A Justiça nos tempos da cólera politicamente
correta. Ou: Uma sentença absurda contra Bolsonaro
Vamos lá. Todos sabem o que penso
do que pensa o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) sobre as razões que explicam o fato de alguém ser gay. É tal a
quantidade de tolices que ele diz que só posso achar que insiste em suas teses
porque descobriu que isso rende votos. E, como se sabe, a cada pleito, cresce o
seu público. É bem verdade que ele conta
com um cabo eleitoral e tanto: Jean Wyllys, o deputado do PSOL. A cada vez que esse rapaz abre a boca, Bolsonaro
fatura mais alguns eleitores. Mas vamos com calma
aí.
Uma juíza do Rio, Luciana Santos
Teixeira, da 6ª Vara Cível do Fórum de Madureira, condenou Bolsonaro a
pagar uma indenização de R$ 150 mil em razão de declarações feitas por ele no
programa CQC em 2011. Ainda cabe recurso, é claro, e duvido
que o absurdo prospere. Mas o que
disse o deputado? Afirmou que jamais contou com a hipótese de seus filhos serem
gays porque tiveram “boa educação” e
porque ele sempre foi um “pai presente”. Também disse que não
iria a uma parada porque não promoveria “maus
costumes”, além de acreditar em
Deus.
Bem, vamos lá. Sugerir que pessoas são
gays porque filhas de pais ausentes ou porque lhes faltou educação adequada é
de uma supina estupidez. É desinformação. É ignorância. É burrice. Já o
critiquei aqui por isso — crítica que reitero na entrevista da mais recente
edição da revista “Playboy”. Mas
esperem aí: ele
não tem o direito de pensar o que pensa, seja como indivíduo, seja como
deputado? Tenham a santa paciência! A doutora Luciana Santos Teixeira deveria ter aproveitado
a sua sentença para escrever um manual sobre qual deve ser a opinião que as
pessoas devem ter a respeito desse assunto. A decisão é absurda, e duvido que não seja reformada. Não! Eu não acho que qualquer coisa pode ser
dita, sem restrição. A liberdade de expressão não substitui Deus. Notem
que, na
fala, Bolsonaro não defende restrição de direitos a homossexuais, não prega a
segregação, não sugere ações coercitivas para “corrigir” comportamentos, nada disso. Ele apenas expressa uma convicção tosca
e desinformada a respeito do assunto. A propósito: combateremos, agora, na
Justiça todas as ignorâncias que as pessoas dizem e produzem ao longo de um
dia? Vamos judicializar a burrice, é isso?
A propósito: corre na internet um quiproquó porque
Jean Wyllys não aceitou viajar na poltrona ao lado de Bolsonaro num voo, parece, de Brasília
para o Rio. O deputado do PP, ao
perceber que seria companheiro de viagem de seu antípoda, ligou a câmera do
celular. O outro, imediatamente, se levanta. Bolsonaro acusa Wyllys de “heterofobia” — como se isso existisse… O psolista aproveita,
como é de seu feitio, para discursar uma vez mais na ribalta. Sim, imaginem se
fosse o contrário: imaginem se Bolsonaro
tivesse se recusado a viajar ao lado do adversário. Alguém iria tentar
denunciá-lo à Comissão de Ética da Câmara. Afinal, assim como o parlamentar do PP
inventa uma “heterofobia” que não
existe, Wyllys transforma a homofobia em
mero ativo eleitoral, a ser sacado a qualquer momento. A julgar por esses
dois, o
confronto entre homofóbicos e heterofóbicos seria o principal assunto do Brasil
e do Parlamento. Que miséria intelectual, santo Deus!
Quanto à sentença da
juíza, dizer o quê? Eu
a convido a escrever um Manual das Boas Maneiras Politicamente Corretas, indicando o que a
gente deve pensar para não ficar preso nas malhas de seu atilado senso de
justiça. Não pensem que só Bolsonaro é
expressão de um Brasil primitivo e intolerante. A
sentença também é. Trata-se
de uma espécie de embate entre forças intelectualmente jurássicas. [restou inconteste que a juíza conseguiu seus quinze minutos de fama;
não fosse ser autora de tão absurda sentença o Brasil jamais teria
ouvido falar dela.]
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo