Para atingir seus objetivos, o MTST não hesita em prejudicar trabalhadores, com absoluta insensibilidade
A invasão de um terreno de 1 milhão de metros quadrados, em Sumaré, no interior do Estado, além de impressionar pelo tamanho da área ocupada, resume bem o modo de agir e pensar do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST): total e arrogante desprezo pela lei; indiferença pelos direitos de trabalhadores que têm indenizações a receber e dependem para isso da regularização da situação legal do terreno; manipulação sem escrúpulo dos milhares de invasores iludidos por promessas, vivendo em condições precárias e usados como massa de manobra para atingir fins políticos. A “Vila Soma”, resultante da invasão, é a verdadeira cara do MTST.Os agitadores profissionais comandados por Guilherme Boulos — cujo comportamento fora da lei não o constrange nem um pouco de ser candidato a presidente da República “burguesa” — criaram naquela vasta área em Sumaré uma gigantesca favela com 2,5 mil famílias, cerca de 10 mil pessoas, como mostra reportagem do Estado. Organização é o que não falta na área invadida em junho de 2012 — a maior “ocupação” urbana de São Paulo, como convém aos militantes bem treinados classificar a invasão. São 32 ruas — nas quais se misturam barracos e casas de alvenaria —, com cerca de 70 pontos de comércio e serviço de vans escolares. Cada rua tem um “coordenador”, que tudo fiscaliza com a ajuda de uma rede de informantes que controlam a entrada e saída de pessoas catalogadas como elementos estranhos à comunidade. A presença dos considerados indesejáveis é imediatamente comunicada por celular aos líderes da invasão.
O que sobra nessa organização marcada por repressão e vigilância falta em condições mínimas de higiene e saúde pública, como fatalmente acontece nas invasões. Não só porque é muito difícil oferecer tais serviços nesses acampamentos precários — o que os invasores sabem muito bem quando promovem suas ações ilegais —, como porque essa não é prioridade do MTST. Os 10 mil habitantes da Vila Soma não dispõem de rede de água e esgoto nem de coleta de lixo. E a rede precária de luz, com riscos enormes, é feita só de “gatos”, como afirmam os moradores. Água é fornecida por caminhões-pipa e custa caro para a população de baixa renda iludida pelo MTST com a promessa de ganhar um lote: R$ 60,00 por mês. Sem falar nas denúncias de aluguel e venda de lotes e casas, construídas ao longo dos mais de cinco anos que já dura a invasão. Segundo relatos colhidos pelo Ministério Público, os preços das casas variam de R$ 15 mil a R$ 20 mil. Há denúncias também de que moradores são coagidos a se filiar ao MTST.
O juiz André Gonçalves Fernandes, da 2.ª Vara de Sumaré, responsável pelo processo da massa falida das empresas Melhoramentos Agrícolas Vifer e Soma Equipamentos Industriais, as proprietárias do terreno que quebraram em 1990, afirma que os invasores estão atropelando o direito dos empregados dessas empresas de receberem suas indenizações trabalhistas. Ou seja, para atingir seus objetivos, o MTST não hesita em prejudicar trabalhadores, com absoluta insensibilidade. Se usa descaradamente os ditos sem-teto como massa de manobra, não há surpresa em tratar trabalhadores com o mesmo desdém.
Em dezembro passado, o juiz Fernandes promoveu acordo com empresa que arrematou o terreno e assumiu o compromisso de depositar R$ 6 milhões para saldar as dívidas trabalhistas. Mas para que isso se torne realidade é preciso, evidentemente, que os invasores desocupem a área. Nela, a empresa tem projeto para a construção de 2.484 moradias sociais, o que deveria interessar ao MTST, se o seu objetivo fosse servir aos sem-teto. Nada disso, é claro, foi capaz de fazer a organização clandestina recuar um milímetro sequer. O caso foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), onde está à espera de uma solução há dois anos.
Editorial - O Estado de S. Paulo