2020 poderá filtrar 2018 - Elio Gaspari
2020 poderá filtrar a carga de atraso e mediocridade de 2018
Junto com o novo, veio uma carga de mediocridade e atraso - O ronco da rua entronizou tanto o novo como o atrasado nas últimas eleições
Começa hoje o ano capaz de filtrar o que o eleitorado quis dizer em
2018 e isso será percebido em outubro, depois da eleição municipal.
Houve um voto contra o PT, mas houve também um voto hostil aos
políticos. Até aí, nada de novo, mas 2018 elegeu Wilson Witzel (PSC)
para o governo do Rio, Romeu Zema (Novo) para o de Minas Gerais e
Eduardo Leite (PSDB) para o do Rio Grande do Sul. Todos encarnavam o
novo. Dois vinham de partidos nanicos, só Leite vinha do tucanato e só
ele tinha experiência administrativa, como prefeito de Pelotas.
Witzel (Harvard fake '15), com sua necropolítica, nada tem a ver com
Zema e Leite. (João Doria, que se elegeu pelo PSDB para o governo de São
Paulo, ficou no meio termo. Pode assemelhar-se a Witzel às segundas,
quartas e sextas e à dupla mineira e gaúcha às terças, quintas e
sábados.) Esses governadores tão diferentes refletiram o resultado
geral de 2018. São Paulo elegeu Tabata Amaral para a Câmara e o major
Olímpio para o Senado. O antipetismo pode explicar a eleição de todos
eles, mas isso não é suficiente. O ronco da rua entronizou tanto o novo
como o atraso e é provável que em outubro esses dois ingredientes sejam
separados.
Faltam dez meses para o pleito e só uma coisa é certa:
as caciquias estão mais perdidas do que surdo em sinfonia. Basta que se
acompanhem os jogos de cubos que se armam nas disputas pelas prefeituras
do Rio e de São Paulo. No Rio, o novo poderia ser Eduardo Paes, talvez
Marcelo Freixo, com a petista Benedita da Silva na vice. Em São Paulo,
uma parte do PT sonha com uma chapa de Fernando Haddad e Marta Suplicy.
(Uma outra parte sonha em destruí-los, mas não diz o que quer.)
Do
outro lado do balcão, onde está o bolsonarismo, a única coisa que se
sabe é que em um ano ele se dedicou a brigar em casa. Brigou no palácio,
defenestrando ministros e generais da reserva. Brigou no Congresso,
implodindo o próprio partido e brigou na rua, demonizando até o
governador Witzel. Ganha um mês em Caracas quem souber qual política
pública que provocou essas brigas. [antes o malhado era o Temer por ser omisso, leniente, levar um dia pensando nas consequência de um boa noite que dedicasse, ou não, a alguém;
agora que o Brasil tem um presidente que não leva desaforo para casa, o criticam.]
Em 2018, Eduardo Leite era um candidato competitivo no Rio Grande do
Sul, mas Witzel e Zema entraram na corrida como completos azarões. (Quem
estiver disposto a delirar pode se perguntar: o que teria acontecido se
o Partido Novo tivesse lançado a candidatura do economista Gustavo
Franco ao governo do Rio?) Depois de um ano de governo do capitão
Bolsonaro, estuário de todas as insatisfações de 2018, parece claro que
ele consolidou uma base de apoio com sua política de liberalismo
econômico no andar de cima e, no andar de baixo, com sua cruzada no
campo dos costumes. A paixão da campanha dissolveu-se, e o exercício do
poder mostrou a Paulo Guedes que não se prensa o Congresso e a Ricardo
Salles que a piromania custa caro ao verdadeiro agronegócio. Bolsonaro
mudou pouco, mas não é o mesmo que prometia “botar um ponto final em
todos os ativismos no Brasil”. Convive com os ativistas, com as
instituições e, por menos que goste, até com o Ministério Público.
Em
2018 uma tempestade varreu a política brasileira. No que se supunha que
seria o novo, veio junto uma carga de mediocridade e atraso. A eleição
de outubro poderá separar o atraso.
Folha de S. Paulo - O Globo - Coluna Elio Gaspari, jornalista
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