dar mais subsídios a esse argumento.

A questão é extremamente complexa e não parece ser possível descartar totalmente nem a visão de Putin nem a de Zelensky. Mas tenho conversado com muitos ucranianos da região e a maioria diz que não está preocupada com política, mas sim com salvar seus familiares e ter uma vida digna após o conflito.  Por um lado, ainda há centenas de milhares de ucranianos em território recentemente ocupado pela Rússia - 100 mil só em Mariupol. Só que muitos já deixaram a região - mais de 300 mil refugiados eram de Mariupol.

Apesar de falarem mais russo que ucraniano,
a maioria desses refugiados procurou abrigo em território ucraniano não ocupado, não na Rússia. Isso pode dar uma pista sobre o que está acontecendo.
Jogos de Guerra - Gazeta do Povo - VOZES
 

terça-feira, 1 de março de 2022

4 tragos de vodca

Gazeta do Povo - Revista Oeste

As coincidências de um mundo que dá voltas

Sete reflexões, ou “tragos de vodca”, sobre a guerra na Ucrânia

Na semana passada, logo depois de iniciada a invasão da Ucrânia pela Rússia, comecei a anotar algumas reflexões sobre o conflito. Chamei a série de “Tragos de Vodca“.

Os quatro primeiros “tragos” publiquei na Revista Oeste e estão na sequência dos outros três, que trago hoje para minha coluna da Gazeta do Povo. Espero que essas sete anotações ajudem o leitor a entender melhor o ataque à Ucrânia.

Jogo de palavras
O Ministério da Defesa – do Ataque? – russo teceu duras críticas à Ucrânia pela iniciativa de armar sua população civil. O major-general, porta-voz da pasta, afirmou que “o regime nacionalista de Kiev distribui massiva e incontrolavelmente armas leves automáticas, lançadores de granadas e munição para moradores de assentamentos ucranianos”, acrescentando que “o envolvimento da população civil da Ucrânia pelos nacionalistas nas hostilidades levará inevitavelmente a acidentes e baixas” – talvez como aquela ogiva russa armada e parcialmente enterrada num parque infantil...

A escolha de palavras do Kremlin requer tradução: “regime nacionalista de Kiev” é putinês para o governo democraticamente eleito da Ucrânia, capitaneado por um Presidente, Volodymyr Zelensky, que obteve mais de 70% dos votos em 2019. Já as hostilidades supostamente incentivadas pelos nacionalistas nada mais são do que a resistência heroica e patriota de cidadãos livres, de um país independente, lutando por sua autonomia – não se trata de moradores de assentamentos, mas de residentes nacionais de um povo em pleno gozo da sua autodeterminação.

O PT e sua indisfarçável simpatia pelo autoritarismo
Como a Ucrânia se desfez do seu arsenal nuclear, num acordo que só ela respeitou

O porta-voz russo insiste: “Pedimos ao povo da Ucrânia que seja consciente, não sucumba a essas provocações do regime de Kiev e não se exponha e seus entes queridos a sofrimento desnecessário”. Pegar em armas contra uma força estrangeira invasora não requer muita provocação, nem parece sintoma de ausência de consciência; mas será que o sofrimento de civis e militares da resistência é fútil ou desnecessário?

“Aqueles que abrem mão da liberdade essencial por um pouco de segurança temporária não merecem nem liberdade nem segurança” disse Benjamin Franklin, na época em que os EUA eram o farol da humanidade, onde abundavam lideranças de verdadeira envergadura moral – como são os anônimos da resistência ucraniana.

País desarmado, povo refém
O pronunciamento oficial da Rússia sobre a distribuição de armas em Kiev veio um dia após o Ministério da Defesa e do Interior da Ucrânia solicitar a colaboração dos moradores da capital: “nos informem sobre movimentos de tropas, façam coquetéis molotov e neutralizem o inimigo”. Nas redes sociais, o governo publicou um passo-a-passo para a fabricação caseira de bombas de gasolina e, segundo fontes oficiais, 18 mil armas foram distribuídas.

O descontentamento da força invasora com o armamento voluntário da população violada sinaliza a potencial efetividade da estratégia de formação de milícias civis e do combate de guerrilha. Muitas batalhas já foram vencidas dessa maneira, inclusive durante a sanguinária incursão nazista na Rússia. Obrigar o inimigo a lutar por cada esquina, rua e prédio – apreensivo a cada palmo que avança em território hostil – abala a moral do exército intruso; além disso, nada como o combate homem a homem para materializar a violência (e a estupidez) do conflito, tanto para quem participa, quanto para quem assiste.

Daí a insatisfação do porta-voz e major-general russo, cujas palavras desbordam para o campo da ameaça ao citar uma inevitável escalada de baixas e de sofrimento entre os civis ucranianos. Por outro lado, o exército russo pareceu não se incomodar com a (nobre) tentativa de civis desarmados de barrar o avanço de tanques blindados na cidade ucraniana de Chernigov – o metal prevaleceu sobre a carne-e-osso, assim como a força prepondera sobre a razão em situações de guerra.

Velhos hábitos
Vladimir Putin tem um andar característico, flagrado em múltiplas filmagens, que já foi até objeto de artigos científicos. Em vez de movimentar os braços livremente, utilizando-os como contrapeso aos seus passos, o presidente russo caminha de forma assimétrica, com a movimentação reduzida em seu lado direito, dos ombros à mão.

Essa forma peculiar de marcha apelidada (e glamourizada) pela imprensa internacional como “gunslinger’s gait” (o passo do pistoleiro, em tradução livre) é atribuída ao treinamento de agentes da KGB, o serviço secreto soviético, onde Vladimir Putin chegou à patente de tenente-coronel.

Segundo os pesquisadores, a proximidade do braço ao corpo favoreceria o acesso mais rápido ao coldre e a agilidade no saque da arma numa eventual situação de emergência. Assim caminham o líder russo e seus velhos hábitos.

Tempos difíceis e seus homens
Spiridon Putin, avô paterno do presidente da Rússia, era cozinheiro pessoal de Lenin e outros líderes da Revolução Russa — uma informação que, por algum motivo, foi mantida em sigilo até 2018. Quando Stalin tomou o poder e perpetrou a carnificina dos expurgos, chef Putin e sua esposa foram poupados: “Eles eram, provavelmente, valorizados por serem pessoas de confiança”, comentou Putin, o neto, nascido em 1952 em Leningrado, onde viveu com a família em um apartamento comunitário.

Putin, o pai, nasceu em 1911, com o país sob domínio czarista. Ainda na infância, testemunhou uma revolução, uma guerra mundial e a fome russa, que matou cerca de 5 milhões dos seus conterrâneos. Lutou na Segunda Grande Guerra e foi gravemente ferido por um tiro de metralhadora; sobreviveu, assim como sua mulher, que resistiu ao cerco a Leningrado, um morticínio que vitimou ao menos 2 milhões de russos, entre militares e civis. Vladimir Putin é o filho mais velho desse casal — mas só porque seus irmãos, nascidos antes, faleceram na infância.

Reza o provérbio oriental:Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”… Onde estaremos?

Tempos fáceis e seus homens
Emmanuel Macron nasceu em 1977, formou-se em filosofia e graduou-se em administração com mestrado em políticas públicas. Tornou-se sócio do Rothschild & Cie Banque, que o fez milionário antes dos 35 anos. Já como presidente da França, lançou mão de uma estratégia velada e intelectualmente desonesta de protecionismo agropecuário contra o Brasil, amealhando quase 150 mil coraçõezinhos em sua postagem lacradora sobre a Amazônia em 2019, ilustrada pela foto de um incêndio de décadas atrás: “Nossa casa está queimando. Literalmente. A Floresta Amazônica — os pulmões que produzem 20% do oxigênio do nosso planeta — está pegando fogo. É uma crise internacional”. Claro que pulmões não produzem oxigênio, absorvem — exatamente o que faz a floresta, que consome a maior parte do gás liberado pela fotossíntese, embora contribua de outras formas para a ecologia e o clima do mundo. Mas o que salta aos olhos é a definição do presidente francês de crise internacional.

Parece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade

Outro que já usou a Amazônia para bravatear e capitalizar politicamente foi o commander in chief Joe Biden, que, num debate eleitoral, sugeriu o pagamento — estamos aguardando! — de algo como US$ 20 bilhões para que o Brasil parasse de destruir a Amazônia. O então candidato até ameaçou: Se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”.

Parece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade, que requer sanções concretas contra agentes políticos realmente antagônicos aos valores do Ocidente. E agora?

O mundo dá voltas
Há dez anos, Mitt Romney, candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, foi entrevistado pela CNN e afirmou: “A Rússia é, sem dúvida, nosso maior inimigo geopolítico”. Romney acrescentou: “Quem sempre se alinha aos piores atores globais? A Rússia, geralmente com a China ao seu lado”.

Ato contínuo, em sua campanha pela reeleição, o presidente Barack Obama fez questão de zombar seu adversário por essa resposta: “Quando você foi perguntado qual era a maior ameaça geopolítica contra a América, você respondeu Rússia, não Al-Qaeda [grupo terrorista de extremistas islâmicos responsável pelos ataques de 11 de Setembro]. E os anos 1980 estão na linha solicitando sua política externa de volta, porque a Guerra Fria acabou há 20 anos”.

Barack Obama, o sarrista, foi o único presidente americano na história a completar oito anos de gestão com as tropas do seu país em combate ativo no exterioruma contradição flagrante à sua plataforma eleitoral, que contemplava o encerramento de conflitos e o retorno das Forças Armadas ao lar. Durante seu governo, em 2014, os russos invadiram e anexaram o estratégico território da Crimeia, antes pertencente à Ucrânia.

Embora a anexação não seja reconhecida pela ONU, a unificação ao território russo é dada como fato consumado. Especialistas avaliam que a incursão pela Crimeia foi o balão de ensaio para um movimento mais ousado de Putin na Ucrânia, que ocorreu tão logo um democrata voltou a ocupar o Salão Oval. São as coincidências de um mundo que dá voltas…

A guerra, a fome e o sofrimento desnecessário
No terceiro dia de guerra, o número de fatalidades permanece desconhecido e sigiloso. Um relatório das Nações Unidas dá conta de, ao menos, 64 mortes entre os civis ucranianos – suspeita-se que o número de baixas entre os militares já esteja na casa de centenas, em ambos os lados. Esses óbitos vão pra conta de um governo russo de pretensões imperialistas, que violou tratados internacionais e tem pouca tolerância a regimes democráticos, exceto quando alinhados ao Kremlin. Putin já declarou que “o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século [XX]” – sim, por incrível que pareça, ele se referia ao mesmo centenário que assistiu a duas guerras mundiais e aprisionou centenas de milhões de pessoas na escuridão da cortina de ferro socialista.

Há menos de 100 anos, no alvorecer da URSS, outro governo russo impôs aos ucranianos sua visão de mundo enviesada e ideológica. Entre 1932 e 1934, a Ucrânia foi devastado pela Grande Fome, ou Fome Terror, ou ainda Holodomor (“matar pela fome”) que massacrou 3.9 milhões de ucranianos étnicos por inanição – para muitos, um genocídio levado a cabo pelo governo soviético, que impôs políticas isolacionistas, coletivistas e de confisco agrícola aos camponeses, muitos dos quais recorreram até ao canibalismo na tentativa desesperada de sobrevivência.

Os horrores do Holodomor levaram décadas para chegar ao conhecimento do Ocidente. [informação:o Holodomor aconteceu  quando Stalin presidia a Rússia - o tirano soviético conseguiu ser pior que uma hipotética soma de Mao Tsé-Tung, Kim Jong-Un, Pol Pot - porém, o pior de todos foi o chinês Mao  - que superou a soma de todos em número de mortos.]. Só após a queda da União Soviética – a tal catástrofe geopolítica – o mundo livre conheceu a verdade sobre a fome, a miséria e a violência do comunismo e suas doutrinas derivadas. Putin até que se esforça para imitar seus antecessores, dificultando a livre circulação da informação e restringindo o acesso às redes sociais; mas o mundo de hoje é muito mais conectado e talvez mais sensível ao “sofrimento desnecessário”, como diria o major-general russo. Bastam as mortes – e não milhões de mortes – para alertar e mover a opinião pública. Na zdoróvie.

Leia também “‘Bolsonazismo’ e a banalização do mal”

Caio Coppolla, colunista - Gazeta do Povo - Vozes - Revista Oeste


sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

A Ucrânia balança o mundo - Revista Oeste

Flavio Morgenstern e Artur Piva

Os alertas sobre o expansionismo russo sempre foram interpretados como uma espécie de teoria da conspiração de radicais da direita 

Tanque de tropas do Exército ucraniano | Foto: Milan Sommer/Shutterstock
Tanque de tropas do Exército ucraniano -  Foto: Milan Sommer/Shutterstock

Quando era candidata a vice-presidente na chapa de John McCain em 2008, uma pouco destacada Sarah Palin foi entrevistada sobre seu conhecimento de geopolítica, já que era vista apenas como a governadora de um Estado pouco relevante como o Alasca. A resposta de Palin virou piada nacional: lembrando que o Alasca faz fronteira com a Rússia, afirmou poder ver de seu Estado natal Putin invadindo a Ucrânia. Até hoje há quem creia que a governadora tenha afirmado que podia ver fisicamente a Rússia de sua casa (home), mas quase ninguém se lembrou de sua declaração quando Putin anexou a Crimeia seis anos depois.

Em um debate com o então presidente, Barack Obama, em 2012, Mitt Romney havia dito que a maior ameaça geopolítica que a América enfrentava era a Rússia. Obama soube ganhar apoio midiático e votos rindo da declaração, gracejando que seu adversário republicano queria uma política externa “dos anos 1980” de volta. Seu vice-presidente era um certo Joe Biden, então pouco conhecido no Brasil.

Quatro anos depois, Donald Trump surpreenderia o mundo com sua campanha de amplo apoio popular e violentíssima reação da mídia — afirmando, já na abertura do seu livro América Debilitada, que Vladimir Putin era um perigo para os Estados Unidos da América e para o mundo livre — e que a política democrata estava enfraquecendo a América e favorecendo os planos expansionistas do novo autocrata russo. Putin foi considerado o homem mais poderoso do mundo durante quase todos os anos da administração Obama, que tinha em Hillary Clinton seu braço internacional e em Joe Biden a conexão e o apoio político com o establishment norte-americano.

Desta vez, além de virar alvo de galhofa da mídia, seguiram-se pelo menos dois anos de uma teoria da conspiração que é tratada até hoje como se tivesse sido provada: que Trump havia ganhado as eleições com ajuda da manipulação russa — logo de Putin, que era alvo do então candidato. Seria pedir muito que a maioria dos jornalistas da grande mídia lesse duas ou três páginas de um livro antes de emitir opiniões tão fanatizadas. Foram apenas alguns exemplos de constantes críticas pela direita norte-americana ao expansionismo russo, enquanto o Partido Democrata, o complexo midiático internacional e as instituições acadêmicas que formam a opinião pública faziam troça de tais acusações — tal como Obama, geralmente afirmando que era uma “retórica de Guerra Fria”.

A Ucrânia, país pobre e debilitado, mas ao mesmo tempo muito importante no projeto geopolítico e cultural russo, era vista como o próximo alvo dos planos de Vladimir Putin, tal como Taiwan é a menina dos olhos da China de Xi Jinping. Mas os alertas constantes sobre o imperialismo russo sempre foram ouvidos pelo estamento como uma espécie de teoria da conspiração de extrema direita ultranacionalista — exatamente a chuva de adjetivos de forte impacto psicológico e nenhuma clareza conceitual que foi esquecida na última semana, tão logo Putin cumpriu suas ameaças. A concretização da geopolítica russa, afinal, é resultado do fracasso constante da política externa democrata — de Obama, Hillary e Biden.

O fracasso da “contenção” tardia
O ex-presidente Donald Trump adotou uma política aplicando conceitos mais próximos da administração do que da geopolítica. Apesar das críticas ao seu desconhecimento em geopolítica, ele cuidou de favorecer os amigos do Ocidente, no que ficou conhecido como a política da América em primeiro lugar (America First). Assumindo quando o Estado Islâmico parecia trazer o fim dos tempos, conseguiu manter-se por quatro anos sem nenhum incidente internacional digno de nota. Conseguiu inclusive trazer Kim Jong-un para a mesa de negociações e colocou fim à guerra civil síria, além de ter levado mais paz ao Oriente Médio com os Acordos de Abraão.

Com a vitória de Biden, não demorou até outras potências e grupos opositores colocarem à prova a força do novo governo. Quando isso ocorreu com o Trump, ele respondeu rapidamente com um bombardeio contra bases sírias. Com Biden, o oposto tomou forma: sua política fracassou no Afeganistão e perdeu uma guerra custosa de 20 anos. O caminho estava aberto para que a China, a Rússia, o Irã e outros países voltassem a avançar contra a estabilidade mundial.

Biden também tem culpa por colocar a ideologia acima dos interesses nacionais norte-americanos. O presidente norte-americano é um dos grandes responsáveis por não ter Índia e Brasil alinhados de modo mais claro à posição norte-americana, já que escolheu esnobar Narendra Modi e Bolsonaro por serem conservadores. Ele também fez o mesmo com os países do Golfo, cancelando vendas de produtos de defesa para a Arábia Saudita e para os Emirados, ambos desafetos do Irã, principal aliado russo no Oriente Médio.

Com o atual expansionismo de Putin na Ucrânia, temos um dos mais fortes erros geopolíticos da história norte-americana (e foram muitos recentes). Putin faz suas mobilizações para provocar, e sempre ganha sem precisar disparar um tiro
A Rússia, que faz fronteira com a Turquia e o Japão, com a Finlândia e a Coreia do Norte, com a Polônia e a China, de certa forma com o Japão e os Estados Unidos, pode realizar constantes mobilizações militares e exercícios fronteiriços. 
Afinal, ainda está em seu próprio território. Assim o fez recentemente com a Bielorrússia e a Geórgia, com o Cazaquistão e a própria Ucrânia.

Para o Ocidente poder mostrar seu poder de fogo de volta, precisa passar pela via burocrática: pedidos da Otan, destacamento caríssimo de tropas, passagem por países —  não raro ditaduras —, culminando em exercícios diminuídos e que nunca poderiam assustar alguém como Putin. Até tal resposta aparecer, os russos já puderam fazer novos exercícios, em outros pontos da fronteira russa que envolvem países diferentes — e todo o processo recomeça do zero, a altíssimo custo, enquanto Putin apenas movimenta tropas alguns quilômetros acima ou abaixo.

O que foi testemunhado nas últimas semanas foram constantes provocações militares, que teriam sido contidas caso houvesse um presidente forte na Casa Branca. Joe Biden, depois de Putin já tomar cidades ucranianas com ataques por terra, mar e ar, afirma que irá impor… sanções econômicas às regiões separatistas da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk
Algo para o qual Putin já estava se preparando havia anos — e trata suas tropas na região como “mantenedoras da paz” (sic). O seu ethos é guerreiro, coletivista, não se importa com sacrifícios de indivíduos ou tempo pensando no longo prazo. Não há como comparar uma ameaça de “medidas econômicas severas” com Putin falando em tons militares das “consequências nunca antes vistas” (com armas nunca testadas em campo) do apoio à entrada da Ucrânia na Otan.

Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade

Seria preciso que os Estados Unidos tivessem realizado uma política de contenção mais robusta, como as sanções impostas por Trump ao oleoduto Nord Stream 2 Biden simplesmente desistiu das sanções em maio último, o que levantou suspeitas sobre os interesses de seu filho — e também da família Clinton — nos sistemas de energia dos países mais corruptos do Leste Europeu. Putin logo entendeu que podia se preparar para atacar. Medidas como esta, no tempo correto, teriam sido suficientes para evitar o atoleiro no qual Biden se vê: todas as desvantagens de um conflito militar, que agora é quase inevitável, sem nenhuma vantagem da contenção diplomática.

O curioso é que a propaganda de Biden era justamente de que Putin tinha “medo” dele (e não de Trump), porque ele seria “muito duro” com o autocrata russo. Palavras sem espada são apenas tinta no papel. Ou no Twitter. Hoje, tudo o que resta a Biden é prometer sanções econômicas, que poucos dos seus aliados europeus levarão a sério, se são tão dependentes da energia russa.

A Ucrânia no xadrez geopolítico
Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade: a recriação da grandeza do antigo Império Russo, mas com a tecnologia moderna e o poder autocrata herdado da União Soviética. Este plano busca recriar o Império original, a grande Rus, o nome original da Rússia. A Ucrânia, ou “Pequena Rússia”, como é chamada pelos russos, é peça-chave para o plano de Putin. Além de muitos ucranianos serem etnicamente russos, e identificarem-se mais com o grande e glorioso país do que com seu decadente e corrupto Estado moderno, o antigo Império tinha em Kiev o seu centro cultural — o que é uma questão séria para Putin.

Sem ter uma ideologia muito precisa que unifique a sociedade a favor do seu projeto de poder como os ditadores comunistas possuíam com o bolchevismo comunista, seu apelo atual é para um “nacionalismo” expansionista, no qual os antigos territórios do Império Russo serão retomados um a um. A hegemonia cultural, militar e econômica do globo deixará de ter na América e na Inglaterra o seu centro irradiador, e a Grande Mãe Rússia ressurgirá como a nação capaz de salvar os pobres e aflitos do planeta. Foi neste contexto que vimos a Ucrânia querer uma aproximação com o Ocidente: cogitando mais um modelo liberal, pró-União Europeia e sendo apoiada até militarmente pelo mundo livre. Cogitou se filiar à Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, o bloco de países que se uniu justamente para frear o expansionismo militar russo durante a Guerra Fria. Para um autocrata com um plano global como Putin, é muito mais do que uma provokatsiya: é praticamente uma declaração de guerra. Afinal, a “Pequena Rússia” é parte da Rússia, segundo pensa Putin.

Memes começaram a aparecer nas redes sociais minutos depois da invasão:

 

A despeito das ideologias, as fronteiras atuais da Ucrânia foram definidas pelos tratados do fim da Guerra Fria. Como os países menores eram controlados por governos “satélites” de Moscou pela União Soviética, o mapa atual da Ucrânia possui fronteiras artificialmente maiores do que seu desenho histórico — o que é martelado dia e noite pela propaganda oficial de Putin. Entre os principais alvos estão Odessa e Sevastopol, importantes portos para a economia russa. Quando a Ucrânia se declarou independente de Moscou de vez, em 2014, essas regiões tornaram-se zonas de extrema tensão e conflito. E é neste ponto em que a política externa de Biden, desastrosa em tudo, se tornou verdadeiramente mortífera.

A política da provokatsiya e da desinformatsiya
Putin, homem forte da KGB e especialista em desinformatsiya, sempre soube fazer intensa propaganda separatista na Ucrânia, sobretudo na fronteira leste, financiando milícias, apoiando grupos rebeldes e prometendo mundos e fundos para quem pretendesse anexar-se à Rússia. Ao mesmo tempo, também destaca como grupos “neonazistas” aparecem no país vizinho, passando a tratar qualquer um que se oponha ao seu projeto de poder como um “nazista” ou um “racista”. Como palavras importam em uma guerra travada antes na mídia do que no campo de batalha, países ocidentais pisam em ovos para apoiar governos legítimos, como o da Ucrânia. Mesmo no Brasil, até sua bandeira já foi acusada de ser um “símbolo neonazista”, exigindo que o embaixador ucraniano no Brasil viesse a público explicar que o símbolo do país não é “neonazista”
Ou seja, a desinformatsiya russa é eficiente e transcontinental. Determina até os termos usados por jornalistas brasileiros. Enquanto isso, Putin constantemente ganha mais espaço de manobra para destruir grupos rivais. Tal como virou moda em republiquetas, acusa seus adversários de nazistas, e então trata-os como se merecessem um eterno Estado de exceção. E políticos como Obama e Biden, em vez de defender o mundo livre, sempre pisam em ovos para lidar com as manobras do expansionismo russo. Para eles, importa muito mais não ser chamados de “apoiadores de nazistas” pelo complexo midiático norte-americano — e, logo, mundial — do que lutar pelo mundo livre. Infelizmente, este modelo de política já foi exportado para o mundo ocidental. [o mais importante é que a consolidação de Putin, controlando a Ucrânia - ou mesmo anexando - reduz em muito o ímpeto do Biden e da sua vice na propagação, quase imposição, do maldito progressismo esquerdista. Putin não discute, nem dá sinais que discutirá o comunismo - que não considera tema importante. 
Para ele o conservadorismo que o domina é bem mais importante. Uma brecada na propagação do maldito progressismo esquerdista, que tem como meta destruir todos os valores do mundo - entre eles, sem limitar: BONS COSTUMES, FAMÍLIA, MORAL, PROPRIEDADE, RELIGIÃO, TRADIÇÃO, LIBERDADE, PATRIOTISMO é importante para que o mundo seja um lugar digno das pessoas de BEM continuarem nele.]
As possíveis consequências para o Brasil
Em um mundo interligado, um conflito na Ucrânia não é mais assunto distante, como a última Guerra da Bósnia. O Brasil está em uma situação bastante peculiar: sua agropecuária alimenta boa parte do mundo, mas é extremamente dependente de fertilizantes russos e 49% das exportações de gado têm como destino a China. Por isso, uma negociação com os russos é necessária e delicada.

Além de uma possível alta no preço dos combustíveis e do gás, em caso de um embargo, como proposto por Biden, a Rússia provavelmente irá triangular com a China para furar o bloqueio. A manobra aumentaria ainda mais o poder de Xi Jinping sobre o comércio internacional. Mais um desastre da atual política norte-americana é forçar sanções nas regiões pró-Rússia em dólar, euro e iene. Em vez de enfraquecer o inimigo, todas essas áreas separatistas passam a recorrer ao iuane chinês, aumentando o poder de barganha de Pequim. O Brasil também sofre com uma China controlando ainda mais territórios com sua moeda.

O cenário tem tudo para ser, no mínimo, péssimo para a economia.

Leia também “A fraqueza ocidental”

Flavio Morgenstern e Artur Piva, Revista - Oeste