Primeiro, porque elas já me enganaram há menos de quatro anos. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha
O jornalista é, antes de tudo, um cético. Começo parafraseando a
conhecida frase de Euclides da Cunha sobre o sertanejo. Na natureza do
jornalista está o ceticismo, a incredulidade, tal como São Tomé. A
ingenuidade, a credulidade, são pecados no jornalismo. A priori, dúvida.
Não pode aceitar um fato à primeira vista, como se fosse uma questão de
fé. Corre o risco de ser usado. Digo isso para me justificar: não é
má-vontade com as pesquisas; é uma questão de racionalidade, em que a
dúvida é o melhor aliado.
Tudo isso para dizer que não consigo me basear
em pesquisas. Primeiro, porque elas já me enganaram, há menos de
quatro anos. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha.
Estamos em agosto. No agosto de 2018, a pesquisa mais
conhecida mostrava que Bolsonaro tinha a maior rejeição entre os
candidatos; Witzel no Rio, Ibaneis no DF, Zema em Minas, eram azarões;
Dilma estava eleita senadora pelos mineiros. Não sei por que milagre, o
mais rejeitado dos candidatos acabou presidente da República. Agora,
vejo pesquisas que entrevistam 2 mil, num universo de 156 milhões de
eleitores.
Quer dizer, a agência de pesquisa tem que descobrir 2 mil
entrevistados em que cada um deles represente 78 mil eleitores.
Explicam
que é por um critério de amostragem. Para mim, é um milagre da ciência
estatística. A propósito, aconselho ler Como mentir com estatística, de
Darrell Huff, lançado em 1954 e ainda hoje recomendado — por Bill Gates.
Vejo investidores, banqueiros, empresários, fazendo
planejamento para o ano que vem com base em pesquisas eleitorais.
Pergunto se as pesquisas de mercado têm fornecido a eles caminhos
seguros para apostarem no futuro. As pesquisas falam em margem de erro.
Não consigo entender a matemática que dá um desconto de 5% ou 2% na
psiquê do entrevistado.
Não imagino que as agências estejam movidas pela
intenção de apresentar um resultado de sua preferência ou interesse.
Apenas imagino como o método é carente de certezas. Para antecipar
resultado eleitoral, prefiro a boca de urna.
Tampouco consigo me
convencer que alguém que era do PT dois meses antes da eleição tenha
votado em Bolsonaro na hora de acionar o teclado da urna.
O mais difícil é acreditar que políticos estejam usando
as pesquisas como réguas da sua programação de campanha. Só os ingênuos
ou neófitos. Não o veterano político dotado, por natureza, de um
instinto para povo, de um sexto sentido que lhe faz sentir o que o povo
quer.
Seria um populista, um demagogo? Provavelmente não. Pode ser um
democrata, que sabe que o poder emana do povo e ausculta o que o povo
quer, nos gritos, nas falas, nos gestos, nas vaias, nas ruas. No
ceticismo jornalístico, vale o que vejo e não o que está escrito.
Alexandre Garcia, colunista - Correio Braziliense