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quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Não consigo me basear em pesquisas eleitorais - Alexandre Garcia

Primeiro, porque elas já me enganaram há menos de quatro anos. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha

O jornalista é, antes de tudo, um cético. Começo parafraseando a conhecida frase de Euclides da Cunha sobre o sertanejo. Na natureza do jornalista está o ceticismo, a incredulidade, tal como São Tomé. A ingenuidade, a credulidade, são pecados no jornalismo. A priori, dúvida. Não pode aceitar um fato à primeira vista, como se fosse uma questão de fé. Corre o risco de ser usado. Digo isso para me justificar: não é  má-vontade com as pesquisas; é uma questão de racionalidade, em que a dúvida é o melhor aliado. 
Tudo isso para dizer que não consigo me basear em  pesquisas. Primeiro, porque elas já me enganaram, há menos de quatro anos. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha.
  
Estamos em agosto. No agosto de 2018, a pesquisa mais conhecida mostrava que Bolsonaro tinha a maior rejeição entre os candidatos; Witzel no Rio, Ibaneis no DF, Zema em Minas, eram azarões; 
Dilma estava eleita senadora pelos mineiros. Não sei por que milagre, o mais rejeitado dos candidatos acabou presidente da República. Agora, vejo pesquisas que entrevistam 2 mil, num universo de 156 milhões de eleitores.  
Quer dizer, a agência de pesquisa tem que descobrir 2 mil entrevistados em que cada um deles represente 78 mil eleitores. 
Explicam que é por um critério de amostragem. Para mim, é um milagre da ciência estatística. A propósito, aconselho ler Como mentir com estatística, de Darrell Huff, lançado em 1954 e ainda hoje recomendado — por Bill Gates.
 
Vejo investidores, banqueiros, empresários, fazendo planejamento para o ano que vem com base em pesquisas eleitorais
Pergunto se as pesquisas de mercado têm fornecido a eles caminhos seguros para apostarem no futuro. As pesquisas falam em margem de erro. Não consigo entender a matemática que dá um desconto de 5% ou 2% na psiquê do entrevistado. 
Não imagino que as agências estejam movidas pela intenção de apresentar um resultado de sua preferência ou interesse. 
Apenas imagino como o método é carente de certezas. Para antecipar resultado eleitoral, prefiro a boca de urna. 
Tampouco consigo me convencer que alguém que era do PT dois meses antes da eleição tenha votado em Bolsonaro na hora de acionar o teclado da urna.
 
O mais difícil é acreditar que políticos estejam usando as pesquisas como réguas da sua programação de campanha. Só os ingênuos ou neófitos. Não o veterano político dotado, por natureza, de um instinto para povo, de um sexto sentido que lhe faz sentir o que o povo quer. 
Seria um populista, um demagogo? Provavelmente não. Pode ser um democrata, que sabe que o poder emana do povo e ausculta o que o povo quer, nos gritos, nas falas, nos gestos, nas vaias, nas ruas. No ceticismo jornalístico, vale o que vejo e não o que está escrito.
 
Alexandre Garcia, colunista -  Correio Braziliense
 
 

quarta-feira, 1 de janeiro de 2020

2020 poderá filtrar 2018 - Elio Gaspari


2020 poderá filtrar a carga de atraso e mediocridade de 2018

Junto com o novo, veio uma carga de mediocridade e atraso  - O ronco da rua entronizou tanto o novo como o atrasado nas últimas eleições



Começa hoje o ano capaz de filtrar o que o eleitorado quis dizer em 2018 e isso será percebido em outubro, depois da eleição municipal. Houve um voto contra o PT, mas houve também um voto hostil aos políticos. Até aí, nada de novo, mas 2018 elegeu Wilson Witzel (PSC) para o governo do Rio, Romeu Zema (Novo) para o de Minas Gerais e Eduardo Leite (PSDB) para o do Rio Grande do Sul. Todos encarnavam o novo. Dois vinham de partidos nanicos, só Leite vinha do tucanato e só ele tinha experiência administrativa, como prefeito de Pelotas.

Witzel (Harvard fake '15), com sua necropolítica, nada tem a ver com Zema e Leite. (João Doria, que se elegeu pelo PSDB para o governo de São Paulo, ficou no meio termo. Pode assemelhar-se a Witzel às segundas, quartas e sextas e à dupla mineira e gaúcha às terças, quintas e sábados.)  Esses governadores tão diferentes refletiram o resultado geral de 2018. São Paulo elegeu Tabata Amaral para a Câmara e o major Olímpio para o Senado. O antipetismo pode explicar a eleição de todos eles, mas isso não é suficiente. O ronco da rua entronizou tanto o novo como o atraso e é provável que em outubro esses dois ingredientes sejam separados.

Faltam dez meses para o pleito e só uma coisa é certa: as caciquias estão mais perdidas do que surdo em sinfonia. Basta que se acompanhem os jogos de cubos que se armam nas disputas pelas prefeituras do Rio e de São Paulo. No Rio, o novo poderia ser Eduardo Paes, talvez Marcelo Freixo, com a petista Benedita da Silva na vice. Em São Paulo, uma parte do PT sonha com uma chapa de Fernando Haddad e Marta Suplicy. (Uma outra parte sonha em destruí-los, mas não diz o que quer.)
Do outro lado do balcão, onde está o bolsonarismo, a única coisa que se sabe é que em um ano ele se dedicou a brigar em casa. Brigou no palácio, defenestrando ministros e generais da reserva. Brigou no Congresso, implodindo o próprio partido e brigou na rua, demonizando até o governador Witzel. Ganha um mês em Caracas quem souber qual política pública que provocou essas brigas. [antes o malhado era o Temer por ser omisso, leniente, levar um dia pensando nas consequência de um boa noite que dedicasse, ou não, a alguém;
agora que o Brasil tem um presidente que não leva desaforo para casa, o criticam.]

Em 2018, Eduardo Leite era um candidato competitivo no Rio Grande do Sul, mas Witzel e Zema entraram na corrida como completos azarões. (Quem estiver disposto a delirar pode se perguntar: o que teria acontecido se o Partido Novo tivesse lançado a candidatura do economista Gustavo Franco ao governo do Rio?)  Depois de um ano de governo do capitão Bolsonaro, estuário de todas as insatisfações de 2018, parece claro que ele consolidou uma base de apoio com sua política de liberalismo econômico no andar de cima e, no andar de baixo, com sua cruzada no campo dos costumes. A paixão da campanha dissolveu-se, e o exercício do poder mostrou a Paulo Guedes que não se prensa o Congresso e a Ricardo Salles que a piromania custa caro ao verdadeiro agronegócio. Bolsonaro mudou pouco, mas não é o mesmo que prometia “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil”. Convive com os ativistas, com as instituições e, por menos que goste, até com o Ministério Público.
Em 2018 uma tempestade varreu a política brasileira. No que se supunha que seria o novo, veio junto uma carga de mediocridade e atraso. A eleição de outubro poderá separar o atraso.

Folha de S. PauloO Globo - Coluna Elio Gaspari, jornalista