Renato Grandelle
Medida controversa compensaria falta de conhecimento sobre contágio; mas pesquisadores alertam que isolamento pode provocar 'efeitos colaterais
'Quando um vírus circula descontrolado, o jeito é trancar a população.' Foi este o pensamento que norteou os governos de diversos países, como China, Cingapura, Itália, Espanha e França, ao instituírem políticas de confinamento. A medida é radical e os resultados nem sempre são certeiros — limitou a disseminação do coronavírus em nações asiáticas, mas a Europa, onde encontra mais resistência, ainda registra centenas de novos casos por dia.
[Simples de explicar. Vejamos o caso da China - já teve um dia, ontem, sem mortes pelo coronavírus:
- baixou medidas duras, restritivas, sem perder tempo em discussões que só atrasam o encontro e implementação das soluções.
No Brasil, tudo tem que ser discutido previamente com os integrantes do Poder Executivo - o que é natural, por ser o Executivo quem implementa as medidas buscando solucionar o problema.
Só que fica sempre aquela dúvida: o que o Toffoli vai pensar? e o 'primeiro-ministro' Maia será que vai concordar? e o seu fiel escudeiro, o Alcolumbre? E o Macron? e os pupilos do presidente Bolsonaro?
Na China decidem pela medida, aplicam fazendo o que for necessário para que seja obedecida e depois discutem eventuais restrições.
Restrições difíceis de prosperar, quando o acerto das medidas, apesar de duras, foi total.]
Professor titular de Epidemiologia da UFRJ, Roberto Medronho defende a estratégia de isolamento, que poderia compensar, ao menos temporariamente, a falta de conhecimento científico sobre o novo coronavírus.
Leia mais:Coronavírus: Itália ultrapassa China em número de mortos
[A população da China é apenas 23 vezes superior a da Itália.] — Estamos diante de uma doença sobre a qual temos pouco experiência. É como trocar o pneu de um carro em movimento — compara Medronho, que é coordenador de um grupo de trabalho dedicado ao estudo do patógeno da UFRJ. — Alguns países, especialmente os asiáticos, mostraram que o confinamento restringiu o crescimento exponencial de transmissão. A Itália demorou para adotar esta estratégia e viu um rápido colapso de seu sistema de saúde.
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— No Brasil, o coronavírus chegou como uma doença da elite e da classe média, de pessoas que trouxeram o vírus do exterior, e agora estão internadas em hospitais privados. Agora, está migrando para camadas populares, que usam hospitais públicos, que já são sobrecarregados e têm funcionários mal pagos. Como não há condições de construir novos hospitais em poucos meses, precisamos restringir a mobilidade das pessoas, já que é uma doença sem vacina ou tratamento específico e transmitida pelo ar.
Nações asiáticas são exemploRenato Grandelle
Medida controversa compensaria falta de conhecimento sobre contágio; mas pesquisadores alertam que isolamento pode provocar 'efeitos colaterais
'Quando um vírus circula descontrolado, o jeito é trancar a população.' Foi este o pensamento que norteou os governos de diversos países, como China, Cingapura, Itália, Espanha e França, ao instituírem políticas de confinamento. A medida é radical e os resultados nem sempre são certeiros — limitou a disseminação do coronavírus em nações asiáticas, mas a Europa, onde encontra mais resistência, ainda registra centenas de novos casos por dia.
[Simples de explicar. Vejamos o caso da China - já teve um dia, ontem, sem mortes pelo coronavírus:
- baixou medidas duras, restritivas, sem perder tempo em discussões que só atrasam o encontro e implementação das soluções.
No Brasil, tudo tem que ser discutido previamente com os integrantes do Poder Executivo - o que é natural, por ser o Executivo quem implementa as medidas buscando solucionar o problema.
Só que fica sempre aquela dúvida: o que o Toffoli vai pensar? e o 'primeiro-ministro' Maia será que vai concordar? e o seu fiel escudeiro, o Alcolumbre? E o Macron? e os pupilos do presidente Bolsonaro?
Na China decidem pela medida, aplicam fazendo o que for necessário para que seja obedecida e depois discutem eventuais restrições.
Restrições difíceis de prosperar, quando o acerto das medidas, apesar de duras, foi total.]
[A população da China é apenas 23 vezes superior a da Itália.] — Estamos diante de uma doença sobre a qual temos pouco experiência. É como trocar o pneu de um carro em movimento — compara Medronho, que é coordenador de um grupo de trabalho dedicado ao estudo do patógeno da UFRJ. — Alguns países, especialmente os asiáticos, mostraram que o confinamento restringiu o crescimento exponencial de transmissão. A Itália demorou para adotar esta estratégia e viu um rápido colapso de seu sistema de saúde.
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— No Brasil, o coronavírus chegou como uma doença da elite e da classe média, de pessoas que trouxeram o vírus do exterior, e agora estão internadas em hospitais privados. Agora, está migrando para camadas populares, que usam hospitais públicos, que já são sobrecarregados e têm funcionários mal pagos. Como não há condições de construir novos hospitais em poucos meses, precisamos restringir a mobilidade das pessoas, já que é uma doença sem vacina ou tratamento específico e transmitida pelo ar.
Jairo Werner, psiquiatra da UFF, retornou recentemente da Antárctica, onde estudou o isolamento e o confinamento de pesquisadores do continente gelado.
— Precisamos preparar pessoas que têm problemas como ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e depressão, para que consigam se preparar para uma internação compulsória — explica. — É natural que, no início, haja uma resistência a esta nova realidade. Por isso, todos devem ser orientados não apenas a enfrentar a vida cotidiana, mas também a se comportar em a família. Algumas pessoas recorrem ao álcool para compensar o confinamento.
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Preparando a casa
Uma casa deve estar preparada para isolar um morador que for infectado. O paciente deve evitar contato com outros moradores — se tiver que se aproximar, precisará usar máscara. Também deve ter seus próprios utensílios, como prato e talheres, e ser responsável por trocar sua roupa de cama. Ela deve ser colocada em um saco plástico antes de ser jogada na máquina de lavar.
Mais de 80% dos casos de coronavírus limitam-se a sintomas leves, como mal-estar, diarreia, falta de apetite, cansaço e tosse seca. A recomendação é que apenas pessoas com problemas pulmonares procurem o hospital.
Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA
— Precisamos preparar pessoas que têm problemas como ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e depressão, para que consigam se preparar para uma internação compulsória — explica. — É natural que, no início, haja uma resistência a esta nova realidade. Por isso, todos devem ser orientados não apenas a enfrentar a vida cotidiana, mas também a se comportar em a família. Algumas pessoas recorrem ao álcool para compensar o confinamento.
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Uma casa deve estar preparada para isolar um morador que for infectado. O paciente deve evitar contato com outros moradores — se tiver que se aproximar, precisará usar máscara. Também deve ter seus próprios utensílios, como prato e talheres, e ser responsável por trocar sua roupa de cama. Ela deve ser colocada em um saco plástico antes de ser jogada na máquina de lavar.
Mais de 80% dos casos de coronavírus limitam-se a sintomas leves, como mal-estar, diarreia, falta de apetite, cansaço e tosse seca. A recomendação é que apenas pessoas com problemas pulmonares procurem o hospital.