VOZES - Gazeta do Povo
Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Conteúdo editado por: Bruna Frascolla Bloise
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
Figura 1 – T-14 Armata, o mais novo CC da Rússia. (Foto Eurasia Times)
(...)
Figura 2 – Carro de combate T-72 B3, versão mais moderna deste veículo, usado na invasão da Ucrânia. (Foto Agência TASS).
(...)
Foto 3 – CC destruído em estrada ucraniana. Notar uma “inocente” placa de trânsito, que na verdade serve como referência para emboscada. (Foto Reuters)
Figura 4 – CC russo T-72 destruído na Ucrânia. A presença de blindagem reativa (ERA) teve efeito mínimo na proteção dos carros.
Figura 8 – Leopard 2A4 polonês, um dos possíveis CCs a serem doados aos ucranianos.
(Foto Reddit)
AS CONCLUSÕES PARCIAIS DESTE INÍCIO DE CONFLITO devem ser lidas com muita cautela, posto que ainda estão muito turvas pela névoa da guerra em andamento e são possivelmente contaminadas pela maciça campanha de desinformação realizada pelos dois lados em luta e seus aliados. Ainda assim algumas observações podem ser listadas e posteriormente verificadas, quando do acesso à documentação primária e outras fontes como serviços de inteligência e grupos profissionais de análise de conflitos. Assim sendo temos que:
a) A fase inicial do ataque russo foi executada com relativo sucesso, mas a campanha falhou em atingir seu objetivo, a tomada em 10 dias de Kiev e consequente rendição da Ucrânia. A falta de flexibilidade tática foi desastrosa, expondo as tropas russas a perdas incompatíveis com a capacidade inicial do inimigo.
b) As perdas materiais russas foram exorbitantes, mesmo para uma campanha de grande porte e convencional como esta. A perda de cerca de 1/3 da frota de CCs da Federação Russa torna a possibilidade de novas grandes ofensivas cada vez menor.
c) A artilharia ucraniana foi a grande responsável pelas perdas
materiais e humanas russas, em que pese o “glamour” das novas armas
anticarro e as baixas substanciais causadas por estas armas. O
deslocamento preferencial por estradas facilitou bastante este fato.
Eduardo Atem de Carvalho, PhD
Universidade Estadual do Norte Fluminense
Rogerio Atem de Carvalho, DSc
Instituto Federal Fluminense
Notícia - DefesaNet - ÍNTEGRA DA MATÉRIA
A ONU era tão forte que em 1948 ela conseguiu criar o Estado de Israel, em 2023 ela não consegue criar o Estado Palestino (Lula).
Cada vez que põe os pés fora do Brasil, vestindo a fantasia de “líder dos povos” que pediu emprestada a Stálin, Lula me faz lembrar o comediante britânico Peter Sellers pegando um copo e derrubando a cristaleira, ou acendendo um cigarro e explodindo a casa do vizinho.
Assim como o presidente da APEX-Brasil vai à China e critica o agronegócio brasileiro, Lula vai à Espanha e diz, em encontro com empresários, que é impossível investir no Brasil. Tal conduta eleva o petismo a seu estado de bem-aventurança e é o motivo pelo qual a atual diplomacia brasileira quer dar lições ao mundo e não perde oportunidade de criticar o próprio país.
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Dois princípios nas relações internacionais são o direito à
autodeterminação e o direito à integridade territorial. No conflito da
hora, Kiev esgrime com o segundo, mas Moscou argumenta com o primeiro
para as repúblicas do Donbass e as regiões sulistas do vizinho, Crimeia
inclusive, que decidiram [autodeterminação.] se desligar.
Na dissolução e fragmentação da Iugoslávia, duas décadas atrás, os
Estados Unidos e a OTAN invocaram o direito à autodeterminação, enquanto
uma enfraquecida Rússia argumentava, imponentemente, em defesa da
integridade territorial da Iugoslávia. No final, quem pôde mais chorou
menos.
O observador razoavelmente atento notará que os EUA e a União Europeia
retiraram dos arquivos o play-book da Guerra Fria 1.0 para conter a
ascensão da China. Impor crescentes constrangimentos econômicos,
deflagrar uma corrida armamentista e dar o golpe final por meio das
tensões étnico-nacionais e do separatismo.
Entre as dificuldades na tentativa de repetir o roteiro, uma frequenta
mais amiúde os pesadelos do Ocidente. Quando a URSS declinou e
finalmente desapareceu, havia tempo que não era mais aliada da China,
que na geopolítica estava até mais próxima dos EUA. Hoje, a ameaça
existencial comum empurra chineses e russos a aliar-se estrategicamente.
Na economia e na esfera militar são nações que se complementam num encaixe quase perfeito.
Eis por que o Ocidente não pode nem pensar em conter a China, o objetivo
central na Guerra Fria 2.0, sem atrair a Rússia para sua esfera de
influência ou desmembrá-la, a exemplo do que foi feito com a URSS. [não podemos olvidar, que a China conta agora com o apoio, que não pediu, nem precisa, do 'estadista' de todos os estadistas, ex-presidiário que preside o Brasil.]
Ou as duas coisas.
A Federação Russa permanece um dos poucos estados de fato plurinacionais
no planeta, com potenciais tensões separatistas permanentes. Enquanto o
Ocidente argumenta com o direito à integridade territorial da Ucrânia,
usa a Ucrânia para desestabilizar a integridade territorial russa.
O que, aliás, somado à crescente simpatia ocidental pela tese de Taiwan
independente e pelas pressões separatistas em Hong Kong e Xinjiang,
ajuda a amalgamar a aliança entre Moscou e Beijing.
E o Brasil com isso? O cenário internacional para nós, também pelos
motivos expostos, é incomparavelmente mais complexo do que quando Luiz
Inácio Lula da Silva chegou ao Planalto pela primeira vez, em 2003.
Naqueles tempos, 1) os EUA tinham o foco na guerra ao terror; 2) uma
enfraquecida Rússia estava saindo do catastrófico governo de Boris
Ieltsin; e 3) ainda prevalecia a esperança ocidental de que o
desenvolvimento econômico chinês, orientado ao mercado e à globalização,
faria entrar em colapso o poder comunista.
Assim, Lula pôde implodir o projeto norte-americano da Área de Livre
Comércio das Américas (ALCA) sem maior consequência, teve espaço para
projetar poder econômico-financeiro regional e o Brasil ajudou
alegremente a construir os Brics.
Mas os ventos começaram a mudar lá pelo final da década, acelerados pela
crise de 2008/09, e quem acabou pagando o pato da insatisfação de
Washington com o expansionismo e o independentismo brasileiros foi Dilma
Rousseff.
Os EUA estão crescentemente nervosos diante da ameaça de um ocaso em seu
reinado de única superpotência. E bem quando a história parecia ter
chegado ao fim, dando razão a Francis Fukuyama, e quando o breve século
XX, na definição de Eric Hobsbawm, tinha ficado para trás.
Mas as duas teses balançam. Fukuyama e Hobsbawn estão em xeque. O século XXI está cada vez mais parecido com o anterior.
Como Lula vai descascar o abacaxi? Até agora, recorreu aos velhos
truques, de eficácia comprovada. Foi a Washington e disse coisas
agradáveis aos anfitriões, depois dirigiu-se a Beijing para falar coisas
que fizeram bem aos ouvidos dos chineses. Nas duas viagens, procurou
extrair o melhor da relação. [será que qualquer das partes acreditou no que ouviu? sabem que são palavras proferidas por um mentiroso patológico - .vide Lula se jactando para Jaime Lerner de que mentia.]
Não deixa de ser inteligente como aposta para não queimar pontes.
Só é preciso saber até quando isso será suficiente. Pois de vez em
quando chega uma hora em que os princípios, como tratado no início deste
texto, e as declarações genéricas de intenções não dão mais para o
gasto.
E 2023 não é 2003.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
Na semana passada, logo depois de iniciada a invasão da Ucrânia pela Rússia, comecei a anotar algumas reflexões sobre o conflito. Chamei a série de “Tragos de Vodca“.
Os quatro primeiros “tragos” publiquei na Revista Oeste e estão na sequência dos outros três, que trago hoje para minha coluna da Gazeta do Povo. Espero que essas sete anotações ajudem o leitor a entender melhor o ataque à Ucrânia.
Essa forma peculiar de marcha — apelidada (e glamourizada) pela imprensa internacional como “gunslinger’s gait” (o passo do pistoleiro, em tradução livre) — é atribuída ao treinamento de agentes da KGB, o serviço secreto soviético, onde Vladimir Putin chegou à patente de tenente-coronel.
Segundo os pesquisadores, a proximidade do braço ao corpo favoreceria o acesso mais rápido ao coldre e a agilidade no saque da arma numa eventual situação de emergência. Assim caminham o líder russo e seus velhos hábitos.
Putin, o pai, nasceu em 1911, com o país sob domínio czarista. Ainda na infância, testemunhou uma revolução, uma guerra mundial e a fome russa, que matou cerca de 5 milhões dos seus conterrâneos. Lutou na Segunda Grande Guerra e foi gravemente ferido por um tiro de metralhadora; sobreviveu, assim como sua mulher, que resistiu ao cerco a Leningrado, um morticínio que vitimou ao menos 2 milhões de russos, entre militares e civis. Vladimir Putin é o filho mais velho desse casal — mas só porque seus irmãos, nascidos antes, faleceram na infância.
Reza o provérbio oriental: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”… Onde estaremos?
Tempos fáceis e seus homensParece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade
Outro que já usou a Amazônia para bravatear e capitalizar politicamente foi o commander in chief Joe Biden, que, num debate eleitoral, sugeriu o pagamento — estamos aguardando! — de algo como US$ 20 bilhões para que o Brasil parasse de destruir a Amazônia. O então candidato até ameaçou: “Se não parar, vai enfrentar consequências econômicas significativas”.
Parece que os líderes do mundo livre finalmente depararam com uma crise internacional de verdade, que requer sanções concretas contra agentes políticos realmente antagônicos aos valores do Ocidente. E agora?
O mundo dá voltasAto contínuo, em sua campanha pela reeleição, o presidente Barack Obama fez questão de zombar seu adversário por essa resposta: “Quando você foi perguntado qual era a maior ameaça geopolítica contra a América, você respondeu Rússia, não Al-Qaeda [grupo terrorista de extremistas islâmicos responsável pelos ataques de 11 de Setembro]. E os anos 1980 estão na linha solicitando sua política externa de volta, porque a Guerra Fria acabou há 20 anos”.
Barack Obama, o sarrista, foi o único presidente americano na história a completar oito anos de gestão com as tropas do seu país em combate ativo no exterior — uma contradição flagrante à sua plataforma eleitoral, que contemplava o encerramento de conflitos e o retorno das Forças Armadas ao lar. Durante seu governo, em 2014, os russos invadiram e anexaram o estratégico território da Crimeia, antes pertencente à Ucrânia.
Embora a anexação não seja reconhecida pela ONU, a unificação ao território russo é dada como fato consumado. Especialistas avaliam que a incursão pela Crimeia foi o balão de ensaio para um movimento mais ousado de Putin na Ucrânia, que ocorreu tão logo um democrata voltou a ocupar o Salão Oval. São as coincidências de um mundo que dá voltas…
A guerra, a fome e o sofrimento desnecessário
No terceiro dia de guerra, o número de fatalidades permanece desconhecido e sigiloso. Um relatório das Nações Unidas dá conta de, ao menos, 64 mortes entre os civis ucranianos – suspeita-se que o número de baixas entre os militares já esteja na casa de centenas, em ambos os lados. Esses óbitos vão pra conta de um governo russo de pretensões imperialistas, que violou tratados internacionais e tem pouca tolerância a regimes democráticos, exceto quando alinhados ao Kremlin. Putin já declarou que “o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século [XX]” – sim, por incrível que pareça, ele se referia ao mesmo centenário que assistiu a duas guerras mundiais e aprisionou centenas de milhões de pessoas na escuridão da cortina de ferro socialista.
Há menos de 100 anos, no alvorecer da URSS, outro governo russo impôs aos ucranianos sua visão de mundo enviesada e ideológica. Entre 1932 e 1934, a Ucrânia foi devastado pela Grande Fome, ou Fome Terror, ou ainda Holodomor (“matar pela fome”) que massacrou 3.9 milhões de ucranianos étnicos por inanição – para muitos, um genocídio levado a cabo pelo governo soviético, que impôs políticas isolacionistas, coletivistas e de confisco agrícola aos camponeses, muitos dos quais recorreram até ao canibalismo na tentativa desesperada de sobrevivência.
Os horrores do Holodomor levaram décadas para chegar ao conhecimento do Ocidente. [informação:o Holodomor aconteceu quando Stalin presidia a Rússia - o tirano soviético conseguiu ser pior que uma hipotética soma de Mao Tsé-Tung, Kim Jong-Un, Pol Pot - porém, o pior de todos foi o chinês Mao - que superou a soma de todos em número de mortos.]. Só após a queda da União Soviética – a tal catástrofe geopolítica – o mundo livre conheceu a verdade sobre a fome, a miséria e a violência do comunismo e suas doutrinas derivadas. Putin até que se esforça para imitar seus antecessores, dificultando a livre circulação da informação e restringindo o acesso às redes sociais; mas o mundo de hoje é muito mais conectado e talvez mais sensível ao “sofrimento desnecessário”, como diria o major-general russo. Bastam as mortes – e não milhões de mortes – para alertar e mover a opinião pública. Na zdoróvie.
Leia também “‘Bolsonazismo’ e a banalização do mal”
Caio Coppolla, colunista - Gazeta do Povo - Vozes - Revista Oeste
Quando era candidata a vice-presidente na chapa de John McCain em 2008, uma pouco destacada Sarah Palin foi entrevistada sobre seu conhecimento de geopolítica, já que era vista apenas como a governadora de um Estado pouco relevante como o Alasca. A resposta de Palin virou piada nacional: lembrando que o Alasca faz fronteira com a Rússia, afirmou poder ver de seu Estado natal Putin invadindo a Ucrânia. Até hoje há quem creia que a governadora tenha afirmado que podia ver fisicamente a Rússia de sua casa (home), mas quase ninguém se lembrou de sua declaração quando Putin anexou a Crimeia seis anos depois.
Em um debate com o então presidente, Barack Obama, em 2012, Mitt Romney havia dito que a maior ameaça geopolítica que a América enfrentava era a Rússia. Obama soube ganhar apoio midiático e votos rindo da declaração, gracejando que seu adversário republicano queria uma política externa “dos anos 1980” de volta. Seu vice-presidente era um certo Joe Biden, então pouco conhecido no Brasil.
Quatro anos depois, Donald Trump surpreenderia o mundo com sua campanha de amplo apoio popular — e violentíssima reação da mídia — afirmando, já na abertura do seu livro América Debilitada, que Vladimir Putin era um perigo para os Estados Unidos da América e para o mundo livre — e que a política democrata estava enfraquecendo a América e favorecendo os planos expansionistas do novo autocrata russo. Putin foi considerado o homem mais poderoso do mundo durante quase todos os anos da administração Obama, que tinha em Hillary Clinton seu braço internacional e em Joe Biden a conexão e o apoio político com o establishment norte-americano.
Desta vez, além de virar alvo de galhofa da mídia, seguiram-se pelo menos dois anos de uma teoria da conspiração que é tratada até hoje como se tivesse sido provada: que Trump havia ganhado as eleições com ajuda da manipulação russa — logo de Putin, que era alvo do então candidato. Seria pedir muito que a maioria dos jornalistas da grande mídia lesse duas ou três páginas de um livro antes de emitir opiniões tão fanatizadas. Foram apenas alguns exemplos de constantes críticas pela direita norte-americana ao expansionismo russo, enquanto o Partido Democrata, o complexo midiático internacional e as instituições acadêmicas que formam a opinião pública faziam troça de tais acusações — tal como Obama, geralmente afirmando que era uma “retórica de Guerra Fria”.
A Ucrânia, país pobre e debilitado, mas ao mesmo tempo muito importante no projeto geopolítico e cultural russo, era vista como o próximo alvo dos planos de Vladimir Putin, tal como Taiwan é a menina dos olhos da China de Xi Jinping. Mas os alertas constantes sobre o imperialismo russo sempre foram ouvidos pelo estamento como uma espécie de teoria da conspiração de extrema direita ultranacionalista — exatamente a chuva de adjetivos de forte impacto psicológico e nenhuma clareza conceitual que foi esquecida na última semana, tão logo Putin cumpriu suas ameaças. A concretização da geopolítica russa, afinal, é resultado do fracasso constante da política externa democrata — de Obama, Hillary e Biden.
O fracasso da “contenção” tardiaCom a vitória de Biden, não demorou até outras potências e grupos opositores colocarem à prova a força do novo governo. Quando isso ocorreu com o Trump, ele respondeu rapidamente com um bombardeio contra bases sírias. Com Biden, o oposto tomou forma: sua política fracassou no Afeganistão e perdeu uma guerra custosa de 20 anos. O caminho estava aberto para que a China, a Rússia, o Irã e outros países voltassem a avançar contra a estabilidade mundial.
Biden também tem culpa por colocar a ideologia acima dos interesses nacionais norte-americanos. O presidente norte-americano é um dos grandes responsáveis por não ter Índia e Brasil alinhados de modo mais claro à posição norte-americana, já que escolheu esnobar Narendra Modi e Bolsonaro por serem conservadores. Ele também fez o mesmo com os países do Golfo, cancelando vendas de produtos de defesa para a Arábia Saudita e para os Emirados, ambos desafetos do Irã, principal aliado russo no Oriente Médio.
Para o Ocidente poder mostrar seu poder de fogo de volta, precisa passar pela via burocrática: pedidos da Otan, destacamento caríssimo de tropas, passagem por países — não raro ditaduras —, culminando em exercícios diminuídos e que nunca poderiam assustar alguém como Putin. Até tal resposta aparecer, os russos já puderam fazer novos exercícios, em outros pontos da fronteira russa que envolvem países diferentes — e todo o processo recomeça do zero, a altíssimo custo, enquanto Putin apenas movimenta tropas alguns quilômetros acima ou abaixo.
Vladimir Putin sonha em criar algo digno dos grandes conquistadores da Antiguidade
Seria preciso que os Estados Unidos tivessem realizado uma política de contenção mais robusta, como as sanções impostas por Trump ao oleoduto Nord Stream 2 — Biden simplesmente desistiu das sanções em maio último, o que levantou suspeitas sobre os interesses de seu filho — e também da família Clinton — nos sistemas de energia dos países mais corruptos do Leste Europeu. Putin logo entendeu que podia se preparar para atacar. Medidas como esta, no tempo correto, teriam sido suficientes para evitar o atoleiro no qual Biden se vê: todas as desvantagens de um conflito militar, que agora é quase inevitável, sem nenhuma vantagem da contenção diplomática.
O curioso é que a propaganda de Biden era justamente de que Putin tinha “medo” dele (e não de Trump), porque ele seria “muito duro” com o autocrata russo. Palavras sem espada são apenas tinta no papel. Ou no Twitter. Hoje, tudo o que resta a Biden é prometer sanções econômicas, que poucos dos seus aliados europeus levarão a sério, se são tão dependentes da energia russa.
Vladimir Putin doesn’t want me to be President. He doesn’t want me to be our nominee. If you’re wondering why — it’s because I’m the only person in this field who’s ever gone toe-to-toe with him.
— Joe Biden (@JoeBiden) February 21, 2020
A Ucrânia no xadrez geopolítico
Sem ter uma ideologia muito precisa que unifique a sociedade a favor do seu projeto de poder como os ditadores comunistas possuíam com o bolchevismo comunista, seu apelo atual é para um “nacionalismo” expansionista, no qual os antigos territórios do Império Russo serão retomados um a um. A hegemonia cultural, militar e econômica do globo deixará de ter na América e na Inglaterra o seu centro irradiador, e a Grande Mãe Rússia ressurgirá como a nação capaz de salvar os pobres e aflitos do planeta. Foi neste contexto que vimos a Ucrânia querer uma aproximação com o Ocidente: cogitando mais um modelo liberal, pró-União Europeia e sendo apoiada até militarmente pelo mundo livre. Cogitou se filiar à Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, o bloco de países que se uniu justamente para frear o expansionismo militar russo durante a Guerra Fria. Para um autocrata com um plano global como Putin, é muito mais do que uma provokatsiya: é praticamente uma declaração de guerra. Afinal, a “Pequena Rússia” é parte da Rússia, segundo pensa Putin.
A despeito das ideologias, as fronteiras atuais da Ucrânia foram definidas pelos tratados do fim da Guerra Fria. Como os países menores eram controlados por governos “satélites” de Moscou pela União Soviética, o mapa atual da Ucrânia possui fronteiras artificialmente maiores do que seu desenho histórico — o que é martelado dia e noite pela propaganda oficial de Putin. Entre os principais alvos estão Odessa e Sevastopol, importantes portos para a economia russa. Quando a Ucrânia se declarou independente de Moscou de vez, em 2014, essas regiões tornaram-se zonas de extrema tensão e conflito. E é neste ponto em que a política externa de Biden, desastrosa em tudo, se tornou verdadeiramente mortífera.
A política da provokatsiya e da desinformatsiyaAlém de uma possível alta no preço dos combustíveis e do gás, em caso de um embargo, como proposto por Biden, a Rússia provavelmente irá triangular com a China para furar o bloqueio. A manobra aumentaria ainda mais o poder de Xi Jinping sobre o comércio internacional. Mais um desastre da atual política norte-americana é forçar sanções nas regiões pró-Rússia em dólar, euro e iene. Em vez de enfraquecer o inimigo, todas essas áreas separatistas passam a recorrer ao iuane chinês, aumentando o poder de barganha de Pequim. O Brasil também sofre com uma China controlando ainda mais territórios com sua moeda.
O cenário tem tudo para ser, no mínimo, péssimo para a economia.
Leia também “A fraqueza ocidental”