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sexta-feira, 17 de julho de 2020

Ceilândia e Sol Nascente: GDF determina reabertura na próxima segunda-feira

Ibaneis Rocha (MDB) revogou o decreto de 8 de julho que determinava o fechamento das atividades econômicas das regiões

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, revogou a decisão de 8  de julho que proibia o funcionamento de atividades econômicas não essenciais em Ceilândia e Sol Nascente. A mudança passa a valer na próxima segunda-feira (20/7). O decreto 40.995 foi publicado no Diário Oficial do Distrito Federal desta sexta-feira (17/7).

[Esperamos que seja uma reabertura responsável e que o governador tenha o bom senso de não ficar brincando com os comerciantes da Ceilândia, respeite os que querem, e precisam, trabalhar.
A reabertura circense que antecedeu o fechamento das atividades causou prejuízo imenso aos comerciantes - apesar de estarem em  situação de penúria, sem capital de giro, nem crédito, para bancas as medidas de proteção contra o contágio - tiveram que raspar o fundo do 'tacho', bancaram a reabertura e logo tudo foi fechado e sem aviso.
Foram obrigados a jogar comida fora, descontratar empregados que haviam recontratado.
Governador se o senhor resolver usar sua caneta, avisa antes para os comerciantes não desperdiçarem recursos que não possuem.]


De acordo com a nova decisão do GDF, "ficam permitidas as atividades econômicas nas Regiões Administrativas de Ceilândia e Sol Nascente/Pôr do Sol, respeitadas as restrições, protocolos e medidas de segurança  estabelecidos pelo Decreto nº 40.939, de 02 de julho de 2020, e suas alterações". Na tarde da última quinta-feira (17/7), comerciantes de Ceilândia realizaram carreata pedindo a reabertura da região. 

Correio Braziliense, acesse e leia MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 10 de julho de 2020

Covid-19 nas capitais e o caso de Belém do Pará, sumindo do ranking das campeãs - Cristina Graeml



Vozes - Gazeta do Povo

É tanta notícia de Covid e coronavírus, tantos números, gráficos que a gente se perde! Mas passados alguns meses de pandemia é possível analisar períodos e fazer comparações. Isso é muito importante para entender melhor o que está acontecendo na região onde moramos e avaliar se as medidas impostas para a população merecem apoio ou críticas e, em alguns casos, até cobrança para que sejam revistas. A equipe de Infografia da Gazeta do Povo fez um trabalho comparativo minucioso entre as capitais. É um ranking das 15 primeiras em número de novos casos diários do início de abril até 2 de julho, data em que o gráfico Covid-19 nas capitais brasileiras foi publicado. Analisando esse gráfico, chama muita atenção o caso de uma cidade específica: Belém.

A capital do Pará já esteve em colapso absoluto em maio, com hospitais lotados e tendo que mandar para casa doentes em estado moderado e grave, diminuindo as chances de sobrevivência e aumentando as de transmissão do vírus em ambiente doméstico. Mas Belém conseguiu reverter a curva de contágio e de mortes de forma rápida. Para se ter ideia do que ocorreu lá, no feriado de primeiro de maio, dia do Trabalho, a cidade contabilizava 156 vítimas fatais da doença. Dia 31 já eram 1320. Em 30 dias morreram 1164 pessoas. Fiz a conta aqui: foram 39 mortes por dia em Belém no mês de maio, quando a média antes era de 3,9 por dia. Ou seja, em maio, a morte arrebatou dez vezes mais pessoas na capital do Pará do que nos 40 dias anteriores, desde o registro do primeiro caso por lá. Dez vezes mais em um mês!


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Por isso, com o passar das semanas, o próprio Ministério da Saúde passou a fazer uma média diária que vale para cada semana, porque soma o número total de casos de uma semana e divide por sete dias. Assim, se uma cidade registrou 700 novos casos ao longo de uma semana a média é 100 casos por dia, ainda que naquela semana o número divulgado no sábado e no domingo tenha sido bem menor e talvez em um ou outro dia da semana, bem maior. Podia ficar descrevendo em palavras uma série de aspectos que me saltam aos olhos quando olho esse gráfico, mas prefiro que você mesmo clique no play do vídeo abaixo e veja para depois seguir lendo sobre o caso de Belém. Só preciso dar duas orientações.


Para facilitar a visualização as regiões são ilustradas em cores diferentes, capitais do Sudeste estão em laranja (então SP que está sempre em primeiro, porque é disparado a cidade mais populosa e isso reflete no maior número de casos é laranja, assim como Rio de Janeiro, que também figura entre as primeiras). O Nordeste, que também tem várias capitais figurando sempre no topo da lista, aparece em verde; o Norte está em roxo; o Centro Oeste, em azul e o Sul, em preto. A segunda dica é para esquecer os pontos em laranja e verde das capitais do Sudeste e Nordeste que ficam brigando pelas primeiras posições e direcionar o olhar para os pontos em roxo, das capitais do Norte do país, porque é em roxo que vai aparecer Belém. E quando Belém surgir olhe só para esse ponto.


Eu estou falando isso porque é a situação de Belém que eu quero destacar nessa análise. Depois de viver o inferno do colapso dos hospitais, Belém hoje está numa situação muito menos preocupante. A cidade, que chegou a registrar quase 900 novos casos em um único dia de maio, hoje tem média entre 130 e 230 novos casos diários. O número de internações e mortes cai a olhos vistos. Veja, então o gráfico, em que Belém só começa aparecer entre as 5 capitais com maior número de casos diários na metade de maio, atrás de São Paulo, Fortaleza, Manaus e Recife. No dia 18 começou a cair foi ultrapassada pelo Rio de Janeiro, depois Salvador. Teve alguns dias de oscilação pra cima e pra baixo no gráfico até o fim de maio.


Em junho começou a cair mais. Em dez dias já estava em 11° lugar, tinha sido ultrapassada por várias outras capitais do Norte e do Nordeste: Aracaju, Maceió, João Pessoa e Porto Velho. Além de estar atrás daquelas que já figuravam no topo do ranking: Manaus, Fortaleza, Salvador, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, primeira capital do Centro Oeste a figurar no topo do ranking. Natal, Macapá e Goiânia (mais uma do Centro Oeste) avançaram sobre Belém. Depois Boa Vista derrubou a capital paraense para a 15ª posição, até que ela sumiu do mapa no fim do mês de junho Belém. não constava mais entre as 15 capitais com maior disseminação da doença.


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Belém, assim como várias outras cidades do país, especialmente as menores, adotou o protocolo sugerido pelo Ministério da Saúde e começou a tratar os doentes nos primeiros sintomas com os polêmicos remédios já usados para outras doenças, mas que não teriam comprovação científica de eficácia no tratamento de Covid-19.Curitiba não adotou o protocolo. O Paraná, aliás, também não aderiu, ainda, ao tratamento precoce no serviço público de saúde, embora o secretário de Saúde admita que estuda a possibilidade. Fato é que Belém, que já esteve em colapso não só na saúde pública, mas até na rede particular, vem registrando cada vez menos casos novos e menos casos graves, aqueles que exigem internação. Por isso, menos mortes também.

O exemplo mais claro da mudança nas curvas de contágio, internações e mortes vem de uma rede particular de saúde: a Unimed de Belém. Segundo a diretora do plano de saúde, a médica infectologista Vânia Brilhante, os médicos associados vinham tratando só os casos moderados e graves, mas quando a situação na cidade ficou incontrolável, a operadora se viu obrigada a rever a estratégia. la própria diz ter buscaram a experiência de outra operadora, a Prevent Senior de São Paulo, que atende exclusivamente pacientes idosos (grupo de maior risco para Covid-19) e desde o início da pandemia tem ótimos resultados para cura e poucas internações. O caso da Prevent Senior já é conhecido. Seus médicos, junto com o presidente da República, foram os primeiros a falar em tratamento precoce de Covid com o antiviral hidroxicloroquina, já largamente usado para outras doenças, com raros efeitos colaterais.


A Unimed de Belém tem 310 mil associados e uma capacidade de atender bem 1500 por dia, no máximo 2000 em situações extremas. Pois a operadora viveu essa situação extrema por vários dias seguidos. ratou mais de 50 mil pessoas em questão de semanas. Isso significa que de cada 6 associados um teve Covid. Tudo ao mesmo tempo. Em entrevistas a Dra. Vânia Brilhante conta que os pacientes chegavam mortos ao hospital. Abriam a porta do carro e tiravam a pessoa já morta. Mesmo tendo um hospital exclusivo para os associados, o plano de saúde não tinha mais leito para receber tanta gente. Os médicos precisavam entubar pessoas no corredor do hospital. O relato é dramático, mas ela também traz muita esperança quando explica o que aconteceu depois que adotaram o tratamento dos casos leves. “Foi um divisor de águas pra nós. Tudo mudou. Em sete dias nossos pacientes pararam de procurar nossas unidades de urgência, em sete dias a nossa Policlínica conseguiu atender e fornecer medicamento pra todo mundo que procurava dos casos leves, em sete dias a gente saiu do nosso colapso”.Vânia Brilhante, diretora Unimed Belém em videoconferência


Sete dias! Uma semana apenas! Se você quiser ouvir a própria médica descrevendo o que foi feito para reverter o gravíssimo quadro da pandemia em tão pouco tempo acesse aqui. É um debate entre médicos de todo o Brasil com mediação do jornalista Alexandre Garcia. A fala da Dra. Vânia começa depois de uma hora de vídeo. Em resumo: depois de começar a fornecer o kit de remédios para pacientes com sinais leves de Covid-19 a Unimed-Belém praticamente zerou as internações, diminuiu consideravelmente a frequência de atendimentos nas unidades e, como tinha comprado uma quantidade enorme de remédios, mas os doentes foram escasseando, acabou doando medicação para mais de cem cidades do interior do Pará. que agora estão colhendo os mesmos resultados.


Os médicos lá entenderam que era uma situação de guerra e, estando no campo de batalha, decidiram que não havia como esperar publicações em revistas científicas indicando qual medicamento funciona melhor. Aplicaram o que, na prática, já deu resultado com milhares de pacientes na fase 1 da doença em vários lugares do mundo, da Austrália a Honduras. É claro que todos os pacientes passaram por consulta médica, foram informados da não comprovação científica da eficácia do remédio (exatamente como no caso do Tamiflu para H1N1 ou da próprio hidroxicloroquina para zica vírus, ambos usados sem estudos conclusivos em situação de epidemia). E só tomou os remédios quem quis.Além disso, médicos e enfermeiros, que estavam expostos demais porque atendiam doentes em fase de transmissão do vírus, foram medicados de forma preventiva. Os que aceitaram, claro (a maioria). Isso fez zerar o número de casos entre os médicos da operadora de saúde. E aí você deve estar se perguntando: o que aconteceu nos postos de saúde e hospitais públicos de Belém? Não tenho todos os dados, mas o estado do Pará e todas as prefeituras mudaram a recomendação e começaram a pedir para população não esperar em casa pelo agravamento dos sintomas.


A ordem lá passou a ser procurar médico diante de qualquer dor de garganta, tosse, febre, dor de cabeça, dores no corpo, cansaço, diarreia. perda de olfato ou paladar. Hoje, as curvas em Belém estão bem diferentes daquelas registradas na maior parte das capitais brasileiras. Como diz-se popularmente: só não vê quem não quer.


Cristina Graeml, colunista - Vozes - Gazeta do Povo


quarta-feira, 15 de abril de 2020

"Agenda de bom senso" - Alexandre Garcia

Correio Braziliense


"O drama que pesa sobre a cabeça de prefeitos, governadores e presidente também exige que, solidários, cumpramos uma agenda de bom senso, com racionalidade e cabeça fria"  

Enquanto se discute no Supremo se a responsabilidade pelo isolamento é do Presidente ou é de governadores e prefeitos, quem está mesmo na ponta do Brasil real são os prefeitos. À exceção de prefeitos de grandes cidades, mais de 95% deles são quem sofrem literalmente na pele e, também, na consciência, a responsabilidade sobre a saúde física e econômica de seus munícipes.  E, ainda, cada dia mais perto da eleição municipal. Aqui, em Brasília, o presidente sofre pressões de todos os lados, mas quem é mais alvo de cobrança é o prefeito. Assim como o presidente tem que se sujeitar a decisões do legislativo e judiciário, os prefeitos também sofrem essas restrições.

Vou citar um exemplo de um dos maiores centros de produção agrícola do país, Sinop, em Mato Grosso. Cito Sinop, porque lá estive quando o município tinha apenas cinco anos de idade. Hoje, aos 45 anos da fundação, tem quase 150 mil habitantes. Nesta crise sanitária, teve pouco mais de 10 casos confirmados e apenas um hospitalizado. E além da pandemia, mantém um alerta de dengue. Há poucos dias, com base em decreto do governador, a Prefeita foi para a TV anunciar, tendo como metas a saúde e a preservação da economia, a reabertura do comércio. “Foi preciso coragem para tomar decisões”, disse ela. Reabertura sem aglomerações, com distanciamento de 2 metros, máscaras, higienização de mãos e lugares, com a recomendação de ficar em casa quem não tiver absoluta necessidade de sair. Hotéis, feiras livres, lanchonetes e restaurantes reabertos, mas não escolas. A Justiça restringiu a abertura, que não atinge missas e cultos,  academias e ginásios. Na decisão, o Juiz argumentou “uma agenda de bom senso”. 

Imagino quantas são as noites mal-dormidas de prefeitos exigidos por todos os lados, neste momento crucial de pressão de um vírus que não se conhece bem, mas se sabe que está entre nós, e de uma crise econômica que se agrava a cada dia de parada no comércio, serviços e sobretudo nos avulsos e informais. Também quantas noites mal-dormidas de pais e mães de família a pensar na alimentação dos filhos no dia seguinte, muitos dependendo da merenda na escola fechada.

 Nós, brasileiros, nos qualificamos como solidários. E é o que o momento exige. Solidariedade nos cuidados para não sermos vítimas ou condutores do contágio. E solidariedade para não sermos instrumentos do caos econômico que pode virar caos social. O drama que pesa sobre a cabeça de prefeitos, governadores e presidente também exige que, solidários,  cumpramos uma agenda de bom senso, com racionalidade e cabeça fria.

Alexandre Garcia, jornalista - Coluna no Correio Braziliense


quarta-feira, 8 de abril de 2020

Atenção para os próximos passos - Valor Econômico

Martin Wolf 


Quarentenas são necessárias para controlar o contágio, mas têm de ser breves

Uma jornada de milhares de quilômetros começa com um único passo. A jornada por esta pandemia será longa e difícil. Não temos como saber onde ela vai terminar, embora seja difícil não especular. Em vez disso, o que precisamos fazer é nos concentrar nos passos que temos logo à frente se quisermos evitar cair de nosso caminho estreito, num morticínio de um lado ou numa devastação econômica do outro.

Se não evitarmos essas calamidades num futuro próximo, corremos o risco de mergulhar no caos mais à frente. E mesmo que conseguirmos fazer isso, não retornaremos à normalidade que até recentemente tínhamos como certa. Para isso, precisamos pelo menos esperar por uma cura ou uma vacina. Os danos econômicos e sociais durarão ainda mais.

Análise da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) esclarece a ruptura econômica que vem por aí. Esta não é uma recessão comum ou mesmo uma depressão causada por um colapso na demanda. A atividade econômica está sendo desligada, em parte porque as pessoas temem entrar em contato umas com as outras e em parte porque os governos disseram que elas precisam ficar em casa. O impacto imediato dessas ações poderá ser uma redução no PIB do G-7, o grupo das sete nações mais industrializadas, em algo entre 20% e 30%. A cada mês que grandes partes de nossas economias permanecerem fechadas, o crescimento anual poderá cair 2 pontos porcentuais.

Além disso, os custos são repartidos de forma desigual. Os trabalhadores não capacitados sofrem mais com a perda de empregos. Pessoas e empresas capazes de trabalhar online continuam trabalhando. Aqueles que não conseguem fazer isso, não.  E os custos também não são divididos igualmente em termos globais. Muitos países emergentes e em desenvolvimento estão sendo afetados pelo colapso da demanda externa, a queda nos preços das commodities e uma fuga de capital sem precedentes, ao mesmo tempo em que têm de administrar a pandemia com sistemas de saúde altamente inadequados. As quarentenas são particularmente brutais nos países com assistência social limitada ou mesmo nenhuma, e com grandes números de pessoas que subsistem com o que ganham diariamente numa economia informal frágil.

É correto perguntar se essa carnificina econômica pode ser justificada. Entre os países de alta renda, a Suécia vem adotando a postura menos restritiva. Uma comparação com a Noruega torna essa concessão clara: o desemprego vem crescendo menos na Suécia também, mas muito menos do que no país vizinho; mesmo assim, o número de mortes também é maior na SuéciaDeveríamos ser gratos pela experiência sueca. Podemos aprender com ela, de uma maneira ou de outra.

Minha opinião, porém, em linha com a dos especialistas em saúde e grandes economistas, é de que as quarentenas são necessárias para evitar um colapso dos sistemas de saúde e controlar a doença. Mas elas precisam ser breves. É impossível manter as pessoas confinadas indefinidamente sem que haja grande sofrimento e danos sociais e econômicos. Isso obviamente é verdade onde os governos são incapazes de oferecer as custosas medidas de proteção social possíveis nos países de alta renda.

As quarentenas precisam ser um espaço curto para respirar, antes de passarmos para o que um grupo de especialistas alemães chama de uma “estratégia adaptada ao risco”. Durante as quarentenas, os governos precisam fazer tudo o que for necessário para evitar essas intervenções pesadas novamente. Eles não têm muito tempo para fazer isso: uns poucos meses, não mais.

Fazer os confinamentos valerem a pena, para permitir que vivamos sem eles, é o primeiro passo essencial. O segundo passo é minimizar os danos econômicos. Aqui, o foco precisa estar no dia de hoje, e não no elevado endividamento público e outros fardos do futuro. Assim como na guerra, é preciso sobreviver ao presente se quisermos ter um futuro que valha a pena. Levando-se em conta o que é preciso fazer para gerenciar o impacto econômico devastador, além de reabrir as economias o mais rapidamente, dentro de uma maneira razoavelmente segura, há três considerações essenciais.

Primeiro, proteger os fracos, tanto dentro dos países como entre eles. Uma doença ameaça a todos. A maneira de responder é uma medida de nossos padrões éticos. É indispensável garantir uma segurança econômica básica para todos se esses não puderem trabalhar. Uma renda básica universal e temporária é uma opção óbvia. De modo parecido, e tão importante quanto, é preciso encontrar meios para apoiar economias vulneráveis. Há muitas possibilidades radicais.

Uma delas é uma nova e enorme emissão de Direitos Especiais de Saque do Fundo Monetário Internacional (FMI), com doações por países de alta renda de suas parcelas em um fundo em benefício dos países em desenvolvimento mais vulneráveis. Também crucial será uma suspensão dos pagamentos de serviços das dívidas enquanto a crise durar.

Em segundo lugar, não provocar danos. O maior golpe viria da destruição completa do sistema comercial. Isso tornaria imensamente mais difícil restabelecer a prosperidade global depois do fim da crise.

Em terceiro lugar, abandonar crenças desgastadas. Governos já desistiram de velhas regras fiscais, e com razão. Os bancos centrais também precisam fazer tudo que for preciso. Isso significa financiar o orçamento dos governos. Os bancos centrais fingem que o que eles estão fazendo é reversível e portanto não se trata de financiamento monetário. Se isso os ajudar a agir, isso é bom, mesmo que provavelmente não seja correto.

Na zona do euro, eles falam muito em eurobônus. Mas o apoio que importa terá de vir do Banco Central Europeu. Não há alternativa. Ninguém deveria se importar. Sempre há maneiras de gerenciar as consequências. Até mesmo “dinheiro jogado de helicóptero” poderia muito bem ser justificado numa crise tão profunda.

Escolhas mais dolorosas que essas surgem. Uma emergência como esta será usada por aspirantes a tiranos para aumentar seu poder. Ao mesmo tempo, algumas liberdades terão de ser deixadas de lado temporariamente. Administrar concessões tão dolorosas depende de altos graus de confiança e integridade, características pouco evidentes nas democracias de hoje. Mas o teste é agora. Os governos que não conseguirem enfrentar esses desafios correm o risco de colapsar. Sistemas políticos que produzem tais governos correm o risco de perder sua legitimidade. Precisamos acertar nos próximos passos. Tudo vai depender disso. (Tradução de Mário Zamarian)

Valor Econômico - Martin Wolf , editor e analista do Financial Times



quarta-feira, 25 de março de 2020

Hora de cortar na máquina pública

sexta-feira, 20 de março de 2020

Coronavírus: saiba por que governos e cientistas indicam confinamento para conter a Covid - 19 - O Globo

Renato Grandelle

Medida controversa compensaria falta de conhecimento sobre contágio; mas pesquisadores alertam que isolamento pode provocar 'efeitos colaterais

'Quando um vírus circula descontrolado, o jeito é trancar a população.' Foi este o pensamento que norteou os governos de diversos países, como ChinaCingapuraItáliaEspanha e França, ao instituírem políticas de confinamento. A medida é radical e os resultados nem sempre são certeiros — limitou a disseminação do coronavírus em nações asiáticas, mas a Europa, onde encontra mais resistência, ainda registra centenas de novos casos por dia.
Professor titular de Epidemiologia da UFRJ, Roberto Medronho defende a estratégia de isolamento, que poderia compensar, ao menos temporariamente, a falta de conhecimento científico sobre o novo coronavírus.

Leia mais:Coronavírus: Itália ultrapassa China em número de mortos
[A população da China é apenas 23 vezes superior a da Itália.]Estamos diante de uma doença sobre a qual temos pouco experiência. É como trocar o pneu de um carro em movimento — compara Medronho, que é coordenador de um grupo de trabalho dedicado ao estudo do patógeno da UFRJ. — Alguns países, especialmente os asiáticos, mostraram que o confinamento restringiu o crescimento exponencial de transmissãoA Itália demorou para adotar esta estratégia e viu um rápido colapso de seu sistema de saúde.

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— No Brasil, o coronavírus chegou como uma doença da elite e da classe média, de pessoas que trouxeram o vírus do exterior, e agora estão internadas em hospitais privados. Agora, está migrando para camadas populares, que usam hospitais públicos, que já são sobrecarregados e têm funcionários mal pagos. Como não há condições de construir novos hospitais em poucos meses, precisamos restringir a mobilidade das pessoas, já que é uma doença sem vacina ou tratamento específico e transmitida pelo ar.

Nações asiáticas são exemplo

Jairo Werner, psiquiatra da UFF, retornou recentemente da Antárctica, onde estudou o isolamento e o confinamento de pesquisadores do continente gelado.
— Precisamos preparar pessoas que têm problemas como ansiedade, transtorno obsessivo compulsivo e depressão, para que consigam se preparar para uma internação compulsória — explica. — É natural que, no início, haja uma resistência a esta nova realidade. Por isso, todos devem ser orientados não apenas a enfrentar a vida cotidiana, mas também a se comportar em a família. Algumas pessoas recorrem ao álcool para compensar o confinamento.

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Preparando a casa
Uma casa deve estar preparada para isolar um morador que for infectado. O paciente deve evitar contato com outros moradores — se tiver que se aproximar, precisará usar máscara. Também deve ter seus próprios utensílios, como prato e talheres, e ser responsável por trocar sua roupa de cama. Ela deve ser colocada em um saco plástico antes de ser jogada na máquina de lavar.
Mais de 80% dos casos de coronavírus limitam-se a sintomas leves, como mal-estar, diarreia, falta de apetite, cansaço e tosse seca. A recomendação é que apenas pessoas com problemas pulmonares procurem o hospital.


Em O Globo, MATÉRIA COMPLETA






segunda-feira, 9 de março de 2020

A noiva embelezou-se, mas o noivo está demorando a entrar pela porta - Alon Feuerwerker

Análise Política


A política econômica de Jair Bolsonaro não mostra resultados brilhantes e suas premissas estão sendo questionadas. A saída de recursos externos da Bolsa bate recordes e o investimento privado continua muito abaixo do necessário para impulsionar a atividade, e portanto o emprego. E este é uma variável que pode fazer andar ou desandar o humor da galera. Diante do problema, o governo foge para adiante. Chama a rua. Na teoria as reformas já realizadas e a queda dos juros da dívida pública deveriam atrair investimentos e estimular o consumo. Na prática ou não está acontecendo ou vai indo muito devagar.

Responsabilizar o Congresso pela pasmaceira econômica é moleza, no país em que o senso comum foi envenenado pela mistificação de que tudo é culpa “dos políticos”. Será? Desde o impeachment de Dilma Rousseff o Legislativo entregou aos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro os três pilares mais pedidos: o teto de gastos, a mudança nas leis trabalhistas e, principalmente, a reforma da previdência com o exigido 1 trilhão de economia em dez anos.

Aparentemente a noiva (o governo) embelezou-se para o casamento mas o noivo (o capital) está demorando para aparecer na porta. E o público começa a desconfiar. A orquestra e os cantores precisam caprichar para não deixar a peteca cair. Claro que se for dado tempo suficiente é provável que a noiva chegue. Mas na política o tempo é uma variável fora do controle dos economistas, está mais na alçada dos políticos.

E há o imprevisível, sempre muito difícil de prever. O novo coronavírus não parece ser ainda uma gripe espanhola, mas tampouco é um surtozinho de gripe comum. E traz com ele a desaceleração dos negócios pelo mundo. A C
hina pelo jeito conseguiu estancar a expansão interna do contágio, mas o vírus e junto o breque nos negócios vão firmes para cobrir o planeta. Fingir que não é grave ajuda no discurso, mas os fatos, sempre eles, são teimosos.

O horizonte econômico não parece bom. E o governo dá sinais de enveredar para justificativas exóticas, como o “PIB privado”, e o apelo à mobilização da base. É sempre uma saída, mas talvez a correlação de forças atual não ajude. O dia 15 será puramente bolsonarista, e mesmo se mostrar alguma força exibirá junto algum isolamento. E já foi notado semana passada: uma vez desencadeada a dinâmica de rua é bobagem achar que tudo estará 100% sob controle.  O governo Jair Bolsonaro nunca teve obstáculos políticos reais. Como previsto, eles começam a aparecer na economia. Em vez de tentar resolver o governo cria problemas também na política. Se der certo será o caso de reescrever todos os manuais.

A pouca paciência para a negociação política tem seu charme,
mas também tem custo. O rompimento do presidente da República com o PSL está se mostrando algo assim não tão brilhante.  A Aliança pelo Brasil vai num ritmo muito abaixo do que previam seus inspiradores, articuladores e operadores. A eleição de 2020 já era. Talvez seja algo precipitado dizer, mas na velocidade que vai é bom o pessoal acender a luz amarela para 2022. 

 Alon Feuerwerker, jornalista e analista político - Análise Política