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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Os manés estragaram a suprema boca-livre - Augusto Nunes

Revista Oeste

Superministros descobrem em Nova York que caminhar pelas ruas ficou perigoso

Ministros do STF participam de uma conferência em NY | Foto: Divulgação/Lide

Ministros do STF participam de uma conferência em NY | Foto: Divulgação/Lide 

Mesmo celebridades disputadas a cotoveladas e pilhas de dólares por organizadores de palestras achariam o convite bom demais para ser verdadeiro. Mas era: em troca de um falatório de dez minutos na sessão inaugural do Lide Brazil Conference, meia dúzia de brasileiros supostamente providos de notável saber jurídico e reputação ilibada desfrutaria em Nova York do feriadão que começou em 12 de novembro, um sábado, atravessou o domingo, engoliu a segunda-feira e só terminou na noite de terça-feira, dia da Proclamação da República. 
Os ministros Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Cármen Lúcia, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski, todos pertencentes à bancada que controla o Supremo Tribunal Federal, teriam direito a acompanhante, viagens aéreas em poltronas da classe executiva e hospedagem em suítes do Sofitel, além de almoços e jantares (bebida incluída) nos melhores restaurantes da capital do planeta — tudo sem desembolsar um único e escasso cent.
 
A gastança foi bancada pelo anfitrião João Doria, que a afoiteza de político amador devolveu à vida de empresário bem-sucedido. Se fosse menos superlativo, Doria teria promovido por aqui o seminário ocorrido no Harvard Club, na Rua 44. 
Além dos participantes dos dois painéis, expressavam-se em português os 250 empresários que pagaram uma bolada de bom tamanho para acompanhar a poucos metros de distância a sequência de discurseiras sobre o presente e o futuro do País do Carnaval. 
Mas discorrer sobre o Brasil nos EUA é bem mais chique. 
Se fosse menos autoconfiante, o dono do Lide teria levado em conta a taxa de risco embutida na exposição pública de seis destaques do mais impopular elenco de supremos ministros da história. Foi uma péssima ideia, confirmou já no domingo o início do cortejo de situações constrangedoras impostas aos viajantes por centenas de brasileiros, parte dos quais vive nos Estados Unidos.

Salvou-se apenas Cármen Lúcia, que não foi vista em lugar nenhum. Talvez se tenha trancado no hotel. Talvez tenha ficado trancada em Brasília. Os outros cinco foram fustigados todo o tempo por xingamentos, insultos, palavrões de variado calibre, ameaças, vaias ligeiras, demorados apupos e palavras de ordem que traduziam o descontentamento dos manifestantes com a parcialidade do Timão da Toga durante a campanha eleitoral. 

Se mesmo grandes atores costumam fracassar quando tentam esconder com camuflagens faciais o tumulto emocional decorrente de agressões verbais ao ar livre e com testemunhas, nada teve de surpreendente o fiasco dos canastrões do Pretório Excelso.  
Todos mergulharam no silêncio. 
Mas o rosto e os gestos falaram aos berros. 
Nunca foram tão reveladores o sorriso amarelo de Gilmar Mendes, os esgares impotentes de Alexandre de Moraes, os tchauzinhos assustadiços de Ricardo Lewandowski ou a sisudez falsificada de Dias Toffoli, que acentua o jeitão de pior aluno da classe.
 
Entorpecidos pelas salvas de palmas que jamais ficam fora das cerimônias na realidade paralela de Brasília, alguns alvos demoraram a entender que andam muito mal no retrato desenhado por gente comum.  
Se tivessem alguma intimidade com as ruas do Brasil, saberiam que milhões de cidadãos enxergam no STF um partido que apoia Lula, sempre foi hostil a Bolsonaro, mandou às favas a Constituição e os códigos legais, acha que manda no Brasil, ameaça a liberdade e anda fazendo o que quer.  
O decano Gilmar Mendes, por exemplo, nem suspeitou da tocaia iminente quando uma jovem abriu o diálogo aparentemente inofensivo. Com leve sotaque espanhol, declarou-se otimista com a vitória de Lula, e animada com o afastamento de Bolsonaro, antes de empalidecer Gilmar com a interrogação inesperada: “O crime compensa no Brasil?”. Depois de intermináveis cinco segundos, o ministro murmurou duas palavras — “Não sei…” — e caiu fora com cara de quem sabe direitinho a resposta: claro que compensa.

Tampouco Barroso pressentiu que estava a um passo da areia movediça quando foi reconhecido numa esquina pela anônima compatriota: “Olha só quem tá aqui!… Como vai o senhor, juiz?”. Barroso retribuiu o que lhe parecera um cumprimento: “Tudo bem, senhora. Feliz pelo Brasil”. A tréplica soou pouco gentil: “Mas nós vamos ganhar essa luta!”. Desconcertado com a mudança de tom, Barroso foi acossado pelo som da fúria até encerrar a conversa com a dupla reprimenda: “Não seja grosseira, não seja grosseira”. A voz de Barroso, por sinal, foi a única a ser ouvida na rua. Os companheiros de viagem guardaram a garganta para as palestras. Mesmo assim, o advogado e amigo do terrorista italiano Cesare Battisti dominou o noticiário da terça-feira valendo-se de apenas quatro palavras. Tanto bastou para deixar em frangalhos o código que deveria reger o comportamento de ministros do Supremo.

No último dia do seminário e do feriadão, Sua Excelência caminhava logo atrás de Moraes quando um brasileiro às suas costas quis saber alguma coisa do presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Moraes cruzou a porta do hotel e desapareceu. [não pode ser olvidado um pequeno contratempo que teve o ministro Moraes - desentendeu-se com uma brasileira, cidadão americana, menor de idade, o que motivou o pai da garota acionar a polícia americana para conter os ímpetos do supremo  ministro.] Ao transferir a pergunta para Barroso, o persistente inquisidor fez transbordar o copo até aqui de cólera. No suave vocabulário dos jornais amigos, o ministro perdeu a paciência: “Perdeu, mané! Não amola!”. Caminhou três metros e, antes de desaparecer hotel adentro, mirou outro manifestante à sua direita e reincidiu: “Não amola!”.

Nunca foram tão reveladores o sorriso amarelo de Gilmar Mendes, os esgares impotentes de Alexandre de Moraes, os tchauzinhos assustadiços de Ricardo Lewandowski ou a sisudez falsificada de Dias Toffoli, que acentua o jeitão de pior aluno da classe

A primeira frase comunica que Barroso acompanha de perto as mutações na gíria da bandidagem. “Perdeu, mané” é o que diz à vítima o ladrão que acabou de consumar o roubo do carro, do celular ou do relógio.  A segunda atesta que o ministro foi filhinho de papai antes dos anos 1970. Foi nessa década que caiu em desuso a expressão “não amola”, declamada por meninos que fugiam de brigas alegando que seriam repreendidos pela mãe caso voltassem para casa com o branco das meias detonado pelo contato com a terra das ruas à espera do asfalto. Tão palavroso no plenário no Supremo, tão loquaz em palestras — sempre divididas em três temas, todos alicerçados em três argumentos, com uma gracinha no parágrafo final —, Barroso foi extraordinariamente sucinto na passagem por Nova York. Falou pouco. Mas o pouco que falou virou manchete.

Foi assim com o falatório no painel de segunda-feira. Para desespero de João Doria, que em nome da pontualidade interrompe em seus eventos até o jogo de vôlei no último ponto do tie break, Barroso ultrapassou em quase 120 segundos o limite de dez minutos fixado para cada palestrante. Nesse espaço de tempo, conseguiu atacar o presidente Jair Bolsonaro, desejar bom governo a Lula, condenar ao fogo do inferno detratores do mais perfeito sistema eleitoral do universo, recomendar cadeia para quem maltrata retoricamente supremos doutores e, no clímax do desfile de vogais e consoantes, identificar a prioridade número 1 da República brasileira: o combate à pobreza e à fome. “Um país que tem gente passando fome precisa parar tudo e ir cuidar disso”, caprichou Barroso na expressão beatífica do coroinha que acabou de comungar. “Tem 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar”, mentiu um dos generais da guerra concebida para varrer da face da terra a praga das fake news.

Certamente por não crer no que diz, essa angustiante imensidão de famintos não lhe reduz o apetite, nem o impele a alimentar-se no boteco da esquina. Durante o feriadão de ricaço, Barroso foi visto em restaurantes de fina linhagem, todos bem mais agradáveis que as companhias que escolhe. 
Num jantar nas imediações do Sofitel, por exemplo, manuseou garfos e facas ao lado de Cristiano Zanin ele mesmo, o advogado que suou de tal forma a camisa no esforço para tirar Lula da cadeia que provocou em Gilmar Mendes a comoção que resulta no pranto convulsivo sem lágrimas. Gente como Zanin só diz o que o cliente quer ouvir. 
Por conviver com figuras assim, ministros do Supremo custam a entender que podem muito, mas não podem tudo. 
No momento não podem, por exemplo, caminhar em sossego por qualquer rua de qualquer lugar do país ou de qualquer cidade do mundo onde existam brasileiros. O autoritarismo que rasga a Constituição amputou o direito de ir e vir dos superjuízes. Não deixa de ser uma forma de prisão.

Leia também “A novilíngua da transição”


sábado, 1 de abril de 2017

A reforma da previdência que todos precisam e ninguém quer aprovar

O ambiente no qual se desenvolve o debate em torno da inevitável reforma da Previdência é, no mínimo, esquizofrênico. Todo mundo sabe que ela é vital, necessária, inadiável sem a qual o País quebra logo ali adiante. Ninguém discute seu objetivo fim de tapar o histórico rombo em escalada geométrica. Mas não existe viva alma hoje disposta a arcar com a conta ou a ceder um milímetro no seu quinhão desse butim. A começar pelos grupos organizados. É a elite de servidores públicos, militares e da própria armada parlamentar quem mais resiste e protesta de maneira ruidosa. Galvaniza as ruas. 

Recebe concessões. Na maioria dos casos fica de fora do prejuízo. Mantém os privilégios. Não contribui para a solução. Articulada com sindicatos e agremiações de oposição (que trabalham pelo tumulto e sabotam projetos sem propor alternativas), essa elite trata de puxar para si o cobertor curto enquanto grande parte da população fica a descoberto. No amplo espectro de desigualdade social, quem menos pode e grita levará a pior. De novo. A reforma tem de sair e políticos – desprezíveis nas suas intenções – cozinham o assunto para não se indispor com as bases. Correm atrás de salvaguardas, blindando as categorias predominantes nos respectivos currais eleitorais. Dão de ombros às gerações futuras. Afinal, elas não lhe asseguram hoje uma vaga no Congresso.

Não estão no seu “target” de eleitores a agradar. O obstáculo maior à reforma em curso são os interesses pontuais daqueles com a caneta para aprová-la. A turma do atraso conspira rumo ao desastre geral. Atualmente 48% das despesas primárias do Estado são consumidas por aposentadorias e pensões. Em outras palavras: quase metade tudo que a União arrecada evapora nessa rubrica. O número avança absurdamente a cada ano e estima-se que já no exercício de 2024 nada menos que 100% do orçamento serão gastos no sistema previdenciário, caso nada seja feito. O colapso tem assim data marcada.

Décadas se passaram nessa toada. Inúmeras alternativas apareceram. Entraram em pauta no Congresso. Foram negociadas à exaustão. Vários governos acenaram para a urgência do tema. Mas, invariavelmente, qualquer iniciativa nesse sentido teve por destino a gaveta, desfigurada e rejeitada pelos lobbies, pela burocracia e por injunções políticas. Mofa nos arquivos as melhores intenções. Não há mais como seguir nessa incompatível expansão de gastos sem lastro para bancar desde gordos benefícios a castas privilegiadas até o atendimento básico de quem se aposenta mais cedo. O mundo mudou. O Brasil também. Com o envelhecimento da população todos sabem! cada vez menos contribuintes estão tendo de segurar a conta de mais beneficiários. O sistema travará. 

Irá sucumbir, sem dúvida alguma, por inanição da classe política que apela ao populismo e barra medidas amargas com a desfaçatez típica de canastrões. A sociedade não pode acreditar nas intenções dessa gente. Deve reagir, em benefício próprio. E logo! O presidente Temer soou o alarme, avisando que o Brasil pode virar uma Grécia em menos de uma década. E não há exagero nesse tipo de prognóstico. Estados e municípios, por exemplo, estão à beira do cadafalso e se não ajustarem os desembolsos previdenciários dos servidores não terão como escapar. Precisam, com urgência, apresentar novas regras locais que mudem o regime em vigor. Isso – claro! – se os governantes ainda tiverem algum juízo e senso de responsabilidade. Nenhum brasileiro pode perder de vista o fato de que o modelo de previdência em vigor ficou insustentável e está a exigir arranjos e sacrifícios indiscriminados em prol do bem geral. [mais importante e duradouro que a reforma e seus efeitos, é a necessidade do Brasil voltar a  crescer.
Com a economia funcionando bem - lamentavelmente estragada por dois animais: Lula e Dilma - a Previdência se torna auto sustentável.
O que agrava agora é que além do natural e explicável menor número de contribuintes para segurar a conta de mais beneficiários (consequência esperada e desejada do envelhecimento da população) temos que considerar que os quase 14.000.000 de desempregados também não contribuem.]

Fonte: Editorial IstoÉ - José Carlos Marques